Fotogaleria: A viagem de António Guterres ao Pacífico Sul

As pequenas ilhas do Pacífico estão na linha da frente do combate às alterações climáticas. O secretário-geral da ONU quis ver o drama de perto e visitou as Ilhas Fiji, Tuvalu e Vanuatu

António Guterres sobrevoa Tuvalu. A parte de trás do avião abre-se para ser mais percetível o avanço do mar sobre as pequenas ilhas UN PHOTO / MARK GARTEN
UN PHOTO / MARK GARTEN
Em território de Tuvalu, observando uma costa que parece morta UN PHOTO / MARK GARTEN
À conversa com uma habitante de Tuvalu UN PHOTO / MARK GARTEN
Durante a maré alta, esta calçada fica completamente submersa UN PHOTO / MARK GARTEN
Na companhia do primeiro-ministro das Ilhas Fiji, Frank Bainimarama UN PHOTO / MARK GARTEN
O secretário-geral da ONU percorreu os locais por via aérea, terrestre e marítima também UN PHOTO / MARK GARTEN
UN PHOTO / MARK GARTEN
Nas Ilhas Fiji, experimentou viajar numa embarcação especial, que combina sabedoria tradicional e moderna tecnologia… UN PHOTO / MARK GARTEN
… o “Uto ni Yalo” funciona a energia eólica e solar UN PHOTO / MARK GARTEN
UN PHOTO / MARK GARTEN
Nas Ilhas Fiji, crianças mostram cartazes com mensagens apelando à preservação do ambiente UN PHOTO / MARK GARTEN
UN PHOTO / MARK GARTEN
Num mercado de Vanuatu, interessado em conhecer no impacto económico local das alterações climáticas UN PHOTO / MARK GARTEN
Na pele de um residente de Vanuatu UN PHOTO / MARK GARTEN
Plantando uma árvore, nas Ilhas Fiji… UN PHOTO / MARK GARTEN
… outra em Tuvalu UN PHOTO / MARK GARTEN
Pequenos paraísos perdidos na imensidão do Pacífico em risco de ficarem submersos UN PHOTO / MARK GARTEN
Cinco dias de visita a populações em risco de sobrevivência que têm em António Guterres um grande aliado UN PHOTO / MARK GARTEN

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As preocupações (e as imagens) de António Guterres durante a viagem que o colocou na capa da “Time”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 15 de junho de 2019. Pode ser consultado aqui

As preocupações (e as imagens) de António Guterres durante a viagem que o colocou na capa da “Time”

O secretário-geral das Nações Unidas foi, pela primeira vez, ao Pacífico, a linha da frente do combate às alterações climáticas. Visitou três países insulares que correm o risco de ficarem submersos. Em discursos e no Twitter, antónio Guterres expressou preocupações e apelou ao envolvimento global num drama que, mais cedo ou mais tarde, baterá à porta de todos

A viagem de António Guterres ao Pacífico Sul que levou a revista “Time” a dar-lhe honras de capa resulta de uma grande ironia. Ilhas Fiji, Tuvalu e Vanuatu — os pequenos Estados insulares visitados pelo secretário-geral das Nações Unidas entre 14 e 18 de maio — são paraísos à face da Terra que lutam para se manter à tona. Perdidos na imensidão do mar, testemunham diariamente a subida das águas, numa ameaça à sua sobrevivência visível aos olhos.

“Estou de partida para Tuvalu, uma nação insular do Pacífico onde o ponto mais alto tem menos de cinco metros [de altura]. Enfrenta uma ameaça existencial face à subida do nível do mar”, escreveu Guterres no Twitter, a 16 de maio. “Temos de impedir que Tuvalu se afunde e que o mundo se afunde juntamente com Tuvalu.”

A fotografia que ilustra a capa da “Time” foi tirada precisamente em Tuvalu. Com a água do Pacífico pelos joelhos, e uma expressão séria, Guterres surge na posição de um vulgar cidadão daquele país que vê, diariamente, o mar cada vez mais perto de lhe entrar casa adentro.

