O sistema de castas é ilegal, mas o preconceito existe. Várias questões culturais fragilizam ‘a maior democracia do mundo’
A Índia é um país muito jovem e também com altos níveis de pobreza ARUN SANKAR / AFP / GETTY IMAGES
O país mais populoso do mundo, simultaneamente o sétimo em área, é um complexo xadrez com várias etnias e religiões, regiões com pretensões separatistas, poder político central nacionalista e perseguições a minorias. E ainda um sistema de castas que condiciona a distribuição do trabalho pela população e engrena o elevador social.
SOCIEDADE POR CASTAS
A discriminação que Gandhi não resolveu
Há séculos que a sociedade indiana está estratificada em castas. Este sistema emana do Código de Manu, parte de um conjunto de livros bramânicos que são a base do hinduísmo. A linhagem sanguínea, e não a posse de bens, determina a pertença a uma casta. Há milhares, agrupadas em quatro grandes grupos: os brâmanes, mais sábios (sacerdotes, professores, filósofos), criados, segundo a mitologia hindu, a partir da cabeça de Brama, o deus que criou o Universo; os xátrias, guerreiros (soldados, polícias, governadores) que nasceram dos braços de Brama; os vaixás surgiram das pernas (comerciantes) e os sudras dos pés do deus (camponeses, artesãos, operários). Na base da pirâmide estão os dalits, os mais miseráveis, aos quais Madre Teresa de Calcutá dedicou a vida. Criados do pó que Brama pisou, recolhem lixo e limpam lavabos.
Após a independência, o sistema de castas foi ilegalizado, mas sobreviveu na forma de tradição e preconceito. Para combatê-lo, um mecanismo de discriminação positiva reserva empregos públicos aos grupos inferiores. “O problema é a integração das castas inferiores nas mais altas. Não são consideradas iguais. É um grande problema para a mobilidade social”, diz Amit Singh, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Mas factos provam que o sistema não é estanque. A atual Presidente da Índia, Draupadi Murmu, escolhida por eleição indireta, é uma mulher dalit. E há os dalit millionaires, que aproveitaram a abertura económica para fazer milhões. Em 2018, ao “El País”, Tushar Gandhi, bisneto de Mahatma, diz que livrar os dalits do estigma de intocáveis foi um fracasso que o ícone da resistência pacífica carregou até ao fim da vida: “O sistema de castas estava tão arraigado nesta cultura que o assédio continua, 70 anos depois.”
VIOLÊNCIA ÉTNICA
O preço da marginalização
Na Índia, cerca de 104 milhões de pessoas (8,6% da população) pertencem a tribos. Por estes dias, o Estado de Manipur (Nordeste) — que, como Caxemira, era um “Estado principesco” à época da colonização britânica — é prova de que a convivência sonhada por Gandhi (assassinado por um radical hindu) é uma ilusão. Pelo menos 60 pessoas morreram em confrontos entre grupos étnicos. Prédios, veículos e dezenas de igrejas foram incendiados. Cerca de 35 mil pessoas ficaram desalojadas. A origem da violência remonta a 3 de maio, quando milhares de membros das tribos kuki e naga, que vivem nas montanhas de Manipur e são “tribos reconhecidas” pela Constituição, saíram à rua em protesto contra a possibilidade de o mesmo estatuto ser atribuído ao grupo maioritário no Estado: os meiteis (não tribal), que vivem no vale fértil.
Tal significaria que as quotas de empregos públicos para kukis e nagas (sobretudo cristãos) teriam de ser partilhadas com essa comunidade hindu. Militares e polícias foram mandados em peso para as ruas e o acesso à internet foi cortado. “A separação é a única resposta”, defendeu um kuki, falando com o jornal “The Guardian”. “Isto é uma limpeza étnica do povo da montanha. Só podemos sentir-nos seguros como minoria se tivermos o nosso próprio Estado.”
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
Agenda nacionalista hindu ao ataque
Desde que estreou, a 5 de maio, “The Kerala Story” tornou-se um êxito de bilheteira na Índia. Este filme hindu conta a história de um grupo de mulheres de Querala que se converteu ao islão e aderiu ao grupo terrorista que proclamava o Estado Islâmico. A associação entre religião e terrorismo, vista na Índia como provocação hindu à minoria muçulmana de 200 milhões, levou à proibição do filme em alguns Estados indianos e nos cinemas do Reino Unido. A Comunidade Hindu de Portugal chegou a anunciar três sessões em Lisboa, cancelando-as depois de o anúncio gerar reações nas redes sociais. “A mensagem geral deste filme não coincide com a sua missão religiosa e cultural”, justificou depois a Comunidade. Tecnicamente, a Índia é um país laico, mas a agenda supremacista hindu do Partido do Povo Indiano (Bharatiya Janata), do primeiro-ministro, Narendra Modi, tem potenciado inimizades entre hindus e muçulmanos. A tensão máxima localiza-se em Caxemira, único Estado de maioria muçulmana.
