Arábia Saudita e Qatar ‘unidos’ em nome de um perigo maior

Na próxima quinta-feira, na cidade santa de Meca, duas cimeiras árabes irão abordar a tensão no Golfo Pérsico. Por momentos, a Arábia Saudita “esqueceu” o bloqueio que impôs ao Qatar e convidou o Emir a estar presente

A escalada da tensão no Golfo Pérsico, protagonizada por Estados Unidos e Irão, está a aproximar “irmãos árabes” desavindos. No domingo, o Rei da Arábia Saudita convidou o Emir do Qatar a participar em duas cimeiras convocadas com caráter de urgência que terão lugar na próxima quinta-feira, na cidade saudita de Meca.

À mesa do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) — organização regional que integra as seis monarquias ribeirinhas àquele curso marítimo — e da Liga Árabe (composta por 22 países), estarão as recentes “agressões e respetivas consequências” na região, noticiou a agência de notícias saudita.

Arábia Saudita e Qatar estão de costas voltadas desde junho de 2017 quando os sauditas (apoiados por Emirados Árabes Unidos, Bahrain e Egito) impuseram ao Qatar um bloqueio económico e diplomático. A resolução do conflito está dependente da aceitação do Qatar de uma lista de 13 exigências — entre as quais o corte de relações diplomáticas com o Irão — que Doha não parece inclinada a acatar.

Riade “não quer a guerra”

O convite de Riade para o Qatar se fazer representar ao mais alto nível nos encontros de Meca foi entregue em Doha pelo secretário-geral do CCG, Abdullatif bin Rashid Al Zayani, lê-se num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar.

Para a Arábia Saudita, o estender de mão ao pequeno Emirado justifica-se em nome de um perigo maior: a rivalidade com o Irão, com quem o Qatar tem boa relação.

Riade acusa o Irão de estar na origem de recentes ataques com drones a instalações petrolíferas sauditas (reivindicados pelos rebeldes iemenitas huthis, aliados do Irão) bem como de atos de sabotagem a quatro navios comerciais ao largo dos Emirados Árabes Unidos (que ainda não divulgaram as conclusões da investigação aos casos).

Os incidentes levaram a um reforço do dispositivo militar norte-americano na região e a um agravamento da habitual retórica de confrontação entre a República Islâmica e os Estados Unidos. E levaram a Arábia Saudita a tentar deitar água na fervura assumindo que Riade “não quer uma guerra, não a procura e fará tudo para a impedir”, assegurou o ministro saudita dos Negócios Estrangeiros, Adel al-Jubeir.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 27 de maio de 2019. Pode ser consultado aqui

Tensão vai levar à guerra?

O acordo sobre o programa iraniano está por um fio, desgastado pelas sanções americanas e por jogos de guerra psicológica

INFOGRAFIA Jaime Figueiredo

A pergunta foi feita há treze anos, mas é possível que recebesse a mesma resposta se fosse colocada hoje. O inquilino da Casa Branca era então George W. Bush, os Estados Unidos tinham mais de 100 mil militares a ocupar o Iraque e uma desconfiança indisfarçável em relação ao Irão, inscrito por Washington no “eixo do mal” dos patrocinadores do terrorismo.

Em Lisboa, o ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger dava uma conferência sobre “Perspetivas e desafios das crises mundiais”. No fim, o Expresso perguntou-lhe se considerava realista aplicar ao Irão a estratégia que os EUA tinham em curso no Iraque. “A ocupação militar do Irão seria um pesadelo”, respondeu.

Treze anos depois, a República Islâmica continua a temer uma intervenção militar norte-americana e Washington a alimentar esse cenário. O coronel Peter Mansoor, ex-número dois do general David Petraeus durante a Guerra do Iraque, garante ao Expresso que os EUA continuarão a pressionar o Irão, até porque “as sanções têm resultado”, depauperando a economia iraniana, algo que Washington considera “uma potencial alavanca para uma mudança de regime”.

