Arquivo da Categoria: Terrorismo

Egito bombardeia posições do Estado Islâmico após chacina dos coptas

Ofensiva seguiu-se à decapitação de 21 emigrantes egípcios numa região do leste da Líbia onde há quatro meses foi declarado um califado

As forças armadas egípcias bombardearam, esta segunda-feira, posições do autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) no interior da Líbia. Segundo o diário “Daily News Egypt”, foram alvejados “campos de treino e armazéns de armamento e munições”.

A televisão estatal anunciou que “o ataque atingiu os seus alvos com precisão” e que os pilotos regressaram à base sãos e salvos.

Os bombardeamentos visaram a região costeira de Derna, no leste da Líbia, onde em outubro, quando a cidade já estava controlada por milícias islamitas, foi decretado um califado. 

Num telefonema para a estação televisiva Al-Arabiya, Saqer al-Joroush, comandante da força aérea líbia, esclareceu que os bombardeamentos egípcios foram realizados em coordenação com a Líbia e que mais ataques se seguirão.

Anarquia generalizada na Líbia
Esta operação militar constitui um ato de retaliação que se segue à divulgação de um vídeo, numa conta do Twitter afeta ao Daesh, que mostra a decapitação de 21 cidadãos egípcios junto ao mar.

O vídeo é acompanhado por uma “mensagem assinada com sangue à nação da Cruz” em que o Daesh diz querer vingar “muçulmanas perseguidas por cruzados coptas” no Egito. As vítimas eram cristãos coptas, minoria a que pertencem 10% da população egípcia.

Pensa-se que a execução tenha acontecido na costa mediterrânica junto a Tripoli. “O mar para onde atiraram o corpo do mártir Osama bin Laden… nós vamos mistura-lo com o vosso sangue.” O vídeo termina com um plano da água do mar manchada de sangue.

Os egípcios eram emigrantes que tinham sido raptados em dois ataques, em dezembro e janeiro, na cidade costeira de Sirte (centro da Líbia).

A implantação de forças jiadistas tem beneficiado do estado de anarquia generalizada em que a Líbia caiu após a deposição do ditador Muammar Kadhafi, em 2011. Hoje, a Líbia tem dois governos e dois Parlamentos.

As instituições reconhecidas internacionalmente estão sedeadas na cidade costeira de Tobruk, no leste, junto à fronteira com o Egito e a cerca de 1000 quilómetros de Tripoli. A capital, por sua vez, e a segunda cidade (Bengasi, no leste) estão nas mãos de milícias, algumas delas extremistas, que têm crescido e imposto a sua lei graças à ausência de um poder central.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 16 de fevereiro de 2015. Pode ser consultado aqui

Aperta-se o cerco ao Estado Islâmico

A Jordânia reforçou o seu dispositivo militar junto à fronteira com o Iraque. Este, por sua vez, anunciou uma ofensiva militar terrestre contra o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) “nas próximas semanas”

A Jordânia destacou “milhares” de tropas para a sua fronteira com o Iraque, garantem as televisões norte-americanas NBC e ABC, citando fontes próximas do Governo de Amã. As autoridades jordanas já afirmaram, porém, estar fora de questão uma ofensiva terrestre contra o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) que controla partes do Iraque e da Síria.

Este reforço do dispositivo militar junto à fronteira é uma estratégia defensiva que visará, antes, suster qualquer tentativa de infiltração por parte de combatentes do Daesh em território jordano. Amã garante que não entrará em território iraquiano sem a aprovação de Bagdade.

A execução do piloto jordano Muath al-Kasasbeh, queimado vivo pelos jiadistas, conhecida na semana passada, constituiu um ponto de viragem no posicionamento da Jordânia no combate ao Daesh e ao Islão radical.

Membro da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, o reino hachemita intensificou, desde então, a sua participação nos bombardeamentos contra os extremistas. “Esta é a nossa guerra. Esta não é a guerra do Ocidente”, disse o ministro do Interior jordano, Hussein Majali. “Somos a ponta de lança desta guerra.”

Durante o passado fim de semana, os Emirados Árabes Unidos, um dos cinco países árabes que integram a coligação, que tinha suspendido a sua participação nos bombardeamentos em dezembro, enviaram uma esquadra de F-16 para a Jordânia e retomaram os ataques.

Contrariamente à Jordânia, o Iraque já anunciou estar a preparar uma ofensiva terrestre contra o Daesh, que será desencadeada “nas próximas semanas”. A operação foi já confirmada pelos Estados Unidos: “Haverá uma grande contraofensiva terrestre no Iraque”, afirmou John Allen, o coordenador norte-americano junto da coligação internacional, numa entrevista à agência jordana Petra.

