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“O mundo não pode suportar um grande conflito na região do Golfo”

O alerta foi dado esta quinta-feita pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, horas após duas embarcações comerciais terem sido atacadas no Golfo de Omã. Os EUA vão levar o caso a discussão no Conselho de Segurança da ONU

Os Estados Unidos tencionam levar a debate, esta quinta-feira, numa reunião do Conselho de Segurança da ONU à porta fechada, os ataques a dois cargueiros realizados esta manhã no Golfo de Omã.

“É inaceitável o ataque a transportes comerciais. Os ataques de hoje a navios no Golfo de Omã originam preocupações muito sérias”, afirmou o embaixador em exercício dos EUA nas Nações Unidas, Jonathan Cohen. “O Governo dos EUA está a providenciar assistência e continuará a avaliar a situação.”

Os ataques coincidiram com a visita do primeiro-ministro do Japão ao Irão, a primeira ao país de um chefe de governo nipónico desde a Revolução Islâmica de 1979.

A coincidência levou as autoridades de Teerão a expressarem desconfiança: “Alegados ataques a petroleiros relacionados com o Japão ocorreram durante o encontro entre o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe e o ayatollah Ali Khamenei visando conversas extensas e amigáveis. [A palavra] suspeita não descreve o que possivelmente aconteceu esta manhã”.

Um dos navios atacados foi um petroleiro com bandeira das Ilhas Marshall, propriedade da empresa Norwegian company Frontline e sede nas Bermudas, que se incendiou. A outra embarcação atingida foi um cargueiro japonês que transportava químicos.

“Condeno fortemente qualquer ataque contra embarcações civis”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, esta quinta-feira, numa reunião do Conselho de Segurança sobre cooperação com a Liga Árabe. “Os factos têm de ser apurados e as responsabilidades esclarecidas. Se há algo que o mundo não pode suportar é um grande conflito na região do Golfo.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 13 de junho de 2019. Pode ser consultado aqui

Myanmar abre as portas às Nações Unidas

Uma delegação do Conselho de Segurança da ONU é esperada, ainda este mês, na antiga Birmânia. Ainda não é certo se será autorizada a visitar o estado onde vivem os rohingya e de onde estão a fugir, alvo de uma campanha de perseguição

Após meses de resistência, Myanmar (antiga Birmânia) aceitou abrir as portas a uma delegação do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Não é claro, porém, se as autoridades de Rangum irão permitir que os embaixadores se desloquem ao estado do Arracão, onde vive o que resta da minoria muçulmana, após oito meses de perseguição e repressão militar, que forçou milhares a fugir do país.

O embaixador peruano Gustavo Meza-Cuadra, que preside ao Conselho de Segurança durante o mês de abril, disse, na segunda-feira, que o itinerário da visita ainda não é conhecido. “Evidentemente que estamos interessados em ir ao estado do Arracão. Não há melhor do que uma visita ao terreno para perceber” o que se passa.

No Twitter, a visita foi saudada pela ministra dos Negócios Estrangeiros da Suécia, país que, este ano, também integra o Conselho de Segurança da ONU. Segundo Margot Wallström, a visita acontecerá ainda em abril.

https://twitter.com/margotwallstrom/status/981077890895958016?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E981077890895958016%7Ctwgr%5E%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fexpresso.pt%2Finternacional%2F2018-04-03-Myanmar-abre-as-portas-as-Nacoes-Unidas

A missão da ONU equaciona também um salto ao outro lado da fronteira para uma visita aos campos de refugiados na região de Cox’s Bazar, no Bangladesh, que desde agosto já acolheram cerca de 700 mil rohingya.

As Nações Unidas têm vindo a denunciar um processo de “limpeza étnica” contra os rohingya, neste país de maioria budista, cenário rejeitado pelas autoridades birmanesas, que dizem apenas responderem a ataques. Algumas organizações internacionais vão mais longe e falam já de uma campanha de genocídio.

Myanmar tem sistematicamente rejeitado apelos internacionais para que viabilize a entrada no território de uma missão de investigação mandatada pelas Nações Unidas para apurar factos. Em dezembro, Rangum deu “luz verde” à visita da relatora especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a sul-coreana Yanghee Lee, tendo depois recuado nessa abertura.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 3 de abril de 2018. Pode ser consultado aqui

Violência regressa a Myanmar

A morte de treze membros das forças de segurança em três dias colocou a antiga Birmânia em tensão. Perseguidos pelo Estado e pela maioria da população budista, a minoria rohingya (muçulmana) é, mais uma vez, responsabilizada pela violência

Pelo menos doze pessoas, incluindo quatro soldados, foram mortas durante confrontos registados na terça-feira no estado de Rakhine, na parte ocidental de Myanmar, noticia esta quarta-feira o diário birmanês “The Irrawaddy”. A mais recente vaga de violência na antiga Birmânia opõe forças governamentais e “centenas de homens armados” com pistolas, facas e espadas, escreve a imprensa local.

A segurança naquela região de maioria muçulmana degradou-se no domingo após ataques coordenados contra três postos da polícia junto à fronteira com o Bangladesh terem provocado nove mortos entre as forças de segurança.

Segundo o correspondente da BBC em Rangum, Jonah Fisher, “não é claro quem está por trás desta nova força armada em Rakhine, mas os rohingya estão a ser acusados dos ataques”.

Cidadãos de segunda

Os rohingya são uma minoria de religião muçulmana, perseguida pela maioria budista da população e pelo Estado, que lhes nega cidadania. Os rohingya dizem-se descendentes de comerciantes árabes e parte integrante da população birmanesa desde há gerações, enquanto muitos budistas acusam-nos de serem migrantes oriundos do vizinho Bangladesh.

As Nações Unidas já expressaram “profunda preocupação” em relação à mais recente vaga de violência, apelando à “máxima conteção” por todas as partes. “Nesta conjuntura delicada, as comunidades locais têm de evitar a provocação através de incidentes como estes”, reagiu em comunicado o assessor especial do secretário-geral das Nações Unidas para Myanmar, o diplomata indiano Vijay Nambiar. “E os seus líderes têm de trabalhar ativamente para prevenir o incitamento e o ódio mútuo entre populações budistas e muçulmanas.”

Em 2012, a violência inter-religiosa no estado de Rakhine fez mais de 100 mortos e forçou mais de 100 mil rohingya a procurar abrigo em campos de refugiados, onde ainda vivem.

A perseguição aos rohingya é um assunto sensível no país, incluíndo para personalidade como Aung San Suu Kyi, a ex-líder da oposição e atual ministra dos Negócios Estrangeiros, criticada no estrangeiro e dentro de portas por “responder com silêncio” à perseguição aos muçulmanos birmaneses.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 12 de outubro de 2016. Pode ser consultado aqui