Quatro anos de Donald Trump em 40 imagens

No seu primeiro ano na Casa Branca, Donald Trump subiu à tribuna das Nações Unidas para falar de guerra. No segundo, deu um impulso ao muro na fronteira com o México. No ano seguinte, foi alvo de um processo de impugnação no Congresso, o primeiro. E no último ano, obcecado com a reeleição, negligenciou o combate a uma pandemia mortífera. Uma presidência única em 40 imagens

O 45º Presidente dos Estados Unidos, que cessa funções esta quarta-feira, fica para a História como um líder único a vários níveis. Instável, impreparado e egocêntrico, foi o candidato derrotado que mais votos teve numas eleições presidenciais e foi também o único Presidente a ser impugnado duas vezes. Após quatro anos de uma presidência turbulenta, deixa um país mais dividido do que nunca.

1º ANO Ameaça de guerra na casa da paz

Há precisamente quatro anos, a 20 de janeiro de 2017, Donald Trump sucedeu a Barack Obama na presidência dos EUA. Nesse dia, a cordialidade que foi possível testemunhar no contacto entre os Obama e os Trump não deixaria antever a “guerra” que o republicano declararia ao legado do seu antecessor: criticou-o de forma rude, reverteu uma série de decisões importantes, retirando o país de compromissos internacionais (como o Acordo de Paris ou o acordo sobre o programa nuclear do Irão), e empenhou-se até à última em destruir o sistema de saúde que ficou conhecido como Obamacare.

Aos quatro meses de presidência, Trump realizou a sua primeira visita oficial ao estrangeiro. O tour por seis territórios levou-o prioritariamente à Arábia Saudita, num claro sinal de preferência pelo gigante sunita no braço de ferro com o rival Irão, que Trump haveria de castigar com sucessivas sanções.

Durante o primeiro ano na Casa Branca, Trump privou com os pesos-pesados da geopolítica mundial. Realizou uma visita de Estado à China e, na cimeira do G7, em Hamburgo, reuniu-se à margem do evento com o homólogo russo, Vladimir Putin.

Ao longo do mandato, Trump manteria com a Rússia uma trégua que levantou suspeitas — não reagindo a relatos de interferência de hackers russos em instituições americanas, a notícias de que Moscovo pagava aos talibãs para matar soldados americanos no Afeganistão ou não condenando o Kremlin no caso Navalny.

Inversamente, com a China, a relação pegaria fogo: numa primeira fase sob a forma de uma guerra comercial e depois responsabilizando a China pela pandemia que tomou o mundo de assalto.

Num registo nunca antes visto num Presidente dos EUA, a 19 de setembro de 2017, Trump aproveitou o púlpito da Assembleia-Geral das Nações Unidas para quase declarar guerra à Coreia do Norte, que vinha criando tensão com sucessivos testes nucleares.

“Os EUA têm muita força e paciência, mas se forem forçados a defenderem-se ou aos seus aliados, não teremos escolha a não ser destruir totalmente a Coreia do Norte. ‘Rocket Man’ [Kim Jong-un] está numa missão suicida para consigo mesmo e para o seu regime”, disse Trump. Menos de um ano depois, esta relação daria uma reviravolta.

