A um mês das eleições, Assad acordou um cessar-fogo com os rebeldes, levando-os a retirar de Homs. Desde Alepo, um cidadão brasileiro confirma ao Expresso que os bombardeamentos são diários
As forças rebeldes começaram a retirar esta quarta-feira da cidade de Homs, no centro da Síria, um bastião insurgente que chegou a ser considerado “a capital da revolução” contra Bashar al-Assad. Fotografias divulgadas por ativistas mostram uma fila de autocarros verdes a circular pelo centro de Homs, em direção a um ponto de recolha.
No total, serão retirados, em várias fases, cerca de 1200 combatentes, que estavam encurralados pelas forças do regime há mais de um ano.
Assad reconquistou Homs mas não controla todo o território. Desde Alepo, o fotófrafo brasileiro Gabriel Chaim descreveu ao Expresso, na terça-feira à noite, os bombardeamentos que se registavam sobre a maior cidade síria. “Não consigo dormir, estão a bombardear muito.”
Está alojado num prédio de cinco andares, mas, por estes dias, vive no subsolo. “Todos aqueles que podem escolher moram no subsolo. Mas muitos não têm essa possibilidade e continuam a viver em andares altos.”
“Hoje, quando se anda nas ruas vê-se muita gente a olhar para o céu, com pavor das bombas”, continua. “O regime bombardeia de madrugada e de manhã cedo. Nem de noite há sossego…” Este brasileiro diz os rebeldes controlam 70% de Alepo e acredita que, até às eleições, Assad vai intensificar os bombardeamentos sobre a cidade, para mostrar quem manda.
Efeito eleitoral
A retirada rebelde de Homs, que se realiza sob supervisão das Nações Unidas, acontece na sequência de um acordo de cessar-fogo celebrado entre o regime e forças rebeldes.
Abul Hareth al-Khalidi, um negociador rebelde, afirmou à AFP que os primeiros três autocarros transportaram um total de 120 pessoas, “uma mistura civis e combatentes feridos e não feridos”. Os rebeldes estão autorizados a levar consigo armas leves, mas têm de deixar ficar o armamento pesado.
Paralelamente, as partes acordaram a transferência de residentes de duas cidades xiitas do norte da Síria (Nubl e Al-Zahraa), leais ao regime alauita, e na entrada de equipas de assistência humanitária.
Segundo a CNN, o acordo foi selado após os rebeldes concordarem em libertar “70 combatentes libaneses do Hezbollah, 20 responsáveis iranianos capturados pela Frente Islâmica (uma coligação de milícias islamitas) em Alepo e uma agente iraniana capturada no fim de março”.
A retirada de Homs é uma importante vitória para o Presidente Bashar al-Assad, em vésperas de “formalizar” um terceiro mandato na presidência. As eleições presidenciais sírias estão marcadas para 3 de junho, escrutínio que os opositores ao regime dizem ser “uma farsa”.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 7 de maio de 2014. Pode ser consultado aqui

