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Uma Jerusalém deserta e o Santo Sepulcro encerrado. As imagens da Páscoa na Terra Santa

As ruas de Jerusalém estão desertas quando, noutros anos por esta altura, estavam a transbordar de fiéis e turistas. No Santo Sepulcro, que está de portas fechadas, como todos os outros sítios culturais e religiosos da Terra Santa, as orações fazem-se do lado de fora. E a Via Dolorosa é percorrida simbolicamente por pequenos grupos de monges ou crentes solitários. Tudo por causa do coronavírus

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A tradicional procissão cristã de Domingo de Ramos foi substituída por uma oração no Monte das Oliveiras, com vista para as muralhas de Jerusalém e para a Cúpula do Rochedo, um dos locais mais importantes para os muçulmanos AMMAR AWAD / REUTERS
Na praça em frente à Porta de Damasco, uma das entradas na cidade velha de Jerusalém, a azáfama habitual deu lugar a ações de desinfeção do espaço AMMAR AWAD / REUTERS
Um voluntário lava a porta de entrada na Basílica do Santo Sepulcro, que abriga o túmulo de Jesus Cristo, em Jerusalém MOSTAFA ALKHAROUF / GETTY IMAGES
Em tempos de pandemia, o Santo Sepulcro está de portas fechadas. Num dos locais mais importantes para os cristãos de todo o mundo, só se reza do exterior EMMANUEL DUNAND / AFP / GETTY IMAGES
Este cristão desafia as restrições à circulação de pessoas para rezar diante do Santo Sepulcro GALI TIBBON / AFP / GETTY IMAGES
Na Terra Santa, todos os sítios religiosos e culturais estão encerrados ao público. Uma medida justificada com a urgência do combate ao coronavírus GALI TIBBON / AFP / GETTY IMAGES
Um peregrino solitário transporta a cruz enquanto percorre a Via Sacra, na cidade velha de Jerusalém AMMAR AWAD / REUTERS
Também designada Via Dolorosa, a Via Sacra reconstitui o trajeto que Jesus percorreu até ao Calvário, carregando a cruz AMMAR AWAD / REUTERS
Um voluntário pulveriza o corrimão que ajuda à caminhada numa secção da Via Dolorosa EMMANUEL DUNAND / AFP / GETTY IMAGES
Na Sexta-Feira Santa, frades franciscanos realizam uma pequena procissão na Via Sacra EMMANUEL DUNAND / AFP / GETTY IMAGES
Um homem com máscara caminha sozinho pela cidade velha de Jerusalém. As lojas, que noutros anos estariam a abarrotar de turistas, estão de portas fechadas AMMAR AWAD / REUTERS
No norte de Israel, a cidade de Nazaré, com uma forte conotação cristã, está sem turistas. O mercado da cidade velha está de portas fechadas RAMI AYYUB / REUTERS
Também Belém, no território palestiniano da Cisjordânia, está sem turistas. Para quem visita a Terra Santa é passagem obrigatória já que Jesus nasceu nesta cidade MUSTAFA GANEYEH / REUTERS
Em Belém, a Igreja da Natividade, que abriga o local onde, segundo a tradição cristã, Jesus Cristo nasceu, está encerrada aos fiéis MUSTAFA GANEYEH / REUTERS
Diante da primeira estação da Via Dolorosa, este peregrino cristão entrega-se à oração, tentando ignorar o incómodo das luvas e das máscaras EMMANUEL DUNAND / AFP / GETTY IMAGES
Dois homens protegidos com máscaras passam tranquilamente junto à oitava estação da Via Sacra, sem cortejos religiosos AMMAR AWAD / REUTERS
Dois polícias israelitas, equipados e protegidos, patrulham a zona junto à quinta estação da Via Dolorosa AMMAR AWAD / REUTERS
Sem peregrinos em Jerusalém, as cerimónias religiosas, mais curtas e simbólicas do que habitualmente, ficam entregues aos monges GALI TIBBON / AFP / GETTY IMAGES
Monges católicos realizam uma oração junto à porta de entrada na Basílica do Santo Sepulcro, em Jerusalém AMMAR AWAD / REUTERS
Dois cristãos expressam a sua fé com a mesma devoção como que se estivessem no interior do Santo Sepulcro ILIA YEFIMOVICH / GETTY IMAGES
Um dos muitos miradouros da cidade velha de Jerusalém. Estranhamente sem turistas MOSTAFA ALKHAROUF / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 12 de abril de 2020. Pode ser consultado aqui

“500 Boeing 777 totalmente carregados”. Em tempo de aviões parados, Qatar aposta na “geopolítica covid”

O Qatar está a aproveitar a pandemia global para se afirmar como um país poderoso e solidário e, ao mesmo tempo, desvalorizar o bloqueio de que é alvo por parte de alguns “irmãos” árabes. O pivô ao serviço desta estratégia é a Qatar Airways

O surto do novo coronavírus paralisou a indústria da aviação em todo o mundo, mas a Qatar Airways anda num corrupio. A companhia aérea do Qatar mantém serviços comerciais regulares para dezenas de países e opera “charters” para repatriar cidadãos estrangeiros encurralados pelo fecho de fronteiras. Paralelamente, tem assegurado o transporte de toneladas de material e ajuda médica para países em desespero.

