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Guimarães tem uma “missão” e com ela quer guiar o país pela via verde

A “cidade berço” está empenhada em atingir a neutralidade carbónica até 2030. Para tal, lançou o Pacto Climático de Guimarães e tem já no terreno “brigadas verdes”, dos oito aos oitenta, que correm as freguesias com mensagens de sustentabilidade ambiental. Junto à zona histórica, um bairro funcionará como “laboratório” de projetos nas áreas da energia, mobilidade e tratamento de resíduos

O município de Guimarães arregaçou as mangas e quer sobressair como um bom exemplo, em Portugal e fora de portas, em matéria de combate às alterações climáticas. A “cidade berço” é uma de 100 cidades europeias que integra a “Missão Cidades”, uma iniciativa que emana da União Europeia e que tem como objetivo alcançar a neutralidade carbónica até 2030.

“Será uma espécie de laboratório onde se possa testar projetos e boas práticas que sirvam de exemplo a nível europeu”, explica ao Expresso Sofia Ferreira, vereadora do Ambiente na Câmara de Guimarães.

Em Portugal, Lisboa e Porto também fazem parte do desafio, mas como realça a autarca, dada a diferença de escala entre as três cidades, o esforço de Guimarães será redobrado. Ser selecionada para este projeto, “foi para nós um momento muito importante”.

Do caderno de encargos, consta a elaboração de um pacto climático com a comunidade (cidadãos, empresas e instituições), que o município vimaranense já lançou, no início do mês, aproveitando o 50º aniversário do Dia Mundial do Ambiente.

Pacto Climático de Guimarães conta com a adesão de mais de 70 entidades – do Vitória Sport Clube à Universidade do Minho, da Casais à Brisa, do Hospital da Senhora da Oliveira ao Instituto de Design.

“Os subscritores comprometem-se, juntamente com o município, a adotar estratégias de curto, médio e longo prazo, tendentes à descarbonização as suas atividades”, explica a vereadora. “É um compromisso em que todos nos revemos e todos nos envolvemos.”

Brigadas à solta nas freguesias

Um dos projetos mais curiosos e mobilizadores são as “Brigadas Verdes”. Tratam-se de grupos informais compostos por vimaranenses de diferentes gerações, vinculados a paróquias, grupos de escuteiros, coletividades, clubes desportivos, IPSS’s, que saem à rua de colete amarelo no corpo e um discurso verde na boca.

Tanto participam na limpeza de terrenos como plantam árvores, como identificam focos de poluição ou sensibilizam moradores para a importância de adotarem hábitos verdes e tornarem-se eles próprios, individualmente, agentes da mudança. “A peça-chave de todo o processo é o cidadão.”

Dinamizadas pelas juntas de freguesia, as “Brigadas Verdes” são já 25. “O nosso objetivo é cobrir as 48 freguesias de Guimarães”, diz a vereadora. “Quanto mais próximo estivermos da comunidade, mais facilitado estará o trabalho de envolvimento e de responsabilização.”

Distrito C, de climaticamente neutro

A “Missão Cidades” possibilita que os participantes acedam a financiamento para alguns projetos. Guimarães já tem verba garantida (€1 milhão) para aplicar no “Distrito C”.

Trata-se de uma área junto à zona histórica, que está, neste momento, em processo de classificação com vista ao alargamento da zona classificada pela Unesco. Irá funcionar como “laboratório” para uma série de iniciativas na área da sustentabilidade ambiental.

“Este projeto do Distrito C é um compromisso com o carbono zero. Visa uma abordagem integrada nos domínios da energia, mobilidade e tratamento de resíduos.”

Outrora uma zona de referência da indústria dos curtumes, esta área foi requalificada no sentido de abrigar espaços voltados para o conhecimento. Hoje, ali localizam-se a Universidade das Nações Unidas, polos da Universidade do Minho, o Teatro Jordão, a pousada da juventude e “um complexo multifuncional na área da solidariedade social, com respostas ao nível de creches e de centros de dia”, diz a autarca.

O município tem também em vista a requalificação de uma antiga fábrica têxtil, onde irá funcionar a Escola de Engenharia Aeroespacial.