“Em nenhum outro lugar vi tão claramente impactos tão devastadores da situação crítica climática global como em Tuvalu, onde conheci famílias cujas casas estão ameaçadas pela contínua subida dos mares”, twitou a 17 de maio.

Tuvalu foi a segunda etapa do périplo de Guterres pelas pequenas ilhas — a viagem à região teve uma primeira paragem na Nova Zelândia. Antes de Tuvalu, esteve nas Ilhas Fiji.

Num discurso no Fórum das Ilhas do Pacífico, realizado em Suva (capital das Fiji), o secretário-geral da ONU fez um alerta para todo o mundo: “Em 2016, mais de 24 milhões de pessoas em 118 países e territórios foram deslocadas por causa de desastres naturais — três vezes mais do que o número de deslocados por conflitos.”

Guterres procurou também dar visibilidade a projetos locais verdes, como a embarcação “Uto ni Yalo”, uma embarcação tradicional polinésia que trabalha a vento e energia solar.

A visita ao Pacífico terminou na ilha de Vanuatu, “um dos países mais propensos a desastres, o que é agravado pelas alterações climáticas”, enfatizou Guterres.

A 18 de maio, em jeito de alerta final, divulgou um comunicado chamando a atenção para o facto destes Estados contribuírem muito pouco para o drama global das alterações climáticas e serem aqueles que mais afetados são, correndo mesmo riscos de sobrevivência.

“O que é notável acerca destes países é que perante este desafio enorme, eles decidiram não desistir. Estão determinados a encontrar soluções e a desenvolveram formas de aumentar a sua resiliência e adaptação. Estão a liderar o caminho da redução de emissões [de dióxido de carbono para a atmosfera] e são um exemplo que o resto do mundo devia seguir.”

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António Guterres sobrevoa Tuvalu. A parte de trás do avião abre-se para ser mais percetível o avanço do mar sobre as pequenas ilhas UN PHOTO / MARK GARTEN
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Artigo publicado no “Expresso Online”, a 15 de junho de 2019. Pode ser consultado aqui

Como Guterres foi parar à capa da “Time”

A revista “Time” acompanhou o secretário-geral da ONU num périplo pelo Pacífico onde há países que, face às alterações climática, lutam para não serem engolidos pelo mar. Na capa, António Guterres surge em pose dramática, com a água do Pacífico já pelos joelhos. Mas a mensagem é de esperança: “Os países mais atingidos pelas alterações climáticas estão a lutar — e a obter resultados”, diz a “Time”. E Guterres tem sido um grande aliado

As alterações climáticas não se compadecem com as hesitações políticas dos governantes do mundo e vão desbravando o planeta com violência. Aos poucos, há países que estão, literalmente, a desaparecer do mapa. É a eles que a revista “Time” dedica o tema principal da sua mais recente edição.

Na capa, António Guterres surge na pele de um cidadão de Tuvalu, um dos territórios mais ameaçados pela subida dos oceanos. Com a água do mar pelos joelhos e o rosto carregado, o secretário-geral das Nações Unidas coloca-se na posição dramática que, mais cedo ou mais tarde, afetará qualquer habitante à face da Terra.

“O que tentamos dizer ao mundo é que quando nós nos afundarmos, todas as cidades se afundarão também”, alerta Tuilaepa Malielegaol, primeiro-ministro da Samoa, outro país vulnerável à subida do nível da água do mar.

No artigo da “Time”, Guterres poderia ser também um habitante da aldeia de Vunidogoloa, nas Ilhas Fiji. Outrora uma comunidade com mais de 100 pessoas, a aldeia de Vunidogoloa foi tomada pelo avanço da floresta tropical e das águas salgadas do Pacífico. A vida tornou-se impossível e, há cinco anos, o Governo das Fiji construiu uma cidade nova mais acima na colina. Foi a primeira comunidade nas Fiji a ser relocalizada por causa das alterações climáticas, mas outras 40 já estão sinalizadas e deverão mudar de sítio nos próximos anos. “Penso nas alterações climáticas todos os dias”, diz à reportagem da “Time” o primeiro-ministro Frank Bainimarama.