A Jordânia destacou “milhares” de tropas para a sua fronteira com o Iraque, garantem as televisões norte-americanas NBC e ABC, citando fontes próximas do Governo de Amã. As autoridades jordanas já afirmaram, porém, estar fora de questão uma ofensiva terrestre contra o autoproclamado Estado Islâmico (Daesh) que controla partes do Iraque e da Síria.

Este reforço do dispositivo militar junto à fronteira é uma estratégia defensiva que visará, antes, suster qualquer tentativa de infiltração por parte de combatentes do Daesh em território jordano. Amã garante que não entrará em território iraquiano sem a aprovação de Bagdade.

A execução do piloto jordano Muath al-Kasasbeh, queimado vivo pelos jiadistas, conhecida na semana passada, constituiu um ponto de viragem no posicionamento da Jordânia no combate ao Daesh e ao Islão radical.

Membro da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, o reino hachemita intensificou, desde então, a sua participação nos bombardeamentos contra os extremistas. “Esta é a nossa guerra. Esta não é a guerra do Ocidente”, disse o ministro do Interior jordano, Hussein Majali. “Somos a ponta de lança desta guerra.”

Durante o passado fim de semana, os Emirados Árabes Unidos, um dos cinco países árabes que integram a coligação, que tinha suspendido a sua participação nos bombardeamentos em dezembro, enviaram uma esquadra de F-16 para a Jordânia e retomaram os ataques.

Contrariamente à Jordânia, o Iraque já anunciou estar a preparar uma ofensiva terrestre contra o Daesh, que será desencadeada “nas próximas semanas”. A operação foi já confirmada pelos Estados Unidos: “Haverá uma grande contraofensiva terrestre no Iraque”, afirmou John Allen, o coordenador norte-americano junto da coligação internacional, numa entrevista à agência jordana Petra.

“Nas próximas semanas, quando as forças iraquianas iniciarem a campanha terrestre para recuperar o Iraque, a coligação apoiará com fogo”, acrescentou John Allen. O general na reserva norte-americano realçou que a operação será liderada pelas autoridades iraquianas.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 11 de fevereiro de 2015. Pode ser consultado aqui

Al-Qaeda no Iémen apela a mais ataques com lobos solitários

Um dos ideólogos do braço da Al-Qaeda que reivindicou o ataque ao “Charlie Hebdo” recomendou que os muçulmanos continuem a viver nos países ocidentais e façam a “jihad individual”

A Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA, também conhecido por Al-Qaeda no Iémen) apelou à realização de ataques terroristas em países ocidentais com recurso a lobos solitários.

“Se ele (um cidadão muçulmano) for capaz de fazer a jihad individual nos países ocidentais que combatem o Islão, então será bom e causará mais danos”, recomendou Nasser bin Ali al-Ansi, um dos ideólogos da organização terrorista, numa entrevista publicada na internet e analisada pelo grupo SITE, que rastreia extremistas online.

O responsável falava à Fundação Al-Malahem Media, órgão de comunicação da AQPA, e respondia à pergunta sobre se deveriam os cidadãos muçulmanos abandonar o Ocidente e ir viver para países islâmicos.

Este apelo surge após a AQPA ter reivindicado o ataque de Paris contra a publicação satírica “Charlie Hebdo”, no passado dia 9. Os irmãos Kouachi, que perpetraram o ataque, terão estado no Iémen em 2011.

O líder terrorista acrescentou que a AQPA tentou, no passado, atingir alvos ocidentais fora do Iémen. “Fizemos esforços na frente externa, e o inimigo conhece o perigo disso”, disse Nasser bin Ali al-Ansi. “Estamos a fazer preparativos e estamos à espreita dos inimigos de Alá. Incitamos os crentes a fazê-lo.”

Um exemplo é o ataque na base militar Fort Hood, no estado do Texas (EUA), em 2009, que resultou na morte de 13 pessoas. O agressor foi o soldado americano Nidal Malik Hasan, que tinha contactado com Anwar al-Awlaki, um clérigo radical nascido nos Estados Unidos em 1971. Al-Awlaki foi morto no Iémen num ataque dos EUA com drones (aviões não tripulados).

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 21 de janeiro de 2015. Pode ser consultado aqui

Al-Qaeda versus Daesh

Comparação dos dois grupos que disputam a liderança do terrorismo global

Os atentados de Paris trouxeram para primeiro plano o terrorismo levado a cabo por ultrarradicais islâmicos. Estes não tardaram a ser reivindicados pelas duas grandes centrais mundiais desta área: a Al-Qaeda, herdeira de Bin Laden, e o seu recente concorrente, o Daesh (acrónimo árabe para Estado Islâmico), promotor de um “califado” sírio-iraquiano.

