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Hitler não queria matar os judeus, defende o primeiro-ministro de Israel

A violência entre israelitas palestinianos passou dos atos às palavras. Netanyahu afirmou que o responsável pelo Holocausto foi o Mufti de Jerusalém, enquanto na UNESCO os palestinianos lutam para que o Muro das Lamentações seja “parte integrante” da Esplanada das Mesquitas

O primeiro-ministro israelita defendeu, esta terça-feira, que Adolf Hitler não tinha intenção de matar os judeus durante o Holocausto. Segundo Benjamin Netanyahu, o responsável pelo extermínio de seis milhões de judeus foi Haj Amin al-Husseini, o Mufti de Jerusalém (líder religioso muçulmano), que sugeriu a ideia ao líder nazi alemão.

“Hitler não queria exterminar os judeus naquela altura, ele queria expulsá-los”, afirmou Netanyahu num discurso perante o Congresso Mundial Sionista, que decorre em Jerusalém entre terça e quinta-feiras. Descreveu, de seguida, o que se passou no histórico encontro entre as duas personalidades, a 28 de novembro de 1941, na Alemanha: “Haj Amin al-Husseini visitou Hitler e disse: ‘Se os expulsar, todos eles irão para lá [para a Palestina]’.” Segundo Netanyahu, Hitler terá perguntado: “O que devo fazer com eles?” O Mufti respondeu: “Queime-os”.

Não é a primeira vez que o primeiro-ministro israelita responsabiliza Al-Husseini pelo Holocausto. Em 2012, diante do Parlamento de Israel (Knesset), referiu-se ao Mufti como “um dos principais arquitetos” da “solução final”.

“Em nome dos milhares de palestinianos que combateram ao lado das tropas aliadas na defesa da justiça internacional, o Estado da Palestina denuncia estas declarações moralmente indefensáveis e inflamatórias”, reagiu Saeb Erekat, secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina (OLP). “É um dia triste da história que o líder do Governo israelita odeie tanto o seu vizinho que esteja na disposição de absolver o criminoso de guerra mais reconhecido na história, Adolf Hitler, pelo assassínio de seis milhões de judeus durante o Holocausto. Netanyahu devia parar de usar esta tragédia humana para marcar pontos com fins políticos”.

Palestinianos ao ataque na UNESCO

As palavras de Netanyahu surgem no mesmo dia em que se espera que a UNESCO se pronuncie sobre uma polémica proposta de resolução apresentada por um grupo de países árabes. Nela pede-se que o Muro das Lamentações — o lugar mais sagrado do judaísmo — seja designado “parte integrante” do complexo onde se situa a Mesquita de Al-Aqsa — o terceiro lugar mais sagrado dos muçulmanos, em Jerusalém.

A iniciativa, que devia ter sido votada na terça-feira, foi adiada e desencadeou fortes críticas não só em Israel, mas também ao mais alto nível da organização. A diretora-geral da UNESCO, a búlgara Irina Bokova, lamentou a proposta, defendendo que a alteração do estatuto da Cidade Velha de Jerusalém e dos seus Muros, património da Humanidade reconhecido por aquela organização cultural, poderá “incitar a novas tensões”.

Fisicamente, o Muro das Lamentações (também chamado Muro Ocidental) e a Mesquita de Al-Aqsa estão integrados num complexo conhecido por Esplanada das Mesquitas — em rigor, os muçulmanos chamam ao espaço Al-Haram al-Sharif (literalmente Santuário Nobre) e os judeus Monte do Templo. Localiza-se na Cidade Velha de Jerusalém, na parte leste do município, anexada por Israel durante a Guerra dos Seis Dias (1967).