EROSÃO DA DEMOCRACIA
Tiques autocráticos contra os críticos
Os alertas renovam-se a cada novo relatório sobre o estado da democracia no mundo: a Índia já só é uma democracia parcial. Opositores, académicos, jornalistas que critiquem ou indisponham as autoridades de alguma forma têm sido criminalizados ao abrigo de legislação contra o terrorismo e a sedição, esta última uma herança colonial britânica. Por enquanto, no Ocidente a passadeira continua a estender-se, sem reservas, para receber o líder da “maior democracia do mundo”. A 22 de junho, Modi será recebido por Joe Biden na Casa Branca e a 14 de julho será o “convidado de honra” de Emmanuel Macron no dia da Tomada da Bastilha.
Artigo publicado no “Expresso”, a 19 de maio de 2023. Pode ser consultado aqui ou aqui
População vasta e jovem não garante à Índia o estatuto de potência global que hoje tem a China, o outro colosso demográfico
SANJAY KANOJIA / AFP / GETTY IMAGES
A Índia está num momento-chave da sua história. O rápido crescimento continuará, provavelmente, e até vai acelerar”, vaticina a prestigiada “Foreign Affairs”. “Trabalhadores da Índia, tendes a atenção do mundo”, diz a respeitada “The Economist”. “A Índia desperta”, prevê a consagrada “Time”. “Alimentada por um crescimento de alta octanagem [resistente à pressão], a maior democracia do mundo está a tornar-se uma potência global. Pelo que o mundo nunca mais será o mesmo.”
Qualquer destas análises ao momento da Índia foi feita… há quase 17 anos. Já em 2006 a projeção internacional daquele país era uma certeza anunciada. Chegados a 2023, essa promessa continua por cumprir, mas o potencial continua a alimentar o mesmo tipo de expectativa. “Será este o ‘século indiano’?”, perguntava, há dias, o influente “The New York Times”.
Sem certezas quanto ao dia exato, 2023 ficará na História como o ano em que a Índia ultrapassou a China, tornando-se o país mais populoso do mundo, com mais de 1425 milhões de habitantes. Este marco não resulta de um crescimento demográfico exponencial — na Índia, a taxa média de fecundidade é de dois filhos por mulher —, antes do declínio populacional da China, após décadas de restrições à natalidade impostas pelo Governo de Pequim. Hoje, uma chinesa tem, em média, 1,2 filhos.
“O problema com a população na Índia é que milhões de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza [$2,15/€2 por dia, segundo o Banco Mundial]”, diz ao Expresso o investigador Amit Singh, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Estima-se que em 2019 mais de 600 milhões de indianos (cerca de 45% da população) viviam com menos de 3,65 dólares (€3,30) por dia. “O Governo atual não cuida da população marginalizada, que pode ser um ativo mas também pode tornar-se um fardo.”
Amit Singh é natural do Estado de Utar Pradexe, o mais populoso. No mundo, só quatro países — China, Estados Unidos, Indonésia e Paquistão — têm mais habitantes do que essa região do Norte da Índia.
A força da juventude
“Por si só, o crescimento demográfico não é necessariamente sinónimo de outros tipos de crescimento”, acrescenta ao Expresso Paulo Duarte, professor de Relações Internacionais nas Universidades do Minho e Lusófona. “Pode até ser paradoxal no aumento de maiores riscos, porque nem sempre o crescimento da população é acompanhado pelo aumento de empregos, e isso pode gerar tensões.”
As expectativas em torno do crescimento da Índia assentam noutro registo impressionante. O país tem uma das populações mais jovens do mundo, com uma média de idades a rondar os 29 anos. “Chegou a hora. O mundo inteiro olha para a Índia e a maior razão para isso é a juventude. Yuva Shakti [poder da juventude] é a força motriz da jornada de desenvolvimento da Índia”, empolgou-se o primeiro-ministro, Narendra Modi, em janeiro passado, num discurso perante o Corpo Nacional de Cadetes, em Nova Deli.
A Índia tem uma das populações mais jovens do mundo, com uma média de idades a rondar os 29 anos
Para que o país agarre a oportunidade proporcionada por uma população vasta e jovem e destrone a China também a nível económico, contudo, há investimentos urgentes a fazer a nível do capital humano. “Em circunstâncias normais, ter uma população e uma força de trabalho jovens pode ser um boom para qualquer nação”, diz Amit Singh. “Mas para o Governo indiano a educação não tem sido prioridade, bem como a criação de emprego para os jovens. O desemprego é o mais alto de sempre, em 2023 anda à volta dos 7,5%. É o maior desde a independência”, declarada a 15 de agosto de 1947.
A Índia é independente há 76 anos, mas só há pouco mais de 30 funciona numa lógica de mercado. Os recentes protestos de agricultores, que se prolongaram durante mais de um ano, são sintoma do descontentamento gerado pela aplicação de reformas económicas num sector que dependia de subsídios e de preços fixos estabelecidos pelo Executivo.
