Arquivo da Categoria: Protestos

Vem aí uma quarta-feira de alta tensão em Hong Kong

O parlamento de Hong Kong começa a debater esta quarta-feira uma polémica emenda legislativa que permitirá a extradição para a China continental de cidadãos considerados suspeitos de envolvimento em crimes. A polícia mobilizou 5000 agentes para conter o protesto que já foi convocado

Hong Kong vive sob soberania chinesa há quase 22 anos. Mas a convivência entre a antiga colónia britânica e Pequim não se tem revelado totalmente pacífica. O mais recente foco de tensão — que levou às ruas, no domingo, mais de um milhão de pessoas, segundo a Frente Civil para os Direitos Humanos — decorre de uma polémica emenda à lei de extradição que o Governo de Hong Kong quer ver aprovada antes das férias de verão.

A emenda permitirá a transferência, caso a caso, de suspeitos de envolvimento em crimes para jurisdições com quem Hong Kong não tem acordos de extradição. Não é o caso de Estados Unidos ou do Reino Unido, mas é o caso da China continental. Os defensores da nova lei dizem que vai preencher uma lacuna e evitar que o território se torne um “refúgio para criminosos internacionais”.

Data de fevereiro do ano passado um caso que agitou o país e contribuiu para dar caráter de urgência a este processo. De férias em Taiwan, Chan Tong-kai, um cidadão de Hong Kong de 19 anos, assassinou a namorada grávida. Na ausência de um acordo de extradição entre os dois territórios, de regresso a casa o homem não pode ser julgado por homicídio, mas apenas por crimes menores, como a utilização indevida do cartão de crédito da vítima.

A nova lei gera, porém, muitas reservas entre os críticos do regime chinês. Atribuem-lhe motivações políticas e defendem que vai permitir a Pequim perseguir opositores e raptar críticos em Hong Kong.

Entre os cidadãos do território teme-se que o novo diploma ponha em causa a independência do seu sistema judicial. Apesar da soberania chinesa, Hong Kong é uma região administrativa especial com autonomia a nível económico e de sistema de governo — o princípio “um país, dois sistemas”.

Esta terça-feira, Andrew Leung Kwan-yuen, o presidente do Parlamento local, anunciou que a emenda será debatida na assembleia durante 61 horas, justificando o prazo com o carimbo de urgência aplicado pelo Gabinete de Segurança a este assunto.

De acordo com o plano de Andrew Leung, os deputados irão debater o diploma entre quarta e sexta e, na próxima semana, mais quatro dias, seguindo-se a votação ainda na quinta-feira, dia 20. Até lá, é mais que provável que as ruas de Hong Kong não tenham sossego.

Segundo o jornal digital “South China Morning Post”, a polícia está a preparar-se para “inundar as ruas com 5000 agentes em resposta a apelos no sentido de uma segunda vaga de protestos”. O início da concentração popular está previsto para esta terça-feira à noite.

Com um contingente menor nas ruas, o protesto de domingo terminou com violência, às primeiras horas de segunda-feira, com a polícia a carregar com bastões e spray de gás pimenta e os manifestantes a arremessarem tudo o que estava à mão. Das batalhas campais resultaram apenas feridos.

Mais de 100 restaurantes, lojas e outros negócios já anunciaram que, esta quarta-feira, estarão de portas fechadas, solidários com o protesto. “Espero que as escolas, os pais, organizações, negócios e sindicatos pensem nas coisas cuidadosamente antes de defenderem quaisquer ações radicais”, apelou esta terça-feira Carrie Lam, a chefe do Executivo de Hong Kong. “Que bem isso fará à sociedade de Hong Kong e aos nossos jovens?”

Não é o que sentem, porém, muitos milhares de cidadãos que, beneficiando do estatuto especial de que goza Hong Kong, não têm abdicado do direito à manifestação para desafiarem a influência de Pequim no território. Em 2014, durante três meses, grandes protestos pró-democracia encheram as ruas da cidade numa iniciativa que ficou conhecida como o “movimento dos guarda-chuvas amarelos”. Cinco anos depois, voltam às ruas em massa para recordar que a relação de Hong Kong com o regime de Pequim tem limites.