Em maio passado, António Guterres testemunhou pessoalmente o drama de quatro países do Pacífico Sul durante um périplo que o levou à Nova Zelândia, Ilhas Fiji, Vanuatu e Tuvalu, onde foi feita a fotografia da capa da “Time”. Não foi uma simples visita.

O português tem em mãos a organização de uma Cimeira pela Ação Climática, prevista para setembro, em Nova Iorque, que reunirá chefes de Estado, homens de negócios e líderes da sociedade civil. Com ela, Guterres pretende dar palco às nações mais vulneráveis e levar os países desenvolvidos a comprometerem-se com metas mais ambiciosas, nomeadamente ao nível da redução das emissões de dióxido de carbono.

“Guterres está a trabalhar no sentido de posicionar as pequenas nações insulares não só como o centro político do debate, mas também como o centro moral”, diz a “Time”.

Os pequenos países têm-se mexido com sucesso no sentido de pôr este assunto no mapa político. Articulados, contribuíram para dar forma ao Acordo de Paris de 2015 e para a elaboração de um importante relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, que enfatiza a urgência em limitar o aquecimento do planeta a 1.5º C até 2100.

Podemos ficar sentados a observar, questiona a “Time”

“O relatório chamou mais a atenção do que até a aprovação do próprio Acordo de Paris”, escreve a “Time”, “e inspirou o empurrão para um Green New Deal (Novo Acordo Verde) nos Estados Unidos bem como novos e mais agressivos planos climáticos num punhado de outros países”.

“O sucesso destes países resulta numa grande lição: nenhuma nação pode resolver sozinha um problema tão complexo como as alterações climáticas, mas juntas as nações podem fazer a diferença”, conclui a “Time”. “Podemos ficar sentados a observar as pequenas ilhas do Pacífico a desaparecerem — mas quem acham que será atingido a seguir?”

António Guterres — um entusiasta confesso do multilateralismo — está ativamente empenhado em contrariar essa letargia. É esse o reconhecimento que a “Time” lhe faz.

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Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 14 de junho de 2019. Pode ser consultado aqui

“O mundo não pode suportar um grande conflito na região do Golfo”

O alerta foi dado esta quinta-feita pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, horas após duas embarcações comerciais terem sido atacadas no Golfo de Omã. Os EUA vão levar o caso a discussão no Conselho de Segurança da ONU

Os Estados Unidos tencionam levar a debate, esta quinta-feira, numa reunião do Conselho de Segurança da ONU à porta fechada, os ataques a dois cargueiros realizados esta manhã no Golfo de Omã.

“É inaceitável o ataque a transportes comerciais. Os ataques de hoje a navios no Golfo de Omã originam preocupações muito sérias”, afirmou o embaixador em exercício dos EUA nas Nações Unidas, Jonathan Cohen. “O Governo dos EUA está a providenciar assistência e continuará a avaliar a situação.”

Os ataques coincidiram com a visita do primeiro-ministro do Japão ao Irão, a primeira ao país de um chefe de governo nipónico desde a Revolução Islâmica de 1979.

A coincidência levou as autoridades de Teerão a expressarem desconfiança: “Alegados ataques a petroleiros relacionados com o Japão ocorreram durante o encontro entre o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe e o ayatollah Ali Khamenei visando conversas extensas e amigáveis. [A palavra] suspeita não descreve o que possivelmente aconteceu esta manhã”.

Um dos navios atacados foi um petroleiro com bandeira das Ilhas Marshall, propriedade da empresa Norwegian company Frontline e sede nas Bermudas, que se incendiou. A outra embarcação atingida foi um cargueiro japonês que transportava químicos.

