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Primeiro debate entre candidatos republicanos não conseguiu ignorar “o elefante que não esteve na sala”

Donald Trump falhou ao debate do Partido Republicano que foi tiro de partida para a próxima corrida à Casa Branca, quarta-feira à noite. O ex-Presidente, que lidera destacado as sondagens para a nomeação do ‘partido do elefante’ e prometeu entregar-se à justiça esta quinta-feira, não foi a Milwaukee, mas montou um palco só para si. Sensivelmente à mesma hora, foi publicada numa rede social uma entrevista sua ao polémico apresentador Tucker Carlson

No sentido dos ponteiros do relógio, a partir do canto superior esquerdo: Mike Pence, Ron DeSantis, Nikki Haley, Vivek Ramaswamy, Chris Christie, Asa Hutchinson, Tim Scott e Doug Burgum SCOTT OLSON, DREW ANGERER / GETTY IMAGES

A 441 dias das próximas presidenciais nos Estados Unidos, abriu mais uma época eleitoral no país, com o primeiro debate na televisão entre candidatos às primárias do Partido Republicano. Transmitido pela conservadora Fox News, realizou-se no Fiserv Forum, em Milwaukee, Wisconsin, um estado simbólico que os republicanos consideram ser crucial para decidir as próximas eleições.

A braços com graves problemas na justiça — 91 acusações criminais no âmbito de quatro processos abertos em quatro estados e dois julgamentos já agendados —, Donald Trump, que lidera de forma destacada todas as sondagens relativas à corrida republicana, faltou ao debate.

“O público sabe quem eu sou e que presidência bem-sucedida tive. Por essa razão, não participarei em debates”, escreveu, dias antes, na sua rede social Truth Social, deixando no ar a possibilidade de não comparecer a nenhuma discussão futura.

Trump aposta na contraprogramação

Bem ao seu estilo, Trump não deu de barato todo o tempo de antena aos adversários. Cinco minutos antes de o debate começar, foi para o ar, na rede social X (antigo Twitter), uma entrevista de Trump concedida a Tucker Carlson, apresentador despedido da Fox News, pré-gravada no seu clube de golfe em Bedminster, Nova Jérsia.

Desta forma, pelo menos durante 45 minutos, Trump desviou audiências do debate, roubando palco aos seus diretos antagonistas e provocando a Fox News, com quem já teve melhores dias.

Mas não terá sido a vontade de provocar que afastou Trump da discussão. O debate realizou-se quarta-feira à noite (madrugada de quinta-feira em Lisboa), horas antes de Trump — assim o prometeu — se entregar à justiça, para responder no caso de interferência eleitoral na Geórgia após as eleições de 2020, que perdeu para Joe Biden. “Irei a Atlanta, na Geórgia, quinta-feira, para ser PRESO”, escreveu noutra mensagem na rede social que fundou.

OS OITO PARTICIPANTES

  • Ron DeSantis, 44 anos, governador da Florida
  • Mike Pence, 64, vice-presidente de Donald Trump
  • Nikki Haley, 51, ex-governadora da Carolina do Sul e antiga embaixadora dos EUA na ONU
  • Chris Christie, 60, antigo governador da Nova Jérsia
  • Doug Burgum, 67, governador do Dacota do Norte
  • Asa Hutchinson, 72, ex-governador do Arcansas
  • Tim Scott, 57, senador pela Carolina do Sul
  • Vivek Ramaswamy, 38 anos, empresário da área da tecnologia

Pela ausência no debate e pelo que anunciou para o dia seguinte, Trump tornou-se “o elefante que não está na sala”, na formulação do moderador Bret Baier. De seguida, perguntou aos oito candidatos se tencionam apoiar Trump na eventualidade de ele vir a ser o candidato republicano às eleições de 2024 e for condenado na justiça.

Quatro foram rápidos a levantar a mão (Doug Burgum, Tim Scott, Nikki Haley e Vivek Ramaswamy), outros dois foram lentos a fazê-lo (Ron DeSantis e Mike Pence), um demonstrou relutância (Chris Christie, que afirmaria, sob grande vaia do público, que “a conduta [de Trump] está abaixo do cargo de Presidente dos Estados Unidos”) e apenas um não levantou a mão (Asa Hutchinson).

A pergunta não foi inocente. Um dos critérios previamente estabelecidos pelo Comité Nacional Republicano para selecionar os participantes no debate foi a assinatura de um “Compromisso Vencer Biden”, através do qual os candidatos prometem apoiar o vencedor da nomeação republicana, seja quem for, no duelo contra Biden, previsível vencedor incontestado da nomeação democrata.

Durante duas horas, e perante uma audiência ao vivo de 4000 pessoas (pouco tolerante a críticas a Trump), oito republicanos com idades entre os 38 anos e os 72 anos disputaram o título de ‘melhor candidato alternativo’ a Trump, que tem 77 anos. Para alcançá-lo, o alvo preferencial foi… Joe Biden.

