Membro do Conselho de Segurança, Portugal votou, no passado dia 17, a favor da criação de uma zona de exclusão aérea na Líbia
Membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas para o biénio 2011-2013, Portugal votou favoravelmente a Resolução 1973 que aprova uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia.
A Resolução passou com dez votos favoráveis (EUA, Reino Unido, França, Portugal, Bósnia-Herzegovina, Colômbia, Gabão, Líbano, Nigéria e África do Sul) e cinco abstenções (China, Rússia, Alemanha, Brasil e Índia).
Perante o plenário, o Representante Permanente de Portugal, embaixador José Filipe Moraes Cabral, justificou o voto nacional (neste vídeo, a partir do minuto 50).
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 21 de março de 2011. Pode ser consultado aqui
O governo da Líbia decretou o cessar-fogo, mas há relatos de confrontos em Ajdabiya e Misurata. Em Tripoli, há rumores de que um ataque internacional está iminente
Informações contraditórias chegam da Líbia sobre a aplicação, no terreno, do cessar-fogo anunciado, esta tarde, pelo ministro líbio dos Negócios Estrangeiros, Moussa Koussa.
David Sendra, o repórter que está em Tripoli a cobrir os acontecimentos para o Expresso, conta que há relatos contrários sobre a situação no leste do país. “Confirmaram-me que, pelo menos em Ajdabiya, os combates continuavam junto à entrada sul. Pouco depois, chegaram-me informações contrárias sobre a situação na mesma cidade. É impossível confirmar, a partir de Tripoli, se os ataques das forças de Kadhafi pararam.”
Fogo dos arredores para o centro
Segundo a estação árabe Al-Jazeera, as forças governamentais continuaram a bombardear a cidade de Misurata, a oriente, ainda nas mãos dos rebeldes.
“As forças de Kadhafi estão nos arredores, mas continuam a bombardear o centro da cidade”, testemunhou Abdulbasid Abu Muzairik, um morador em Misurata. “O cessar-fogo não está em vigor. Kadhafi ainda continua a alvejar e a matar o povo nesta cidade.”
Ataque este fim-de-semana?
As autoridades líbias anunciaram um cessar-fogo imediato unilateral das operações de combate contra os rebeldes — sedeados em Bengasi (no leste) —, horas após o Conselho de Segurança das Nações Unidas ter aprovado uma zona de exclusão aérea sobre o país, isentando apenas os voos de caráter humanitário.
David Sendra reporta ainda que há notícias de que a oposição líbia está a coordenar-se com as forças internacionais para ver quais os objetivos que serão atacados. Há rumores em Tripoli que o ataque será este fim-de-semana.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 18 de março de 2011. Pode ser consultado aqui
Acossado pela contestação interna e internacional, Muammar Kadhafi diz-se firme no poder. A sua influência no exército e as sensibilidades tribais podem dificultar uma eventual entrega do poder aos militares
Ao fim de 41 anos no poder, Muammar Kadhafi é um homem cada vez mais só. Com os jornalistas estrangeiros impedidos de entrar no país, os relatos chegam a conta-gotas e dão conta do alastramento dos confrontos desde a região de Benghazi (no leste) até à capital, Tripoli. E nos corredores da diplomacia, vários embaixadores líbios, após demitirem-se das suas funções, estão a apelar a uma intervenção internacional.
Num discurso à nação, Muammar Kadhafi afirmou, hoje, a sua autoridade e determinação perante a contestação. Mas, na realidade, a sobrevivência do seu regime e a sua própria continuidade em terras líbias depende menos da sua vontade e mais da lealdade de duas instituições: o exército e as tribos.
Primeiro a tribo
Apesar do tribalismo continuar a ser visto como um obstáculo à mobilidade social, à igualdade de oportunidades e ao desenvolvimento da sociedade, muitos líbios continuam a identificar-se, prioritariamente, com uma tribo. Pertencer a uma tribo pode abrir portas nos serviços públicos, garantir um emprego ou resolver disputas familiares.
A rivalidade tribal é evidente, inclusivé, no coração do exército, onde os Qadhadfa — tribo à qual pertencem os Kadhafi — rivalizam com os Magariha. Há dias, Saif al-Islam, de 38 anos, apontado como o sucessor do coronel, alertou para a possibilidade de uma guerra civil no país, com membros de diferentes tribos a “matarem-se uns aos outros nas ruas”.
Solução à egípcia?
Mas não são apenas as sensibilidades tribais que podem condicionar o comportamento do exército durante a revolta popular. Ian Black, analista do diário britânico “The Guardian”, cita fontes não confirmadas para referir que a repressão em Benghazi está a ser dirigida por Jamis, um dos filhos de Muammar Kadhafi, que comanda uma unidade de forças de elite.
Na região, estará também Saadi, outro dos sete filhos do coronel, juntamente com o chefe da inteligência militar, Abdullah al-Senusi. A preponderância dos Kadhafi nas Forças Armadas pode dificultar um cenário “à egípcia” para a Líbia: a demarcação do exército em relação ao regime para assumir o controlo da situação.
