Líbano é um país que se espraia sensivelmente pelo território de dois Algarves. Ali vivem apertadas múltiplas confissões religiosas que, desde a independência do país (1943), convivem em função de uma fórmula original de partilha de poder: o Presidente do país é sempre um cristão maronita, o primeiro-ministro um sunita e o presidente do Parlamento um xiita.
Este sistema, definido quando a maioria da população era cristã (já não é o caso), foi reafirmado após a guerra civil, pelo Acordo de Taif. Poupou o país a mais disputas sangrentas, mas criou uma elite de clãs poderosos que se perpetuam no poder, no governo ou na oposição, aliados ou de costas voltadas e, não raras vezes, se anula com recurso a atentados. São exemplos os Gemayel (maronitas), os Hariri (sunitas), os Jumblatt (drusos)… E também o movimento xiita Hezbollah, considerado um Estado dentro do Estado.
Esta classe política sectária, apoiada no clientelismo e na corrupção, age em função dos interesses de quem a apoia e não do povo como um todo. Para uma população com média de idades abaixo dos 30 anos, esta é uma realidade intolerável. Mais ainda quando dela resulta uma governação negligente, desmascarada por casos como a explosão no porto de Beirute.





NÚMEROS
128
deputados compõem o Parlamento, 64 cristãos e 64 muçulmanos. Cada bancada religiosa subdivide-se em diferentes fações
6,8
milhões de pessoas vivem no Líbano: 1,5 milhões são refugiados sírios e quase 500 mil palestinianos. Na diáspora vivem mais de 15 milhões
45 ANOS SEM PAZ E VULNERÁVEL AOS VIZINHOS
1975-1990
Guerra civil Opõe diferentes fações político-religiosas e arrasta Síria, Israel e a OLP. Morrem 120 mil pessoas
1976-2005
Ocupação síria Após a guerra civil, forças sírias ficam no Líbano. A retirada é precipitada pela morte do primeiro–ministro, Rafiq Hariri, num atentado com 1000 kg de TNT e pelos protestos populares que se lhe seguem (Revolução dos Cedros)
1982-2000
Ocupação israelita No mesmo ano em que Israel invade o Líbano (que abrigava a liderança palestiniana), o Hezbollah emerge como movimento de resistência no sul do país. Após anos de escaramuças fronteiriças, em 2006 ambos travam uma guerra de 34 dias. A tensão continua até aos dias de hoje
2012- (…)
Guerra na Síria O Líbano está exposto pela participação do Hezbollah em defesa do regime de Assad e pelos refugiados que acolhe
(IMAGEM Bandeira do Líbano em erosão RAWPIXEL)
Artigo publicado no “Expresso”, a 15 de agosto de 2020. Pode ser consultado aqui