Dinheiro sem valor do dia para a noite
“Na Índia há uma falta de visão a curto, médio e longo prazos”, segundo Paulo Duarte. “Não há planos quinquenais, como na China, que é um país comunista mas onde o capitalismo é cada vez mais omnipresente e selvagem. Na China produz-se e projeta-se a longo prazo desde tempos milenares. No próprio Partido Comunista, que tem mais de 90 milhões de militantes, tudo é projetado no tempo e no espaço de forma holística. Esta é uma diferença importante em relação à Índia”, prossegue o académico, a comparar os dois gigantes.
Amit dá como exemplo da falta de planeamento do Governo de Modi — que está no poder há nove anos — o caótico 8 de novembro de 2016, quando, sem aviso prévio, o primeiro-ministro comunicou na televisão que à meia-noite daquele dia as notas de 500 e 1000 rupias (€5,50 e €11 ao câmbio atual), as de maior montante, deixariam de ter valor de circulação e teriam de ser depositadas no banco.
Num país onde a esmagadora maioria das transações se faz em dinheiro vivo, Modi justificou a medida com a necessidade de combater a economia paralela e a circulação de dinheiro ilícito e falsificado. “O dinheiro negro e a corrupção são os maiores obstáculos à erradicação da pobreza”, explicou. Ao não acautelar as consequências, porém, o anúncio originou uma corrida às notas de baixo valor. De um dia para o outro, milhões de indianos viram-se sem trocos para pagar a despesa na padaria.
“Isto teve impacto no sector manufatureiro e efeitos devastadores ao nível da pequena e média indústria”, diz o investigador indiano. “Claro que a Índia está a crescer, mas os benefícios desse crescimento económico vão apenas para ricos e para a elite.”
Estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) preveem que em 2023 a economia indiana seja a que mais cresce em todo o mundo, na ordem dos 5,9%. Ainda que de forma involuntária, há aqui dedo da China. “A pandemia e a guerra comercial [entre EUA e China] mostraram que não pode estar quase tudo localizado na ‘fábrica do mundo’. É impensável, caso surja outra pandemia, estar-se dependente de um único país”, defende Paulo Duarte.
Aptidão para as tecnologias
Várias multinacionais reconheceram que colocar os ovos todos no cesto da China foi má estratégia. Marcas como as desportivas Nike e Adidas ou as tecnológicas Apple e Samsung já começaram a deslocalizar estruturas de produção. Dado a aptidão dos indianos para a área das tecnologias, a Índia surge como alternativa natural.
Dhruva Jaishankar, diretor da Observer Research Foundation America, em Washington, não crê que os indianos tenham características inatas para essa área. “Uma explicação possível é a combinação da ênfase dada ao ensino STEM [modelo de aprendizagem focado em Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemáticas] nos sistemas escolar e universitário indiano, combinada com uma educação básica em inglês, que torna os indianos empregáveis no exterior”, afirma ao Expresso.
“É notável que haja um número tão grande de engenheiros e profissionais de ciência e tecnologia indianos a trabalhar em todo o mundo, muitas vezes com grande procura.” Ao mais alto nível, são exemplos disso os CEO Satya Nadella (Microsoft), Sundar Pichai (Google), Indra Nooyi (PepsiCo), Arvind Krishna (IBM) e Raj Subramaniam (FedEx), nascidos na Índia.
A 18 de abril, Tim Cook inaugurou, em pessoa, a primeira loja da Apple na Índia, em Mumbai, a capital financeira. A gigante americana já instalou unidades de produção de iPhones nos Estados de Tâmil Nadu e Carnataca, cuja capital é Bangalore, a “Silicon Valley” indiana. Num relatório enviado a clientes em outubro de 2022, analistas do banco JPMorgan previram que até 2025 um em cada quatro iPhones seja fabricado na Índia.
UMA DIMENSÃO ÚNICA
86 mil
crianças nascem na Índia, em média, todos os dias. Na China, esse número ronda os 49.400. A taxa de natalidade indiana é de dois filhos por mulher, enquanto na China caiu para 1,2
100
smart cities [cidades inteligentes] serão desenvolvidas por toda a Índia no âmbito de um programa de renovação e modernização urbana lançado pelo Governo em 2015. Utar Pradexe é o Estado com mais projetos (14)
23%
das indianas realizam um trabalho pago, diz o Banco Mundial. No vizinho Bangladeche esse número é de 37%, e na China de 63%. Na Índia, as mulheres são ainda pressionadas a não trabalhar fora de casa
ÍNDIA PRECISA DE ‘FILHOS ÚNICOS’?
