Israel e Emirados Árabes Unidos começaram, esta segunda-feira a construir uma nova relação bilateral, com a realização do primeiro voo comercial direto entre os dois países. A Arábia Saudita, que não reconhece o Estado judeu, ajudou à festa e, pela primeira vez, autorizou um avião israelita a sobrevoar o seu território
Aos poucos, o Acordo de Abraão anunciado a 13 de agosto por Israel e os Emirados Árabes Unidos começa a tornar-se realidade. Às 11h21 desta segunda-feira (menos duas horas em Portugal Continental), descolou do aeroporto Ben Gurion, em Telavive, um Boeing comercial com destino a Abu Dhabi — o primeiro voo de sempre entre os dois países.
Para reforçar o caráter histórico deste voo, a Arábia Saudita — que oficialmente não reconhece Israel — autorizou o voo 971, operado pela empresa israelita, a atravessar o espaço aéreo saudita.
“Pela primeira vez, uma aeronave israelita irá sobrevoar a Arábia Saudita e após um voo direto que partiu de Israel, irá aterrar nos Emirados Árabes Unidos”, anunciou o piloto Tal Becker, citado pela pubicação “The Times of Israel”. “Estamos todos entusiasmados e esperamos mais voos históricos que nos levarão a outras capitais da região, levando-nos a todos para um futuro mais próspero.
A bordo seguiu uma delegação conjunta de responsáveis políticos israelitas e norte-americanos. Em Abu Dabi, irão participar em reuniões de trabalho “sobre uma série de questões visando a assinatura de acordos de cooperação nas esferas civil e económica”, informou o gabinete do primeiro-ministro de Israel.
A delegação israelita é encabeçada pelo chefe do Conselho de Segurança Nacional, Meir Ben Shabbat, e a norte-americana pelo Conselheiro de Segurança Nacional Robert O’Brien e por Jared Kushner, genro de Donald Trump e o seu principal conselheiro para questões do Médio Oriente.
“O nosso objetivo é alcançar um programa de trabalho conjunto que leve ao avanço das relações num vasto leque de áreas: turismo, saúde, inovação, ciência, tecnologia, economia e muitos outros campos”, disse Meir Ben-Shabat, antes da partida. “Esta manhã, a tradicional benção ‘Vá em paz’, tem um significado especial para nós.”
Integram a delegação americana também Avi Berkowitz, representante especial da Casa Branca para Negociações Internacionais, e Brian Hook, representante especial para o Irão.
Fim da lei do boicote a Israel
“Ao mesmo tempo que este é um voo histórico, esperamos que esta viagem seja o início de uma viagem ainda mais histórica para o Médio Oriente e além. Ontem, rezei no Muro [das Lamentações] para que muçulmanos e árabes de todo o mundo assistam a este voo, reconhecendo que somos todos filhos de Deus e que o futuro não precisa de ser predeterminado pelo passado”, disse Kushner momentos antes embarcar. “Acredito que tanta paz e prosperidade são possíveis nesta região e em todo o mundo.”
Como que a abrir caminho a esta visita, no sábado o Presidente dos Emirados Árabes Unidos aboliu uma lei de 1972 que instituía um boicote a Israel. A decisão seguiu-se a um périplo do secretário de Estado norte-americano pela região, na semana passada, durante o qual Mike Pompeo tentou convencer outros países árabes a normalizarem relações com o Estado judeu.
Anunciado a 13 de agosto, o acordo de normalização das relações diplomáticas entre Israel e os Emirados — intermediado pela Administração Trump — tornou-se o terceiro reconhecimento do Estado judeu por parte de um país árabe, após Egito (1979) e Jordânia (1994).
Apesar de os signatários defenderem que este entendimento levou à suspensão dos planos israelitas de anexação de partes da Cisjordânia palestiniana ocupada, o Acordo de Abraão é sentido pelos palestinianos como “uma traição”.
(FOTO A 30 de janeiro de 2022, o Presidente de Israel, Isaac Herzog, realizou uma visita oficial aos Emirados Árabes Unidos. Em Abu Dabi, foi recebido pelo príncipe herdeiro Mohamed bin Zayed Al Nahyan WIKIMEDIA COMMONS)
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 31 de agosto de 2020. Pode ser consultado aqui







