Na Síria, entre bombardeamentos diários, há histórias com final feliz. Num prédio onde residiam 50 pessoas, uma menina de seis meses foi a única moradora sobrevivente

Não há muitos repórteres estrangeiros a informar desde o interior da Síria. Gabriel Chaim, um fotógrafo brasileiro de 31 anos, é um dos poucos. Está na parte de Alepo controlada pelos rebeldes e, entre muitas histórias de morte e destruição, acaba de testemunhar “um milagre”, como confessou ao Expresso.
A caminho de uma entrevista, conheceu Maís, um bebé com cerca de meio ano de vida que, há menos de um mês, foi a única sobrevivente de um bombardeamento ao edifício onde morava, em Alepo.
O prédio de quatro andares foi atingido pelas forças de Assad – os rebeldes não têm meios aéreos. Morreram cerca de 50 pessoas, incluindo a família da bebé.
Após um internamento de 15 dias no hospital, Maís foi entregue pela equipa que a resgatou — uma unidade do Exército Livre da Síria (rebelde) — a um casal que não podia ter filhos. Omar, de 38 anos, e a sua mulher, Mariam, de 26, acolheram a criança.
Mobilização da “galera”
“O casal é extremamente pobre e precisa de ajuda. Quase não tem o que comer”, escreveu o fotógrafo brasileiro na sua página do Facebook. “É mais um capítulo da guerra, porém esse tem um final feliz…”
De imediato, “choveram” comentários em resposta ao seu post. “Gabriel, tenho roupas da minha filha que posso enviar. Só preciso saber como fazê-las chegar até aí.” “A gente pode juntar uma grana aqui, depositar para você e você dá para ela.” “Galera, alguém que faça uma página para podermos partilhar!”
Subitamente, no mural de Gabriel Chaim, começou a ganhar forma uma campanha de recolha de fundos para entregar à nova família de Maís. “Não vim para cá para fotografar morte”, desabafa Gabriel ao Expresso. “Vim para fotografar vida. Eu e a minha câmara. E para tentar sensibilizar o mundo para as consequências da guerra”.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 12 de setembro de 2013. Pode ser consultado aqui