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Tiro de partida para mais um aperto de mão entre Trump e Kim

Enquanto o processo de desnuclearização da Península Coreana marca passo, Kim Jong-un quer voltar a encontrar-se com Donald Trump. Os Estados Unidos estão recetivos

A Casa Branca confirmou a receção de uma carta “muito calorosa” e “muito positiva” de Kim Jong-un solicitando um segundo encontro com Donald Trump. Em conferência de imprensa, a porta-voz Sarah Sanders afirmou, esta segunda-feira, que os EUA estão “abertos” a um novo encontro entre os líderes norte-coreano e norte-americano, que já começou a ser preparado.

Kim e Trump encontraram-se, pela primeira vez, a 12 de junho, em Singapura — foi o primeiro encontro de sempre entre líderes dos dois países. Dessa cimeira, saiu um compromisso no sentido da “completa desnuclearização” da Península Coreana, cuja concretização caiu num impasse. A 24 de agosto, Donald Trump cancelou uma deslocação do seu secretário de Estado norte-americano a Pyongyang alegando falta de progressos.

“Pedi ao secretário de Estado Mike Pompeo para não ir à Coreia do Norte, nesta altura, porque sinto que não estamos a fazer progressos suficientes em relação à desnuclearização da Península Coreana”, justificou Trump no Twitter.

A porta-voz Sarah Sanders deitou água na fervura recordando recentes sinais de boa fé dados pela Coreia do Norte: o fim dos testes com armas nucleares e mísseis balísticos, a libertação de três prisioneiros norte-americanos, a devolução dos restos mortais de soldados dos EUA que tombaram durante a Guerra da Coreia e o facto de, na parada militar de domingo passado — alusiva ao 70.º aniversário da Coreia do Norte —, Pyongyang não ter feito desfilar mísseis balísticos com capacidade para atingir os EUA.

Segundo a publicação sul-coreana “The Korea Times”, o que está a emperrar a relação é o facto de Washington exigir “um inventário total do arsenal nuclear de Pyongyang”, enquanto a Coreia do Norte insiste prioritariamente “na declaração formal do fim da Guerra da Coreia de 1950-53, que terminou com um armistício”.

Mas enquanto a relação EUA-Coreia do Norte marca passo, na frente intercoreana o diálogo intensifica-se. Entre 18 e 20 de setembro, o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, estará em Pyongyang para mais uma cimeira com o homólogo norte-coreano. Será a terceira em cinco meses: a primeira realizou-se a 27 de abril e a segunda a 26 de maio, ambas na aldeia fronteiriça de Panmunjom, na zona desnuclearizada entre as duas Coreias.

(Kim Jong-un e Donald Trump cumprimentam-se aquando da cimeira entre Coreia do Norte e EUA, em Singapura, a 12 de junho de 2018 Shealah Craighead / Wikimedia Commons)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 11 de setembro de 2018. Pode ser consultado aqui

Cimeira Trump-Kim: O que fica deste encontro histórico?

Esteve tremida até realizar-se, efetivamente. A cimeira de Singapura marca o início de uma nova relação entre Estados Unidos e Coreia do Norte. E pouco mais

Cimeira: Anunciada como “histórica”, a efetiva realização da cimeira de Singapura — que decorreu no Hotel Capella, na ilha de Sentosa — cumpriu esse desígnio: Donald Trump e Kim Jong-un tornaram-se os primeiros chefes de Estado norte-americano e norte-coreano de sempre a encontrarem-se. Tal como a 27 de abril passado, Kim Jong-un fizera história com um pequeno passo, ao atravessar a linha de fronteira, para participar, em solo sul-coreano, na cimeira entre as duas Coreias, o aperto de mão entre Trump e Kim abriu um novo capítulo da história entre os dois países, da península coreana e do mundo.

Confiança: O intempestivo Presidente dos EUA tinha dito que bastaria um minuto para perceber quais as reais intenções do homólogo norte-coreano. O facto dos dois líderes se terem reunido, a sós (na companhia apenas de dois tradutores), durante 40 minutos revela uma vontade mútua de ganharem com este encontro histórico. Trump e Kim, que há meses esgrimiam ameaças apocalípticas, quiseram mostrar com esse encontro demorado que são homens de paz.

Declaração: Os dois líderes assinaram uma declaração conjunta que pouco mais é do que um processo de intenções. O documento prevê “a desnuclearização completa da península coreana”, deixando a dúvida sobre se para além do desmantelamento do arsenal nuclear da Coreia do Norte também está em causa um eventual recuo dos Estados Unidos em matéria de defesa da Coreia do Sul. Trump garante que não: “Não vamos reduzir nada”, disse quando perguntado se iiria reduzir o contingente de 32 mil militares destacados. “Isso não faz parte da equação, de momento.” Resta saber se os norte-coreanos interpretaram de igual forma.