Consistente na segunda posição das preferências de voto republicanas, o governador da Florida, Ron DeSantis, apontou ao atual Presidente quando confrontado sobre o porquê do grande êxito musical do momento no país (“Rich Men North of Richmond”) ser um tema country de um artista desconhecido (Oliver Anthony) sobre os problemas da classe trabalhadora.

DeSantis respondeu que os Estados Unidos “estão em declínio” e que “esse declínio não é inevitável, é uma escolha”. E acrescentou: “Precisamos de mandar Joe Biden de volta para o seu porão e reverter o declínio americano”.

Instados a dar respostas de um minuto (findo o qual soava uma buzina), os candidatos esgrimiram argumentos de forma mais acalorada quando o assunto foi o aborto. Horas antes do debate, o Supremo Tribunal estadual da Carolina do Sul confirmou a constitucionalidade da proibição do aborto a partir das seis semanas de gestação — quando muitas mulheres não sabem sequer que estão grávidas —, decretada em maio pelo governador republicano, Henry McMaster.

Nikki quer consenso, Pence prefere autoridade

Afirmando-se “pró-vida”, Nikki Haley, antiga governadora daquele estado e a única mulher entre os oito candidatos, defendeu que “há que parar de demonizar este assunto”, defendendo a necessidade de um “consenso” caso venha a ser adotada uma proibição do aborto a nível federal.

“Não podemos todos concordar que devemos proibir os abortos tardios? Não podemos todos concordar que devemos encorajar as adoções? Não podemos todos concordar que médicos e enfermeiros que não concordam com o aborto não deveriam ter de realizá-lo? Não podemos todos concordar que a contraceção deveria estar disponível? E não podemos todos concordar que não vamos pôr uma mulher na prisão ou aplicar-lhe a pena de morte se fizer um aborto?”

Haley teve a desafiá-la Mike Pence, que no debate se afirmou “orgulhoso” por ter sido possível, durante o seu mandato (foi vice-presidente de Trump), colocar no Supremo Tribunal três juízes conservadores. O antigo número dois afirmou que “consenso é o oposto de liderança”, defendeu “uma liderança sem remorsos, que se baseie em princípios e expresse compaixão”, e prometeu pugnar pela proibição do aborto após 15 semanas em todos os estados.

Ao longo de duas horas, as perguntas foram trazendo à discussão temas como economia, alterações climáticas, armas, segurança na fronteira, educação, Ucrânia e Rússia, e até objetos voadores não-identificados.

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
outsider Vivek Ramaswamy, que nunca trabalhou no Estado e, nas palavras de Chris Christie, “soava como o Chat GPT”, assumiu-se como o mais trumpista dos candidatos, em estilo e substância. Defendeu que as alterações climáticas são “um embuste” e que “há mais pessoas a morrer de más políticas para as combater do que efetivamente das alterações climáticas”.

NARCÓTICOS
O governador do Dacota do Norte, Doug Burgum, trouxe a debate outro tipo de morte no país. “Não foram só os 70 mil por causa do fentanil. Perdemos 200 mil pessoas por overdose desde que Biden tomou posse.”

SEGURANÇA FRONTEIRIÇA
Questionado sobre se os EUA deveriam enviar forças especiais para dentro do México para combater os cartéis da droga, Ron DeSantis respondeu sem dúvidas. “Sim, reservamo-nos no direito de atuar.”

UCRÂNIA
Chris Christie, que foi, além de Mike Pence, o único a visitar a Ucrânia, considerou que as atrocidades cometidas naquele país são obra de “Vladimir Putin, de quem Donald Trump disse que é “brilhante e um génio”.

A guerra na Ucrânia quase monopolizou os comentários de política externa, com Haley, antiga diplomata na ONU (2017-18), a prever que uma vitória da Rússia seja uma vitória para a China, que a seguir irá “comer Taiwan”. A leitura pode impressionar analistas, mas é pouco provável que mobilize eleitorado.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 24 de agosto de 2023. Pode ser consultado aqui

Primeira vitória vai para Hillary

Com oito habitantes apenas, a aldeia de Dixville Notch, junto à fronteira com o Canadá, foi rápida a anunciar o resultado. A candidata democrata arrecadou metade dos votos expressos

É uma tradição com mais de 50 anos nos Estados Unidos. Pouco depois da meia-noite do dia eleitoral, é anunciado o resultado da votação na pequena aldeia de Dixville Notch, no estado de New Hampshire, a 30 quilómetros da fronteira com o Canadá. O processo é rápido, já que a localidade tem apenas oito habitantes.

Com “cinco vezes mais jornalistas a assistirem” do que eleitores a depositarem o voto, como constatou a CNN, quatro pessoas votaram a favor de Hillary Clinton, duas em Donald Trump e uma no candidato libertário Gary Johnson.