Em 1979, a braços com um crescimento exponencial da sua população e receios de que o país não produzisse o suficiente para alimentar tantas bocas, a China impôs o limite de um filho por casal. Em 2016, a restrição passou a dois filhos e em 2021 foi abolida. Hoje, Pequim contabiliza os custos dessa política, que levou a esterilizações, abortos forçados, feminicídios e retirou sentido às palavras “irmã” e “irmão”. “A Índia não precisa de medidas restritivas centradas no controlo, como a política do filho único. O seu percurso demonstra que o declínio da fertilidade pode ocorrer sem coerção. O programa de planeamento familiar é voluntário e alcançou o nível de fertilidade de reposição [dois filhos por mulher] sem quaisquer medidas coercivas”, assegura ao Expresso Poonam Muttreja, diretora-executiva da Fundação da População da Índia. Esta responsável rejeita o cenário de “explosão” demográfica. Salienta que o país está no caminho da estabilização, após ter mudado de paradigma: “A ênfase era o controlo populacional”, agora está em “melhorar a qualidade de vida como meio de alcançar uma população estável”.
Artigo publicado no “Expresso”, a 19 de maio de 2023. Pode ser consultado aqui e aqui
Os profissionais indianos são particularmente procurados por empregadores da área das tecnologias, desde logo grandes multinacionais estrangeiras. Essa aptidão resulta de décadas de investimento no sector educativo, em especial no ensino de Matemática e Ciências. Em Mumbai, onde vive, Eugénio Viassa Monteiro detalha razões para o protagonismo indiano ao nível das tecnologias. Leia também, na edição impressa de 19 de maio, um extenso trabalho sobre as promessas sempre adiadas de um país que vai tornar-se o mais populoso do mundo, ultrapassando a China
CORTESIA EUGÉNIO VIASSA MONTEIRO
Algumas das multinacionais mais reconhecidas em todo o mundo têm à frente gestores nascidos na Índia. São disso exemplos Google, Microsoft, IBM, FedEx, Adobe Inc. ou PepsiCo. Este denominador comum não é obra do acaso.
Os indianos não têm propriamente características genéticas que os capacitem de forma mais especial para as tecnologias, mas usufruem, desde tenra idade, de um sistema educativo que investe na Matemática e nas Ciências.
Em entrevista ao Expresso a partir de Mumbai, onde vive, Eugénio Viassa Monteiro destaca a criação dos Institutos Indianos de Tecnologia, “extremamente seletivos e onde se formaram cabeças brilhantes” como um segredo do sucesso da Índia em matéria de tecnologia. Nascido em Goa, em 1944, este cofundador da AESE Business School, de Lisboa, é autor do livro “O Despertar da Índia” (Alêtheia Editores, 2009).
Por que razão os indianos são grandes talentos na área das tecnologias? Dentro da pobreza de vida na Índia, explorada até ao tutano pelos ingleses e, mais tarde, após a independência, a funcionar num modelo decalcado do soviético, de economia planificada, controlada e propensa a grande corrupção, e com enorme pobreza e miséria, os pais de família, pensando na melhoria de vida dos seus filhos, davam grande importância ao estudo da Matemática e das Ciências, em detrimento dos desportos e de outros saberes mais literários. Lembro-me de, em Goa, por exemplo, nos anos 1960, haver pouquíssimas escolas primárias públicas. Mas a grande maioria das crianças estudava em escolas de aspeto miserável, na língua marati [falada sobretudo no vizinho estado de Maarastra], pagando uma propina irrisória, e onde aprendiam aritmética, tabuada, cálculo mental, etc.
Com que objetivo? A ideia do primeiro-ministro Jawaharlal Nehru [1947-1964] era apoiar o crescimento rápido da Índia nas áreas da Ciência e Tecnologia. Daí ter criado os célebres Institutos Indianos de Tecnologia (IIT), extremamente seletivos, onde se formaram mentes brilhantes que hoje dominam grandes multinacionais estrangeiras e indianas.
Hoje, há na Índia 23 IIT e milhares de instituições de formação em Engenharia, promovidas por cada um dos estados, por entidades privadas, etc. E há os Institutos Indianos de Tecnologia da Informação (IIIT). Na Índia, o sector das Tecnologias de Informação (TI) ocupa mais de cinco milhões de especialistas, sendo o país uma potência neste campo. Na mesma linha, foram criados os Institutos Indianos de Administração (IIM, na sigla inglesa), muito afamados também, para impulsionar todo o desenvolvimento empresarial e económico. Há 20 IIM na Índia e milhares de Escolas de Administração.
Entre os Institutos mais relevantes, saliento as Escolas Médicas, sendo o Instituto de Ciências Médicas de Toda a Índia (AIIMC) o modelo das Faculdades de Medicina. Hoje há 22 AIIMC na Índia. Entre AIIMC e Escolas Médicas, a Índia tem hoje 654 Faculdades de Medicina, que recebem todos os anos aproximadamente 100 mil estudantes e quase 65 mil para pós-graduação.
Tudo isto possibilita uma boa capacidade de resposta à procura que os profissionais indianos têm no estrangeiro… A grande solicitação de engenheiros, dirigentes empresariais e, em especial, de médicos tem crescido pela qualidade da sua preparação e sobretudo pela competência e disciplina de trabalho. Os Estados Unidos souberam valorizar o mérito dos engenheiros, médicos e gestores indianos. Poucos países europeus o souberam reconhecer. Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia têm os olhos postos na Índia para atrair os seus licenciados com formação superior. A Índia quer ter os médicos altamente especializados de que necessita e, ao mesmo tempo, deixar que partam os que assim o queiram.