20.01.2017 — Os Obama e os Trump, no dia da tomada de posse do republicano. A aparente harmonia duraria pouco JIM WATSON / AFP / GETTY IMAGES
28.01.2017 — Ao telefone com o homólogo russo, Vladimir Putin, Trump está acompanhado pelos seus assessores mais próximos, entre eles o supremacista Steve Bannon DREW ANGERER / GETTY IMAGES
21.05.2017 — Em Riade, na inauguração de um centro de combate à ideologia extremista. Acompanha-o Melania, o rei saudita, Salman al-Saud, e o Presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi BANDAR ALGALOUD / GETTY IMAGES
22.05.2017 — Donald, Melania e Ivanka Trump recebidos em audiência, no Vaticano, pelo Papa Francisco GETTY IMAGES
22.05.2011 — De visita ao Muro das Lamentações, o lugar mais sagrado para os judeus, em Jerusalém, a cidade disputada que Trump reconheceria como capital de Israel RONEN ZVULUN / AFP / GETTY IMAGES
07.07.2017 — Aos segredos com o homólogo da Rússia, Vladimir Putin, num encontro à margem da cimeira do G20, em Hamburgo SAUL LOEB / AFP / GETTY IMAGES
21.08.2017 — Na varanda da Casa Branca, em Washington, Trump tenta vislumbrar o eclipse solar… sem óculos de observação MARK WILSON / GETTY IMAGES
19.09.2017 — De saída do púlpito da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, após proferir um discurso violentíssimo, ameaçando de guerra a Coreia do Norte DREW ANGERER / GETTY IMAGES
03.10.2017 — Trump atira um pacote de papel higiénico. Seria divertido não fosse num centro de distribuição de bens de primeira necessidade para vítimas de um furacão, em San Juan, Porto Rico JONATHAN ERNST / REUTERS
09.11.2017 — Na companhia de Xi Jinping, durante uma cerimónia de boas-vindas, em Pequim. EUA e China viviam um braço de ferro comercial que evoluiria para uma verdadeira guerra THOMAS PETER / GETTY IMAGES

2º ANO O apoio ao ‘Brexit’ e a visita de Marcelo

Foi só no seu segundo ano na Casa Branca que Trump visitou pela primeira vez o Reino Unido, o principal aliado dos EUA do outro lado do Atlântico. O processo de saída dos britânicos da União Europeia (‘Brexit’) já estava em curso e Trump nunca se conteve em tomar parte, incentivando Londres a cortar o cordão umbilical com Bruxelas.

Ainda antes da deslocação ao Reino Unido, Trump recebeu na Casa Branca Marcelo Rebelo de Sousa. O chefe de Estado português recordou-lhe que Portugal esteve entre as primeiras nações a reconhecer a independência dos EUA e que os fundadores assinalaram esse momento com vinho da Madeira.

Trump demonstrou curiosidade por Cristiano Ronaldo e perguntou a Marcelo se o futebolista não teria hipótese de lhe ganhar numas eleições. “Tenho de lhe dizer que Portugal não é como os Estados Unidos”, respondeu o chefe de Estado português.

No segundo ano de Trump na presidência, uma das suas principais promessas eleitorais levou um impulso — a construção de “um muro grande e lindo” na fronteira com o México. O projeto foi iniciado nos tempos da Administração Clinton, mas Trump defendeu-o como se fosse seu.

Na semana passada, a uma semana de deixar em definitivo a Casa Branca, foi um troço deste muro, na região de Alamo, no estado do Texas, que Trump visitou para mostrar obra feita.

13.03.2018 — Trump discursa junto a um protótipo de muro, durante uma visita a San Diego, Califórnia, junto à fronteira com o México KEVIN LAMARQUE / REUTERS
08.05.2018 — O anúncio faz manchetes em todo o mundo: Trump retira os EUA do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano e repõe sanções contra o regime de Teerão CHIP SOMODEVILLA / GETTY IMAGES
09.06.2018 — Na cimeira do G7, em Charlevoix (Canadá), Trump parece ser aquele que todos querem ouvir JESCO DENZEL / GETTY IMAGES
12.06.2018 — Trump concretiza aquilo que nenhum antecessor conseguira e protagoniza, com Kim Jong-un, a primeira cimeira entre um Presidente dos EUA e um líder da Coreia do Norte, em Singapura ANTHONY WALLACE / AFP / GETTY IMAGES
27.06.2018 — Trump recebe Marcelo Rebelo de Sousa, na Sala Oval da Casa Branca, em Washington ALEX EDELMAN / GETTY IMAGES
13.07.2018 — Boa disposição entre a primeira-ministra britânica Theresa May e Donald Trump, durante a primeira visita oficial do norte-americano ao Reino Unido BRENDAN SMIALOWSKI / AFP / GETTY IMAGES
15.07.2018 — Amante do golfe, Trump é proprietário de vários campos, nos EUA e no estrangeiro, como o da imagem, em Turnberry, Escócia LEON NEAL / GETTY IMAGES
11.10.2018 — Um batalhão de jornalistas cobre a visita do ‘rapper’ Kanye West à Casa Branca. À época, o artista apoiava Trump, em 2020 disputou as presidenciais com o republicano RON SACHS / GETTY IMAGES
05.12.2018 — Junto a três antigos Presidentes (Barack Obama, Bill Clinton e Jimmy Carter), no funeral de George H. Bush, na Catedral Nacional de Washington CHRIS KLEPONIS / GETTY IMAGES
14.01.2019 — Sob o olhar de Lincoln, Trump apresenta uma mesa com ‘fast food’, a sua comida favorita, para banquetear a equipa dos Clemson Tigers, campeã de futebol americano CHRIS KLEPONIS / GETTY IMAGES