Só no mês de março trabalhou “com governos e organizações não governamentais de todo o mundo para transportar mais de 50 milhões de quilos de ajuda e suprimentos médicos”, congratulou-se a empresa no Twitter. “Isto equivale a cerca de 500 Boeing 777 totalmente carregados.”

A transportadora do pequeno reino ribeirinho ao Golfo Pérsico opera sobretudo para a Europa, Ásia e Austrália. Muitas vezes, a taxa de ocupação dos aparelhos fica pela metade, ou menos ainda. Akbar al-Baker, o presidente-executivo da Qatar Airways, já disse que a empresa só tem dinheiro para sustentar as operações por “um período muito curto”. “Certamente iremos pedir apoio ao nosso governo”, alertou, em declarações à agência Reuters.

O que motiva então a Qatar Airways a “torrar” dinheiro numa altura em que a esmagadora maioria das congéneres tem os hangares e pistas cheios de aviões parados?

“A Qatar Airways é muitas vezes considerada um instrumento de ‘soft power’ [a capacidade de influência de um país através da ideologia ou da cultura, e não das armas]. Eu concordo em certa medida. É uma boa maneira de o país se mostrar e, como se costuma dizer, ‘colocar o Qatar no mapa’”, explica ao Expresso David B. Roberts, investigador no King’s College, de Londres. “Mas essa ideia não deve ser levada longe demais. Eu não concordo com o ditado que diz que ‘não existe má publicidade’. Só porque o Qatar é conhecido, isso não significa automaticamente um impulso para o Estado.”

Mas é um facto que, nestes tempos de crise, o Qatar tem marcado pontos na forma como está a contrariar a inércia global forçada. Esta semana, James Cleverly, secretário de Estado do Reino Unido para o Médio Oriente e Norte de África, agradeceu à Qatar Airways por ter ajudado 45 mil britânicos espalhados pelo mundo a regressar a casa. Anteriormente, tinha sido o embaixador da Alemanha no país, Hans-Udo Muzel, a expressar gratidão.

Além de britânicos e alemães, o Qatar já ajudou a repatriar australianos, franceses, suíços, canadianos, norte-americanos, indianos, paquistaneses, filipinos e omanitas, em “charters” organizados pelos respetivos governos.

“Recebemos muitos pedidos de governos de todo o mundo para que a Qatar Airways não páre de voar”, disse Akbar al-Baker, presidente executivo da empresa. “Voaremos enquanto for necessário.”

O protagonismo da Qatar Airways ganha relevância quando dele fazemos uma interpretação geopolítica. Desde junho de 2017 que o Qatar é alvo de um bloqueio regional — económico, político e físico —, liderado pela Arábia Saudita e coadjuvado por Emirados Árabes Unidos, Bahrain e Egito. Entre as acusações feitas ao Qatar está a sua proximidade ao Irão.

O bloqueio agravou substancialmente o custo de vida no Qatar, mas o reino não dá mostras de cedências, mantendo, por exemplo, a ambição de realizar um Mundial de Futebol inesquecível, em 2022.

“As reservas financeiras do Qatar têm sido a sua principal arma. É o país mais rico à face da Terra em termos ‘per capita’, o que significa que pode comprar a forma de sair dos problemas e pedir emprestado o que necessita”, diz David B. Roberts, autor do livro “Qatar — Securing the Global Ambitions of a City-State” (2017). “O dinheiro não é tudo — a Venezuela deveria ser um Estado rico e a funcionar bem —, mas combinado com liderança sensata quase sempre resulta.”

A emergência resultante deste contexto de pandemia poderia contribuir para diluir a conflitualidade geopolítica no Golfo Pérsico, mas não é o que acontece. A 27 de março, 31 cidadãos do Bahrain, transportados num voo comercial da Qatar Airways desde o Irão (o país da região mais fustigado pela covid-19) ficaram retidos no aeroporto de Doha (capital do Qatar), impedidos de seguir viagem. O Bahrain é um dos pilares do bloqueio e não permite voos diretos com o Qatar.

Perante a nega, o Qatar — que tinha proposto fazer o transporte gratuitamente, em avião privado — ofereceu alojamento num hotel aos cidadãos do Bahrain.

“A interferência do Qatar na questão dos cidadãos retidos visa ofender o Bahrain”, acusou Khalid bin Ahmed al-Khalifa, ministro dos Negócios Estrangeiros do reino desde 2005 e até janeiro passado. “Doha deve parar de usar uma questão humanitária como a pandemia de covid-19 nos seus planos e conspirações contra países e povos.”