(FOTO Protesto em Hong Kong contra a lei da extradição, a 12 de junho de 2019 STUDIO INCENDO / WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 11 de junho de 2019. Pode ser consultado aqui

Argélia, Sudão, Líbia: os árabes não se calam

Nas ruas da Argélia, do Sudão e da Líbia, manifestações populares anti-regime fazem lembrar os protestos da Primavera Árabe que, há oito anos, derrubaram vários ditadores

No centro de Argel, este homem pede a “reciclagem” dos governantes do seu país
 Ramzi Boudina / Reuters
Não contentes com o afastamento do ex-Presidente Abdelaziz Bouteflika, os argelinos querem também a saída do poder de toda a elite próxima do regime
 Ramzi Boudina / Reuters
A designação de Abdelkader Bensalah como presidente interino da Argélia não agradou ao povo que continua nas ruas
 Ramzi Boudina / Reuters
Polícia antimotim nas ruas de Argel
 Ramzi Boudina / Reuters
Jovem argelino em dificuldades após inalar gás lacrimogéneo disparado pela polícia
 Ramzi Boudina / Reuters
Frente a frente entre a polícia argelina e os manifestantes. “Na Argélia são sempre as pessoas que escrevem a sua história”, lê-se na tarja
 Ramzi Boudina / Reuters
No Sudão, esta mulher pede “liberdade” no mural que está a pintar, em Cartum
 Umit Bektas / Reuters
Vitória, congratula-se este sudanês, após o anúncio da saída do poder de Omar al-Bashir
 Reuters
Afastado o homem que os governou nos últimos 30 anos, os sudaneses querem garantias de que os militares não ficarão a mandar em Cartum
 Reuters
Manifestantes bloqueiam a passagem de um comboio de mercadorias pela capital do Sudão
 Reuters
As mulheres têm sido um importante motor dos protestos no Sudão
 Reuters
Protestos dia e noite, em frente ao Ministério sudanês da Defesa, em Cartum
 Reuters
Em 2011, os líbios saíram às ruas contra Muammar Kadhafi. Agora voltam a sair pela unidade do país
 Mahmud Turkia / Afp / Getty Images
Na mira dos protestos em Trípoli está o general Khalifa Haftar que lidera uma ofensiva militar sobre a capital, desde o leste do país
 Hazem Turkia / Anadolu Agency / Getty Images
Na capital da Líbia: “Criminosos não têm lugar em Trípoli.” “Haftar é um criminoso de guerra.” “Quem deu a luz verde para destruir Trípoli?”
 Ahmed Jadallah / Reuters
Protestos contra a “interferência francesa” na Líbia. Paris apoia a investida do general sobre a capital
 Mahmud Turkia / Afp / Getty Images
Como na Argélia e no Sudão, muitas mulheres participam nas manifestações na Líbia
 Ahmed Jadallah / Reuters
Na Praça dos Mártires, no centro de Trípoli, uma líbia pede ajuda divina para os desafios terrenos
 Ahmed Jadallah / Reuters

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 17 de abril de 2019. Pode ser consultado aqui

Governo argelino decreta férias “forçadas” para tentar travar estudantes

Com manifestações nas ruas há três semanas, contra a candidatura do Presidente a um quinto mandato, o goveno argelino antecipou as férias escolares. Essa decisão é uma tentativa de desmobilizar os estudantes, um dos motores dos protestos

O Governo argelino determinou, este sábado, a antecipação em dez dias do início das férias escolares da Primavera, previstas para começar a 21 de março. Por determinação do Ministério do Ensino Superior e da Investigação Científica, os estudantes universitários argelinos ficam em casa já a partir deste domingo e até 4 de abril.

A decisão é um bónus “forçado”, já que visa desmobilizar os estudantes envolvidos nas manifestações antirregime que têm agitado a Argélia nas últimas três semanas, e que já foram consideradas as maiores desde o movimento da Primavera Árabe, em 2010-2012.

Em causa está a perspetiva do atual chefe de Estado recandidatar-se, aos 82 anos, a um quinto mandato consecutivo. Abdelaziz Bouteflika é um homem muito debilitado desde que, em 2013, sofreu um AVC. Vive confinado a uma cadeira de rodas e raramente é visto em público, originando suspeitas de que possa estar a ser usado como candidato fantoche.