A Índia tem muita pobreza, mas, ao mesmo tempo, projeta a construção de 100 cidades inteligentes (smart cities). É possível o país tornar-se referência ao nível das sociedades digitalizadas sem resolver o problema da pobreza? O objetivo das smart cities é criar cidades que forneçam as infraestruturas básicas para dar uma qualidade de vida decente aos seus cidadãos. Para tal, há um orçamento de mais de $24 mil milhões de dólares [€22 mil milhões] para realizar 7804 projetos. Destes, 5246 estavam já concluídos em finais de janeiro último. A população urbana está a crescer e, em 2030, cerca de 40% da população da Índia viverá nas cidades. É bom preparar as condições de vida nas futuras cidades. Há também numerosos programas para dotar de habitação os mais pobres, criar trabalho nas zonas rurais e, sobretudo, para lhes canalizar apoios, algo como o “rendimento mínimo”.
Há algum projeto particularmente emblemático? Um projeto extraordinário, iniciado por Manmohan Singh [primeiro-ministro entre 2004 e 2014], é o Aadhaar Card, uma espécie de cartão de cidadão, em que cada pessoa tem o seu cadastro pessoal, um número individual [de 12 dígitos] e todos os dados pessoais e biométricos. Desta forma, a canalização de apoios faz-se diretamente para a conta bancária do titular, sem desvios. E 99% das casas de família têm conta bancária. Melhor ainda: 77% da população (com mais de 14 anos) tem a sua conta bancária.
Que representa o sector das tecnologias para o Governo indiano? É uma aposta prioritária? Todo o sector das TI nasceu da iniciativa privada. Daí ter crescido com muita força e, sobretudo, com grande velocidade. Diz-se que por pouco saberem sobre como controlar e submeter projetos ao regime das Licenças Raj [termo pejorativo usado para designar o controlo apertado do Governo à economia, entre as décadas de 1950 e 1990], burocratas e ministros deixaram andar. Foi como nasceu e cresceu o sector que hoje emprega cerca de cinco milhões de especialistas.
Que empresas de TI destacaria? Há quatro maiores: a Tata Consultancy Services (TCS), criada em 1968 e hoje com 556 mil trabalhadores; a Infosys, fundada em 1981 e com mais de 335 mil funcionários; a HCL Technologies, formada em 1991 e com mais de 225 mil colaboradores; e a WIPRO Technologies, com 232 mil especialistas [e escritório em Portugal].
Como é que isso se reflete internamente? Como são as comunicações na Índia, por exemplo? As comunicações telefónicas na Índia passaram de ser uma absoluta nulidade para serem das mais eficazes e baratas de todo o mundo. Em 1995, haveria na Índia 5,3 milhões de telefones de rede fixa, o telefone era considerado um luxo. Com a liberalização do sector, que deixou entrar todos os operadores que quisessem, a competição eliminou aqueles que viviam à sombra do poder. Triunfaram os empreendedores muito bons.
Hoje há três grandes operadoras: Airtel, Reliance e Vodafone-Idea. No total há mais de 1180 milhões de assinantes de rede móvel e cerca de 22 milhões de rede fixa. Os custos das comunicações, que são um instrumento de trabalho, são irrisórios. O G5 está praticamente acessível em todo o país e há projetos ao nível do G6 para que a Índia tenha voz ativa na área da tecnologia e nos padrões de qualidade.
A produção anual de TI e serviços associados é de $250 mil milhões (€230 mil milhões), dos quais $190 mil milhões (€175 mil milhões) são exportados. O restante destina-se ao consumo doméstico.
No âmbito da digitalização, para tirar partido da Inteligência Artificial (IA) ou Machine Learning, Internet das Coisas e Robótica, a disponibilidade de talentos é decisiva para garantir o progresso e tornar os processos mais eficazes e fiáveis.
Esse é um factor muito atrativo para quem investe nessas áreas… Muitos grandes empregadores (empresas de TI, por exemplo) sentiram forte impacto com o estabelecimento na Índia de muitos Centros de Capacitação Global (CCG), os centros de tecnologia e serviços das multinacionais que as ajudam a transformarem-se digitalmente e ao nível da inovação. Os CCG estão a crescer rapidamente à medida que as empresas globais procuram talentos na Índia. Espera-se que, até 2026, mais de 500 CCG sejam adicionados aos 1500 já existentes, que empregam 1,3 milhões de pessoas.
As multinacionais procuram os melhores especialistas, não se importando de pagar muito bem. Daí, a saída de talentos das empresas locais para os GCC. As saídas de trabalhadores de alto valor é, em geral, algo muito bom e importante para o país e para os próprios. Os melhores saem, porque valem; outros, com boas capacidades, vão especializar-se, e esperar por novos convites.
