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Sensação de ‘voto roubado’ alimenta protestos

A reeleição de Alexander Lukashenko para um sexto mandato provocou contestação nas ruas. Há milhares de detenções

Desde que a Bielorrússia se emancipou da União Soviética (1991), o povo praticamente não conheceu outro líder além de Alexander Lukashenko. Esse reinado de 26 anos está a ser desafiado em mais de 30 cidades. Ontem, Minsk começou a libertar 6700 pessoas detidas esta semana em protestos contra a reeleição “fraudulenta” do Presidente.

Nas urnas, Lukashenko enfrentou uma opositora casual. Svetlana Tikhanovskaya foi a votos no lugar do marido, um popular blogger que foi preso após anunciar candidatura. A sua fuga para a Lituânia após ser anunciada a vitória do Presidente por 80% revela o perigo que correm os inconformados.

“Os bielorrussos estão a defender as suas liberdades civis em condições de pressão e intimidação extraordinárias”, alerta Alena Vieira

Nas ruas, duas pessoas morreram e das prisões saem relatos de tortura, espancamentos e ameaças de violações. “Os bielorrussos estão a defender as suas liberdades civis em condições de pressão e intimidação extraordinárias, que ameaçam seriamente a sua segurança física”, diz ao Expresso a bielorrussa Alena Vysotskaya Vieira, do Centro de Investigação em Ciência Política da Universidade do Minho. “O apoio a estas pessoas deve ser substantivo, não pode ser limitado à expressão de preocupação e a apelos para se evitar a violência.”

Ontem, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE discutiram a possibilidade de impor sanções contra quem “violou os valores democráticos ou abusou dos direitos humanos”, perspetivou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen. (A reunião decorria à hora de fecho desta edição.)

A Bielorrússia entrou em ebulição no domingo passado, com o anúncio da vitória de Lukashenko após “uma campanha marcada por detenções, prisões, ameaças a manifestantes, jornalistas, bloggers e ativistas políticos”, diz a investigadora, que em 2018 foi relatora do Parlamento Europeu sobre a situação no país.

Alena Vieira defende que os protestos são alimentados pelo sentimento de ‘voto roubado’. “O voto antecipado chegou a contabilizar um terço dos sufrágios lançados. Observadores independentes relatam uma discrepância entre os votos registados e o número de pessoas que entraram nas assembleias de voto. Nalguns sítios, a participação ultrapassou os 100%. Fora da Bielorrússia, houve quem não conseguisse votar após horas nas filas.”

Artigo publicado no “Expresso”, a 15 de agosto de 2020. Pode ser consultado aqui