As eleições presidenciais estão marcadas para 18 de abril e as universidades têm estado no coração dos protestos que começaram a 22 de fevereiro. Como forma de pressão, quer professores quer estudantes já realizaram várias jornadas de greve.

Apesar das imediações do Palácio Presidencial em Argel serem dos principais focos de concentração dos manifestantes, Bouteflika não os ouve. O Presidente está internado há duas semanas em Genebra, na Suíça, para “exames médicos de rotina”, informou o seu gabinete.

Na quinta-feira, anteciando-se a uma nova sexta-feira de protestos, o Presidente fez o seu primeiro aviso aos manifestantes, afirmando que a continuação dos protestos criariam o “caos” no país.

Esta semana, a Comissão Constitucional da Argélia vai pronunciar-se sobre a validade das candidaturas eleitorais apresentadas. Se Bouteflika for aprovado, muito dificilmente os estudantes passarão as férias dentro de casa.

(FOTO Protesto popular na Argélia, em março de 2019 WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 9 de março de 2019. Pode ser consultado aqui

Tunisinos de volta às ruas para mostrar “cartão amarelo” ao Governo

Tal como em 2011, quando saíram às ruas para exigir a “queda do regime”, os tunisinos estão de volta às grandes manifestações. Desta vez, não com objetivos políticos mas para protestarem contra as medidas de austeridade que chegaram com o novo ano

Faz este domingo sete anos que, após quase um mês de manifestações populares, o Presidente Zine el-Abidine Ben Ali foi deposto na Tunísia. Foi, aliás, o primeiro ditador a tombar no contexto da Primavera Árabe.

A data será assinalada no país com novos protestos de rua, convocados pela oposição ao Governo e engrossados por um descontentamento popular generalizado decorrente da entrada em vigor, no primeiro dia do ano, de medidas de austeridade — que têm originado grandes protestos desde segunda-feira.

O aumento de preços atinge bens de consumo e combustíveis. Subiram também impostos sobre os veículos, as comunicações e a internet, bem como taxas alfandegárias sobre algumas importações.

Sobretudo à noite, alguns protestos resultaram em confrontos violentos entre manifestantes e polícia. Em comunicado, o Governo disse que respeitaria o direito dos tunisinos a manifestarem-se, mas que não toleraria atos de vandalismo.

Segundo o Ministério do Interior, desde segunda-feira, foram detidas 778 pessoas, incluindo 16 “extremistas islâmicos”. “Estamos preocupados com o grande número de detenções”, reagiu o porta-voz do Alto comissário da ONU para os Direitos Humanos. “Cerca de um terço dos detidos têm entre 15 e 20 anos de idade”, acrescentou Rupert Colville. “Apelamos às autoridades que assegurem que as pessoas não sejam detidas de forma arbitrária e que os direitos dos detidos sejam respeitados, e que ou sejam acusados ou libertados rapidamente.”

A Tunísia é o caso de sucesso entre os países bafejados pela Primavera Árabe, mas a situação política ainda é muito instável. O atual governo – de unidade nacional – é o nono desde a saída de cena do ditador. Para dificultar a recuperação económica, o crucial sector do turismo tem-se ressentido da vaga de ataques islamitas de 2015. A 26 de junho, na zona turística de Sousse (nordeste), um atentado provocou a morte de 38 estrangeiros, incluindo uma cidadã portuguesa.

Há sete anos, o tiro de partida para os protestos — e para a queda do regime tunisino — teve na sua origem razões económicas. Então, na cidade de Sidi Bouzid (centro), Mohammed Bouazizi, um vendedor ambulante imolou-se pelo fogo, a 17 de dezembro de 2010, em protesto contra a apreensão, por parte da polícia, do seu carrinho de frutas e legumes. Desta vez, os manifestantes dizem que não está em causa o regime, mas antes as suas dificuldades para pôr comida nas suas mesas.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 13 de janeiro de 2018. Pode ser consultado aqui

O gesto é tudo

Na Tailândia, manifestantes recorreram ao gesto de resistência da saga Hunger Games para desafiar o Governo. Nas ruas árabes, os dedos em v uniram milhões de pessoas contra regimes déspotas. Dedos apontados para cima, para baixo, dedos juntos ou separados, mãos abertas viradas com a palma para a frente, punhos erguidos, polegares para baixo. Um pouco por todo o mundo, a mímica é uma arma. Nas ruas ou entre políticos, por vezes bastam gestos para passar mensagens importantes. Segue-se a prova em duas dúzias de imagens.