Esta semana os EUA fizeram acompanhar a sua retórica punitiva por um reforço do dispositivo militar na zona do Golfo, após um conjunto de atos de sabotagem contra aliados seus terem feito soar os alarmes (ver infografia). “Não nos testem”, advertiu o embaixador iraniano no Reino Unido, Hamid Baeidinejad, considerando esse ‘mostrar de dentes’ “um jogo muito perigoso, ao tentar arrastar o Irão para uma guerra desnecessária”. “Julgo que parte disto é teatro por parte dos EUA”, referiu o diplomata. “Eles, ou pelo menos o Presidente Trump, não quererão envolver-se num confronto militar com o Irão que sairia muito caro aos EUA e à região.”

A asfixia das sanções

As águas do Golfo Pérsico têm estado especialmente revoltas desde que, a 8 de maio de 2018, de forma unilateral, Trump retirou os EUA do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, assinado pela Administração Obama, em 2015.

A 8 de abril passado, como que confirmando a existência de um roteiro visando o confronto com o regime dos ayatollahs, o Presidente dos EUA subiu a fasquia do confronto com o Irão como nunca antes um antecessor fizera. Trump rotulou os Guardas da Revolução, uma força de elite iraniana, de “organização terrorista estrangeira”. O Irão respondeu no mesmo dia, identificando qualquer militar norte-americano em missão na região como um alvo potencial.

Um mês depois, os iranianos mostraram que também eles têm um roteiro de resposta. Hassan Rouhani — o Presidente que tem sido o rosto
moderado do regime religioso e que, neste contexto, começa a soar como um conservador — anunciou a suspensão de duas obrigações decorrentes do acordo nuclear, relativas ao enriquecimento de urânio e às reservas de água pesada. E endossou a responsabilidade pela sobrevivência do acordo aos restantes signatários — Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha —, apresentando um ultimato de 60 dias para que tomem medidas práticas para aliviar o efeito das sanções, que visam punir também países terceiros que se atrevam, nomeadamente, a importar petróleo do Irão. Teerão continua a operar dentro dos parâmetros do acordo, mas começa a dar sinais em sentido contrário.

Resistir ao bullying

“Este ‘ultimato’ deve de ser interpretado como a vontade do Irão em manter o acordo vivo”, defende ao Expresso a cientista política Ghoncheh Tazmini. “Os EUA sabem que o Irão, com os seus sólidos parceiros regionais, com os seus próximos e forças substitutas, é à prova de bala. E enquanto o Irão tiver consciência de que estas são meras provocações psicológicas e bluffs, vai querer manter o acordo vivo. Mas também precisa de dar um sinal aos signatários que restam de que têm de demonstrar assertividade na pressão sobre os EUA, para mitigar o seu comportamento.”

A 31 de janeiro, Reino Unido, França e Alemanha anunciaram a criação do Instrumento de Apoio às Trocas Comerciais (Instex), um canal alternativo de pagamentos para proteger as transações com o Irão das sanções americanas. O projeto tem tido dificuldades operacionais, em particular face à necessidade de uma “estrutura espelho” do lado iraniano. “O Irão já demonstrou boa vontade ao permanecer no acordo um ano [após os EUA saírem] e ao cumprir”, continua a iraniana. “Mais tempo sem reciprocidade é sinal de que o Irão está a sucumbir à arbitrariedade e ao bullying.”

Para já, o Irão opta por responder à “pressão máxima” dos EUA com “medidas de retaliação mínimas”. “Para a narrativa da Administração Trump dará imenso jeito se o Irão radicalizar a sua posição e voltar a falar no ‘Grande Satã’”, diz ao Expresso Germano Almeida, especialista em política americana. “Mas, depois do modo como a Administração Trump tratou o Irão nos últimos dois anos, a intenção iraniana de sair do acordo será uma consequência e não a causa da hostilidade americana”, acrescenta. “A política de Trump em relação ao Irão aumenta a ameaça nuclear iraniana, em vez de a diminuir.”