O oitavo morador revelou a sua insatisfação em relação aos nomes propostos escrevendo à mão o nome do seu político favorito: Mitt Romney, o candidato do Partido Republicano nas presidenciais de 2012.

Nas eleições de há quatro anos, a localidade dividiu-se a meio no apoio a Romney e a Barack Obama. Mas nas três presidenciais anteriores, os eleitores de Dixville Notch votaram maioritariamente no candidato que haveria de vencer: George W. Bush em 2000 e 2004 e Barack Obama em 2008.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de novembro de 2016. Pode ser consultado aqui

Candidatos democratas já votaram

A dupla democrata candidata à Casa Branca, Hillary Clinton e Tim Kaine, já exerceu o direito de voto. Na Virgínia, o candidato à vice-presidência madrugou para ser o primeiro na sua secção de voto… mas foi ultrapassado por uma senhora de 99 anos

As urnas já abriram nos Estados Unidos. Dos cerca de 200 milhões de eleitores registados para votarem nas eleições presidenciais, mais de 46 milhões, entre os quais Barack Obama, exerceram previamente o direito de voto — por correspondência ou por antecipação. Para os restantes, esta terça-feira é a última oportunidade para participarem na escolha do 45.º Presidente dos EUA.

“Não existe tal coisa de que um voto não conta. Hoje, você pode fazer a diferença”, escreveu num tweet a candidata democrata Hillary Clinton, antes de votar em Chappaqua, no estado de Nova Iorque. Acompanhada pelo marido, o 42.º Presidente norte-americano, Bill Clinton, Hillary distribuiu sorrisos de confiança, seguida de perto por um batalhão de câmaras televisivas.

Mais discreto, o candidato democrata à vice-presidência, Tim Kaine, madrugou, exercendo o seu direito de voto nas instalações de uma igreja metodista em Richmond, no estado da Virginia. “Queria ser o primeiro na minha assembleia de voto, mas a Minerva Turpin, de 99 anos, ganhou-me. Parece que preciso de me habituar a ser número dois!”, escreveu o senador Kaine no Twitter, com humor.

Em matéria de afluência às urnas, a dupla democrata foi a primeira a cortar a meta, ainda que não seja esta a corrida que conta. Terminada “a campanha mais feia da história moderna” dos EUA, como a qualificou a CNN, os dois principais candidatos — separados nas sondagens por curta margem — desdobram-se em apelos ao voto.

“Somos um grande, grande país, temos um potencial enorme. Saiam e votem”, afirmou Donald Trump esta terça-feira de manhã, numa intervenção por telefone no programa “Fox & Friends” da televisão conservadora Fox News. O candidato republicano reconheceu: “Se eu não ganhar, considero um tremendo desperdício de tempo, energia e dinheiro”.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de novembro de 2016. Pode ser consultado aqui

Donald Trump já votou. Filho pisou o risco

O magnata votou em Manhattan, perto de onde vive em Nova Iorque. Foi vaiado à chegada, mas afirmou que “está tudo muito bem”

À semelhança de Hillary Clinton, Donald Trump escolheu votar de manhã. O candidato republicano à Casa Branca votou numa escola pública situada perto de sua casa, em Manhattan, Nova Iorque.

Acompanhado pela mulher, a modelo eslovena Melania Trump, foi vaiado à chegada, reportou a CNN. “Está tudo muito bem”, afirmou o empresário quando questionado pelos jornalistas sobre que tipo de informações estaria a receber da sua campanha.

Antes da chegada de Trump, a rua junto à Trump Tower foi encerrada para evitar a repetição de situações como a verificada esta terça-feira de manhã, quando duas mulheres se despiram na secção de voto onde Trump era esperado, ficando em topless.

Também o candidato republicano a vice-presidente, Mike Pence, já depositou o voto. Antes, o governador do estado de Indiana descomprimiu, dando um passeio de bicicleta com a mulher.

No momento do voto, outro Trump foi notícia por razões diferentes. Eric, o filho do meio do magnata, não escondeu a sua excitação, tirou uma foto do boletim e postou-a nas redes sociais. “É uma honra incrível votar no meu pai! Ele fará um grande trabalho para os EUA!”, escreveu.

Seria apenas uma curiosidade, não fosse o episódio ter acontecido em Nova Iorque, onde publicar fotos dos boletins de voto é ilegal. Avisado da ilegalidade, Eric apagou o “post”.

Esta questão ganhou visibilidade há umas semanas quando o cantor Justin Timberlake publicou uma “selfie” no Instagram do momento em que votava por antecipação em Memphis, Tennessee, onde nasceu e está registado. Tinha a melhor das intenções — apelar ao voto junto dos jovens —, mas violou a lei.

Desde janeiro que, naquele estado, é proibido usar o telefone “para conversar, gravar ou tirar fotografias ou fazer vídeos dentro de assembleias de voto”.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de novembro de 2016. Pode ser consultado aqui