Perto da aldeia grega de Idomeni, um homem fecha as mãos e cruza os punhos incentivando ao bloqueio de uma linha de caminhos de ferro, junto à fronteira com a República da Macedónia. Migrantes e refugiados exigem que as fronteiras se abram para prosseguirem viagem até ao norte da Europa MARKO DJURICA / REUTERS
Investigado pela justiça brasileira por ocultação de património e lavagem de dinheiro, o ex-Presidente brasileiro Lula da Silva defende-se também nas ruas com o punho erguido da resistência. A imagem documenta uma manifestação pró-democracia em São Paulo, a 8 de abril NACHO DOCE / REUTERS
Populista e desbocado, o magnata norte-americano Donald Trump tem esbanjado confiança durante as primárias republicanas, o processo de escolha partidária que antecede as presidenciais nos Estados Unidos que, no caso republicano, termina a 7 de junho. Este comício em Buffalo, Nova Iorque, a 18 de abril, foi apenas um desses momentos CARLO ALLEGRI / REUTERS
Um manifestante desaprova a atuação da polícia de choque que intercetou a marcha de um grupo de pessoas a caminho da Arena Castelão, em Fortaleza (Brasil), onde se disputava um jogo da Taça das Confederações, em 2013. Exigiam melhores serviços públicos e protestavam contra os avultados gastos com os grandes eventos desportivos no país DAVI PINHEIRO / REUTERS
Jeroen Dijsselbloem (à direita) continua a presidir ao Eurogrupo, mas Yanis Varoufakis (à esquerda) já não é ministro das Finanças da Grécia. Bruxelas, porém, continua a cruzar os dedos na esperança que as políticas de Atenas levem o país a bom porto FRANÇOIS LENOIR / REUTERS
Ofensivo, obsceno, insultuoso. O significado do “dedo do meio” não é passível de equívocos. Várias teorias arriscam uma origem para este gesto fálico. Numa delas, antropólogos sustentam que é uma variação de uma estratégia agressiva de alguns primatas que mostravam o pénis ereto aos inimigos numa tentativa de intimidação RAFAEL MARCHANTE / REUTERS
Pode ser utilizado para apontar um caminho, mas também para visar alguém. Nas ruas, o dedo indicador é muitas vezes usado para denunciar. A foto mostra um protesto anti-corrupção em Banguecoque, capital da Tailândia, a 15 de novembro de 2013  CHAIWAT SUBPRASOM / REUTERS
Em riste, o dedo indicador assumiu, desde meados de 2014, um significado tenebroso — é juntamente com a bandeira negra um dos símbolos da propaganda do autoproclamado “Estado Islâmico” (Daesh). O gesto alude ao “tawhid”, um conceito central no Islão relativo à unicidade de Alá e que reporta à primeira metade da “shahada”, a afirmação de fé dos muçulmanos: “Não há outro deus senão Alá. Maomé é o seu mensageiro” REUTERS
Os dedos em “v” foram um dos símbolos da Primavera Árabe, exibidos por milhões de pessoas nos protestos que tomaram as ruas um pouco por todo o mundo árabe. A foto mostra Ahmed Néjib Chebbi, advogado e político tunisino, num protesto pró-democracia na Avenida Bourguiba, em Tunis. Várias teorias tentam identificar a origem deste gesto. Uma delas arrisca que terá surgido durante a batalha de Azincourt em 1415, na Guerra dos 100 Anos, quando soldados franceses ameaçavam cortar os dois dedos de arqueiros ingleses feitos reféns para os impedir de disparar o arco. Em sinal de provocação, os ingleses acenavam aos inimigos com os dedos ameaçados. Durante a II Guerra Mundial, este foi um sinal usado profusamente. Quando as tropas nazis marchavam pelas ruas de Paris e o Reino Unido era o último reduto contra Hitler, o Comando Britânico esboçou a campanha de resistência “V for Victory” nos países ocupados. Aos microfones da BBC, o editor Douglas Ritchie — que surgia com a alcunha de “Colonel Britton” — apelava a que o “v” fosse usado como “símbolo da vontade invencível dos territórios ocupados”. O sinal começou a surgir a giz nos pavimentos, pintado em paredes ou em carros alemães. O gesto seria popularizado pelo primeiro-ministro Winston Churchill, o que lhe valeu fama mundial ZOUBEIR SOUISSI / REUTERS
