Sucessão de Kim é assunto de família

O sumiço do Líder Supremo fez disparar a especulação sobre o seu estado de saúde e possíveis sucessores

Kim Jong-un está longe dos olhares públicos há exatamente 20 dias, sem qualquer justificação oficial. Não é situação inédita na Coreia do Norte, já que, em setembro e outubro de 2014, o Líder Supremo andou desaparecido 41 dias, pensa-se que devido a uma cirurgia ao tornozelo. Antes dele, também o pai, Kim Jong-il, tinha sumido durante 51 dias.

A ausência do líder, de 36 anos, aliada à sua condição de obeso viciado em cigarros, licores e queijo suíço — prazeres revelados pelo amigo norte-americano Dennis Rodman, excêntrico ex-basquetebolista da NBA que o visitou várias vezes em Pyongyang —, fizeram disparar rumores sobre o seu estado de saúde e análises à sua sucessão.

Desde a sua fundação, em 1948, a República Popular Democrática da Coreia tem sido governada pela mesma família, a “linhagem Paektu”, numa alusão ao monte mais alto da península coreana, que tem para o regime uma conotação nacionalista. Segundo a propaganda, Kim Il-sung, fundador do país em 1945, travou ali batalhas ferozes contra o ocupante japonês. Foi também onde nasceu o seu filho, Kim Jong-il, que esteve no poder entre a morte do primeiro Kim, em 1994, e o seu próprio falecimento, em 2011. Era o pai do atual Líder Supremo. É natural que, no curto ou longo prazo, possíveis herdeiros sejam procurados entre os membros da dinastia Kim.

KIM JONG-CHOL
Demasiado “efeminado”
para liderar

Nascido em 1980, o irmão mais velho de Kim Jong-un nunca foi formalmente preparado para herdar o cargo. O seu pai considerava-o “demasiado efeminado”, sentença que o atirou para fora dos círculos do poder e faz com que não seja opção para suceder ao irmão.

Kim Jong-chol vive na Coreia do Norte e leva o que se pode considerar uma vida normal, ainda que não para padrões norte-coreanos. Apaixonado por música e guitarras, foi notícia em 2015 ao ser reconhecido em Londres, no Royal Albert Hall, onde assistiu a um concerto de um seu ídolo: Eric Clapton.

KIM YO-JONG
Uma estrela em ascensão

A única irmã do Líder Supremo nasceu em 1988 e é hoje a mais forte garantia de uma quarta liderança da família. Debutou no estrangeiro em fevereiro de 2018, quando representou Kim Jong-un na tribuna presiden­cial na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang (Coreia do Sul). Não mais parou de crescer nos corredores da política. Quatro meses depois surgiu em Singapura como a mulher de confiança do irmão na histórica cimeira com o Presidente dos EUA, Donald Trump.

Pensa-se que, oficialmente, Kim Yo-jong seja a número dois de um dos principais departamentos políticos do Partido dos Trabalhadores: o da Propaganda e Agitação ou o da Organização e Orientação. Em março passado começou a emitir comunicados políticos em nome próprio. No primeiro, acusou a Coreia do Sul de parecer “um cão assustado a ladrar” depois de Seul ter protestado contra um exercício militar norte-coreano com fogo real.

KIM PYONG-IL
O tio diplomata

Tio de Kim Jong-un e meio-irmão do seu pai, passou os últimos 40 anos a servir o país em missões diplomáticas na Europa (Hungria, Bulgária, Finlândia, Polónia e República Checa). Regressou a Pyongyang em novembro de 2019. Aos 65 anos, é uma opção a considerar na eventualidade de a elite política e militar, conservadora e patriarcal, resistir à ideia de uma mulher — Kim Yo-Jong — na liderança do país.

Ao contrário de outro tio do líder, Jang Song-thaek (casado com a única filha de Kim Il-sung), que foi executado pouco depois de Kim Jong-un subir ao poder, Kim Pyong-il tem sobrevivido às purgas. Talvez nunca tenha sido encarado como ameaça credível.

KIM JU-AE
Ordem para brincar

A escolha sucessória mais óbvia numa república dinástica como a Coreia do Norte não é, por enquanto, viável. Do casamento de Kim Jong-un com Ri-Sol-ju, de 30 anos, pensa-se que haja dois ou três filhos, todos crianças. A única certeza é a existência de uma filha que terá nascido em 2013. O seu nome foi revelado pelo amigo Rodman a seguir a uma visita a Pyongyang. “Eu segurei na bebé deles, Ju-ae.”

KIM JONG-NAM
O favorito que se tornou
um embaraço

No clã presidenciável houve um meio-irmão do líder, mais velho 13 anos, que chegou a ser o favorito do pai. Kim Jong-nam caiu em desgraça em 2001, após tentar entrar no parque da Disney em Tóquio com um passaporte falso. Foi assassinado em 2017, no aeroporto de Kuala Lumpur (Malásia), atingido por gás nervoso. O crime foi atribuído ao regime de Pyongyang.

(IMAGEM Bandeira da Coreia do Norte PUBLIC DOMAIN PICTURES.NET)

Artigo publicado no “Expresso”, a 1 de maio de 2020. Pode ser consultado aqui

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