Com os ayatollahs no poder, os EUA tornaram-se o Grande Satã. Obama foi quem esteve mais perto de alterar a relação
“Existem poucas nações no mundo com as quais os Estados Unidos tenham menos motivos para discutir e interesses mais compatíveis do que o Irão”, disse Henry Kissinger, um insuspeito ‘falcão’ que foi secretário de Estado dos EUA entre 1973 e 1977. Porém, os últimos 40 anos têm sido a antítese dessa realidade, com a predominância de momentos críticos que colocam todo o mundo em estado de alerta. O momento definidor dessa tensa relação foi a Revolução Islâmica de 1979.
JIMMY CARTER, Dem. (1977-1981)
No último dia de 1977, Carter está em Teerão e brinda com o xá à “ilha de estabilidade” que é o Irão. Os contestatários ao monarca registam. Consumada a Revolução Islâmica, estudantes invadem a embaixada dos EUA e mantêm reféns durante 444 dias. A crise contribui para a não reeleição de Carter.
RONALD REAGAN, Rep. (1981-1989)
Com a guerra Irão-Iraque em curso, os EUA ficam do lado do Iraque de Saddam Hussein. O apoio mantém-se após Bagdade atacar os iranianos com armas químicas. Data desta altura o escândalo Irão Contras, em que a CIA é acusada de facilitar o tráfico de armas para o Irão, apesar do embargo.
GEORGE BUSH, Rep. (1989-1993)
Os EUA premeiam o apoio do Irão na Guerra do Golfo — desencadeada para conter o Iraque, que invadira o Kuwait — e não se opõem a que o Banco Mundial aprove um empréstimo ao Irão.
BILL CLINTON, Dem. (1993-2001)
Considera de “esperançosa” a eleição do reformista Mohammad Khatami para Presidente do Irão, em 1997. Três anos depois, a secretária de Estado Madeleine Albright aborda o papel dos EUA no golpe de 1953 para colocar o xá no poder. Mas a relação não evolui.
GEORGE W. BUSH, Rep. (2001-2009)
Após os atentados de 11 de Setembro, inscreve o Irão no “eixo do mal” que apoia o terrorismo internacional, juntamente com Iraque e Coreia do Norte.
BARACK OBAMA, Dem. (2009-2017)
Dias depois de tomar posse, diz que os EUA estão dispostos a estender a mão ao Irão se este “abrir o punho”. A diplomacia desbrava caminho e em 2015 é assinado um acordo que coloca o programa nuclear iraniano sob controlo internacional.
DONALD TRUMP, Rep. (2017-…)
Leva uma semana no poder e decreta a proibição de entrada no país a cidadãos de sete países muçulmanos, Irão incluído. Na Arábia Saudita, destino da sua primeira viagem ao estrangeiro, responsabiliza o Irão pelo terrorismo global. Em 2018, retira os EUA do acordo nuclear e repõe as sanções.
TRAGÉDIA SUSPEITA
► Um avião comercial ucraniano que ligava Teerão a Kiev despenhou-se no Irão, quarta-feira, oito minutos depois de ter descolado da capital iraniana. O desastre aconteceu no dia do ataque iraniano a bases militares do Iraque que albergam tropas americanas
► Seguiam a bordo 176 pessoas, entre elas 63 canadianos. Ninguém sobreviveu
► O Governo canadiano afirmou ter informação de que o aparelho foi abatido por um míssil. Os EUA acreditam que o disparo possa ter sido “acidental”. “Alguém pode ter cometido um erro”, admitiu Trump
► O Irão, que diz estar “certo” de que não houve qualquer míssil envolvido na queda do avião, abriu as portas a investigadores internacionais. As agências de aviação dos EUA, Canadá e França enviaram representantes para Teerão
► A televisão americana CBS constatou no local da tragédia que pouco restava dos destroços do avião. O embaixador do Irão no Reino Unido considerou “absolutamente absurda” a ideia de ter havido bulldozers a remover partes da aeronave, apesar de haver fotos e vídeos que sugerem isso
(FOTO Pintura anti-americana no muro da antiga embaixada dos Estados Unidos em Teerão PHILLIP MAIWALD / WIKIMEDIA COMMONS)
Artigo publicado no “Expresso”, a 11 de janeiro de 2020. Pode ser consultado aqui ou aqui

