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Netanyahu adiou polémica reforma judicial “para dar uma oportunidade real ao diálogo” e “evitar a guerra civil”

No fim de um dia de greve geral “histórica” em Israel, em protesto contra a proposta de reforma judicial de iniciativa do governo, o primeiro-ministro de Israel adiou a discussão da nova legislação para daqui a um mês, sensivelmente. “Quando há uma opção para evitar a guerra civil por meio do diálogo, eu reservo um tempo para o diálogo”, disse Netanyahu

Manifestação contra os planos do governo de Benjamin Netanyahu padra a Justiça, a 26 de março de 2023, em Telavive OREN ROZEN / WIKIMEDIA COMMONS

No término de um dia de de greve geral “histórica”, como o qualificou o Histadrut, o grande sindicato israelita, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu dirigiu-se ao país para comunicar o adiamento das leituras finais de uma polémica reforma judicial que está em discussão no Parlamento (Knesset), “para dar uma oportunidade real ao diálogo”.

“Quando há uma opção para evitar a guerra civil por meio do diálogo, eu reservo um tempo para o diálogo.”

Num discurso transmitido pela televisão, Netanyahu disse estar “consciente das tensões” e que “está a ouvir o povo”. “Bibi”, como também é conhecido, disse não estar “disposto a aceitar uma minoria de extremistas desejosa de espartilhar o nosso país em pedaços e a guiar-nos para a guerra civil, apelando à recusa do serviço militar, o que é um crime terrível”.

O primeiro-ministro particularizou um assunto sensível para a segurança de Israel: a recusa de alguns reservistas em participar em exercícios militares, como forma de protesto. “O Estado de Israel não pode prosseguir com pessoas que se recusam a servir no exército. Recusar é o fim do nosso país”, disse.

Netanyahu, que é o israelita que mais tempo desempenhou o cargo de primeiro-ministro, disse que vai “revirar todas as pedras até encontrar uma solução”.

Saudações e reservas

A intervenção de Netanyahu gerou consequências imediatas, com o Histadrut a cancelar a greve geral que tinha convocado para esta terça-feira.

No domínio político, o Presidente Isaac Herzog saudou a interrupção da revisão judicial como “a coisa certa a fazer”. “Agora é a hora de um diálogo honesto e que baixe as chamas.”

O líder da oposição, Yair Lapid, disse estar disponível para “entrar em discussões” com a coligação governamental, mas apenas se “a legislação for realmente interrompida”. Sobram muitas reservas em Israel.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 27 de março de 2023. Pode ser consultado aqui

Netanyahu respeita decisão do Supremo e despede ministro e aliado

O primeiro-ministro de Israel destituiu um rabino dos cargos de ministro do Interior e da Saúde, após uma posição nesse sentido do Supremo Tribunal. Aryeh Deri, que lidera o partido religioso ultraortodoxo Shas, continuará, porém, a ser vice-primeiro-ministro. A outra formação ultraortodoxa que integra o governo já disse que vai continuar a trata-lo por ministro

Logotipo do Shas WIKIMEDIA COMMONS

O primeiro-ministro de Israel despediu, este domingo, um dos seus principais aliados políticos do cargo de ministro, na sequência de um pronunciamento do Supremo Tribunal que desqualificou o rabino Aryeh Deri para cargos ministeriáveis em virtude de uma condenação recente na justiça.

No conselho de ministros semanal, realizado este domingo, Benjamin Netanyahu expressou “grande pesar no coração” por ter de tomar a decisão e prometeu apoio a Deri, uma “âncora de experiência, inteligência e responsabilidade”.

“A decisão do Supremo Tribunal ignora a vontade da nação, e eu tenciono encontrar todos os meios legais possíveis para permitir que contribua para o país”, disse Netanyahu.

Deri, que lidera o partido religioso ultraortodoxo Shas, detinha as pastas do Interior e da Saúde, que passam agora para as mãos de outros membros do partido. “Não houve qualquer dúvida em momento algum”, disse Deri sobre suspeitas de que poderia não acatar a ordem do Supremo Tribunal.

Segundo o órgão de informação digital israelita “Times of Israel”, o líder do Shas vai continuar a desempenhar o cargo de vice-primeiro-ministro. A publicação refere que pouco após dispensar Deri, Netanyahu abandonou o conselho de ministros, deixando Deri a presidir à reunião.

O líder do outro partido religioso que integra o Governo israelita, o Judaismo Unido da Torá, afirmou que ele e o partido continuarão a tratar Deri como ministro. “No que respeita aos nossos ministérios [aqueles que o partido controla], Deri continuará a ser ministro e é dessa forma que nos relacionaremos com ele”, afirmou Yitzhak Goldknopf, ele próprio ministro (da Construção e da Habitação).

