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Cimeira sueca para Kim e Trump?

O chefe da diplomacia norte-coreana esteve, esta semana, na Suécia, país que representa os Estados Unidos em Pyongyang

A Coreia do Norte reagiu com silêncio ao “sim” de Donald Trump a um encontro com Kim Jong-un e logo surgiram receios de que o convite de Pyongyang pudesse não passar de uma cortina de fumo para afastar a tensão da Península Coreana. Esta semana, porém, foram dados passos que indiciam que esse encontro está a ganhar forma. Ontem, o ministro norte-coreano dos Negócios Estrangeiros, Ri Yong-ho, foi recebido, em Estocolmo, pelo primeiro-ministro sueco. “Não vamos divulgar sobre que falaram”, disse o porta-voz de Stefan Lofven à AFP.

Na ausência de relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, é a Suécia — um dos poucos países ocidentais com embaixada em Pyongyang — que presta apoio consular aos norte-americanos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco concretizou a natureza da visita de Ri Yong-ho e fez saber que as conversações visaram “as responsabilidades consulares da Suécia enquanto poder protetor dos Estados Unidos, Canadá e Austrália”.

A anteceder o encontro entre Trump e Kim (previsto para maio), trabalha-se no sentido de uma cimeira intercoreana, em abril, entre este último e Moon Jae-in. Será a terceira de sempre a reunir presidentes das Coreias. Ontem reuniu-se, pela primeira vez, o comité sul-coreano de preparação da cimeira. “A desnuclearização e a paz permanente na Península Coreana serão os pontos principais da agenda. A resolução desses assuntos levará a soluções para outros nas relações intercoreanas”, disse fonte da Casa Azul, sede da presidência sul-coreana, citada por “The Korea Times”.

As reuniões preparatórias entre grupos de trabalho do Norte e do Sul poderão arrancar na próxima semana. Será discutida também a possibilidade de criar uma linha direta entre Moon e Kim.

Outra vez o desporto

Em paralelo com o trabalho diplomático, o desporto continua a desbravar terreno à política. Em abril uma equipa sul-coreana de taekwondo (arte marcial coreana) irá à Coreia do Norte. Há que manter acesa a chama da paz na península, já que o diálogo é complexo, envolve vários atores e pode ruir ao mínimo desentendimento.

Se, a 9 de fevereiro, as duas Coreias desfilaram juntas — sob bandeira da Coreia unificada — na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, em PyeongChang, isso não se repetiu na abertura dos Paralímpicos, fez ontem uma semana. O Norte queria assinalar na bandeira as Dokdo (ilhas sul-coreanas disputadas pelo Japão) mas o Sul opôs-se. A discórdia ficou por ali, até porque, nesse dia, a grande notícia era o “sim” de Trump.

Artigo publicado no “Expresso”, a 17 de março de 2018

Quarto norte-americano detido na Coreia do Norte

A agência norte-coreana anunciou a detenção de um homem com cidadania norte-americana por “atos hostis”. Washington acusa Pyongyang de prender os seus cidadãos com objetivos políticos

Serão já quatro os cidadãos norte-americanos detidos na Coreia do Norte acusados de “atos hostis”. Este domingo, a agência estatal norte-coreana KCNA noticiou a detenção de Kim Hak-song, funcionário da Universidade de Ciência e Tecnologia de Pyongyang, instituição inaugurada em 2010 e financiada por grupos cristãos evangélicos estrangeiros.

A confirmar-se — o Departamento de Estado norte-americano ainda não se pronunciou sobre o caso —, trata-se do quarto caso de cidadãos dos EUA detidos pelas autoridades de Pyongyang por suspeitas de atos contra o Estado.

A 22 de abril, foi detido no aeroporto de Pyongyang Kim Sang-duk (Tony Kim, no seu nome americano), professor na mesma universidade, a quem foram atribuídos “atos criminosos hostis destinados a derrubar a República Democrática da Coreia”.

Os outros dois norte-americanos detidos são Otto Warmbier, um estudante da Universidade da Virginia de 22 anos, condenado, no ano passado, por tentativa de roubo de material de propaganda do hotel onde estava hospedado e condenado a 15 anos de trabalhos forçados. E ainda Kim Dong-chul a cumprir uma pena de prisão de 10 anos por espionagem.

Washington acusa Pyongyang de deter nacionais seus para usá-los como arma política. Dada a inexistência de uma embaixada dos EUA em Pyongyang — os dois países não têm relações formais —, o assunto é tratado através da representação diplomática da Suécia.

“Todas as opções estão sobre a mesa”

As mais recentes detenções aconteceram num período de grande tensão entre EUA e Coreia do Norte, com ameaças mútuas no sentido de um conflito bélico. A Coreia do Norte tem realizado sucessivos testes com armas nucleares que têm lançado o nervosismo sobretudo na região Ásia-Pacífico. Em resposta, os Estados Unidos mandaram recentemente para a região um porta-aviões e um submarino, com o recado de que “todas as opções estão sobre a mesa”.

Na sexta-feira, Pyongyang acusou a CIA e os serviços secretos da Coreia do Sul de tentativa de assassínio do líder norte-coreano Kim Jong-un com recurso a armas bioquímicas.

Ao estilo imprevisível que o caracteriza, o Presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou recentemente que sentir-se-ia “honrado” em encontrar-se com o homólogo norte-coreano “nas circunstâncias certas”.

A Península da Coreia está tecnicamente em guerra há mais de 60 anos. Norte e Sul travaram uma guerra entre 1950 e 1953, um dos mais acesos “conflitos por procuração” dos tempos da Guerra Fria – os Estados Unidos apoiaram Seul e a União Soviética Pyongyang.

O conflito terminou com a assinatura de um armistício, mas nunca foi assinado um tratado de paz. A tensão é permanente e, de tempos a tempos, ameaça arrastar toda a região para um conflito no Pacífico.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 7 de maio de 2017 Pode ser consultado aqui