(FOTO Na cidade indiana de Lucknow, a capital do estado de Uttar Pradesh, estudantes celebram os bons resultados em clima de festa DEEPAK GUPTA / GETTY IMAGES)
A organização do festival não gosta, mas a política sobe ao palco da Eurovisão, ano após ano. O certame de 2023 em Liverpool não será exceção. Ao estilo de aperitivo para a primeira semifinal, esta terça-feira à noite, na qual a portuguesa Mimicat disputará um lugar na final, seguem-se dez interrogações de caráter político, comentadas por Tiago André Lopes, professor na área das Relações Internacionais e grande fã do concurso musical
1. A Ucrânia repetirá a vitória do ano passado?
Ainvasão russa continua, mas é pouco provável que o triunfo da Ucrânia, obtido com o coração, no evento de 2022 em Turim — realizado menos de três meses após o início da guerra —, se repita em Liverpool.
“A vitória da Ucrânia parece-me muito improvável este ano. Ao nível dos júris, não parece de todo que a Ucrânia esteja na corrida. Julgo que vão privilegiar canções mais previsíveis de serem premiadas”, diz Tiago André Lopes, professor de Comunicação para a Diplomacia, na Universidade Portucalense. “Mas não ficarei surpreso se, na votação do público, o bloco de leste votar de forma expressiva na Ucrânia”. O país invadido concorre com o tema “Heart Of Steel”, dos Tvorchi.
Afinal, no ano passado, foi precisamente a preferência do público europeu o segredo da vitória da Ucrânia. “Stefania”, da banda Kalush Orchestra, foi a canção mais pontuada no televoto, com 28 dos 39 países participantes a dar os 12 pontos à Ucrânia (Portugal foi um deles).
Porém, ao nível dos júris, a Ucrânia só obteve a pontuação máxima de cinco países do bloco de leste: Letónia, Lituânia, Moldávia, Polónia e Roménia. O júri português atribuiu 8 pontos à canção ucraniana (e o ucraniano deu 10 à portuguesa).
2. A Rússia participa nesta edição?
Não, nem a sua aliada Bielorrússia. Foram ambas suspensas pela União Europeia de Radiodifusão (EBU), a entidade que organiza a Eurovisão, mas por razões diferentes.
A 25 de fevereiro de 2022, no dia seguinte ao início da invasão russa da Ucrânia, a EBU emitiu um comunicado excluindo a Rússia do festival de Turim. “A decisão reflete a preocupação de que, à luz da crise sem precedentes na Ucrânia, a inclusão de uma inscrição russa no concurso deste ano trouxesse descrédito à competição”, explicou a organização. Esta posição levou os três canais russos membros da EBU a ameaçarem desfiliar-se, ao que a União respondeu com a suspensão.
Já a emissora estatal de rádio e televisão bielorrussa BTRC está suspensa desde 28 de maio de 2021, como resposta à “supressão da liberdade de imprensa” no país.
A penalização da Rússia, em particular, tem consequências abrangentes. “A Rússia era um país que contribuía muito significativamente para a EBU, e a sua suspensão fez com que a inscrição [no festival] subisse de preço”, explica Tiago Lopes. “Há países que não conseguiram comportar os custos e optaram por não ir este ano.” Bulgária, Macedónia do Norte e Montenegro são exemplos. O mesmo aconteceu com Portugal em 2013, durante o resgate financeiro pela troika.
Por estes dias, a “superlambanana”, uma icónica escultura de Liverpool, ganhou as cores da Ucrânia PAUL ELLIS / AFP / GETTY IMAGES
3. Há mais países ausentes?
A EBU é composta por organizações de radiodifusão oriundas de 56 países (incluindo os dois suspensos). Em Liverpool participarão apenas 37, logo há bastantes que ficam de fora. A última vez em que concorreram 37 canções foi em 2014. Desde então, houve sempre mais.
Na história da Eurovisão, o recorde de participantes está nos 43, registados em três edições: 2008 (Belgrado), 2011 (Dusseldorf) e 2018 (Lisboa).
Este ano, para lá das questões financeiras, há razões de peso a justificar ausências. A conservadora Hungria, por exemplo, está em declarada rota de colisão com a exuberância que a Eurovisão tem vindo a assumir.
“A Hungria participou pela última vez em 2019, na mesma semifinal de Conan Osíris. Joci Pápai, que já era um repetente na Eurovisão, ficou muito perto da final, mas não passou. Depois, a Hungria retirou-se do certame e uma das razões invocadas foi a de que o festival se tornara uma parada LGBT, e o país não compactuaria com isso.”
Tiago André Lopes recua até 2012 para recordar outra manifestação de grande conservadorismo em relação ao festival. “O anfitrião foi o Azerbaijão, país conservador, de maioria islâmica xíita, como o Irão”, onde cerca de 15% da população é de etnia azeri. “O Irão considerou que o Azerbaijão estava a perverter a sua alma ao receber um espetáculo desta natureza. Em protesto, o embaixador retirou-se e a embaixada iraniana em Baku fechou portas durante o mês de maio para não ser contaminada pelo espírito da Eurovisão.”