Qualquer um destes partidos é fundamental à sobrevivência do Governo de Netanyahu, que assumiu funções há menos de um mês trazendo alguma acalmia a Israel, após cinco eleições realizadas em quatro anos.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 22 de janeiro de 2023. Pode ser consultado aqui

Governo novo, velhas disputas, provocações em alta

Ao sexto dia em funções, o novo Governo de Israel confirmou algum do potencial desestabilizador que se lhe atribui. Itamar Ben-Gvir, porventura o ministro mais polémico do Executivo de Benjamin Netanyahu, fez-se passear pelo Monte do Templo, numa atitude de clara provocação aos palestinianos. A visita do político extremista, novo titular da Segurança Nacional, originou uma condenação generalizada a nível internacional, com um alto responsável da Administração Biden, citado pelo portal israelita “Ynet”, a denunciar uma tentativa de “atiçar o caos”.

Aquele que é o local mais sagrado para os judeus, onde se insere o Muro das Lamentações (único vestígio do antigo Templo de Herodes), é também especial para os muçulmanos, já que se ergue ali a Mesquita de Al-Aqsa, terceiro lugar santo do Islão. Este complexo fica em Jerusalém Oriental, a parte árabe da cidade santa, conquistada por Israel em 1967 e que os palestinianos reivindicam para capital do Estado com que sonham. O potencial explosivo desta disputa levou as partes a aceitarem a custódia da família real hachemita da Jordânia, que reclama linhagem direta do profeta Maomé, sobre nove lugares sagrados na Terra Santa.

Avisos ao Hamas

O Monte do Templo, em concreto, pode ser visitado por crentes das três religiões monoteístas, mas cristãos e judeus devem abster-se de rezar no local. Nos últimos anos, grupos de judeus radicais, por vezes sob proteção policial, têm desafiado esse statu quo. Não há registo que Ben-Gvir o tenha tentado, durante a sua visita de 13 minutos, iniciada cerca das 7h de terça-feira, num período em que a presença de judeus era permitida.

Netanyahu lidera o seu sexto governo, o mais à direita de sempre, com partidos ultraortodoxos e da extrema-direita

“O nosso Governo não se submeterá às ameaças do Hamas [grupo islamita que controla a Faixa de Gaza]. O Monte do Templo é o lugar mais importante para o povo de Israel e mantemos a liberdade de movimento para muçulmanos e cristãos, mas os judeus também subirão ao Monte. Quem fizer ameaças será recebido com punho de ferro”, disse Ben-Gvir.

Não é a primeira vez que o líder do Poder Judaico, partido kahanista (seguidor do rabino Meir Kahane) e antiárabe da extrema-direita, visita a Esplanada das Mesquitas (outro nome do Monte do Templo) em ação provocatória. Já lá tinha ido em março passado, enquanto deputado, com uma “mensagem muito simples”: “Não me vou render e não vou capitular. O Estado de Israel não deve capitular diante de terroristas que estão a tentar matar-nos,” Esta semana foi a primeira vez que o fez enquanto governante e responsável pela polícia.

O rastilho da Intifada

Ben-Gvir teve um percurso fulgurante na política. Entrou no Parlamento em 2021 e nas legislativas do ano seguinte foi o resultado do seu partido que possibilitou a Netanyahu continuar a somar tempo a um recorde que já lhe pertence: é o israelita que mais tempo foi primeiro-ministro. A ser julgado por corrupção, Netanyahu tomou posse a 29 de dezembro como chefe do seu sexto Governo, o mais à direita da história do país. Além do Likud, que lidera, integram a coligação partidos religiosos ultraortodoxos (Shas e Judaismo Unido da Torá) e da extrema-direita (Sionismo Religioso, Poder Judaico e o homofóbico Noam). É apoiado por 64 dos 120 deputados.

O rosto mais mediático desse extremismo é Ben-Gvir, que vive num colonato e tem no currículo defesa de judeus radicais em tribunal e uma condenação por incitamento ao racismo. A sua visita ao Monte do Templo terminou sem incidentes, mas a história do local mostra que, às vezes, à bonança segue-se a tempestade. A 28 de setembro de 2000, o então líder da oposição, Ariel Sharon, passeou-se 45 minutos no local, com forte aparato policial. A violência começou no dia seguinte, sexta-feira, quando as mesquitas palestinianas se encheram para a oração mais importante da semana. Foi o início da Intifada de Al-Aqsa.