Sanções: De Singapura, Kim Jong-un sai sem certezas de que o tão desejado levantamento das sanções económicas à Coreia do Norte seja concretizado. Na conferência de imprensa final de Donald Trump, que durou uma hora, o Presidente dos EUA garantiu que as sanções continuarão em vigor até ao desmantelamento do arsenal nuclear.

Coreia do Sul: Seul ouviu Trump referir-se aos exercícios militares conjuntos anuais entre EUA e Coreia do Sul como “jogos de guerra provocadores” e a equacionar o seu fim. “Isso vai poupar-nos muito dinheiro, a não ser que vejamos que as negociações futuras não estejam a ir para onde queremos”, disse Trump. Com estas palavras lança nervosismo em Seul e insinua que sai de Singapura sem grande confiança em relação às negociações que se seguirão.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 12 de junho de 2018. Pode ser consultado aqui

Falsa partida. Trump e Kim tentarão outra vez?

Washington cancelou a cimeira. Mas não fechou a porta do diálogo

Durante cerca de dois meses e meio, o mundo viveu na crença de que seria possível, por fim, enterrar o machado de guerra na península da Coreia. A 8 de março, Donald Trump recebeu e aceitou um convite de Kim Jong-un para um encontro entre ambos — o primeiro de sempre entre Presidentes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte. Esta quinta-feira, o americano cancelou a cimeira prevista para 12 de junho, em Singapura.

“Infelizmente, com base na tremenda raiva e hostilidade aberta expressas na vossa mais recente declaração, sinto que não é apropriado ter essa reunião, neste momento”, lê-se na carta de Trump a Kim, na qual lhe agradece “o tempo, paciência e esforço despendido nas recentes negociações”. “Estou muito ansioso por conhecê-lo qualquer dia”, diz Trump. “Se mudarem de ideias em relação a esta importante cimeira, por favor, não hesitem em telefonar-me ou escrever-me.”

Apanhada de surpresa e talvez pelo tom, a Coreia do Norte abdicou de palavras duras na reação. Lamentou o cancelamento da cimeira e afirmou-se na “disposição de resolver questões através do diálogo, sempre e por qualquer meio”.

Bate-boca agressivo

Nas últimas semanas o processo de aproximação entre Pyongyang e Washington foi acumulando tropeções, fruto de “um bate-boca” cada vez menos diplomático entre as partes. O último episódio, que rebentou com a paciência de Trump, envolveu o seu vice-presidente. Na segunda-feira Mike Pence avisou a Coreia do Norte de que poderia acabar como a Líbia se não chegasse a acordo com os Estados Unidos sobre o seu programa nuclear. Pyongyang chamou-lhe “marioneta política, ignorante e estúpido”.

O enunciar de uma “solução líbia” para a Coreia do Norte teve o condão de gerar grande nervosismo no regime de Kim. É que o ditador líbio Muammar Kadhafi, que aceitou desmantelar o seu embrionário programa nuclear, foi, anos depois, derrubado e assassinado por forças apoiadas pelo Ocidente. Desde sempre que Pyongyang tem pesadelos com planos ocidentais no sentido de uma mudança de regime.

Em paralelo, a realização esta semana do exercício militar anual Max Thunder, envolvendo forças dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, foi sentida pelos norte-coreanos como “uma provocação”. Numa demonstração de boa-fé, a Coreia do Norte agendou para esta semana a destruição das instalações nucleares de Punggye-ri, para a qual convidou um grupo restrito de jornalistas americanos, britânicos, russos e chineses.

Um dos repórteres, Will Ripley, da CNN, disse que o anúncio de Trump surpreendera os norte-coreanos. “Íamos no comboio, após testemunharmos a destruição dos túneis em Punggye-ri, quando recebi um telefonema. Os norte-coreanos com quem estava ficaram chocados. Tinham acabado de destruir um recinto nuclear para demonstrarem o seu compromisso com a desnuclearização.”

Trump mostra os dentes

O fim da cimeira pôs a Coreia do Norte “às aranhas”. “Estamos a tentar descobrir qual é a intenção do Presidente Trump e o seu real significado”, reagiu Kim Eui-kyeom, porta-voz da Casa Azul, a sede da presidência. A decisão de Trump surgiu menos de 24 horas após ter recebido Moon Jae-in, que cumpriu a sua parte no processo ao encontrar-se com Kim a 27 de abril, em Panmunjom, e que deve sentir-se não mais do que um figurante à mercê de líderes inconstantes. Na carta ao norte-coreano, entre muitos salamaleques, Trump não baixou a guarda: “Vocês falam das vossas capacidades nucleares, mas as nossas são tão grandes e poderosas que eu rezo a Deus para que nunca sejam usadas.”