A atual vaga de violência entre israelitas e palestinianos foi agravada por rumores que davam conta de que Israel se preparava para controlar todo o Monte do Templo, incluindo a Mesquita de Al-Aqsa. Israel negou as acusações, afirmando não ter quaisquer planos para alterar o “status quo” do local — que os judeus podem visitar, mas não usar para orações.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 21 de outubro de 2015. Pode ser consultado aqui

Um cartoon para uma das frases que está a agitar o mundo

Primeiro-ministro de Israel chegou esta quarta-feira à Alemanha, horas após defender que Hitler não quis exterminar os judeus. Em Israel, há quem o acuse de estar a banalizar o Holocausto

Após Netanyahu defender que Hitler não quis exterminar os judeus, um sobrevivente do Holocausto manda-o estudar História. Desde as profundezas do inferno, o Führer agradece a “absolvição”. CARLOS LATUFF

Benjamin Netanyahu quis culpar os palestinianos pelo Holocausto, mas as suas palavras voltaram-se contra ele. Ao defender que foi o Mufti de Jerusalém que, em 1941, sugeriu a Adolf Hitler que exterminasse os judeus, o primeiro-ministro de Israel tornou-se alvo de muitas críticas e da chacota de ilustradores, como o brasileiro Carlos Latuff, de quem o Expresso reproduz o cartoon que pode ver no início do texto.

A polémica estalou horas antes de uma visita do primeiro-ministro de Israel à Alemanha, onde já se encontra. Agendada para o início do mês, a deslocação foi adiada em virtude da mais recente vaga de violência israelo-palestiniana.

“Todos os alemães conhecem a história da obsessão racista criminosa dos nazis que levou à rutura civilizacional que foi o Holocausto”, reagiu à polémica Steffen Seibert, porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel. “Isto é ensinado nas escolas alemãs por uma boa razão, nunca deve ser esquecido. E não vejo razão para mudarmos a nossa visão da história de forma alguma. Sabemos que a responsabilidade por este crime contra a humanidade é alemã.”

Moshe Zimmermann, estudioso do Holocausto e do Antissemitismo da Universidade Hebraica de Jerusalém, criticou as palavras do líder israelita: “Qualquer tentativa para desviar a responsabilidade de Hitler para outros é uma forma de negação do Holocausto”, disse ele à Associated Press. “Banaliza o Holocausto.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 21 de outubro de 2015. Pode ser consultado aqui

“Contabilista de Auschwitz” condenado a pena de prisão

Um tribunal alemão considerou Oskar Groening cúmplice na morte de 300 mil pessoas no campo de concentração de Auschwitz. Aos 94 anos, vai cumprir quatro anos de prisão

Oskar Groening, um antigo guarda do campo de concentração de Auschwitz, foi condenado esta quarta-feira a quatro anos de prisão, por um tribunal de Lueneburg, cidade do norte da Alemanha.

Aos 94 anos, Groening foi considerado cúmplice na morte de 300 mil pessoas, entre maio e julho de 1944. Neste período, centenas de milhar de judeus foram enviados da Hungria para Auschwitz-Birkenau, um campo de extermínio na Polónia ocupada pelos nazis. Entre 1940 e 1945, mais de um milhão de pessoas, na sua maioria judeus, foram assassinadas neste campo.

Durante o julgamento, o ex-oficial das SS, conhecido como “o contabilista de Auschwitz”, testemunhou que era responsável por guardar os pertences confiscados aos prisioneiros e pela recolha do dinheiro que lhes era roubado. O tribunal considerou que essas funções foram importantes para manter o campo de extermínio em funcionamento.

Contrariamente a outros antigos nazis levados a tribunal, Groening falou publicamente do seu papel em Auschwitz. “Eu vi as câmaras de gás. Eu vi os crematórios. Eu estava na rampa quando os processos de seleção (para as câmaras de gás) começaram”, disse no documentário “Auschwitz: os nazis e a Solução Final”, produzido em 2005 pela BBC.

Groening disse que falava em público do assunto para calar os negacionistas do Holocausto. E durante o julgamento admitiu sentir-se “moralmente culpado”.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 15 de julho de 2015. Pode ser consultado aqui