(FOTO Frame de um vídeo da visita ao Monte do Templo de Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional de Israel, a 3 de janeiro de 2023 WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso”, a 6 de janeiro de 2023. Pode ser consultado aqui e aqui

Perfil de Itamar Ben-Gvir, o extremista que devolveu o poder a Netanyahu

Nasceu numa família secular, mas a Intifada radicalizou-o. O ódio aos árabes tornou o seu partido a terceira força de Israel

Itamar Ben-Gvir WIKIMEDIA COMMONS

Há que recuar uns bons 30 anos para se vislumbrar um raio de esperança no conflito entre israelitas e palestinianos. Em 1993, os Acordos de Oslo prometeram a paz, mas esse desejo não foi unânime. Dois anos depois do histórico aperto de mão entre Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, um jovem israelita era a voz da oposição e surgia, numa reportagem televisiva, a mostrar o símbolo de um Cadillac arrancado à respetiva viatura: “Chegámos ao carro dele, vamos chegar a ele também.”

“Ele” era o primeiro-ministro de Israel. Semanas depois, Rabin seria assassinado por um judeu radical, dentro do carro, após participar num comício pela paz em Telavive. Já o jovem que vaticinara o massacre de Rabin era Itamar Ben-Gvir, que na passada terça-feira foi o grande vencedor das eleições legislativas.

Líder do Poder Judaico, formação de extrema-direita que concorreu integrada na lista do Partido Sionista Religioso, Ben-Gvir foi o motor do forte crescimento deste último, que passou de seis para 14 deputados, tornando-se a terceira maior bancada do Parlamento (Knesset). “Ainda não sou primeiro-ministro”, afirmou na noite eleitoral, em reação à votação histórica na sua aliança. “Mas trabalharei para todo o Israel, até para aqueles que me odeiam.”

No poder e no tribunal

Ben-Gvir é deputado desde 2021, quando Israel levava já dois anos de instabilidade política, com sucessivas eleições a ditarem frágeis Governos. O crescimento do Partido Sionista Religioso permitiu desbloquear o impasse a favor da direita e consagrou o regresso ao poder de Benjamin Netanyahu (Likud, partido mais votado), que está a ser julgado por corrupção. Juntam-se-lhe os partidos ultraortodoxos Shas e Judaísmo Unido da Torá.

A ascensão do partido extremista de Ben-Gvir, que advoga a supremacia judaica num país onde 20% da população é árabe, desencadeou alertas de que um ‘Israel judaico’ está a superiorizar-se ao ‘Israel democrático’. Para esta perceção muito contribui o percurso pessoal e político do chefe.

Nascido a 6 de maio de 1976 em Mevasseret Zion, subúrbio de Jerusalém, numa família secular com origem no Curdistão iraquiano, Ben-Gvir radicalizou-se em tenra idade, com a eclosão da primeira Intifada palestiniana, em 1987. “Houve um assassínio, depois outro, e depois outro, e isso fez-me começar a pensar sobre como resolver a situação”, contou.

“Morte aos árabes”

Aderiu a um movimento associado ao partido ultranacionalista Moledet, que encorajava a “transferência” dos árabes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza para outros países da região. O caráter voluntário do processo não agradou a Ben-Gvir, que desertou e aderiu ao Kach, um partido racista fundado pelo rabino norte-americano Meir Kahane, que viria a ser rotulado de organização terrorista em Israel.

Hoje, o Poder Judaico, de Ben-Gvir, define-se como partido kahanista e antiárabe. Pugna pela “expulsão” dos israelitas árabes que não demonstrem lealdade ao país. Terça-feira, apoiantes eufóricos com os votos recebidos fizeram a festa gritando “morte aos árabes” e “morte aos terroristas”, que na sua mundividência são sinónimos.

Em defesa de terroristas

A militância extremista fez com que Ben-Gvir fosse dispensado do serviço militar aos 18 anos. Levou-o também ao banco dos réus dezenas de vezes. Em 2007 foi condenado por incitamento ao racismo. O contacto com a justiça despertou-lhe o interesse por estudar Direito. Como advogado, notabilizou-se na defesa de judeus acusados de terrorismo e crimes de ódio.

Na prática, Ben-Gvir é um ‘soldado’ ao serviço da ocupação israelita da Palestina. Vive no colonato de Kiryat Arba, na sempre tensa Hebron (Cisjordânia), com a mulher e cinco filhos. Pendurada em casa chegou a existir uma foto de Baruch Goldstein, o colono que, em 1994, matou a tiro 29 muçulmanos que oravam no Túmulo dos Patriarcas, em Hebron.

Em 2020 Ben-Gvir retirou a foto para facilitar o diálogo com partidos da direita, renitentes em normalizar a participação política de um homem que glorificava a matança de inocentes. “Tirei a foto de Goldstein para impedir um Governo de esquerda”, diria.