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 26 de maio de 2018. Pode ser consultado aqui

Kim ao ataque, Trump à defesa

O encontro entre os líderes da Coreia do Norte e dos EUA está tremido. Pyongyang está sem paciência para pressões e provocações

Os Estados Unidos não fazem mais ameaças vazias. Quando prometo uma coisa, cumpro-a.” No dia em que rasgou o acordo internacional sobre o programa nuclear do Irão, a 8 de maio passado, Donald Trump invocou — como exemplo contrário ao extremar de posições entre EUA e Irão — o processo de aproximação à Coreia do Norte. “Tenho esperança de que se vá celebrar um acordo e, com a ajuda da China, da Coreia do Sul e do Japão, alcançaremos um futuro de grande prosperidade e segurança para todos.”

Ao devolver a relação com o Irão aos tempos de tensão e de desconfiança, o chefe de Estado norte-americano pode, inadvertidamente, ter gerado receios junto dos norte-coreanos. “Pessoalmente, acredito que foi dada uma mensagem muito problemática em termos de credibilidade e confiança nos Estados Unidos”, afirmou, quarta-feira, o sul-coreano Ban Ki-moon, ex-secretário-geral das Nações Unidas, numa entrevista à televisão norte-americana CNBC. “Que tipo de mensagem tirará a Coreia do Norte disto? Posso confiar no Presidente dos Estados Unidos? Esta poderá ser a primeira pergunta que se coloca ao líder da Coreia do Norte.”

Esta semana, os preparativos para a anunciada cimeira entre os líderes dos Estados Unidos e a Coreia do Norte — a 12 de junho, em Singapura — sofreram um revés, quando Pyongyang cancelou “indefinidamente” as conversações com os sul-coreanos visando a organização do encontro. A decisão apanhou de surpresa os meandros diplomáticos, já que, ainda na semana passada, Pyongyang dera mostras de boa vontade ao libertar três cidadãos norte-americanos detidos no país por “atividades hostis”. Estes foram recebidos por Trump numa base militar do Estado de Maryland.

Exercícios provocadores

Na origem deste endurecimento da posição norte-coreana está a realização de exercícios militares conjuntos entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos, iniciados segunda-feira e que se prevê que durem duas semanas. Habitual entre os dois aliados, por alturas da primavera, o exercício Max Thunder envolve cerca de 100 aeronaves de ambos os países, em manobras que o Pentágono qualifica de “defensivas”.

Também caíram em Pyongyang afirmações de altos responsáveis norte-americanos a pressionar a Coreia do Norte no sentido de uma “desnuclearização unilateral”. “Se os Estados Unidos estão a tentar pôr-nos a um canto para nos forçarem a abandonar o nuclear de forma unilateral, deixaremos de estar interessados nesse diálogo e não poderemos deixar de reconsiderar o nosso compromisso em relação à cimeira Coreia do Norte-Estados Unidos”, afirmou, quarta-feira, Kim Kye-gwan, o vice-ministro norte-coreano dos Negócios Estrangeiros.

“Já declarámos a nossa posição favorável à desnuclearização da península coreana”, acrescentou o governante. “Já deixámos claro, em várias ocasiões, que as condições prévias para a desnuclearização são o fim da política hostil à Coreia do Norte, das ameaças nucleares e da chantagem por parte dos Estados Unidos.”

“Kim Jong-un pretende afirmar a sua posição na mesa das negociações. Pretende mostrar que não vai a Singapura numa atitude de total submissão a Trump e aos Estados Unidos”, explica ao Expresso Rui Saraiva, professor de Ciência Política na Universidade de Hosei, Japão. “Simultaneamente, tendo em conta as recentes declarações de John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, o líder norte-coreano está a rejeitar veementemente o modelo líbio de desnuclearização [ver descodificador nesta página]. A mensagem de Pyongyang é que o nível de cedências norte-coreanas tem o seu limite.”

Esta posição de força tem, naturalmente, consequências internas. “A lógica que guia o líder norte-coreano é a sobrevivência do regime e da sua liderança. As recentes ameaças de cancelamento da cimeira podem servir também para consumo interno”, acrescenta Saraiva. “Se a imagem externa de Kim saiu beneficiada a nível internacional com o recente clima de desanuviamento, não sabemos ao certo que impacto teve junto das elites e da população.”

Um país, dois sistemas

Esta semana Moon Jae-in, Presidente da Coreia do Sul, irá a Washington para transmitir a Trump as fronteiras negociais do Norte e articular uma posição conjunta que volte a sentar os norte-coreanos à mesa do diálogo. Para o professor de Ciência Política, a China — o grande aliado da Coreia do Norte e sua porta de saída para o mundo — tem um papel fundamental na resolução deste impasse.