3º ANO A pressa e a fé na reeleição

Em 2019 o tradicional discurso sobre o Estado da União, com o qual o Presidente dos EUA toma o pulso ao país, foi para os norte-americanos uma montra da desunião que se vivia entre destacados responsáveis políticos. Quando Trump acabou de falar, a líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, aplaudiu o Presidente de forma sarcástica, numa imagem que correu mundo.

No ano seguinte, na mesma cerimónia, Pelosi rasgaria uma cópia do discurso do Presidente, após Trump ignorar a sua mão estendida para o cumprimentar. Pelosi iniciara o processo de destituição do Presidente, com base em suspeitas de que Trump pedira ajuda à Ucrânia para interferir na eleição presidencial de 2020 de forma a favorecer a sua reeleição. Trump não lhe perdoou.

Neste terceiro ano de mandato, Trump teve o seu ‘momento Bin Laden’ a 26 de outubro de 2019, ao acompanhar desde a situation room da Casa Branca uma operação militar, a milhares de quilómetros de distância, que haveria de neutralizar Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do Daesh (autodenominado “Estado Islâmico”), na Síria.

Dezoito anos após o 11 de Setembro, o terrorismo internacional estava mais complexo, com o Daesh a juntar-se à Al-Qaeda na criação do caos. Obama eliminara Bin Laden, Trump provava estar à altura do seu antecessor.

A 18 de junho de 2019, a mais de um ano das presidenciais onde iria tentar a reeleição, Trump lança-se oficialmente na corrida com um comício em Orlando, na Florida, repetindo o slogan de 2016 — “Make America Great Again” (Tornar a América Grande de Novo).

05.02.2019 — Nancy Pelosi, a líder democrata da Câmara dos Representantes, aplaude Trump de forma sarcástica, no Congresso DOUG MILLS / GETTY IMAGES
12.02.2019 — John Bolton, conselheiro de Trump para a Segurança Nacional, escuta-o numa intervenção na Casa Branca. Os dois entrariam em rutura e Bolton tornar-se-ia um detrator do Presidente CHIP SOMODEVILLA / GETTY IMAGES
02.03.2019 — Trump abraça a ‘Stars and Stripes’, durante um encontro de conservadores, em National Harbor, Maryland TASOS KATOPODIS / GETTY IMAGES
22.04.2019 — Acompanhado por um Coelho da Páscoa, Trump dá as boas-vindas aos participantes no Easter Egg Roll, uma tradição na Casa Branca que data de 1878 WIN MCNAMEE / GETTY IMAGES
05.06.2019 — Divertidos, Donald Trump e a rainha Isabel II assistem às comemorações do Dia D, em Portsmouth, Inglaterra DAN KITWOOD / GETTY IMAGES
18.06.2019 — Quase ano e meio antes das eleições presidenciais, Trump lança a campanha pela sua reeleição, com um grande comício em Orlando, Florida MANDEL NGAN / AFP / GETTY IMAGES
19.07.2019 — Na Casa Branca, em declarações à imprensa, de quem chegou a dizer ser “inimigo do povo”. Para Trump, órgãos como a CNN e “The New York Times” são “fake news media” JABIN BOTSFORD / GETTY IMAGES
26.10.2019 — Na ‘situation room’ da Casa Branca, o Presidente acompanha a operação militar na Síria de captura de Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do “Estado Islâmico” SHEALAH CRAIGHEAD / GETTY IMAGES
28.11.2019 — Na base de Bagram, no Afeganistão, em visita às tropas norte-americanas em missão naquele país OLIVIER DOULIERY / AFP / GETTY IMAGES
03.01.2020 — Momento de oração no evento “Evangélicos por Trump”, num centro religioso em Miami, na Florida JIM WATSON / AFP / GETTY IMAGES

4º ANO Da absolvição à segunda impugnação

Após cinco meses de inquéritos e investigações, o processo de impugnação de Trump chegou ao fim no Congresso com a absolvição do Presidente pelo Senado. O governante mostrou-se vitorioso, mas menos de um ano depois, na reta final do seu mandato, tornou-se o primeiro Presidente dos EUA a ser alvo de um processo de destituição por duas vezes.