À espera de outra Casa Branca

Hassan Rouhani, forte defensor do acordo, tentará também jogar com o tempo. A 3 de novembro de 2020, já falta menos de ano e meio, haverá eleições presidenciais nos EUA que poderão resultar num Presidente que não se chame Trump. Na corrida para tentar a reeleição, o magnata ainda não conseguiu averbar um êxito duradouro na frente internacional. A “amizade” com o norte-coreano Kim Jong-un tarda em trazer a paz definitiva à Península Coreana e, na Venezuela, a operação de substituição de Nicolás Maduro por Juan Guaidó está transformada num embaraço.

“A comparação com o caso da Coreia do Norte ajuda-nos a perceber o absurdo da posição de Trump em relação à questão nuclear”, acrescenta Germano Almeida. “Com Kim deu todas as hipóteses e benefícios da dúvida, apesar da repetição de sinais de que o regime de Pyongyang continua a não ser de confiar; com o Irão, exagerou na ameaça e não reconheceu as provas de cumprimento que Teerão deu enquanto Obama esteve na Casa Branca.” E, com isso, pôs os tambores da guerra a rufar no Médio Oriente.

DESCODIFICADOR

Quem apoia quem neste barril de pólvora

Sempre que EUA e Irão entram em choque, toda a região é arrastada para o problema. Em 40 anos de vida da República Islâmica, o Golfo já foi palco de três guerras

1. Porque se volta a falar de guerra na região do Golfo?
Desde que os EUA e a República Islâmica do Irão cortaram relações diplomáticas, em 1980, as margens do Golfo Pérsico viram rebentar três conflitos: a guerra Irão-Iraque (1980-88), a do Golfo (1990-91) e a invasão do Iraque (2003). A tensão atual decorre de um conjunto de atos de sabotagem detetados esta semana (ver infografia). Ao Expresso, fonte do Pentágono disse que “muito provavelmente” os drones usados contra petroleiros e outros alvos nos arredores de Riade “transportavam mísseis com tecnologia iraniana”.

2. Que planos de ataque tem a Administração Trump?
Segunda-feira, “The New York Times” divulgou uma reunião entre o secretário da Defesa em exercício e o conselheiro de Segurança Nacional John Bolton sobre um plano de envio de 120 mil militares para o Golfo. Trump rotulou o artigo de “falso” e disse que em caso de intervenção o número de tropas seria muito maior. A Casa Branca partilhou com a Suíça (que representa os seus interesses no Irão) um número de telefone direto para a eventualidade de os iranianos quererem dialogar. “Gostava que me ligassem”, disse Trump.

3. Há alguma manobra militar em curso?
A chegada à região do Golfo, esta semana, de uma frota de guerra comandada pelo porta-aviões “USS Abraham Lincoln” soou a preparativo para a guerra. O coronel Peter Mansoor, veterano da Guerra do Iraque, explicou ao Expresso que o reforço do contingente não prova um aumento de tensão. Em causa estão meios frequentemente deslocados para uma região onde os EUA têm bases militares e têm estado envolvidos em guerras sucessivas (como Iraque e Afeganistão). “Não é um reforço em massa. É uma mensagem”, disse Mansoor.

4. Que aliados tem o Irão no Médio Oriente?
Quarta-feira, os EUA ordenaram o encerramento parcial da sua embaixada em Bagdade, temendo ataques de milícias xiitas pró-Irão. A alteração de poder no Iraque após a guerra de 2003 colocou este país de maioria xiita na órbita do Irão, o gigante xiita do Médio Oriente. Teerão também tem ascendente sobre o regime alauita na Síria e sobre dois grupos armados com grande potencial desestabilizador: o Hezbollah libanês (ameaça quotidiana para Israel) e os houthis, no Iémen, que resistem há quatro anos a uma ofensiva saudita.

5. Quem está ao lado dos Estados Unidos?
De frente para o Irão, a Arábia Saudita é um aliado inevitável, desde logo pela rivalidade histórica que personifica (é uma monarquia árabe sunita) com o gigante iraniano (república persa xiita). O outro grande apoio dos EUA é Israel, que, não estando no centro da contenda, é uma omnipresença na conflitualidade do Médio Oriente. “Estamos unidos no desejo de parar a agressão iraniana”, disse esta semana o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. “Derrotaremos a frente americano-sionista”, respondeu Amir Hatami, ministro da Defesa do Irão.

