Vacinação desigual atrasa alívio

“Oito semanas com o dinheiro congelado. Ou enviam as vacinas, ou devolvem-nos o dinheiro.” O Presidente da Venezuela é dos mais inconformadas em relação ao processo de vacinação no mundo. Caracas entregou à OMS o equivalente a €100 milhões para beneficiar do mecanismo Covax de distribuição de vacinas, mas ainda não recebeu qualquer dose.

As sanções internacionais à Venezuela podem estar a agravar o problema, mas o protesto de Nicolás Maduro encerra uma preocupação universal: enquanto todos os países não controlarem a pandemia, o mundo não respirará de alívio. A campanha decorre de forma muito desigual. Enquanto países como a Venezuela têm menos de 10% da população vacinada, o Reino Unido (com mais de 70%) deu por concluída a fase das restrições e entregou a responsabilidade aos cidadãos. “É preciso aprender a conviver com o vírus”, defendeu o primeiro-ministro, Boris Johnson.

Um desafio à vacinação tem sido a metamorfose do SARS-CoV-2. Espanha, onde a variante Delta corresponde a 35% dos casos, alarma-se com o seu carácter altamente contagioso; outras latitudes já se confrontam com a nova estirpe, Lambda. Detetada pela primeira vez no Peru, onde predomina, já foi identificada nos Estados Unidos, Europa (dois casos em Portugal) e Austrália.

A braços com o forte aumento de infeções da variante Delta, esta semana a Austrália cancelou, pelo segundo ano consecutivo, os grandes prémios de Fórmula 1 e Moto GP, marcados para o outono. Ciente de que a batalha se trava fora de portas, enviou ontem para o vizinho Timor-Leste mais 40 mil doses da vacina. A prática tem beneficiado outras nações da região, onde a pandemia continua a ferro e fogo. Esta semana, o Japão declarou o estado de emergência em Tóquio até 22 de agosto. Vigorará, portanto, durante os Jogos Olímpicos.

Texto escrito com Ana França.

Artigo publicado no “Expresso”, a 9 de julho de 2021. Pode ser consultado aqui

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