Acabaram as áreas separadas para mulheres e homens nos restaurantes

Depois de conquistarem o direito de conduzirem e de viajarem para o estrangeiro sem autorização de um homem da família, as sauditas viram mais uma barreira em seu redor ser derrubada. Em cafés e restaurantes, deixam de estar separadas dos clientes masculinos

Neste McDonald’s, em Riade, uma divisória separa áreas de atendimento para mulheres e homens PATRICK BAZ / AFP / GETTY IMAGES

O ultraconservadorismo na Arábia Saudita acaba de sofrer mais um golpe. Cafés e restaurantes deixam de ser obrigados a providenciar salas de refeição e entradas separadas para as mulheres.

A decisão foi anunciada no domingo pelo Ministério dos Assuntos Municipais e Rurais que determinou que a restauração não necessita mais de “especificar espaços privados”.

Até agora, as sauditas estavam proibidas de usufruir das áreas frequentadas por clientes masculinos, sendo relegadas para zonas reservadas a famílias. Em pequenos cafés, sem espaço para áreas privadas, as mulheres estavam proibidas de entrar.

Mas a interdição já apresentava fissuras. Alguns cafés e restaurantes de hotéis de luxo de Riade, ou de cidades costeiras como Jeddah (oriente) ou Khobar (oriente) já autorizavam as mulheres a sentarem-se lado a lado com homens desconhecidos.

O fim da segregação de género nos restaurantes é a última de um conjunto de medidas que têm contribuído para acabar com as restrições de género na Arábia Saudita. Em agosto, as mulheres com mais de 21 anos passaram a poder tirar o passaporte — e sair do país — sem o consentimento do seu tutor masculino. Dois meses antes, já tinha sido abolida a proibição de conduzirem.

As sauditas já conquistaram também a possibilidade de ir a concertos e eventos desportivos antes reservados aos homens. E, nas escolas, as meninas passaram a ter educação física.

O toque do príncipe Salman

Este empoderamento das sauditas seguiu-se à nomeação de Mohammed bin Salman como príncipe herdeiro, a 21 de junho de 2017. Apostado em diversificar a economia, tornando-a menos dependente do petróleo, Salman tem promovido reformas sociais visando desenvolver o sector público e atrair investimentos estrangeiros.

As mulheres têm beneficiado com isso, pelo menos em teoria já que, apesar das mudanças na lei, muitos sauditas encaram a segregação de género como preceito religioso ou tradição cultural — algo que não se altera por decreto.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 9 de dezembro de 2019. Pode ser consultado aqui

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