“Se este é um bairro onde temos vindo a trabalhar no domínio da cultura, da ciência, do conhecimento e da criatividade, queremos trabalhá-lo agora no sentido de ser um bairro climaticamente neutro”, diz Sofia Ferreira.

“Os projetos que aqui testarmos depois poderão ser replicados no restante território e servir de boa prática, não só em Portugal como a nível europeu.”

Para os subscritores do Pacto Climático, a conclusão do desafio está à distância de menos de sete anos, O objetivo antecipa em 20 anos aquele que a União Europeia estabeleceu para si própria.

Na Lei Europeia do Clima, a meta da neutralidade carbónica está colocada em 2050. O documento prevê que, entre 1990 e 2030, haja uma redução líquida de emissões de gases de efeito de estufa em pelo menos 55%.

Neste esforço de descarbonização, o tecido empresarial desempenha um papel preponderante. Para a Mundifios, por exemplo, signatária do Pacto Climático, o desafio não intimida. Com sede em Guimarães, esta empresa que é o maior trader ibérico de fios têxteis tem uma estratégia de sustentabilidade há anos.

“Vamos continuar a convergir para um impacto a tender para o zero, em termos de neutralidade carbónica. O objetivo é sempre tentar fazer com que o impacto no clima daquilo que vamos fazendo seja o mais invisível possível”, diz ao Expresso Francisco Ribeiro, gestor de projetos da Mundifios.

O negócio de compra e venda de fios não é propriamente poluente, mas a empresa não relaxa na hora de optar por soluções. Quando da recente construção das novas instalações, recorreu a 16 mil pés de plantas, em vez de betão, para suster o talude. “Há uma filosofia de raiz de tentativa de conseguir criar o menos impacto possível no meio ambiente”, reforça Francisco Ribeiro.

Membro, desde 2019, da United Nations Global Compact, a maior iniciativa de sustentabilidade empresarial do mundo, a Mundifios está comprometida, neste âmbito, com uma carta de dez princípios relativos a quatro áreas: direitos humanos, trabalho, ambiente e combate à corrupção.

Foco em quatro “R’s”

Para qualquer município, o desafio da sustentabilidade implica fazer a espargata entre a diminuição da pegada ecológica e o desenvolvimento económico do território.

Guimarães, em concreto, optou por uma economia circular, assente nos conceitos “reduzir, reutilizar, recuperar e reciclar”, em detrimento do fim de vida dos materiais.

“Neste sentido, estamos a fazer o mapeamento dos resíduos têxteis, que permita servir de suporte ao sistema de recolha seletiva deste resíduo”, diz Sofia Ferreira.

A reconversão de têxteis pós-consumo é algo que faz sentido numa zona nobre da indústria têxtil como é Guimarães. Um projeto recente, deu frutos a vários níveis.

“Fizemos a recolha de têxteis pós-consumo junto das escolas — o que funcionou como uma forma de pedagogia para os miúdos — e depois, com o Centro de Valorização de Resíduos e com uma spin-off da Universidade do Minho, esses resíduos foram tratados e reconvertidos em mantas para esplanadas do Centro Histórico.”

Segunda vida para os têxteis

Este projeto já resultou também em mantas para os animais do Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia (CRO) e em sacos para serem distribuídos à população nas bancas do mercado municipal, num esforço tendente a eliminar o plástico. “Este é um projeto que iniciamos e vamos consolidar. Há muitos têxteis para recolher.”

Ao longo dos anos, o compromisso de Guimarães com o ambiente tem revelado uma atitude resiliente. Depois de perder a corrida a Capital Verde Europeia 2020 (ganha por Lisboa), o município já voltou a apresentar candidatura, este ano, com vista à edição de 2025.