Mas será de facto assim? Há 1500 anos, o general chinês Sun Tzu escreveu em “A Arte da Guerra”, que o objetivo desta não é necessariamente a destruição física do inimigo, mas sim levá-lo a agir de acordo com os nossos interesses. Tomar como credíveis tais reivindicações é fazer o jogo dos promotores do terrorismo, reconhecendo-lhes uma capacidade de organizar e teleguiar grupos extremistas na Europa que estão longe de ter.

É verdade que qualquer elemento de um grupo europeu pró-Jihad, fanatizado pela internet, recrutado nos bairros mal-afamados dos subúrbios ou regressado da Jihad na Síria ou no Iraque, toma como referência suprema a visão retrógrada e primária do Islão veiculada por aquelas duas centrais. Como também faz seu o apelo à luta armada contra os infiéis de lá emanados. Contudo, os circuitos de doutrinação, organização, financiamento e armamento destes grupos são autónomos, diversificados e regionais e não meros tentáculos da Al-Qaeda ou do Daesh.

Ainda assim, para compreendermos melhor os atentados de Paris e a operação policial de anteontem em Bruxelas, durante a qual foi desmantelada uma célula armada que preparava um atentado, vale a pena comparar ambas as organizações do ponto de vista dos seus métodos de atuação, estratégias de combate, zonas de influência e doutrina. São os grupos terroristas mais temidos do mundo e partilham o mesmo objetivo: estabelecer um califado global e converter a humanidade ao Islão por meios não necessariamente amigáveis. No entanto, ao compararem-se ambas, ficam patentes as profundas diferenças que levaram à cisão de meados do ano passado.

Texto escrito em colaboração com Ricardo Silva e Rui Cardoso

TÃO IGUAIS, TÃO DIFERENTES E TÃO PERIGOSOS

Uma análise comparada da Al-Qaeda e do Daesh, versando as suas táticas de combate (guerrilha, terrorismo e guerra convencional), as suas redes de alianças, as zonas do mundo onde estão implantados, como e onde se financiam e quais são os seus principais pontos doutrinários.

ESTRATÉGIA

AL-QAEDA Possui uma visão de longo prazo, assente numa atuação global em que a clandestinidade é condição essencial da sobrevivência. A sua lógica passa por atacar o Ocidente de modo a debilitar o seu apoio aos regimes árabes inimigos e assim facilitar a queda destes. A tática principal passa pelos grandes atentados contra alvos ocidentais (como o 11 de Setembro de 2001 e as bombas nas embaixadas dos EUA no Quénia e Tanzânia em 1998).

DAESH A estratégia do Daesh é a oposta da Al-Qaeda. Atua de forma regional e numa ótica de curto e médio prazo, tendo por objetivo primordial conquistar território para declarar rapidamente um califado. O esforço inicial passava por derrotar os regimes árabes, e só depois declarar guerra ao Ocidente, mas os seus planos acabaram gorados quando se iniciou, no Iraque e Síria, a campanha aérea liderada pelos Estados Unidos.

ESTRUTURA

AL-QAEDA Gerida de forma descentralizada, a Al-Qaeda é liderada por um emir que recebe o apoio de um conselho, a shura, competindo a execução da sua estratégia a vários comités que, por sua vez, se subdividem em células espalhadas por todo o mundo, quase à maneira de uma multinacional e seus “franchises”.

DAESH Segue uma lógica distinta da organização de Bin Laden. Começou como um grupo de guerrilha semiclandestino, mas evoluiu para uma estrutura similar à de um exército convencional, com unidades equipadas com carros de combate, artilharia e até sistemas de defesa antiaérea. Copiou a capacidade administrativa evidenciada pelo arqui-inimigo xiita, o Hezbollah libanês, nas áreas que ocupa.

APOIOS

AL-QAEDA Organiza-se em pequenas unidades que atuam integradas junto dos grupos jiadistas aliados e mantêm uma coesão ideológica que por vezes choca com os interesses de cada região. Delega nos grupos aliados locais o esforço militar contra os regimes muçulmanos ou africanos que pretendem abater.

DAESH Atua em distintas frentes de combate e domina um largo território no leste da Síria e no norte do Iraque, incluindo campos petrolíferos. A colaboração com outros grupos tem-se revelado insustentável e encontra-se em conflito aberto com praticamente todas as forças que operam na Síria e no Iraque.

