Quintas eleições porão fim ao ciclo de crises políticas?

Os israelitas vão às urnas pela quinta vez em 43 meses. Há 39 partidos no boletim, mas as legislativas tornaram-se um referendo a Benjamin Netanyahu. O líder da oposição quer regressar à cadeira do poder

1. Que eleições se realizam terça-feira?

Legislativas, as quintas em três anos e meio. As quatro anteriores tiveram resultados inconclusivos — em duas, os partidos mais votados ficaram separados por menos de 1% dos votos —, de que resultaram governos frágeis que pouco duraram. O último, liderado primeiro por Naftali Bennett e depois por Yair Lapid (de partidos diferentes), era apoiado por oito formações com agendas irreconciliáveis, da extrema-direita judaica aos árabes islamitas. A dificuldade em formar governos estáveis é um desafio de Israel desde a fundação (1948): sempre foram de coligação. No dia 1, vão a votos 39 forças políticas.

2. Que preveem as sondagens?

Todas as pesquisas de opinião desde o início da campanha eleitoral, a 15 de setembro, dizem que o Likud (direita), um dos partidos históricos de Israel, será o votado pelos 6.788.804 eleitores. A confirmar-se, a vitória poderá constituir, porém, um amargo de boca para o seu líder — Benjamin Netanyahu, o israelita que mais tempo esteve no cargo de primeiro-ministro —, já que, para formar um Executivo, terá de garantir o apoio de 61 dos 120 deputados. As últimas sondagens dão ao Likud 31-32 lugares, o que significa que terá pela frente a tarefa de conquistar o apoio de quase outros tantos no futuro Parlamento (Knesset).

3. Quem apoia e se opõe a Netanyahu?

“Bibi”, como é conhecido, tem o apoio de fações ultrarreligiosas (Shas e Judaísmo Unido da Torá) e do Partido Sionista Religioso (direita e extrema-direita). O bloco opositor é liderado pelo Yesh Atid (centro), do atual primeiro-ministro, a que se juntam partidos de centro, esquerda e árabes. Netanyahu tem ainda contra si o facto de estar a ser julgado por corrupção, o que faz com que deixe de ser hipótese de coligação, nomeadamente para Yair Lapid. Num país enredado na eterna questão da Palestina, na ameaça do Irão e no aumento do custo de vida, o tema fraturante destas eleições é a sua aptidão para liderar Israel.

4. Que tem dito e feito “Bibi”?

Com a maioria parlamentar a curta distância, tem batalhado por cada voto de forma criativa. Percorre quilómetros a bordo do “Bibi-bus”, um camião com parede lateral em vidro à prova de bala, atrás da qual, de microfone em punho, o ex-governante discursa para quem se acerca para ouvi-lo. Ambicioso e resiliente, “Bibi” — que governou entre 2009 e 2021 e de 1996 a 1999 — prometeu um Governo “forte, estável e nacional” e “anular o terrorismo, restaurar o orgulho nacional e reduzir o custo de vida”. E, ao melhor estilo do “amigo” Donald Trump, disse que o seu julgamento é “manipulado” e “uma piada”.

5. Quem pode viabilizar um Governo?

As sondagens projetam uma forte subida do partido de extrema-direita Poder Judaico (na lista do Partido Sionista Religioso). É liderado pelo ultranacionalista Itamar Ben-Gvir, famoso por tiradas incendiárias contra os palestinianos e por defender judeus radicais em tribunal. Vive num colonato na Cisjordânia, já foi condenado por incitamento ao racismo e, não raro, provocou os árabes visitando a Esplanada das Mesquitas rodeado de seguranças. Após dizer que Ben-Gvir era “impróprio” para integrar um Governo seu, Netanyahu abriu-lhe a porta esta semana dizendo que “decerto pode” ser seu ministro.

6. Que força tem o eleitorado árabe?

Os árabes são um quinto da população de Israel, mas tradicionalmente têm fraca afluência às urnas. Queixam-se de serem negligenciados e enfrentam hoje um agravamento da criminalidade nas zonas onde vivem. Quatro partidos árabes são presença regular nos boletins de voto e a experiência diz que a adesão dos eleitores é maior quando concorrem juntos. Nos últimos anos, tal não tem acontecido neste mosaico de fações sionista, comunista, islamita e nacionalista. Agora, irão a votos divididos em três: se não atingirem a fasquia de 3,25% ficam fora do Knesset.

Artigo publicado no “Expresso”, a 28 de outubro de 2020. Pode ser consultado aqui e aqui

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