Uma escola secundária do estado da Virginia substituiu o nome de um antigo general da Confederação pelo de um ícone da luta contra a discriminação racial. “A vida extraordinária de John Lewis e a sua defesa da justiça racial serão uma inspiração para os nossos estudantes”, diz a promotora da alteração
No próximo ano letivo, haverá uma “nova” escola nos Estados Unidos. Fisicamente já existe — situa-se em Springfield, no estado da Virginia —, mas acaba de mudar de nome numa reação direta a um momento sensível do país.
A até agora Escola Secundária Robert E. Lee passará a chamar-se Escola Secundária John R. Lewis. Abandona o nome de um antigo general da Confederação (a união política pró-esclavagista do século XIX) e adota o de um ícone da luta pelos direitos dos negros na América.

A decisão foi tomada na quinta-feira, pelo Conselho Escolar do Condado de Fairfax, que reuniu à distância e acolheu a proposta por unanimidade. Aconteceu seis dias após a morte do ativista e numa altura em que várias cidades norte-americanas estão tomadas por protestos anti-racismo que têm visado símbolos (maioritariamente estátuas) associados à escravatura.
“O nome Robert E. Lee está para sempre ligado à Confederação, e os valores confederados não estão alinhados com a nossa comunidade”, reagiu Tamara Derenak Kaufax, que fez a proposta, em fevereiro. “Creio que a vida extraordinária de John Lewis e a sua defesa da justiça racial serão uma inspiração para os nossos estudantes e para a nossa comunidade nas próximas gerações.”
Numa audição pública sobre a proposta de mudança de nome da escola, na quarta-feira à noite, um membro da comunidade, citado pelo jornal “USA Today”, afirmou: “A mudança começa nos níveis mais baixos de nós próprios, depois da nossa comunidade e depois do país. Devemos aos pioneiros da história continuar a lutar pela igualdade de todas as formas que pudermos.”
Um dos 13 “Cavaleiros da liberdade”
Nascido em 1940, em Troy (estado do Alabama), John Lewis foi um pioneiro no combate ao racismo nos EUA. Aos 17 anos conheceu Rosa Parks e aos 18 o carismático Martin Luther King.
Em 1961, tinha 21 anos, foi um dos 13 “Cavaleiros da liberdade” — sete brancos e seis negros — que ousaram percorrer de autocarro o Sul dos Estados Unidos, onde as leis antissegregação encontravam resistência para ser aplicadas.

Em 1965, participou nas três marchas ao longo de uma autoestrada que ligava as cidades de Selma e Montgomery, no Alabama (87 km), iniciativa que levaria à aprovação da Lei dos Direitos de Voto, uma conquista histórica do movimento negro.
A primeira marcha ficaria conhecida como “Domingo Sangrento” (“Bloody Sunday”), em virtude da violência policial que se fez sentir sobre os manifestantes desarmados. Em março passado, já com a saúde debilitada, Lewis marcou presença em Selma para assinalar o 55º aniversário dos acontecimentos e deixou um conselho: “Votem como nunca votaram antes”.

John Lewis foi congressista durante mais de três décadas, eleito pela primeira vez em 1987, pelo estado da Georgia, abraçando causas que desafiassem a segregação, a discriminação e a injustiça — o combustível do movimento “Black Lives Matter” que está nas ruas norte-americanas.
Em 2011, Barack Obama — o primeiro Presidente negro na história dos EUA — atribuiu a John Lewis a mais alta honraria civil nos Estados Unidos, a Medalha Presidencial da Liberdade. Morreu a 17 de julho, aos 80 anos, de cancro no pâncreas.
(FOTO PRINCIPAL John R. Lewis ACADEMY OF ACHIEVEMENT)
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 24 de julho de 2020. Pode ser consultado aqui