Textos escritos com Ricardo Lourenço, correspondente nos Estados Unidos.

Artigo publicado no “Expresso”, a 18 de maio de 2019

Sem boicotes mas com danos

Os múltiplos apelos à não-participação no festival em Israel não tiveram eco junto dos participantes. Mas, fruto das discussões geradas, o país já não é visto da mesma forma

O Festival Eurovisão da Canção em Israel tem uma baixa anunciada por razões políticas: a Ucrânia. A ausência não decorre, porém, dos múltiplos apelos ao boicote feitos por ativistas da causa palestiniana. Simplesmente, a cantora escolhida para representar a Ucrânia recusou-se a cancelar concertos que tinha agendados… na Rússia, o que levou a televisão estatal ucraniana a cancelar a sua participação. Menos mediático e mobilizador do que o conflito israelo-palestiniano, o diferendo entre as ex-repúblicas soviéticas faz mais danos a um evento que Israel quer organizar sem mácula.

“Apesar de nenhum cantor ter desistido, em cada país houve apelos por parte do povo em geral e de músicos e antigos participantes do festival para que cancelassem a participação e se recusassem a dançar sobre as sepulturas de Al-Sheikh Muwannis, que foi alvo de limpeza étnica”, diz ao Expresso o ativista israelita Ronnie Barkan. Esta antiga aldeia palestiniana foi abandonada dois meses antes da guerra da independência (1948), por pressão de grupos armados judaicos. O Centro de Convenções de Telavive — que acolhe a Eurovisão entre terça-feira e sábado — fica sobre as ruínas da aldeia.

O israelita realça, entre as ações de pressão desenvolvidas sobre os concorrentes, a petição assinada por 8% da população da Islândia a pedir um boicote ao evento. Iniciativa no mesmo sentido na República da Irlanda foi apoiada pelo então presidente da Câmara de Dublin. Em Portugal, o apelo feito a Conan Osíris por Roger Waters (Pink Floyd) pôs o assunto na agenda noticiosa.

“A Eurovisão nunca foi uma plataforma para criar consciência política”, continua Barkan. “É vista, mesmo pela indústria musical, como mero espetáculo. Dito isto, é interessante notar que as movimentações e negociações em torno da Eurovisão de 2019 nada têm de apolítico. Tudo o que aconteceu desde a participação de Israel em Lisboa, no ano passado, foi assolado pelo apartheid israelita e pelos seus numerosos crimes contra o povo palestiniano. Isto inclui a celebração de Netta Barzilai, vencedora em 2018, ao mesmo tempo que Israel assassinava 61 civis no gueto de Gaza, horas antes, mas sem estragar a festa.”

“É cada vez mais claro que atuar hoje em Israel é análogo a atuar em Sun City antigamente”

Apesar das garantias dadas à União Europeia de Radiodifusão de que não condicionaria os vistos às ideias políticas dos visitantes, o Governo de Telavive fez saber esta semana, através de Emmanuel Nahshon, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que não hesitará em fechar a fronteira a “ativistas anti-Israel cujo único objetivo é perturbar o evento”.

Soft power musical

O Estado hebraico quer conter eventuais embaraços, mas o receio de que algum concorrente aproveite a sua atuação, em direto para milhões de telespectadores, para fazer uma declaração política e virar os holofotes para o drama palestiniano é real. Uma ameaça séria é a banda Hatari, que representa a Islândia. Crítica da realização do festival em Israel, afirmou numa entrevista, já em Telavive, que Israel é um Estado de “apartheid”. Afirma que o grupo vive uma situação “de conflito” por estar ali, naquele contexto. “Mas enquanto participantes temos o poder de abordar o absurdo de haver um concurso como este, fundado no espírito da unidade e da paz, num país marcado por conflitos e pela desunião.”