Ficou conhecido como a saudação “três Shalits” e foi usado como símbolo de propaganda pelo movimento islamita palestiniano Hamas, após o rapto de três jovens israelitas, a 12 de junho de 2014, perto de um colonato no território palestiniano da Cisjordânia. Gilad Shalit foi um famoso soldado israelita que esteve refém do Hamas entre 2006 e 2011 e que foi libertado em troca da saída de 1027 presos palestinianos das prisões israelitas MUSSA QAWASMA / REUTERS
A trilogia “Hunger Games”, adaptada ao cinema com grande sucesso, inspirou o movimento pró-democracia na Tailândia que saiu à rua em força após o golpe militar de 22 de maio de 2014. Na tela, a população da nação imaginária de Panem, que vivia na pobreza, revolta-se contra o poder central do abastado Capitólio que forçava jovens a competirem até à morte em concursos transmitidos pela televisão. Em sinal de unidade e solidariedade para com os jovens em lutam pela sobrevivência, a população do distrito 12 erguia o braço juntando os três dedos do meio. O gesto saltou dos ecrãs para a vida real e muitos tailandeses adotaram-no para desafiar a junta militar, que depois declarou-o ilegal CHAIWAT SUBPRASOM / REUTERS
No Egito, se dois dedos identificavam os opositores a Mubarak durante a revolução de 2011, quatro dedos passaram a identificar os apoiantes da Irmandade Muçulmana, após o seu Presidente Mohamed Morsi ter sido deposto por um golpe militar, em 2013. O gesto nasceu após um massacre — 1150 mortos segundo a Human Rights Watch — na Praça Rabi’a Al-Adawiya, em Nasr City, arredores do Cairo, onde milhares de “Irmãos” que acampavam em permanência foram dispersos com grande violência pelas forças da ordem. Rabaa al-Adawiya, que dá nome à praça, foi uma santa muçulmana e mística sufi do século VIII. Em árabe, “rabi’a” significa “quarto” (ordinal de quatro), daí os quatro dedos MUHAMMAD HAMED / REUTERS
A mão aberta é um clássico em protestos de natureza variada. Em Espanha, milhões de cidadãos abriram as duas mãos em manifestações sucessivas contra o terrorismo da ETA, a organização separatista basca fundada em 1959 e que cessou atividade em 2011 — Movimento ¡Basta Ya! Ainda em Espanha, o gesto foi usado, mais recentemente, nos protestos dos Indignados. Mas foi nos EUA que ganhou um cunho mais dramático. Na sequência da morte do jovem afro-americano Michael Brown, em Ferguson, Missouri, atingido a tiro por um polícia branco, a 9 de agosto de 2014, multiplicaram-se protestos sob o slogan “Hands up. Don’t Shoot” (Mãos ao alto. Não dispare). Negros marchavam de mãos abertas para demostrar intenções pacíficas para com a polícia CARLO ALLEGRI / REUTERS
Na imagem, apoiantes do Partido de Ação Nacionalista (MHP) fazem o sinal da “cabeça de lobo” numa iniciativa de rua em Ancara. Esta formação partidária é próxima dos “Lobos Cinzentos”, uma organização juvenil ultra-nacionalista e neo-fascista que visa, nomeadamente, os turcos de origem curda. Um dos seus membros era Mehmet Ali Agca que, em 1981, tentou assassinar o Papa João Paulo II, na Praça de S. Pedro UMIT BEKTAS / REUTERS
Liderado por Joshua Wong (ao centro, na foto), o movimento estudantil pró-democracia Scholarism (entretanto dissolvido para dar lugar a um partido político) desafiou o Governo chinês nas ruas de Hong Kong, sobretudo em 2014. O protesto ficou conhecido como Revolução dos Guarda-chuvas (usados para tentar conter o gás lacrimogénio lançado pelas forças de segurança), mas outros símbolos foram usados pelos manifestantes. “Cruzamos os braços para expressar a nossa insatisfação em relação ao Governo e para refletir a nossa desconfiança em relação ao Governo central chinês”, explicou Joshua Wong à CNN. Pequim aprovara legislação condicionadora da eleição do Governo daquela região administrativa especial chinesa ANTHONY KWAN / GETTY IMAGES