4. Em Liverpool, haverá temas com letras políticas?
“A canção da Ucrânia não tem nada que ver com guerra, mas alguns países levam canções cujas letras estão, claramente, contaminadas pela guerra”, diz Tiago Lopes. “A Croácia faz uma paródia aos ditadores.”
Em palco, cinco homens apresentam-se ao estilo de um espetáculo de travestismo e cantam sobre uma “mamã” que “comprou um trator” e “beijou um idiota”, numa alusão implícita ao trator oferecido pelo Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, ao homólogo russo, Vladimir Putin, a 7 de outubro de 2022, como presente pelo seu 70.º aniversário.
“Toda a atuação do grupo croata [Let 3] é muito bizarra e é uma crítica direta a esses dois ditadores.” Com um histórico de provocações, a banda confirmou, numa entrevista, tratar-se de “uma canção contra a guerra. O nosso único desejo é que a guerra acabe o quanto antes e que a paz e o amor emerjam.”
Outra música política é a balada da Suíça, “Watergun”. “Remo Forrer canta sobre o modo como passamos de brincar às guerras, em crianças, para de repente estarmos numa guerra, e numa guerra real onde não se brinca com pistolas de água.”
Carlos e Camila, os monarcas britânicos, visitaram o palco da Eurovisão, a M&S Bank Arena de Liverpool PHIL NOBLE / AFP / GETTY IMAGES
5. Grécia e Chipre vão continuar a dar 12 pontos um ao outro?
É um clássico na Eurovisão que até já motiva apupos dos fãs na plateia. Desde que Chipre se estreou no certame, em 1981, cabem nos dedos de uma mão as vezes em que Grécia e este país insular do Mediterrâneo não deram pontuação máxima ao outro. Na origem desta preferência está a invasão turca da ilha de Chipre, em 1974, que dividiu o território numa parte grega (Estado soberano, membro da UE e com direito a participar no festival) e numa zona turca (um país que só a Turquia reconhece).
“Grécia e Chipre não são caso único”, diz Tiago Lopes. “Roménia e Moldávia, tradicionalmente, também partilham votos. Mesmo o bloco nórdico — Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia — tende a trocar a votação máxima entre si. E também acontecia entre a Rússia e Bielorrússia.” Há também solidariedade natural entre países do Báltico ou dos Balcãs.
Há dez anos, a Rússia protagonizou um dos episódios mais indigestos da história da Eurovisão. No festival de Malmö, na Suécia, o júri russo deu 12 pontos à canção do Azerbaijão (que ficaria em segundo lugar), enquanto os azeris não atribuíram pontos à música russa (que ficou em quinto).
A questão escalou a hierarquia e chegou ao primeiro plano da política. Em Moscovo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, já então Sergei Lavrov, disse que foram “roubados 10 pontos” à Rússia. “Esta ação ultrajante não ficará sem resposta”, prometeu. Em Baku, o Presidente Ilham Aliyev ordenou uma investigação aos zero pontos dados à Rússia e uma recontagem de votos.
Esta lógica de blocos regionais e o impacto que tem nas votações levaram Ancara a bater com a porta da Eurovisão. “A Turquia está contra o sistema de votação, porque considera que, tal como Portugal, é prejudicada por ter poucos vizinhos.” A última participação turca foi em 2012, pela voz de um cantor judeu.
A cidade que acolhe a Eurovisão viu nascer The Beatles, em 1960 CHRISTOPHER FURLONG / GETTY IMAGES
6. Há países árabes a participar na Eurovisão?
Atualmente não, mas já houve e poderá voltar a haver. Entre os 56 países membros da EBU, há sete árabes: Argélia, Jordânia, Líbia, Egito, Tunísia, Marrocos e Líbano. Apenas uma vez um deles participou na Eurovisão: Marrocos, em 1980, em Haia. Em 19 participantes, a canção de Samira Bensaid ficou em penúltimo lugar.
“Não correu muito bem, mas, curiosamente o espetáculo em Marrocos, e em particular na Argélia, é muito popular”, diz o professor. “A saída de Marrocos teve um efeito negativo para a Turquia. No ano em que participou, Marrocos, obviamente, deu-lhe 12 pontos.” Além da solidariedade islâmica, “as sonoridades marroquina e turca estão muito próximas”.
7. Há um padrão de votação entre Portugal e Espanha?
“Há um padrão enviesado a favor de Espanha. Tradicionalmente, Portugal dá votações altas, sem dar votações máximas.” A última edição da Eurovisão confirmou a desafinação entre os dois países ibéricos: Madrid deu a “Saudade, saudade”, de Maro, 4 votos do público e 0 do júri. Lisboa deu a “SloMo”, de Chanel, 10 votos através do televoto e 12 do júri. “É mais comum Portugal dar votação alta a Espanha do que o contrário.”