“Nunca é tarde para os participantes, cantores e fãs ganharem consciência e recusarem-se a conferir legitimidade a um regime supremacista e criminoso, através da sua participação”, comenta o ativista Barkan. “Alguns grupos podem querer expressar uma forma suave de divergência, o que é compreensível, mas não suficiente. É cada vez mais claro que atuar em Israel hoje é análogo a atuar em Sun City, na África do Sul, antigamente.”

Em Telavive, os primeiros ensaios foram “saudados” por 700 rockets lançados de Gaza

Sun City era um grande casino para brancos na África do Sul, nos anos do apartheid. Apesar do boicote cultural apoiado pela ONU, Frank Sinatra, Julio Iglesias ou os Queen, e mesmo negros como Ray Charles, Tina Turner e Dionne Warwick não resistiram aos cachês. Em 1985, quando foi gravado “We are the world”, contra a fome na Etiópia, outro coletivo de artistas deu voz a “I ain’t gonna play Sun City” (Não vou atuar em Sun City).

Com uma imagem cada vez mais associada à África do Sul racista, seja pela forma como segrega os palestinianos da Cisjordânia (sob ocupação militar e alvo de um projeto colonial) e da Faixa de Gaza (sujeitos a um bloqueio por terra, mar e ar) seja pelo tratamento que dá aos seus cidadãos de cultura árabe (cidadãos de segunda, sob certas leis), Israel busca em eventos como a Eurovisão montras para revelar normalidade.

“Considero a Eurovisão em Israel um instrumento de soft power”, diz ao Expresso o cientista político Joseph S. Nye, pai do conceito. “Soft power é a capacidade de se conseguir o que se quer através da atração, em detrimento da coação ou do pagamento. Na medida em que o evento torna Israel mais atrativo aos olhos de outros, isso melhora o seu soft power.”

Em Telavive, os primeiros ensaios foram “saudados” por uma chuva de 700 rockets lançados de Gaza, que mataram quatro israelitas. A Jihad Islâmica disse que a intenção é “impedir que o inimigo consiga montar qualquer festival que vise prejudicar a narrativa palestiniana”. Em Gaza, Haidar Eid é presença ativa nos protestos contra o asfixiante cerco israelita. O Expresso pergunta-lhe se está desiludido por não haver boicotes ao festival. “Nem por isso. Há outras conquistas”, diz. Envia uma imagem divulgada pela organização Jewish Voice for Peace com “cinco razões por que a Eurovisão é um flop”: bilhetes por vender, hotéis por esgotar, eventos alternativos em todo o mundo, milhares de assinaturas  em petições e recorde de artistas cientes de que atuar em Israel é aprovar o apartheid.

(IMAGEM Logotipo de uma  campanha internacional de apelo ao boicote da Eurovisão em Israel BDS)

Artigo publicado no “Expresso”, a 11 de maio de 2019

Ronaldo ou Messi? Estas 30 fotos mostram que não há necessidade de optar

Ronaldo e Messi estão fora da final da Champions, uma prova onde, ano após ano, não páram de deslumbrar. A ausência não passará despercebida a milhões de adeptos em todo o mundo que acompanham esta rivalidade, de forma mais ou menos apaixonada

Nem Cristiano Ronaldo nem Lionel Messi. Nenhum dos dois magos da bola estará na final da Liga dos Campeões a 1 de junho, em Madrid. No histórico da competição é preciso recuar até à época de 2012/2013 para encontrarmos esta dupla ausência no jogo final de uma prova onde um e outro não páram de surpreender.

Se esta época fica marcada pelo golaço do argentino frente ao Liverpool, na primeira mão das meias-finais, no ano passado foi o português a assinar um dos momentos mais fantásticos da prova com um golo marcado com pontapé de bicicleta, ainda pelo Real Madrid contra a sua atual Juventus.

Sempre que um ou outro deslumbra, inevitavelmente as redes sociais incendeiam-se a discutir qual deles é o melhor. Esta fotogaleria mostra que a admiração por CR7 e Messi é universal e que talvez seja um desperdício de tempo discutir se um é melhor do que o outro.