Cruzados sobre o peito, os braços podem traduzir sentimentos carinhosos. É o que Hugo Chávez, o carismático e populista Presidente venezuelano falecido a 5 de março de 2013, pretendeu transmitir ao povo que o saudava junto à varanda do Palácio Miraflores, em Caracas. Chávez tinha acabado de regressar de mais uma viagem a Cuba, onde era tratado a um tumor, que se revelaria fatal CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS
Nicolas Maduro herdou de Hugo Chávez não só a presidência da Venezuela como o jeito para comunicar com o povo de forma afetiva. Na foto, ele recorre à mímica para fazer um coração direcionado a um grupo de estudantes que o saudava no exterior do Palácio Miraflores, em Caracas CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS
Petro Poroshenko, Presidente da Ucrânia, marca presença numa cerimónia de homenagem às vítimas da II Guerra Mundial, junto ao Túmulo do Soldado Desconhecido, em Kiev, a 22 de junho de 2015. A mão sobre o coração revela sentimento e respeito. Noutras circunstâncias, colocar a mão sobre o coração significa que aquilo que se diz é a mais pura das verdades. Para muitos povos, é um hábito que acompanha a interpretação do hino nacional, por exemplo REUTERS
As mãos juntam-se durante uma oração e também num desejo de paz. Esta é uma forma de saudação que caracteriza o líder espiritual dos tibetanos, Dalai Lama JESSICA RINALDI / REUTERS
Juntar as mãos em sinal de paz pode também ser um recurso quando, por algum motivo, os interlocutores estão impedidos de se tocarem, como acontece na situação da foto, relativa a um encontro em Nova Deli entre o iraniano Javad Zarif e a indiana Sushma Swaraj, a 14 de agosto de 2015. Na República Islâmica do Irão, por norma, um homem só deve tocar em mulheres da família ou naquela com quem vai casar. A prática é seguida à risca pelo protocolo iraniano, ainda que nas ruas haja cada vez mais cidadãos a ignora-la ADNAN ABIDI / REUTERS
De mãos dadas, revelador de unidade e coesão, um grupo de pessoas exige, junto ao Parlamento de Taiwan, a revisão da lei do referendo, para que os assuntos mais controversos possam ser submetidos a consulta popular. O protesto, a 10 de abril de 2015, inseria-se no chamado Movimento do Girassol, que contestava um acordo comercial celebrado com a República Popular da China e visto como uma ameaça à democracia em Taiwan PICHI CHUANG / REUTERS
Um casal de migrantes prossegue viagem perto de Gevgelija, na Macedónia, após atravessar a fronteira entre a Grécia, a 6 de setembro de 2015. De mãos entrelaçadas, ajudam-se e incentivam-se para ultrapassar o muito que ainda têm pela frente STOYAN NENOV / REUTERS
O gesto repete-se milhões de vezes todos os dias e em todo o mundo. Mas há situações que são mais especiais do que noutras. Com um simples apertar de mão e uma máquina fotográfica por perto, os Presidentes de Cuba e dos Estados Unidos, Raúl Castro e Barack Obama, mostraram ao mundo que a inimizade que caracterizou a relação bilateral desde a Revolução cubana de 1959 faz parte do passado. Este cumprimento aconteceu a 21 de março deste ano, durante a histórica visita de Obama a Cuba CARLOS BARRIA / REUTERS
Barack Obama não se dá mal com o humor e ao longo dos dois mandatos como Presidente dos Estados Unidos marcou presença nos “talk shows” humorísticos variadas vezes. A sua atitude descontraída contribuiu igualmente para que tirasse partido de situações inesperadas. Desafiado pelo cadete Robert McConnell a posar “à James Bond”, durante a cerimónia de atribuição de diplomas da Academia da Guarda Costeira dos EUA, a 20 de maio de 2015, Obama não desiludiu. A pensar numa carreira em Hollywood após deixar a Casa Branca? KEVIN LAMARQUE / REUTERS

Artigo publicado no Expresso Diário, a 16 de maio de 2016. Pode ser consultado aqui