(FOTO Manifestação em Bayda, no litoral nordeste da Líbia, a 22 de julho de 2011 WIKIMEDIA COMMONS)
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 22 de fevereiro de 2011. Pode ser consultado aqui
O governo da Líbia abriu os cordões à bolsa e desbloqueou uma verba avultada para investimentos, sobretudo em construções e turismo. A bola está agora do lado dos empresários portugueses
A prova de que quase ninguém fica indiferente a Muammar Khadafi aconteceu na sexta-feira de manhã quando o Presidente líbio se predispôs a participar no seminário “Problemas da Sociedade Contemporânea”, na reitoria da Universidade Clássica de Lisboa. A curiosidade era imensa, a segurança aparatosa e os notáveis abundavam na plateia, de militares a embaixadores. Mas Khadafi foi tudo menos diplomático: “A esperança que depositamos nas Nações Unidas está a desaparecer. Actualmente, a lei da força foi imposta no sentido de ser a lei da concordância e os abusos continuam. É o mais forte quem redige as leis”, disse. Khadafi considerou mesmo que “nas Nações Unidas assistimos a uma ditadura”.
Os ecos da intervenção do Presidente líbio chegariam ao Pavilhão Atlântico onde decorre a Cimeira UE-África. Após Khadafi ter defendido que “os colonizadores devem indemnizar os povos que colonizaram”, o comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel, não se poupou ao bate-boca e reagiu dizendo que os “colonizadores já pagaram” e “não têm lições a receber”.
Sem nunca se referir a um país em particular, o Presidente líbio defendeu ainda a proibição total de armas nucleares: “A arma nuclear é permitida para uns e proibida para outros. Se essa arma ameaça a vida, deve ser proibida para todos”. E concluiu com um apelo às massas: “Gostava de me dirigir à opinião pública: se deixarmos esta situação difícil que se vive no mundo nas mãos dos políticos, eles nunca a vão resolver. Não podemos contar com eles. Os políticos necessitam de ser pressionados”.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de dezembro de 2007. Pode ser consultado aqui
O Presidente da Líbia correu as cortinas da sua tenda no Forte S. Julião da Barra às mulheres portuguesas, para falar de direitos e deveres. Corresponderam ao convite sobretudo africanas
Selo comemorativo do 13º aniversário da revolução de 1 de setembro de 1969, liderada por Muammar Kadhafi, que depôs o rei Idris WIKIMEDIA COMMONS
Muammar Kadhafi tinha pedido um encontro com 600 mulheres portuguesas, mas metade das cadeiras colocadas no interior da tenda destinada para o efeito, no Forte de S. Julião da Barra (Oeiras), ficaram por ocupar.
Maioritariamente, corresponderam ao convite do Presidente da Líbia africanas. Num dos lugares com melhor visibilidade para o palco, a guineense Ivone, de 35 anos, está particularmente animada, não se cansando de exibir um poster do coronel.
“Estou muito entusiasmada. Ele é um Presidente que apoia sempre as mulheres”, diz. Ao seu lado, Leónia, guineense da mesma idade, fala das expectativas em relação ao que Kadhafi terá para dizer: “Espero ouvir algo que seja interessante para nós, imigrantes em Portugal. Estamos a passar por dificuldades, temos problemas económicos e espero que o Presidente Kadhafi possa indicar-nos uma solução que seja boa para a nossa vida”.
Vestidas discretamente ou com vistosos e coloridos trajes africanos, todas as mulheres passaram, à entrada da tenda, pela inspecção minuciosa das amazonas, a guarda pretoriana feminina que é a sombra de Kadhafi onde quer que ele vá. “Ao escolher mulheres para serem seguranças, ele mostra o papel que as mulheres podem ter”, continua Leónia. “As mulheres não são para estar só na cozinha ou a fazer trabalho doméstico. Eu não me importava nada de ser uma das seguranças dele”, diz, provocando risos.
Ivone e Leónia souberam deste encontro através de uma associação guineense e deslocaram-se até ao Forte num autocarro fretado para o efeito. O mesmo aconteceu com a sãotomense Susana, de 60 anos, que à falta de alternativa para melhor passar o tempo apanhou a excursão que partia da Quinta do Mocho sem saber muito bem ao que ía. “Eu só vim porque sou doente e estou sozinha. As minhas amigas vieram para aqui e eu também vim”, diz. Susana não sabe o que se vai ali passar nem quem será a ilustre figura que vai ocupar a poltrona colocada no centro do palco.
Conduzir comboios é para os homens
Uma fila à frente, a actriz Raquel Henriques aguarda Kadhafi com grande serenidade. “Estou ligada a questões humanitárias, sobretudo envolvendo crianças, e estou a fazer uma formação no Centro Português para os Refugiados. Surgiu um convite para vir cá e quero ouvir o que o Presidente Kadhafi tem para dizer. Além disso, ele é uma personagem um pouco especial. Ainda não consegui perceber se ele é uma pessoa amada ou odiada e fiquei curiosa”.
Mais de uma hora depois do horário previsto, Kadhafi irrompe pelo palco e arranca os primeiros aplausos. Sorri, acena e coloca a mão direita sobre o coração. A plateia está munida de auscultadores que vão traduzindo, de árabe para português, o que ele diz. Kadhafi invoca várias vezes o seu famoso ‘Livro Verde’ para dizer de sua justiça: “Nos deveres, não pode haver igualdade entre homens e mulheres, apenas nos direitos”. E socorre-se de um exemplo: se uma mulher quiser conduzir um comboio tem o direito de o fazer, mas não o dever porque essa é uma tarefa dos homens.
Raquel parece interessada. Já Susana, vai dormitando à medida que o discurso se prolonga. Bem ao seu estilo, Kadhafi foi-se deixando ficar, enquanto, em Lisboa, começavam a chegar ao Pavilhão Atlântico as delegações participantes na Cimeira UE-África para o jantar inaugural.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de dezembro de 2007. Pode ser consultado aqui
Jornalista de Internacional no "Expresso". A cada artigo que escrevo, passo a olhar para o mundo de forma diferente. Acho que é isso que me apaixona no jornalismo.