Porque se dão tão mal a Índia e o Paquistão?

Nasceram ao mesmo tempo e logo voltaram as costas um ao outro. Mais de 70 anos depois são uma ameaça para o mundo

1 — O que está na origem desta rivalidade?

Índia e Paquistão conquistaram a independência em 1947, na sequência da partição da Índia Britânica. Entre os dois novos Estados — o primeiro de maioria hindu, o outro muçulmana —, uma ferida ficou aberta: o território fronteiriço de Caxemira, que ambos querem controlar. Essa disputa já originou três guerras (1947, 1965 e 1999) entre o país do Mahatma Gandhi e o de Malala Yousafzai. Já no século XXI, a rivalidade entre Islamabade e Nova Deli continuou a jorrar sangue. Em 2008, aquele que é considerado o “11 de Setembro” da Índia — ataques à bomba em vários pontos de Bombaim fizeram mais de 160 mortos — foi realizado por paquistaneses do grupo islamita Lashkar-e-Taiba.

2 — Qual a importância da região de Caxemira?

Situado nos Himalaias, este território partilhado por Índia, Paquistão e China é uma barreira natural a infiltrações exteriores. A Índia alega que a Caxemira lhe pertence por ter sido parte integrante dos estados governados por marajás. O Paquistão diz que é a população (de maioria muçulmana) que deve decidir em referendo. Mas outra razão pesa cada vez mais: a região é um grande depósito de água dos glaciares, recurso estratégico para países populosos e em crescimento como a Índia (1350 milhões de habitantes) e o Paquistão (200 milhões). Em 1960, o Tratado das Águas do Indo apartou águas: cada país passou a controlar três afluentes.

3 — Porque se receia um conflito entre ambos?

Uma guerra indo-paquistanesa ameaça todo o mundo. Os dois países têm armas nucleares e não são signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear de 1970. Em 1965, o Presidente paquistanês Zulfiqar Ali Bhutto avisou: “Se a Índia desenvolver a bomba, comeremos relva, até passaremos fome, mas também obteremos a nossa. Não temos alternativa”. Em 1974, a Índia testou com êxito o “Buda Sorridente”, nome de código do primeiro lançamento nuclear. O vizinho acompanhou a corrida. Considerado o pai da bomba paquistanesa, o cientista Abdul Qadir Khan seria preso, implicado na proliferação nuclear na Coreia do Norte, Líbia e Irão.

4 — Que outros fatores criam instabilidade?

Alvo de grupos islamitas com ligações à jihad internacional, a Índia alberga fações terroristas com agendas internas: movimentos separatistas, extremistas da minoria muçulmana e da maioria hindu. Já o Paquistão, a quem a Índia acusa de treinar, armar e incentivar revoltas muçulmanas, é um país muito exposto à conflitualidade nesse “cemitério de impérios” que é o Afeganistão. Mas apesar do vespeiro afegão, é a rivalidade com a Índia que mais o preocupa.

Artigo publicado no “Expresso”, a 2 de março de 2019. Pode ser consultado aqui

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