No primeiro dia da conferência de paz sobre a Síria, Damasco chamou “traidores” aos membros da oposição. Esta pediu o fim de Assad e o seu julgamento
Representantes do regime e da oposição sírios reuniram-se hoje pela primeira vez em três anos de conflito, na sessão de abertura da conferência de paz Genebra II, e não esconderam a sua hostilidade mútua. Em representação da oposição, Ahmad Jarba, presidente da Coligação Nacional Síria, exigiu a saída de Bashar al-Assad do poder bem como o seu julgamento. “Para os sírios, hoje o tempo é sangue”, disse.
Jarba apelou ainda para que uma comissão de inquérito independente internacional faça visite as prisões sírias no sentido de serem confirmados relatos de alegadas torturas infligidas a detidos por forças leais ao Governo de Assad.
Na segunda-feira, o diário britânico “The Guardian” e a televisão americana CNN divulgaram um relatório elaborado por três antigos procuradores que analisaram cerca de 55 mil imagens contrabandeadas para fora da Síria e que revelam situações de “tortura sistemática e matança” de prisioneiros perpetrados pelas forças de Assad.
MNE sírio põe Ban Ki-moon na ordem
Em nome do regime de Damasco, o ministro dos Negócios Estrangeiros Walid Muallem acusou os membros da oposição de serem “traidores”, disse que alguns dos 40 países que participam na conferência têm “sangue nas mãos” e defendeu Bashar al-Assad com toda a convicção. “Ninguém à face da Terra tem o direito de conferir ou retirar a legitimidade a um Presidente, a uma Constituição ou a uma lei, exceto os próprios sírios”, disse o chefe da diplomacia da Síria.
Muallem excedeu largamente os dez minutos previstos para cada orador e, perante o reparo do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para que concluísse, afirmou: “O senhor vive em Nova Iorque. Eu vivo na Síria. Tenho o direito de expor aqui a versão síria. Após três anos de sofrimento, este é o meu direito”.
O diálogo prosseguirá na sexta-feira, em Genebra, com conversações bilaterais, entre as delegações do regime e da oposição, moderadas pelo enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Lakhdar Brahimi.
















Artigo publicado no “Expresso Online”, a 22 de janeiro de 2014. Pode ser consultado aqui