No início deste ano passou a andar com segurança reforçada. Alvo de ameaças de morte, nunca se privou de provocar, como quando visitou o bairro árabe de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, em contexto de violência entre árabes e judeus. E passeou-se na Esplanada das Mesquitas enquanto Israel atacava a Faixa de Gaza.

A eleição desta semana revelou que o ódio que Ben-Gvir irradia lhe vale muita popularidade.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 3 de novembro de 2022. Pode ser consultado aqui e aqui

Bennett já governa. E Netanyahu já quer abatê-lo

O “Governo da mudança” enfrenta desafios internos e externos e uma moção de censura no Parlamento

Naftali Bennett, com a kippah, e Benjamin Netanyahu MIRIAM ALSTER / FLASH90

Os primeiros dias do autoproclamado “Governo da mudança” — sem Benjamin Netanyahu ao leme após muitos anos — mais parecem dignos da era… Netanyahu. Terça-feira, uma marcha nacionalista desfilou, de forma provocadora, em Jerusalém Oriental, celebrando a conquista dessa parte da cidade aos árabes em 1967.

Aos gritos de “morte aos árabes”, “Maomé está morto” e “a segunda Nakba [expulsão de árabes da Palestina] está a chegar”, a marcha não evitou passar pela Porta de Damasco — principal entrada no bairro árabe da Cidade Velha —, tornando os confrontos com palestinianos inevitáveis.

Tal como aconteceu há um mês, quando a iminência de despejos de famílias árabes do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, desencadeou uma inédita chuva de rockets sobre Israel, disparados pelo Hamas, o grupo islamita reagiu agora à marcha lançando balões incendiários a partir da Faixa de Gaza. Os artefactos provocaram 20 fogos no sul de Israel, que respondeu com bombardeamentos a Gaza — em maio durante 11 dias, esta semana durante umas horas.

Estes acontecimentos traduzem o principal desafio interno que enfrenta o novo Governo em funções desde domingo, liderado pelo nacionalista Naftali Bennett: a coexistência entre israelitas árabes e judeus. Na frente externa, o grande problema é o de sempre nos últimos anos: o programa nuclear iraniano.

“Netanyahu juntou-se à viagem vergonhosa dos seus co-conspiradores anti-Irão — Bolton, Trump e Pompeo — para o caixote do lixo da história. (…) É hora de mudar de rumo”
Javad Zarif, ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão

A saída de cena de Netanyahu significa para o Irão o desaparecimento de um entrave ao diálogo com o Ocidente. Mas se esse tipo de política é defendida pelo atual Presidente iraniano (o moderado Hassan Rohani), poderá não ser a do seu sucessor, que será eleito nas presidenciais de hoje.

Esta semana, no Parlamento israelita, Bennett não se distanciou da posição do seu antecessor, considerando “um erro” a reativação do acordo nuclear de 2015 (de que Donald Trump retirou os EUA, mas a que Joe Biden quer regressar). “Israel não permitirá que o Irão se equipe com armas nucleares”, disse o novo primeiro-ministro. Este dossiê será, porventura, o principal braço de ferro entre Israel e a Administração Biden.

“Israel não tem melhor amigo do que os EUA”
Joe Biden, Presidente norte-americano

Após entrar na Casa Branca, a 20 de janeiro, Biden demorou quase um mês para fazer o seu primeiro telefonema para Netanyahu (Trump ligara-lhe no segundo dia em funções). A demora na cortesia causou ansiedade em Israel e suspeitas de que Biden quisesse menosprezar Netanyahu, que era unha com carne com Trump.

Desta vez, o Presidente dos EUA ligou a Bennett no próprio dia em que o Parlamento o confirmou como primeiro-ministro. Num ato paralelo, o secretário de Estado americano, Antony Blinken telefonou ao seu homólogo Yair Lapid (que a meio da legislatura trocará de cargo com Bennett). “O vínculo que une os nossos povos é prova dos valores que partilhamos e de décadas de estreita cooperação” disse Biden. “Os Estados Unidos permanecem inabaláveis no seu apoio à segurança de Israel.”

“Estou convosco, amigos, na batalha diária contra este mau e perigoso Governo de esquerda, para derrubá-lo”
Benjamin Netanyahu, ex-primeiro-ministro israelita

Netanyahu demorou apenas três dias a declarar guerra à coligação de oito partidos — da extrema-direita judaica ao islamismo árabe — que se uniram para o afastar do poder. Na quarta-feira, o seu partido (Likud, direita) apresentou uma moção de censura ao Executivo, acusando-o de ter sido formado com base em “fraude e mentiras”. Será votada na próxima segunda-feira, no mesmo Parlamento que aprovou o Governo Bennett por um triz: 60 votos contra 59.

Artigo publicado no “Expresso”, a 18 de junho de 2021. Pode ser consultado aqui