“Há uma vontade efetiva de transformar o território”, conclui Sofia Ferreira. “Uma vontade de fazermos o caminho no sentido de um futuro sustentável de carbono zero.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 22 de junho de 2023. Pode ser consultado aqui

Os vários rostos dos oceanos

Os mares são verdadeiras autoestradas que aproximam povos e possibilitam o transporte de bens até ao outro lado do mundo. Também produzem alimento, sustentam comunidades e alimentam o planeta acolhendo plataformas de exploração energética. Permitem que entremos neles e nos deslumbremos com as suas maravilhas subaquáticas. Mas são também fonte de enorme preocupação. São nos oceanos que se manifestam algumas das mais galopantes evidências da degradação ambiental terrestre e são cada vez mais usados para preparar e lançar ataques bélicos. Várias facetas do mar em 25 imagens

SEGURANÇA. Um navio caça-minas da Marinha turca zela pela proteção da navegação e “varre” as águas junto a Erdek, na região de Mármara ALI ATMACA / ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES
ENERGIA. Uma estação e turbinas eólicas evidenciam uma aposta nas renováveis ao largo da Península de Shandong (China) GETTY IMAGES
ALIMENTO. Numa praia de Muanda (República Democrática do Congo), um grupo de pescadores prepara as redes para mais um dia na faina ALEXIS HUGUET / AFP / GETTY IMAGES
COMUNIDADE. Entre o povo Moken, chamado “ciganos do mar”, a pesca é subaquática, neste caso ao largo da ilha de Phuket (Tailândia) LILLIAN SUWANRUMPHA / AFP / GETTY IMAGES
DESCONTRAÇÃO. Na Faixa de Gaza, surfistas palestinianos preparam-se para apanhar as ondas do Mediterrâneo MAJDI FATHI / NURPHOTO / GETTY IMAGES
DEGELO. A fragmentação das calotas de gelo, como na Gronelândia, é uma das manifestações mais visíveis das alterações climáticas ULRIK PEDERSEN / NURPHOTO / GETTY IMAGES
VULNERABILIDADE. Esta vista aérea sobre Funafuti, a capital do Tuvalu, revela a grande exposição do arquipélago à subida do mar MARIO TAMA / GETTY IMAGES
POLUIÇÃO. Um mar de lixo ao largo de Ortakoy, um bairro de Istambul SEBNEM COSKUN / ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES
ÊXODO. Um barco com dezenas de migrantes é escoltado pela guarda costeira italiana, junto à cidade siciliana de Catânia FABRIZIO VILLA / GETTY IMAGES
RELAXE. Mar e praia, dois dos ecossistemas mais procurados nas férias de verão TAYFUN COSKUN / ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES
DESASTRE. A praia de Mae Ramphueng (Tailândia) está interdita a banhos, após o derramamento de petróleo no mar ATHENS ZAW ZAW / GETTY IMAGES
TREINO. Duas embarcações participam no exercício militar “Escudo Protetor”, no Mar Negro, perto da Roménia MIHAI BARBU / AFP / GETTY IMAGES
VIDA. Uma tartaruga recém-nascida num centro de incubação da cidade de Chennai (Índia) “ganhou asas” e segue na direção do Golfo de Bengala ARUN SANKAR / AFP / GETTY IMAGES
INDÚSTRIA. Um drone capta uma piscicultura de atum, no Mar Egeu MAHMUT SERDAR ALAKUS / ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES
COMÉRCIO. Três porta-contentores, de outras tantas empresas de transporte marítimo internacional, atravessam o Mar do Norte JONAS WALZBERG / GETTY IMAGES
PRODUÇÃO. Vista aérea sobre barcos de pesca numa quinta de algas, na cidade portuária de Dalian (China) GETTY IMAGES
TURISMO. Uma fila de barcos de cruzeiro ancorados junto à cidade de Miami (Estados Unidos) JOE RAEDLE / GETTY IMAGES
CRENÇAS. Numa praia de Bali (Indonésia), devotos hindus lavam a cara com água do mar, durante uma cerimónia de purificação GARRY LOTULUNG / NUR PHOTO / GETTY IMAGES
EXPLORAÇÂO. Um mergulhador verifica o estado dos recifes de coral, nas Ilhas da Sociedade (Polinésia Francesa) ALEXIS ROSENFELD / GETTY IMAGES
COMPETIÇÃO. Prova de vela, nas águas da cidade de Kiel (Alemanha), junto ao Mar Báltico SASCHA KLAHN / GETTY IMAGES
ABASTECIMENTO. Um navio-tanque descarrega petróleo, num terminal do porto de Yantai (China) GETTY IMAGES
RECREAÇÃO. Um pescador solitário exibe a captura de um polvo, na baía de Akyaka (Turquia) ONUR DOGMAN / GETTY IMAGES
SOBREVIVÊNCIA. Nas Maldivas, ameaçadas pela subida do nível do mar, um grupo de mulheres antecipa adversidades futuras e aprende a nadar ALLISON JOYCE / GETTY IMAGES
TRABALHO. Em Izmir (Turquia), os mergulhadores são fundamentais à apanha do atum MAHMUT SERDAR ALAKUS / ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES
CENÁRIO. Onde quer que se localize, o mar é garantia de um pôr do Sol espetacular, como na ilha de Föhr (Alemanha), junto ao Mar do Norte CHRISTIAN CHARISIUS / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 29 de junho de 2022. Pode ser consultado aqui