FOTOGALERIA

Ronaldo e Messi, uma dupla presente no universo de graúdos e de miúdos, como esta menina de Valência, Espanha MANUEL QUEIMADELOS ALONSO / GETTY IMAGES
Nesta assembleia de voto na cidade indonésia de Surabaya, as duas estrelas são usadas como “isco” para atrair eleitores JUNI KRISWANTO / AFP / GETTY IMAGES
Mural dedicado a Messi, Neymar e Cristiano, na favela Tavares Bastos, no Rio de Janeiro, Brasil YASUYOSHI CHIBA / AFP / GETTY IMAGES
Durante uma aula de culinária, na cidade chinesa de Shenyang, esculpem-se melancias e os dois futebolistas servem de modelo SHENG LI / REUTERS
Recortes em papel da autoria da artista chinesa Feng Shiping GETTY IMAGES
No Museu de Cera Madame Tussauds, na cidade indiana de Nova Deli SAJJAD HUSSAIN / AFP / GETTY IMAGES
Na cidade onde Messi é “rei”, Barcelona, uma obra do artista italiano Salva Tvboy celebra “o amor cego” LLUIS GENE / AFP / GETTY IMAGES
Parque de diversões feito de palha, numa propriedade agrícola, na cidade russa de Krasnoye. As pernas de fora pertencem a “Cristiano Ronaldo” e “Messi” EDUARD KORNIYENKO / REUTERS
Na baixa do Cairo, a estrela neste cibercafé é naturalmente o egípcio Mohamed Salah. Mas Messi e CR7 estão por perto KHALED DESOUKI / AFP / GETTY IMAGES
Adeptos argentinos revelam “fair play” usando máscaras do “seu” Messi e do “rival” CR7, durante o Mundial da Rússia ROBBIE JAY BARRATT / GETTY IMAGES
Neste bairro do Rio de Janeiro, “o maior” é Hulk, mas Ronaldo e Messi não são esquecidos SERGIO MORAES / REUTERS
Transformados em ardinas, na berma de uma rua de São Salvador, a capital de El Salvador JOSE CABEZAS / AFP / GETTY IMAGES
Bustos de Cristiano, Messi e Neymar, da autoria do artista cingalês Upali Dias, na residência do escultor, em Colombo LAKRUWAN WANNIARACHCHI / AFP / GETTY IMAGES
“Smartphones” com as imagens dos dois magos da bola, à venda numa loja num centro comercial de Moscovo ARTYOM GEODAKYAN / GETTY IMAGES
Uma criação da empresa de design catalã Brain & Beast, apresentada na semana da moda de Barcelona LLUIS GENE / AFP / GETTY IMAGES
Os rostos principais das seleções nacionais argentina e portuguesa PAUL ELLIS / AFP / GETTY IMAGES
Ladeados por Kemal Ataturk e Angelina Jolie, em melancias trabalhadas pelo artista turco Cook Halil Bozkurt CEM GENCO / GETTY IMAGES
Murais de CR7 e Messi pintados em edifícios na cidade russa de Kazan, que acolheu a seleção das quinas no Mundial da Rússia (2018). A ser pintado está Luka Modric YEGOR ALEYEV / GETTY IMAGES
Na retaguarda de um autocarro, por entre a confusão do trânsito da cidade de Croix-des-Bouquets, no Haiti ANDRES MARTINEZ CASARES / REUTERS
Inspirações para milhares de jovens palestinianos do campo de refugiados de Khan Yunis, na Faixa de Gaza ABED RAHIM KHATIB / GETTY IMAGES
No Complexo do Alemão, uma das mais complicadas favelas do Rio de Janeiro, a admiração por “Ronaldo” e “Messi” não cria conflitos JASPER JUINEN / GETTY IMAGES
Um pouco irreconhecíveis, entre estrelas da música e pesos-pesados da política mundial, numa montra de matrioscas, em Moscovo RYAN PIERSE / GETTY IMAGES
Figuras em destaque dentro e fora dos relvados, como nesta livraria no centro de Turim, Itália ROBBIE JAY BARRATT / GETTY IMAGES
“Na companhia” de Barack Obama, numa rua do bairro de Pelourinho, na cidade de Salvador, Brasil JORGE SILVA / REUTERS
Retratos dos dois futebolistas para venda, na berma de uma rua de Port-au-Prince, a capital do Haiti ANDRES MARTINEZ CASARES / REUTERS
Esculturas de areia, na praia de Copacabana, Brasil. Ao contrário de Neymar e Messi, que estão vestidos, Cristiano exibe os músculos SERGIO MORAES / REUTERS
No exterior do Estádio Nacional de Lima, xamãs peruanos realizam um ritual para desejar boa sorte a CR7 e Messi, nas vésperas do Mundial do Brasil, 2014 ENRIQUE CASTRO-MENDIVIL / REUTERS
Máscaras à venda na Cidade do México PEDRO PARDO / AFP / GETTY IMAGES
Quase tão populares como Vladimir Putin, no Mercado de Izmailovo, em Moscovo MATTHEW ASHTON / GETTY IMAGES
Nas bancadas de Camp Nou, o estádio do Barcelona, este jovem mostra como se resolve o dilema LLUIS GENE / AFP / GETTY IMAGES

