O regresso às urnas cinco meses depois. Para tudo ficar na mesma?

As sondagens dizem que o empate técnico registado nas eleições de abril pode repetir-se nas legislativas desta terça-feira em Israel. Para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o escrutínio será sempre uma confirmação: ou do seu talento político ou da sua decadência final

Os israelitas voltam esta terça-feira às urnas para tentar desfazer o empate técnico que resultou das eleições legislativas de 9 de abril passado. Então, o Likud (o partido de direita liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu) e a aliança Kahol Lavan (Azul e Branco, as cores da bandeira de Israel, de centro) elegeram 35 deputados cada (num universo de 120 que compõem o Parlamento). As últimas sondagens, divulgadas sábado passado, atribuem a cada uma das formações 32 parlamentares.

Em abril, e apesar dos escassos 0,33% de votos de vantagem do Likud, foi Netanyahu quem o Presidente Reuven Rivlin encarregou de formar Governo, o seu quinto mandato, o quarto consecutivo. Essa responsabilidade levou-o a fazer história: a 20 de julho, ultrapassou David Ben-Gurion – um dos pais fundadores do Estado de Israel – como o israelita que mais tempo desempenhou o cargo de primeiro-ministro, completando 4876 dias no poder, em dois períodos não sucessivos.

Mas ao contrário do que sempre aconteceu anteriormente, Netanyahu não conseguiu formar equipa nas seis semanas que tinha para o fazer. O regresso às urnas esta terça-feira decorre desse fracasso negocial.

Comparativamente ao ato eleitoral de há cinco meses, onde os partidos políticos concorreram de forma muito fragmentada – na ordem das 40 opções de voto –, desta vez haverá mais coligações – ainda assim 32. Entre aqueles que aprenderam com os erros estão os quatro partidos árabes, representativos de cerca de 20% da população israelita. Se em abril se apresentaram divididos em duas coligações – desunião que contribuiu para uma grande abstenção entre o seu eleitorado tradicional –, agora vez participam unidos na Lista Conjunta. As sondagens dizem que será a terceira formação mais votada e que poderá eleger 12 deputados.

Num país onde, desde a sua fundação (1948), os governos sempre foram de coligação, para além do resultado individual de cada partido é crucial o somatório dos votos angariados por eventuais parceiros de Governo. Nestas eleições, essa disputa trava-se entre um bloco conservador – integrado pelo Likud, pela nova coligação Yamina (nascida da reordenação dos partidos ultranacionalistas) e pelos dois partidos religiosos ultraortodoxos, Shas e Judaismo da Torah Unida – e outro de centro-esquerda, composto pela aliança Azul e Branco, pelos trabalhistas, pela União Democrática (esquerda pacifista) e pela Lista Conjunta árabe.

A última sondagem divulgada no sábado pelo Channel 13 atribui ao primeiro 54 deputados e 53 ao segundo – ou seja, ambos aquém da fasquia dos 61 parlamentares que garante a maioria absoluta no Parlamento (Knesset).

A chave para resolver o imbróglio – e conseguir uma maioria de Governo – poderá passar pelos ultranacionalistas do Israel Beitenu (Israel é a nossa casa), liderado pelo ex-ministro da Defesa Avigdor Lieberman. Em abril elegeu cinco parlamentares, agora as sondagens atribuem-lhe entre sete e nove. Ex-ministro de Netahyanu, bateu com a porta em novembro de 2018 após o primeiro-ministro ter optado por assinar um cessar-fogo com os islamitas do Hamas em vez de bombardear a Faixa de Gaza, como Lieberman defendia. Apologista de uma linha dura para com os palestinianos, ele é protagonista na primeira pessoa da ocupação israelita da Palestina já que vive, com a mulher e três filhos, no colonato de Nokdim, a sul de Belém (Cisjordânia).

Pode bem ter sido para o eleitorado de Avigdor Lieberman que Netanyahu tentou falar nos últimos dias, quando anunciou “a intenção de estender a soberania israelita ao Vale do Jordão e ao Norte do Mar Morto” (cerca de 30% do território palestiniano ocupado da Cisjordânia) se vencer as eleições. “Desde a Guerra dos Seis Dias [de 1967] que não temos esta oportunidade e duvido que voltemos a tê-la nos próximos 50 anos. Deem-me o poder para garantir a segurança de Israel. Deem-me o poder para definir as fronteiras de Israel”, afirmou.

Com estas palavras, Netanyahu garantiu manchetes em todo o mundo, como já o havia conseguido na reta final da campanha para as eleições de abril. Então, tentou disparar nas intenções de voto afirmando: “Um Estado palestiniano colocará em perigo a nossa existência” e também “não dividirei Jerusalém, não evacuarei nenhuma comunidade [de colonos] e garantirei que controlaremos o território a Ocidente do [rio] Jordão”, ou seja, toda a Cisjordânia. Nada de novo, pois.

(FOTO ATLANTA JEWISH TIMES)

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 16 de setembro de 2019. Pode ser consultado aqui

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