Kim Jong-un continua desaparecido, mas seguem cartas em seu nome

O Supremo Líder da Coreia do Norte está desaparecido há mais de duas semanas mas, segundo a agência noticiosa do país, durante esse período Kim Jong-un despachou nove cartas pessoais para diferentes destinatários — de chefes de Estado a um camarada centenário

Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte VECTORPORTAL

Kim Jong-un terá enviado uma carta ao Presidente da África do Sul, felicitando Cyril Ramaphosa pelo Dia da Liberdade, que os sul-africanos comemoraram na segunda-feira (data das primeiras eleições democráticas pós-apartheid, que levaram Nelson Mandela à Presidência em 1994).

Na missiva, divulgada pela agência de notícias estatal norte-coreana KCNA, Kim Jong-un congratula a África do Sul e o seu povo por terem “alcançado a liberdade” e derrotado o apartheid, enviando “ao povo amigo da África do Sul sinceros desejos de mais sucesso na promoção da unidade nacional” e de que a relação entre os dois países “fique mais forte”.

A notícia ganha relevância numa altura em que o Supremo Líder norte-coreano não é visto em público desde o passado dia 11 de abril. A cada dia que passa adensa-se rumores de que possa estar gravemente doente ou mesmo ter morrido.

A publicação “The South African” chega ao ponto de questionar a lógica da missiva. Se Kim enviou uma carta associando-se às celebrações do Dia da Liberdade, e “considerando que esse feriado assinala as nossas primeiras eleições pós-apartheid, é muito estranho que um tirano elogie a nossa República por se levantar contra um Governo opressivo”, escreve o jornal esta terça-feira.

Nove cartas em 16 dias

Segundo o sítio norte-americano NK News, que recolhe informações designadamente junto de desertores e visitantes ocidentais regressados da Coreia do Norte e está atento às notícias da agência norte-coreana KCNA, a carta de Kim a Ramaphosa não foi caso único.

Nos 16 dias em que Kim Jong-un não foi visto em público, o jornal “Rodong Sinmun”, órgão oficial de informação do Partido dos Trabalhadores (comunista, no poder), noticiou o envio de mensagens pessoais do Supremo Líder por nove vezes. “São, na maioria, formalidades mundanas, desde a carta na segunda-feira a elogiar os trabalhadores da recém-construída cidade da ‘utopia’, em Samjiyon, até uma mensagem pessoal de ‘aniversário’ enviada a um centenário.”

Há também cartas a camaradas no estrangeiro e aos presidentes de Cuba, Zimbabwe e Síria — Bashar al-Assad terá mesmo recebido duas mensagens de Kim. Se nos casos mais pessoais as cartas até podem ter sido enviadas pelo seu gabinete, no caso da correspondência com os homólogos é expectável que Kim a tenha assinado por mão própria.

Mas nem esta questão gera consenso entre os analistas da realidade norte-coreana. Há quem defenda que dada a natureza vertical do sistema político — e o medo instalado junto dos funcionários de que possam passar por usurpadores dos poderes do Líder Supremo —, é muito pouco provável que alguém envie cartas sem, pelo menos, a aprovação de Kim.

No domingo, a Coreia do Sul deitou água fria sobre a fogueira dos rumores. Em entrevista à CNN, Moon Chung-in, alto conselheiro do Presidente sul-coreano Moon Jae-in para a segurança nacional, afirmou: “A posição do nosso Governo é firme: Kim Jong-un está vivo e está bem”.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 28 de abril de 2020. Pode ser consultado aqui

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