Israel bombardeou Gaza e o Líbano. Está iminente uma nova guerra? Seis perguntas e respostas para compreender

O Estado judaico está em polvorosa, com protestos antigovernamentais nas ruas, tensão religiosa em Jerusalém, violência no território palestiniano ocupado da Cisjordânia e o regresso do terrorismo a Telavive. Como que se não bastasse, uma chuva de rockets disparados do Líbano fez Israel recuar aos dias da guerra com o Hezbollah

1 Que indícios fazem recear um conflito?

Há exatamente uma semana, o chefe de Estado-Maior da Força Aérea de Israel, general Herzi Halevi — que reside num colonato judaico no território palestiniano da Cisjordânia e está no cargo há três meses —, ordenou uma mobilização de reservistas. Não foi divulgado o número de operacionais abrangidos, mas, segundo a imprensa local, a convocatória afeta, entre outros, pilotos de caças e operadores de drones. A decisão foi anunciada um dia depois de Israel ter bombardeado o sul do Líbano e o território palestiniano da Faixa de Gaza.

2 Que alvos bombardeou Israel?

Posições do Hamas, grupo islamita que controla Gaza e cujo líder político, Ismail Haniyeh, estava de visita ao Líbano. Para Israel, os bombardeamentos foram uma retaliação pelo disparo de 34 foguetes a partir do Líbano contra território israelita, o maior ataque lançado dali desde os 34 dias de guerra entre Israel e o Hezbollah, no verão de 2006. No Líbano, o líder do Hamas reuniu-se precisamente com Hassan Nasrallah, chefe do Hezbollah — partido e milícia xiita, aliado do Irão —, para avaliar a “prontidão do eixo de resistência” face à escalada.

3 Qual o motivo do aumento da tensão?

Desta vez e (quase) sempre, Jerusalém. Em época de Ramadão, a polícia israelita invadiu várias vezes a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar santo do Islão, na Cidade Velha, para controlar “desordeiros”. O comandante da polícia reconheceria o uso de “força excessiva” para dispersar os fiéis barricados no templo. No passado, visitas de judeus radicais às imediações de Al-Aqsa inflamaram os ânimos e motivaram o disparo de rockets de Gaza. Esta semana, o primeiro-ministro Netanyahu vedou o acesso do local a judeus até ao fim do Ramadão (dia 21).

4 A tensão toma apenas Jerusalém?

Não. Há violência na Cisjordânia, envolvendo palestinianos, colonos judeus e forças israelitas; na Faixa de Gaza (sob bloqueio), com lançamento de foguetes contra Israel; e no coração de Israel. Horas após o ataque a Gaza e ao Líbano, um turista italiano foi morto e cinco italianos e britânicos ficaram feridos, depois de um carro investir contra transeuntes que passeavam pela marginal de Telavive. O condutor era um árabe israelita, natural de Kafr Qasem, uma das cidades que, nos últimos anos, têm sido palco de violência entre judeus e árabes.

5 Que resposta dá o Governo?

Apoiado em partidos religiosos e extremistas, o Executivo de Netanyahu enfrenta múltiplos fogos. Com o Parlamento em férias da Páscoa, há uma pausa nos protestos populares contra a polémica reforma do sistema judicial, que subalterniza a justiça ao Governo. Mas o assunto continua efervescente. Esta semana, numa demonstração inédita de fraqueza política, Netanyahu recuou na decisão de demitir o ministro da Defesa — Yoav Gallant, militante do seu partido Likud (direita) —, que exonerara por ter defendido a suspensão da reforma. Afinal, Gallant fica.

6 Quão coesos estão os militares israelitas?

A discussão em torno da reforma judicial, que será retomada em maio, expôs objeções no sector. O ministro Gallant, militar de carreira, foi o principal rosto dessas reticências, mas os alarmes soaram com intensidade quando reservistas aderiram aos protestos, mostrando-se indisponíveis para servir. O desconforto contagiou também os serviços secretos, os quais, segundo documentos do Pentágono despejados na internet (texto ao lado), instigou aos protestos antigoverno.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 13 de abril de 2023. Pode ser consultado aqui

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