Contados cerca de 90% dos votos nas legislativas de terça-feira em Israel, nem o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nem quem se lhe opõe tem garantidos apoios suficientes para formar uma coligação de Governo. Nesta reta final do processo, a expectativa reside nos sufrágios por escrutinar, bem como no posicionamento de um partido islamita que não fecha as portas a Netanyahu
Se é chavão dizer-se que em eleições todos os votos contam, em Israel essa máxima é levada ao extremo. Os resultados finais das legislativas de terça-feira não deverão ser conhecidos antes de sexta-feira, pelo que só então será possível pegar na calculadora e perceber se alguma das forças políticas que foram a votos tem condições para formar Governo.
O partido do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu (Likud, direita) foi de longe o mais votado, mas com cerca de 90% dos votos escrutinados, não tem garantido o apoio de pelo menos 61 deputados, de que precisará para continuar a mandar no país.
BLOCO QUE APOIA NETANYAHU
- Likud (direita conservadora): 30 deputados
- Shas (religioso ultraortodoxo): 9
- Yamina (direita sionista): 7
- Judaismo da Torá Unida (religioso ultraortodoxo): 7
- Sionismo Religioso (extrema-direita): 6
TOTAL: 59 deputados
Esta contagem integra o partido Yamina, liderado por Naftali Bennett. Este foi ministro da Defesa de Netanyahu em 2019 e 2020 e, durante a campanha eleitoral, posicionou-se como desafiador do primeiro-ministro, deixando em aberto um eventual apoio.
Dando como certo esse apoio, a esperança de Netanyahu está em cerca de 450 mil votos, depositados por diplomatas, militares, presos, residentes em lares, doente com covid-19 e pessoas a cumprir quarentena, que só serão abertos após terminar a contagem dos votos em urna. Normalmente, estes envelopes contêm mais votos de direita.
Quanto aos partidos que querem ver Netanyahu fora do poder, também não totalizam o número de deputados suficientes para se lançarem a formar o futuro Executivo. Ainda que matematicamente esse cenário fosse possível, na prática implicaria um entendimento entre sensibilidades políticas difíceis de compatibilizar.
BLOCO ANTI-NETANYAHU
- Yesh Atid (centro): 17
- Azul e Branco (centro): 8
- Yisrael Beiteinu (direita nacionalista): 7
- Partido Trabalhista (centro-esquerda): 7
- Nova Esperança (direita): 6
- Lista Conjunta (árabe): 6
- Meretz (esquerda): 5
TOTAL: 56 deputados
De fora do bloco que deseja o afastamento de Netanyahu do poder está, para já, a Lista Árabe Unida (Ra’am), partido árabe (islamita) que desde 2003 tem ido a votos em coligação com outras formações árabes mas que nestas eleições decidiu concorrer ‘a solo’.
Para já, os votos contados atribuem ao Ra’am cinco deputados no Knesset. Esta quarta-feira, em entrevista à televisão pública Kan, o seu líder, Mansour Abbas, afirmou que o partido “não está obrigado em relação a nenhum bloco ou candidato. Não estamos no bolso de ninguém, nem à direita nem à esquerda”.
Se for opção para Netanyahu, será a primeira vez que um partido árabe fará parte de um Governo em Israel.
(FOTO Um militar participa nas eleições de 23 de março IDF SPOKESPERSON’S UNIT / WIKIMEDIA COMMONS)
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 24 de março de 2021. Pode ser consultado aqui