Coronavírus e gafanhotos: a tempestade
perfeita no Corno de África

O coronavírus está a galgar o continente africano, onde alguns
países andam há meses a combater nuvens gigantescas de
gafanhotos. Dois especialistas identificam ao Expresso o principal
perigo que resulta desta coincidência

No Corno de África, há neste momento duas crises em rota de colisão: a pandemia do coronavírus e uma praga de gafanhotos do deserto de proporções bíblicas. Se a primeira é uma ameaça direta à vida humana, a última é-o indiretamente, já que os insetos devoram colheitas e pastagens à sua passagem, destruindo os meios de subsistência primários de muitos milhões de pessoas.

Para as populações sobretudo do Quénia, Etiópia e Somália, que se debatem há meses com gigantescas nuvens de gafanhotos — no início de janeiro, um enxame no nordeste do Quénia tinha 60 quilómetros de comprimento por 40 de largura —, a chegada do coronavírus coloca obstáculos à batalha em curso contra os insetos.

“As equipas de voo [envolvidas nas operações aéreas de pulverização das áreas afetadas] chegaram à Etiópia e ao Quénia antes do confinamento [decretado por causa do coronavírus]. Até agora, a covid-19 não afetou a capacidade de pulverização”, diz ao Expresso Keith Cressman, especialista sénior na Previsão de Gafanhotos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

“Mas os fornecedores de pulverizadores motorizados e de pesticidas estão a enfrentar grandes desafios, com opções limitadas de frete aéreo para realizar as entregas. Já ocorreram alguns atrasos no fornecimento de pesticidas devido à redução de mão de obra em alguns países de origem.”

Gafanhotos do deserto alimentam-se de vegetação, na aldeia queniana de Larisoro FOTO TONY KARUMBA / AFP / GETTY IMAGES

África é a última fronteira do coronavírus. Comparativamente aos restantes continentes, o número de casos positivos é ainda baixo — cerca de 4300, segundo o balanço de domingo da Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre os três países mais assolados pela praga de gafanhotos, apenas o Quénia registou uma morte.

Mas, enquanto nos boletins da OMS (sobre o coronavírus) o Corno de África surge como das áreas mais poupadas à pandemia, nos da FAO (sobre a praga de gafanhotos) a situação no Quénia, Somália e Etiópia “permanece extremamente alarmante”, lê-se na última atualização. “A procriação generalizada está a progredir e estão a começar a formar-se novos enxames, o que representa uma ameaça sem precedentes à segurança alimentar e aos meios de subsistência no início da próxima safra”, alerta a FAO.

Para esta agência da ONU, três outros países assediados pelos gafanhotos merecem especial preocupação: o Sudão do Sul (ainda sem casos de covid-19), o Iémen (com uma guerra em curso) e o Irão, um dos mais atingidos pelo coronavírus. Em sete outros países, a ameaça dos gafanhotos “está sob controlo”: Arábia Saudita e Omã, na Península Arábica, Iraque, Índia e Paquistão e ainda Sudão e Eritreia, na margem africana do Mar Vermelho.