É também frequente “Portugal dar votações máximas a países de leste, porque as comunidades de leste em Portugal mobilizam-se para votar. Moldávia, Roménia, Bulgária já tiveram, várias vezes, votações muito significativas”.
Nos últimos anos, Portugal e Espanha não têm beneficiado dos votos de países onde têm comunidades migrantes significativas. “Andorra é um país muito pouco regular no que troca a Eurovisão, o que é pena para Portugal, porque, por norma, Andorra vota significativamente em Portugal e Espanha, que são as comunidades maiores.”
O mesmo se passa com o Luxemburgo, onde a maior comunidade estrangeira é a portuguesa: este país, que já venceu a Eurovisão cinco vezes, participou pela última vez em 1993.
Mimicat, a representante portuguesa, durante um ensaio, em Liverpool ANTHONY DEVLIN / GETTY IMAGES
8. Qual o único Estado que a EBU não pressiona para ir à Eurovisão?
O Vaticano. É membro da EBU através da Radio Vaticana, mas nunca arriscou uma participação no festival. “Seria complicado para o Vaticano escolher uma canção e estar ao lado de vários tipos de atuações que desafiam os limites e que já levaram a várias reclamações”, diz Tiago Lopes.
Um exemplo aconteceu na Eurovisão de Lisboa, em 2018. “Nesse ano, pela primeira vez, foram dados os direitos de transmissão à China, que lhe foram retirados após a primeira semifinal. A canção da Irlanda tinha uma coreografia em palco que retratava um amor homossexual entre dois homens. Houve um corte na emissão chinesa e a canção não passou. Quando a imagem voltou, já estava outra em palco. A EBU não gostou desta discriminação com base na sexualidade e retirou os direitos de emissão à China para a segunda semifinal e para a grande final.”
Outro caso polémico ocorreu no evento de Malmö, em 2013. “A canção da Finlândia terminava com um beijo entre duas mulheres. Houve vários países — Rússia, Arménia, Azerbaijão — que reclamaram contra esse beijo.”
9. Porque há cinco países com entrada direta na final?
São conhecidos como os Big Five (cinco grandes) e estão para a Eurovisão como os cinco membros permanentes estão para o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Alemanha, França, Itália, Reino Unido e Espanha não disputam as semifinais e têm lugar assegurado na final de cada festival, com o anfitrião de cada ano.
Nenhum dos cinco foi o país que mais vezes ganhou a Eurovisão: França e Reino Unido venceram cinco vezes, Itália três e Alemanha e Espanha duas vezes. A campeã do festival é a Irlanda (7 vezes), seguida da Suécia (6).
“Os Big Five são uma necessidade”, explica Tiago Lopes. “A EBU precisa de ter estados que contribuam mais do que os outros. A Eurovisão é um espetáculo pesado do ponto de vista financeiro e, apesar de parte significativa dos custos ficar para o canal de televisão do país anfitrião, há gastos que ficam do lado da EBU.”
A passagem direta para a final pode não ser uma passadeira para os Big Five. “Uma vez que não atuam nas semifinais, curiosamente, acabam por ficar prejudicados. Como estão automaticamente na final, não passam pelo filtro, não passam pelas discussões que durante várias semanas animam os fãs. Acabam por gerar menos interesse e ter mais dificuldade para atrair a atenção na final. É uma benesse que pode virar-se um bocadinho contra eles.”
Nos últimos anos, Reino Unido e, sobretudo, Alemanha têm marcado presença nos últimos lugares: em 2015, os alemães receberam 0 pontos e em 2021 foi a vez dos britânicos ficarem em branco.
O invasor, que conseguiu arrancar o microfone das mãos da cantora britânica, autodenomina-se Dr ACactivism e tem currículo em matéria de interrupção de grandes eventos de palco. No ano anterior, por exemplo, este “filósofo, ativista e DJ/MC sedeado em Londres”, como se apresenta n rede social Twitter, tinha invadido o palco durante a final do concurso “The Voice”, no Reino Unido.
Em 2010, em Oslo, um intruso que invadiu o palco durante a atuação de Espanha quase se tornou um verdadeiro figurante, tal foi a demora dos seguranças em tirá-lo dali. Jaume Marquet i Cot, catalão nascido em 1976, era já experiente na “arte”, com investidas no palco dos prémios Goya, no court de Roland Garros, numa pista de Fórmula 1 e em vários relvados de futebol.
(FOTO PRINCIPAL Na impossibilidade da Ucrânia organizar a Eurovisão, por vencer em 2022, a edição deste ano fica a cargo do segundo classificado, o Reino Unido PETER KNEFFEL / GETTY IMAGES)
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 9 de maio de 2023. Pode ser consultado aqui
Jornalista de Internacional no "Expresso". A cada artigo que escrevo, passo a olhar para o mundo de forma diferente. Acho que é isso que me apaixona no jornalismo.