Artigo publicado na “Tribuna Expresso”, a 8 de maio de 2019. Pode ser consultado aqui

Ramadão: Um desafio para o corpo, para a mente e para os hábitos quotidianos dos muçulmanos

Para os muçulmanos, o Ramadão é muito mais do que um período de jejum. É um exercício de autocontrolo, que os ensina a lidar com o sofrimento da privação e a contornar a tentação

Um quarto da população mundial — cerca de 1800 milhões de pessoas, 50 mil das quais em Portugal — cumpre por estes dias a prática do Ramadão. Durante um mês, desde o nascer até ao pôr do sol, viverão privadas de prazeres mundanos e, por isso, algo condicionadas no seu convívio quotidiano com os não-muçulmanos.

Para estes, revelar sensibilidade e respeito para com familiares, amigos ou colegas de trabalho que professem o Islão passa por evitar comer ou beber na sua presença, não agendar almoços de trabalho ou “esquecer” o colega muçulmano na pausa para o cigarro ou o cafezinho. E também desejar-lhes um bom Ramadão (“Ramadan mubarak”).

Durante este ritual, os crentes devem abster-se de comer, beber (mesmo água), fumar, ter relações sexuais e privar-se de tudo o que possa constituir um deleite para o corpo, como o uso de perfumes. O jejum deve ser cumprido também ao nível do pensamento, estando os crentes obrigados a evitar todo o tipo de pensamentos imorais.

Da mesma forma que o exercício físico fortalece o corpo, os muçulmanos acreditam que o jejum fortifica a vontade, levando-os a lidar com o sofrimento da privação e a contornar a tentação. O Ramadão surge, pois, como um ato de penitência que é encarado também como um exercício de autocontrolo.

Quebrar o jejum em convívio

O Ramadão é obrigatório para todos os muçulmanos de ambos os sexos. Estão dispensados as mulheres grávidas, menstruadas ou que estejam a amamentar, bem como doentes, idosos com fraca saúde e crianças que ainda não atingiram a puberdade, e também crentes que estejam a efetuar viagens longas.

Aqueles que, voluntária ou involuntariamente, rompam o jejum devem compensar esses dias de não-observância noutra ocasião. Terá sido o caso do futebolista egípcio Mohamed Salah que, no ano passado, interrompeu o Ramadão para disputar a final da Liga dos Campeões.

O jejum é o quarto de cinco pilares do Islão: os restantes são a profissão de fé, a oração, a obrigatoriedade da esmola e a peregrinação a Meca. Paralelamente à dimensão pessoal, tem inerente uma vertente social já que as duas refeições permitidas — após o pôr do sol (“iftar”) e antes do nascer do sol (“suhur”) — transformam-se em momentos de confraternização, partilha e celebração da fé que ultrapassam as fronteiras da família.