“O atual surto de gafanhotos do deserto teve origem principalmente ao longo do Mar Vermelho — uma área-chave para a procriação desta espécie, no inverno —, devido a chuvas favoráveis durante a época de reprodução de 2018-2019”, explica ao Expresso Rick Overson, investigador da Iniciativa Global para os Gafanhotos, um projeto da Universidade do Estado do Arizona (EUA).

“Mesmo antes do coronavírus aparecer, uma combinação de chuvas
favoráveis aos gafanhotos em regiões-chave e uma diminuição dos recursos de monitorização levou à tempestade perfeita. A guerra civil no Iémen, por exemplo, é citada como tendo desempenhado um papel no surto atual.”

No telhado de um edifício em Sana, a capital do Iémen, um homem tenta afugentar um enxame de gafanhotos FOTO MOHAMMED HUWAIS / AFP / GETTY IMAGES

As chuvas favoráveis de que fala o entomologista norte-americano resultaram de dois ciclones que se formaram no oceano Índico, em maio e outubro de 2018, que criaram condições favoráveis à reprodução dos gafanhotos: vegetação em regiões desérticas e também solos húmidos e arenosos. Entre junho de 2018 e março de 2019, nasceram três gerações de gafanhotos — o número destes insetos aumentou 8.000 vezes.

No terreno, os gafanhotos combatem-se de múltiplas formas. No Quénia, há pequenos aviões em ação, voando a baixa altitude para borrifar com químicos áreas fustigadas pelos insetos. Noutras zonas, essas operações são asseguradas por homens a pé, de mochila pulverizadora às costas — no Uganda foram mobilizados militares para o efeito. Na Índia, aldeãos percorrem os campos tentando afugentar os insetos batendo em panelas.

No início do surto de coronavírus, quando a China era ainda o epicentro do problema, um artigo publicado num jornal local correu mundo: Pequim ia enviar para o Paquistão um exército de 100 mil patos para impedir que os gafanhotos atravessassem a fronteira.

“Os patos têm sido usados como uma solução criativa na China, e até certo ponto bem sucedida, mas não seriam uma solução viável dada a imensa escala geográfica do surto de gafanhotos”, diz Rick Overson. Além disso, “seriam necessários muitos patos e teriam de ser levados para o lugar certo, o que não seria tarefa fácil”.

Na aldeia indiana de Miyal, habitantes tentam assustar os gafanhotos fazendo barulho com utensílios de cozinha FOTO SAM PANTHAKY / AFP / GETTY IMAGES

Atualmente, no sistema de alerta da FAO, a praga de gafanhotos está na fase da “ameaça”, “mas as coisas podem e provavelmente irão piorar”, diz Rick Overson. Prever até onde podem chegar os gafanhotos não é um exercício impossível. “Os surtos de gafanhotos do deserto passam por fases de recessão e pragas. Ambas podem ocorrer ao longo de escalas de anos e décadas”, explica o investigador.

“Durante anos de recessão [períodos calmos], é possível encontrar gafanhotos do deserto numa área de 16 milhões de km2 cobrindo 30 países”, uma faixa que se estende do deserto do Sara ao noroeste da Índia.

“Mas durante os anos da praga a área afetada pode expandir-se por 29 milhões de km2 afetando 60 países. Porém, em qualquer surto (como o atual), o diabo está nos detalhes que levam a que conjuntos de países acabem por ser afetados. O Corno de África, que é atualmente o destino dos principais enxames, viu surtos de magnitude ainda maior em meados da década de 1950, embora este surto vá continuar a piorar”, conclui Rick Overson.

“Qualquer aumento da desestabilização da infraestrutura [montada no terreno] provocada pelo coronavírus tornará o desafio assustador da luta contra os gafanhotos ainda mais assustador.”