A contenda resolveu-se a 29 de março. Segundo a publicação “Bahrain Mirror”, os 31 cidadãos do Bahrain saíram do Qatar a bordo de um “charter” pago pelo seu país, fretado à companhia Iranian Kish, ou seja, do inimigo Irão.

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 9 de abril de 2020. Pode ser consultado aqui

Dez países aonde o coronavírus (ainda) não chegou

A cada dia que passa, a Covid-19 conquista novos territórios. Entre aqueles que ainda não registaram qualquer caso de infeção, seis falam português — Timor-Leste, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau

O número de países com casos confirmados de Covid-19 aumenta de dia para dia. Este domingo, o mapa-mundi da pandemia que consta do boletim diário publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) assinalava 143 países infetados.

O último balanço da OMS confirma a Europa como o atual epicentro da pandemia, com mais casos e mortes reportados do que o resto do mundo combinado, tirando dessa equação a China. No velho Continente, a Itália é o país mais fustigado, seguida de Espanha, França e Alemanha.

A nível global, depois de China e Itália, surge o Irão como o país que suscita mais preocupações. “Uma das principais razões [para o grande número de casos] tem a ver com os voos entre a China e o Irão, que continuaram a funcionar”, comentava ao Expresso uma iraniana residente em Portugal.

Em contraponto à Europa, África é o continente menos fustigado pela pandemia, embora seja aquele que, de dia para dia, contribui com mais entradas para o mapa do coronavírus — este domingo, a OMS sinalizou sete países africanos com os primeiros casos de Covid-19.

Nesse continente, os seis mortos registados até ao momento aconteceram em países do Norte de África (Marrocos, Argélia e Egito). Na chamada África Negra — onde o país mais fustigado é a África do Sul —, não há qualquer vítima mortal.

Maioria dos lusófonos resistem

Entre os territórios que ainda não registaram qualquer caso de Covid-19 estão seis países de língua oficial portuguesa: em África os cinco PALOP (Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau) e no extremo oriente Timor-Leste. Já o Brasil, no continente americano, é apenas superado por Estados Unidos e Canadá em número de casos. Colado ao Brasil, o Uruguai é o único país da América do Sul que ainda resiste ao Covid-19.

Na contabilidade da OMS, não há referências a países em guerra, como Líbia, Síria e Iémen, nem à hermética Coreia do Norte. Por outro lado, os números oficiais atribuídos a países populosos como Rússia e Índia — que na atualização de domingo da OMS surgem, respetivamente, com 34 casos (e nenhum morto) e 107 casos (dois mortos) — parecem pecar por defeito. Tudo contribui para um receio de que talvez a real dimensão deste drama esteja ainda por conhecer.

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NICARÁGUA. Um habitante da ilha de Mancarrón, no arquipélado de Solentiname, desfruta tranquilamente do Lago Nicarágua, o maior da América Central CARLOS HERRERA / GETTY IMAGES
TANZÂNIA. O país ainda não registou qualquer caso de Covis-19, mas os hábitos já se adaptaram a esse cenário. O Presidente John Magufuli (à direita) e um líder da oposição cumprimentam-se com os pés, em Zanzibar GETTY IMAGES
URUGUAI. É o único país da América do Sul que resiste ao coronavírus. O recente jogo entre o Nacional do Uruguai e o Estudiantes de Merida da Venezuela para a Copa Libertadores decorreu com adeptos nas bancadas do Parque Central de Montevideu DANTE FERNANDEZ / AFP / GETTY IMAGES
ZIMBABWE. Numa loja de ‘comida para fora’, uma mulher mata o tempo, durante uma falha de luz, olhando para o telemóvel, em Chimanimani PHILIMON BULAWAYO / REUTERS
TIMOR-LESTE. Em Díli, as cerimónias religiosas decorrem com normalidade. Mas recentemente, o Vaticano adiou para 2021 a viagem do Papa Francisco ao território prevista para este ano VALENTINO DARIEL SOUSA / AFP / GETTY IMAGES
MYANMAR. Nas imediações do Pagode Shwedagon, um lugar santo budista em Rangum, não faltam monges nem turistas YE AUNG THU / AFP / GETTY IMAGES
ANGOLA. Nesta praia de Luanda, onde um DJ põe Kizomba na aparelhagem sonora, não há limites à concentração de pessoas LEE BOGATA / REUTERS
EL SALVADOR. Soldados salvadorenhos patrulham a fronteira junto à Guatemala para impedir que seja atravessada ilegalmente por pessoas em fuga à quarentena decretada no país vizinho, onde já há casos de Covid-19 JOSE CABEZAS / REUTERS
QUIRGUISTÃO. A polícia detém uma mulher durante um protesto contra a violência de género. O coronavírus ainda não fechou os quirguizes dentro de casa VYACHESLAV OSELEDKO / AFP / GETTY IMAGES
MOÇAMBIQUE. Mulheres preparam a terra para a colheita, na região de Dondo, na província de Sofala, uma das mais fustigadas pelo ciclone Idai, no ano passado  ED RAM / REUTERS

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 16 de março de 2020. Pode ser consultado aqui