Ao recusar reconhecer a sua derrota eleitoral e ao ver goradas as tentativas de vencer as eleições nos tribunais, precipita o seu mandato para o descontrolo. A uma semana de sair de cena, promoveu um comício em Washington, onde apela a uma marcha até ao Capitólio onde, naquele dia, ia ser confirmada a vitória de Joe Biden e Kamala Harris. O apelo resultou no assalto ao Capitólio, por parte de apoiantes seus. Morreram cinco pessoas.

Toda a turbulência política aconteceu no meio de uma pandemia mortífera, cujo combate Trump negligenciou e que já matou mais de 400 mil cidadãos no seu país. Ainda assim, mais de 74 milhões de norte-americanos confiaram nele o seu voto nas presidenciais de 3 de novembro, alimentando-lhe o sonho do regresso em 2024.

06.02.2020 — “Absolvido”, titula “The Washington Post”, na edição em que noticia o fim do primeiro processo de impugnação a Trump DREW ANGERER / GETTY IMAGES
25.02.2020 — De visita à Índia, Donald Trump lança pétalas de rosa junto ao memorial de Mahatma Gandhi, em Nova Deli MANDEL NGAN / AFP / GETTY IMAGES
19.03.2020 — Nas notas para um ‘briefing’ sobre a pandemia, na Casa Branca, Trump risca a palavra “coronavírus” e substitui-a por “vírus chinês” JABIN BOTSFORD / GETTY IMAGES
20.03.2020 — A preocupação de Anthony Fauci, o principal epidemiologista da Casa Branca, durante um ‘briefing’ de Trump sobre a covid-19, tantas vezes desfasado da realidade JABIN BOTSFORD / GETTY IMAGES
01.06.2020 — Trump segura uma Bíblia, à entrada da Igreja de S. João, perto da Casa Branca, após ordenar a repressão dos protestos desencadeados pela morte do afroamericano George Floyd, asfixiado por um polícia BRENDAN SMIALOWSKI / AFP / Getty Images
03.07.2020 — No Monte Rushmore, no Dakota do Sul, onde estão esculpidos os rostos de quatro antigos Presidentes. Assessores de Trump sondaram a governadora acerca do processo necessário para adicionar novos rostos ao monumento… SAUL LOEB / AFP / GETTY IMAGES
15.09.2020 — Os protagonistas dos Acordos de Abraão, mediados pela Administração Trump, pelos quais Emirados Árabes Unidos e Bahrain normalizaram a relação diplomática com Israel ALEX WONG / AFP / GETTY IMAGES
05.10.2020 — Regressado do hospital onde esteve internado após acusar positivo ao novo coronavírus, Trump assoma-se à varanda da Casa Branca e retira a máscara em sinal de desafio WIN MCNAMEE / GETTY IMAGES
08.01.2021 — Uma foto tirada a um telemóvel, na sala de imprensa da Casa Branca, mostra a conta de Trump suspensa no Twitter, o seu meio de comunicação preferido JOSHUA ROBERTS / REUTERS
13.01.2021 — “Impugnado”, escreve em manchete o jornal “The New York Times”, junto a uma foto onde se vê militares a proteger o Capitólio. Donald Trump abandona o poder após um só mandato e dois processos de impugnação ROBERT NICKELSBERG / GETTY IMAGES

(FOTO PRINCIPAL Trump discursa num comício em Jacksonville, na Florida, a 24 de setembro de 2020. Cego com a reeleição, negligenciou o combate à pandemia TOM BRENNER / REUTERS)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 20 de janeiro de 2021. Pode ser consultado aqui

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