Ao ritmo da Lua

Contrariamente ao que acontece com o Natal cristão, o Ramadão não tem uma data fixa. A cada ano, o período de jejum antecipa sensivelmente 11 dias em relação ao ano anterior, surgindo desfasado no calendário gregoriano, umas vezes no inverno outras na primavera, e por aí em diante.

Isto acontece porque os muçulmanos regem-se pelo calendário lunar, composto por 354 ou 355 dias. Ramadão é o nome do nono mês do calendário islâmico, que pode ter 29 ou 30 dias, conforme o que a observação da Lua ditar.

Sendo o Ramadão um período de recolhimento, dedicado à meditação e à oração, as últimas dez noites são vividas de uma forma especialmente intensa. “Foi numa dessas noites que o [livro sagrado do] Alcorão começou a ser revelado [ao Profeta Maomé, através do arcanjo Gabriel, no ano de 610 d.C.]”, explica ao Expresso o “sheikh” David Munir, líder espiritual da Mesquita Central de Lisboa.

A essa noite especial os muçulmanos chamam “Laylat al-Qadr” (A Noite do Poder). “O Profeta disse que essa noite pode ser a 21.ª [noite do Ramadão], a 23.ª, a 25.ª, a 27.ª ou a 29.ª. Em termos espirituais, essa é uma noite que equivale a 1000 meses”, pelo que as orações são feitas com especial devoção.

O mês do Ramadão termina com uma grande festa — Id al-Fitr —, que muitas vezes se prolonga durante três dias.

Fogo de artifício nos céus de Sarajevo, Bósnia-Herzegovina, no domingo, para assinalar o início do Ramadão SAMIR YORDAMOVIC / GETTY IMAGES
Mulheres muçulmanas rezam numa mesquita de Jacarta, capital da Indonésia, no primeiro dia do Ramadão WILLY KURNIAWAN / REUTERS
Para além do jejum, durante o Ramadão os muçulmanos entregam-se à meditação e à oração. A imagem é de uma mesquita em Utrecht, Holanda, esta segunda-feira ROBIN VAN LONKHUIJSEN / AFP / GETTY IMAGES
Nesta banca de Rawalpindi, Paquistão, vende-se tâmaras secas, um alimento que não falta na refeição do “iftar”, após o pôr do sol FAROOQ NAEEM / AFP / GETTY IMAGES
Estudantes leem o livro sagrado do Alcorão, esta segunda-feira, na Indonésia, o país muçulmano mais populoso do mundo RAHMAD SURYADI / AFP / GETTY IMAGES
Crianças bósnias largam balões para comemorar o início do Ramadão SAMIR YORDAMOVIC / GETTY IMAGES
Trabalhadores indianos colocam guirlandas de luzes numa mesquita de Chennai, antiga Madrasta ARUN SANKAR / AFP / GETTY IMAGES
Venda de lanternas, uma decoração icónica do mês do Ramadão, esta segunda-feira, num mercado da Faixa de Gaza MAJDI FATHI / GETTY IMAGES
Um grupo de mineiros turcos faz a sua primeira refeição antes do nascer do sol (“suhur”), esta segunda-feira, na região de Kilimli FERDI AKILLI / GETTY IMAGES
Azeitonas e picles, num mercado na Faixa de Gaza, para serem consumidos nas refeições de quebra de jejum MAJDI FATHI / GETTY IMAGES
Mulheres em oração, este domingo, numa mesquita de Sarajevo, Bósnia-Herzegovina ELMAN OMIC / GETTY IMAGES
Meninas indonésias leem o Alcorão, no primeiro dia de Ramadão, em Medan, norte de Sumatra RAHMAD SURYADI / AFP / GETTY IMAGES
O início e o fim do Ramadão é determinado pela observação da Lua, como o fazem (na foto) responsáveis do Departamento Meteorológico de Karachi, Paquistão AKHTAR SOOMRO / REUTERS
“Bom Ramadão”, deseja-se por cima da entrada de uma mesquita em Kiev, a capital da Ucrânia PAVLO CONCHAR / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 7 de maio de 2019. Pode ser consultado aqui