“O que está em causa é a integração da Coreia do Norte no sistema internacional e a transformação da Coreia do Norte de um sistema totalitário num sistema autoritário, através da sua ‘dengxiaopingzação’: um país, dois sistemas, em conjunto com a desnuclearização. Se isso se concretizar, passamos de um ‘jogo de soma zero’ [o ganho de um jogador representa a perda do outro] para um jogo onde todos ganham (win-win) a nível local, regional e global.”

Teorias e jogos à parte — aos quais Trump não parece ser sensível —, o Presidente dos Estados Unidos parece já ter tido rédea mais folgada no processo de diálogo com a Coreia do Norte. É que depois de retirar os EUA do acordo com o Irão e de provocar o mundo árabe transferindo a embaixada dos Estados Unidos em Israel de Telavive para Jerusalém — com consequências trágicas na Faixa de Gaza (ver páginas seguintes) —, Trump precisa de um sucesso diplomático para provar que, contra tudo e quase todos, a sua América está no caminho certo.

DESCODIFICADOR

Como desnuclearizar?

O fim do programa nuclear norte-coreano está no coração do processo de aproximação entre Washington e Pyongyang

1. Que poder tem o Norte?
A Coreia do Norte é uma das nove potências nucleares em todo o mundo. É também uma das quatro que não fazem parte do Tratado de Não-Proliferação Nuclear — as restantes são Índia, Paquistão e Israel. Pyongyang chegou a assinar o documento, em 1985, mas retirouse em 2003. Na era de Kim Jong-un (no poder desde 2011), sucessivos testes com mísseis balísticos, cada vez mais ameaçadores, desvendaram uma capacidade bélica para atingir território norte-americano. Para o nervosismo global que se seguiu, muito contribuiu o profundo
desconhecimento sobre o país, último reduto marxista-leninista e onde se vive segundo a ideologia juche (autossuficiência), introduzida por Kim Il-sung, o “pai fundador” do Estado e avô do líder atual.

2. O que é o modelo líbio?
Quando, em 2003, na Líbia, um embrionário programa de armas de destruição em massa causava dores de cabeça, o ditador Muammar Kadhafi aceitou eliminá-lo em troca do levantamento de sanções e do fim do estatuto de pária na comunidade internacional. O material perigoso seguiu para o Laboratório Nacional de Oak Ridge, no Tennessee. Recentemente, John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional de Trump, defendeu um “modelo líbio” para pôr fim à ameaça norte-coreana. Quinta-feira, o jornal japonês “Asahi Shimbum” noticiou que os EUA exigiram que a Coreia do Norte envie ogivas nucleares, um míssil balístico intercontinental e material nuclear, dentro de seis meses, para tirarem Pyongyang da lista negra do terrorismo.

3. Os EUA têm alternativas?
Perante a repugnância que provocou, em Pyongyang, a possibilidade de uma solução “à líbia” para o nuclear norte-coreano — até pelo fim trágico que teve Kadhafi, anos depois, em 2011, assassinado nas ruas na sequência de um bombardeamento ocidental ao país —, os Estados Unidos apressaramse a desvalorizar essa fórmula. “Não vi [o modelo líbio] ser discutido, por isso não estou consciente de que seja aquele que estamos a usar”, disse esta semana Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca, preferindo falar num “modelo Trump”, sem concretizar em que consiste. Citado pelo jornal “The Korea Herald”, Kim Yeol-su, do Instituto para os Assuntos Militares da Coreia, comentou: “A ideia de um modelo Trump é como oferecer um kit de primeiros socorros à cimeira EUACoreia do Norte”.

Artigo publicado no “Expresso”, a 19 de maio de 2018. Pode ser consultado aqui

Cimeira sueca para Kim e Trump?

O chefe da diplomacia norte-coreana esteve, esta semana, na Suécia, país que representa os Estados Unidos em Pyongyang

A Coreia do Norte reagiu com silêncio ao “sim” de Donald Trump a um encontro com Kim Jong-un e logo surgiram receios de que o convite de Pyongyang pudesse não passar de uma cortina de fumo para afastar a tensão da Península Coreana. Esta semana, porém, foram dados passos que indiciam que esse encontro está a ganhar forma. Ontem, o ministro norte-coreano dos Negócios Estrangeiros, Ri Yong-ho, foi recebido, em Estocolmo, pelo primeiro-ministro sueco. “Não vamos divulgar sobre que falaram”, disse o porta-voz de Stefan Lofven à AFP.

RELACIONADO: Cimeira sueca para Kim e Trump?

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 17 de março de 2018. Pode ser consultado aqui