A Europa quer repor a livre circulação de pessoas, mas esbarra na instabilidade do combate à pandemia
Na Europa, a pressa em abrir fronteiras e normalizar a livre circulação de pessoas dentro do Espaço Schengen é muita, ditada em especial pela urgência em revitalizar a economia. Contudo, a persistência de focos de contágio do novo coronavírus — ao estilo de reacendimentos de um grande incêndio que custou a extinguir — obriga cada país a fazer muitos cálculos.
Nos 26 países que compõem o Espaço Schengen — 22 dos quais são membros da União Europeia — olha-se com igual cuidado para os mapas e para os boletins epidemiológicos nacionais, na expectativa de perceber quais os que são seguros e quais os que ainda justificam a imposição de restrições.
Na esmagadora maioria dos casos as reservas à reabertura de fronteiras a países que continuam a reportar diariamente um grande número de casos resolve-se com uma quarentena obrigatória de 14 dias, o que torna impraticáveis as deslocações de curta duração.
Em tempos caso de sucesso, Portugal é dos países que suscitam reticências (ver mapa). Lisboa e Vale do Tejo é uma das regiões com mais casos diários em toda a Europa. Na reunião técnica no Infarmed desta semana, especialistas admitiram a possibilidade de a região estar já a viver uma segunda vaga de covid-19. Tal obrigou à adoção de medidas restritivas em 19 freguesias de cinco concelhos, mas Portugal não é o único país europeu a ter de dar passos atrás.
De volta ao início
Na Alemanha, por exemplo, o governo estadual da Renânia do Norte-Vestefália ordenou, terça-feira, a suspensão parcial da vida pública na localidade de Gütersloh (onde vivem 370 mil pessoas), até 30 de junho, após 1553 funcionários de uma fábrica de embalar carne terem sido infetados (ver pág. 30). De igual modo, na vizinha Espanha — onde esta semana ainda estavam confirmados 12 surtos ativos — foram reintroduzidas medidas restritivas em três concelhos da província de Huesca, na comunidade autónoma de Aragão (norte).
Fora da Europa, países que já tinham dado por adquirido o controlo da pandemia — como a China, a Coreia do Sul e Israel — registaram recentemente preocupantes focos de contágio.
Aniversário agridoce
Para o projeto Schengen, que comemorou este mês 25 anos de vida — o acordo foi assinado a 14 de junho de 1985 na localidade luxemburguesa com o mesmo nome —, este encerramento generalizado de fronteiras foi algo inédito.
No passado, vários países fecharam fronteiras por iniciativa própria em circunstâncias muito específicas. Em novembro de 2015, após os atentados terroristas em Paris, a França decretou o estado de emergência e restabeleceu o controlo de fronteiras.
No ano seguinte, pelo menos sete países do Espaço Schengen reintroduziram temporariamente o controlo de passaportes em resposta ao fluxo de migrantes e refugiados para a Europa. Em maio de 2017, também Portugal suspendeu o Acordo de Schengen por ocasião da visita a Fátima do Papa Francisco. Em 2020 tudo é diferente, quer em dimensão quer ao nível da causa, que é invisível.
(IMAGEM PXHERE)
Artigo publicado no “Expresso”, a 27 de junho de 2020. Pode ser consultado aqui