(FOTO PRINCIPAL: Envolto numa nuvem de gafanhotos, este queniano tenta abrir caminho com um pau, numa herdade perto da cidade de Nanyuki FOTO Baz Ratner / Reuters)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 30 de março de 2020. Pode ser consultado aqui

Revista “Time”. A “Personalidade do Ano” é Greta Thunberg

A jovem sueca é hoje “um rosto proeminente na luta pela defesa do meio-ambiente”, destacou a “Time”. Na capa que lhe dedica, a revista realça “o poder da juventude”

A jovem ativista sueca Greta Thunberg foi eleita pelos editores da revista norte-americana “Time” a “Personalidade do Ano 2019”. O anúncio foi feito esta quarta-feira.

A publicação defende que Greta, de 16 anos, tornou-se num “rosto proeminente na luta pela defesa do meio-ambiente em face das alterações climáticas”. E recorda o papel catalisador que teve o seu protesto solitário semanal em frente ao Parlamento da Suécia na mobilização de mais de um milhão de estudantes envolvidos em greves pelo clima em todo o mundo.

Na capa que lhe dedica, com um fotografia feita em Lisboa, a “Time” realça ”o poder da juventude”.

Greta Thunberg está, neste momento, em Madrid — onde chegou após uma passagem por Lisboa — , a participar na Cimeira do Clima, organizada pelas Nações Unidas. Esta manhã, a jovem sueca fez o seu discurso: “Digo-vos que há esperança. Já o vi. Mas ela não vem de governos ou empresas. Vem do povo”.

A escolha da “Personalidade do Ano” é uma tradição da “Time” que dura há 92 anos e faz manchete em todo o mundo. Anualmente, os editores da revista escolhem a personalidade que mais impacto teve nos doze meses anteriores.

Na terça-feira, a lista de candidatos deste ano ficou reduzida a cinco: Nancy Pelosi (líder da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos), Donald Trump (Presidente norte-americano), o denunciante anónimo que está na origem do processo de “impeachment” a Trump, os manifestantes de Hong Kong e Greta Thunberg, que acabaria por vencer.

No ano passado, a escolha recaiu sobre “Os Guardiães e a Guerra à Verdade”, um grupo de quatro jornalistas e um órgão de informação cujo trabalho levou-os à prisão ou lhes custou a vida. Foi o caso do jornalista saudita Jamal Khashoggi, crítico do poder em Riade, assassinado no consulado da Arábia Saudita em Istambul.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 11 de dezembro de 2019. Pode ser consultado aqui

Irão submerso

Chuvas torrenciais e inundações “saudaram” a entrada do Irão num novo ano. A intempérie já fez pelo menos 42 mortos. Há duas semanas que o país vive em alerta constante

Vista aérea de áreas alagadas, na província de Golestão, no norte ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES
Carros arrastados pela água e totalmente destruídos, na cidade de Shiraz, a capital da província de Fars (sudoeste) TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Militares iranianos ajudam a resgatar civis de zonas inundadas, perto da cidade de Ahvaz, província de Cuzestão (ocidente) MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES
Uma família tenta atravessar uma rua alagada, numa aldeia perto de Ahvaz MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES
As ruas quase que desapareceram na cidade de Agh Ghaleh, no norte do Irão ALI DEHGHAN / AFP / GETTY IMAGES
Homens empurram um carro, tentando que ele pegue, na cidade de Shiraz TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Onde antes havia um jardim, há agora um lago, junto à casa deste casal MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES
Uma mulher emerge por entre tendas montadas num estádio da província de Golestão para abrigar quem ficou sem casa TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Túnel inundado por lama e lixo, na cidade de Shiraz TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS

Uma pilha de carros, numa estrada de Shiraz AMIN BERENJKAR / AFP / GETTY IMAGES

Um casal apoia-se no momento de atravessar uma rua que mais parece um rio, nos arredores de Ahvaz MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES

Em Agh Ghaleh, as ruas transformaram-se em riachos ALI DEHGHAN / AFP / GETTY IMAGES

Três homens tentam escoar a água e assim proteger os seus pertences TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Um buraco no solo engole a água das chuvas e arrasta um carro, em Shiraz TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS

Enquanto o carro não volta a ser opção, os iranianos recorrem a barcos TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS

Água a perder de vista, um pouco por todo o Irão ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 2 de abril de 2019. Pode ser consultado aqui