“Condeno fortemente qualquer ataque contra embarcações civis”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, esta quinta-feira, numa reunião do Conselho de Segurança sobre cooperação com a Liga Árabe. “Os factos têm de ser apurados e as responsabilidades esclarecidas. Se há algo que o mundo não pode suportar é um grande conflito na região do Golfo.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 13 de junho de 2019. Pode ser consultado aqui

Vem aí uma quarta-feira de alta tensão em Hong Kong

O parlamento de Hong Kong começa a debater esta quarta-feira uma polémica emenda legislativa que permitirá a extradição para a China continental de cidadãos considerados suspeitos de envolvimento em crimes. A polícia mobilizou 5000 agentes para conter o protesto que já foi convocado

Hong Kong vive sob soberania chinesa há quase 22 anos. Mas a convivência entre a antiga colónia britânica e Pequim não se tem revelado totalmente pacífica. O mais recente foco de tensão — que levou às ruas, no domingo, mais de um milhão de pessoas, segundo a Frente Civil para os Direitos Humanos — decorre de uma polémica emenda à lei de extradição que o Governo de Hong Kong quer ver aprovada antes das férias de verão.

A emenda permitirá a transferência, caso a caso, de suspeitos de envolvimento em crimes para jurisdições com quem Hong Kong não tem acordos de extradição. Não é o caso de Estados Unidos ou do Reino Unido, mas é o caso da China continental. Os defensores da nova lei dizem que vai preencher uma lacuna e evitar que o território se torne um “refúgio para criminosos internacionais”.

Data de fevereiro do ano passado um caso que agitou o país e contribuiu para dar caráter de urgência a este processo. De férias em Taiwan, Chan Tong-kai, um cidadão de Hong Kong de 19 anos, assassinou a namorada grávida. Na ausência de um acordo de extradição entre os dois territórios, de regresso a casa o homem não pode ser julgado por homicídio, mas apenas por crimes menores, como a utilização indevida do cartão de crédito da vítima.

A nova lei gera, porém, muitas reservas entre os críticos do regime chinês. Atribuem-lhe motivações políticas e defendem que vai permitir a Pequim perseguir opositores e raptar críticos em Hong Kong.

Entre os cidadãos do território teme-se que o novo diploma ponha em causa a independência do seu sistema judicial. Apesar da soberania chinesa, Hong Kong é uma região administrativa especial com autonomia a nível económico e de sistema de governo — o princípio “um país, dois sistemas”.

Esta terça-feira, Andrew Leung Kwan-yuen, o presidente do Parlamento local, anunciou que a emenda será debatida na assembleia durante 61 horas, justificando o prazo com o carimbo de urgência aplicado pelo Gabinete de Segurança a este assunto.

De acordo com o plano de Andrew Leung, os deputados irão debater o diploma entre quarta e sexta e, na próxima semana, mais quatro dias, seguindo-se a votação ainda na quinta-feira, dia 20. Até lá, é mais que provável que as ruas de Hong Kong não tenham sossego.

Segundo o jornal digital “South China Morning Post”, a polícia está a preparar-se para “inundar as ruas com 5000 agentes em resposta a apelos no sentido de uma segunda vaga de protestos”. O início da concentração popular está previsto para esta terça-feira à noite.

Com um contingente menor nas ruas, o protesto de domingo terminou com violência, às primeiras horas de segunda-feira, com a polícia a carregar com bastões e spray de gás pimenta e os manifestantes a arremessarem tudo o que estava à mão. Das batalhas campais resultaram apenas feridos.

Mais de 100 restaurantes, lojas e outros negócios já anunciaram que, esta quarta-feira, estarão de portas fechadas, solidários com o protesto. “Espero que as escolas, os pais, organizações, negócios e sindicatos pensem nas coisas cuidadosamente antes de defenderem quaisquer ações radicais”, apelou esta terça-feira Carrie Lam, a chefe do Executivo de Hong Kong. “Que bem isso fará à sociedade de Hong Kong e aos nossos jovens?”

Não é o que sentem, porém, muitos milhares de cidadãos que, beneficiando do estatuto especial de que goza Hong Kong, não têm abdicado do direito à manifestação para desafiarem a influência de Pequim no território. Em 2014, durante três meses, grandes protestos pró-democracia encheram as ruas da cidade numa iniciativa que ficou conhecida como o “movimento dos guarda-chuvas amarelos”. Cinco anos depois, voltam às ruas em massa para recordar que a relação de Hong Kong com o regime de Pequim tem limites.

(FOTO Protesto em Hong Kong contra a lei da extradição, a 12 de junho de 2019 STUDIO INCENDO / WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 11 de junho de 2019. Pode ser consultado aqui