O Irão está debaixo de água há duas semanas. Das 31 províncias, 25 foram afetadas por chuvas torrenciais e inundações. As operações de socorro são dificultadas pela intempérie e também pelo bloqueio económico à República Islâmica, alerta Teerão
Há imagens a chegar do Irão que se confundem com o rasto de morte e destruição deixado pelo ciclone Idai em Moçambique. Extensas áreas alagadas, povoações isoladas, destruição generalizada e pessoas com água pela cintura ou encurraladas em cima dos telhados.
No Irão, o novo ano (Nowruz) — que nasceu a 21 de março — tem decorrido sob o signo de chuvas torrenciais, que fizeram transbordar rios e barragens e provocaram pelo menos 42 mortos. Segundo a agência noticiosa iraniana IRNA, a intempérie já afetou 25 das 31 províncias iranianas.
O Líder Supremo, “ayatollah” Ali Khamenei, colocou as Forças Armadas em missão de socorro às populações. Do exterior, a assistência é condicionada pelas inimizades políticas e pelas sanções que visam a República Islâmica.
Na segunda-feira, no Twitter, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif, investiu contra o Presidente dos Estados Unidos, responsabilizando-o por dificuldades sentidas no socorro “às comunidades devastadas por inundações sem precedentes. Os equipamentos bloqueados incluem helicópteros de socorro: isto não é apenas guerra económica; é TERRORISMO económico”.
Ainda assim, há ajuda a chegar da Europa. Na segunda-feira, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros anunciou o envio de 40 barcos e de equipamento de segurança — uma ajuda que será dada pela Cruz Vermelha alemã ao Crescente Vermelho iraniano.
Igualmente, a Cruz Vermelha britânica diz aguardar apenas que Teerão lhe faça chegar a lista de necessidades e de equipamento em falta para corresponder.
Numa primeira fase, que começou a 19 de março, o mau tempo atingiu o nordeste do país, contagiando depois outras regiões. A 25 de março, Lars Nordrum, embaixador norueguês em Teerão, escrevia no Twitter: “Imagens terríveis de morte e destruição causadas por inundações em várias partes do Irão”.
Presentemente, as áreas mais críticas são o ocidente e sudoeste do país, em especial a província do Lorestão. Na segunda-feira, as autoridades de Teerão ordenaram a evacuação de várias cidades.
“Os telefones não estão a funcionar, as comunicações via rádio estão em baixo”, dizia o diretor provincial do Crescente Vermelho iraniano, Sarem Rezaee. “Pedimos ajuda de emergência a províncias vizinhas, mas até ao momento ninguém pode fazer nada.” Com o aeroporto de Khorramabad — a principal cidade de Lorestão — alagado e o mau tempo contínuo, a assistência aérea fica praticamente impossibilitada.
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Uma pilha de carros, numa estrada de Shiraz Amin Berenjkar / Afp / Getty Images

Em Agh Ghaleh, as ruas transformaram-se em riachos Ali Dehghan / Afp / Getty Images


Enquanto o carro não volta a ser opção, os iranianos recorrem a barcos Tasnim News Agency / Reuters

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 2 de abril de 2019. Pode ser consultado aqui