OBJETIVOS MILITARES

AL-QAEDA No Afeganistão, os talibãs conquistaram o território que serviu de base à expansão da Al-Qaeda e à preparação do 11 de Setembro. Com este atentado, conseguiu aliados em todo o mundo. Na Somália, as suas células colaboram com as milícias do Al-Shabaab. No Iémen, aliou-se à Ansar al-Sharia e às forças tribais sunitas, proclamando um emirado. Na Síria, a Al-Nusra combate em nome da Al-Qaeda e alberga o Khorasan, cuja função é organizar grandes atentados contra alvos ocidentais.

DAESH Além do uso eficiente de armamento convencional (artilharia, blindados e mísseis) recorrem ao terror, usando veículos armadilhados ou bombistas suicidas contra posições inimigas. Fazem ação psicológica macabra na internet, encenando matanças rituais. A campanha bombista contra bairros xiitas iraquianos e a perseguição a cristãos e iazidis levou o Ocidente a antecipar a guerra aérea ao Daesh. Os excessos contra muçulmanos de outras confissões levaram à cisão com a Al-Qaeda.

IDEOLOGIA

AL-QAEDA Al-Qaeda e Daesh disputam a liderança da comunidade sunita, partilhando a mesma interpretação integrista do Islão, a doutrina waabita, que é a ideologia oficial do reino da Arábia Saudita. Ambos defendem a instituição de um califado, liderado por um califa que mais não é do que o sucessor do profeta e habitado por “verdadeiros crentes”, podendo este pressuposto justificar o extermínio de muçulmanos que não se comportem como tal.

DAESH Após conquistar vastas extensões da Síria e do Iraque, o Daesh antecipou-se à Al-Qaeda e decretou o califado. As leis impostas à população têm raízes na obra “Kitab al-Tawhid”, uma coleção de “hadith” (exemplos de vida do profeta) usados nas escolas sauditas e consagrados também pela Al-Qaeda. Nas terras ocupadas pelo Daesh, populações muçulmanas xiitas e outras minorias religiosas pagam com a vida a recusa em submeter-se.

POLÍTICA EXTERNA

AL-QAEDA Osama bin Laden declarou guerra aos EUA e ao Ocidente “por oprimir o Islão” e passou à ação. Nova Iorque, Madrid, Londres sofreram grandes atentados que traumatizaram todo o mundo. O Daesh não descarta a possibilidade de atacar os EUA, mas até que o concretize, a Al-Qaeda continuará a ser reconhecida como a organização líder do movimento jiadista.

DAESH Concentrado na administração interna do seu Estado, o Daesh não revela, para já, qualquer ímpeto expansionista, parecendo mais interessado em consolidar a sua lei nas populações que controla. Porém, em vários artigos publicados na revista “Daqib”, órgão de comunicação do Daesh, têm surgido apelos à realização de ataques no Ocidente por parte de lobos solitários.

FINANCIAMENTO

AL-QAEDA Osama bin Laden era um multimilionário saudita e disso beneficiou a Al-Qaeda, nomeadamente no planeamento do 11 de Setembro. Na região do Sahel, por exemplo, o ramo local da Al-Qaeda recorre a raptos para se financiar. Interessados na defesa do sunismo, por oposição ao xiismo do vizinho Irão, os ricos países do Golfo apoiam quer a Al-Qaeda quer o Daesh.

DAESH O Daesh não dirá que não a um chorudo cheque passado por um xeque do Golfo, mas tem jogado pelo seguro e rentabilizado as infraestruturas de que se apoderou na Síria e no Iraque. Hoje, recorrendo a preços competitivos, o Daesh vende petróleo no mercado negro tanto ao regime de Bashar al-Assad como à Turquia.

RECRUTAMENTO

AL-QAEDA Inicialmente localizado nas montanhas afegãs, o núcleo da liderança da Al-Qaeda sempre defendeu alianças com outros grupos jiadistas, que levaram à formação de braços regionais da organização. Mantendo cada qual a sua identidade, trabalhariam para um objetivo comum. O surgimento do Daesh, e de métodos de recrutamento voltados para os jovens, levaram a deserções na Al-Qaeda.

DAESH O facto de ter nascido durante duas guerras (Iraque e Síria) deu ao Daesh uma capacidade de recrutamento pragmática, atraindo sectores locais ostracizados, como exbaasistas (sunitas), marginalizados pela maioria xiita no poder em Bagdade. O estilo de combate do Daesh e o facto de controlar território aproxima-o de um exército convencional, ao contrário da Al-Qaeda, difícil de localizar até para quem queira aderir.

COMUNICAÇÃO

AL-QAEDA Em contraste com o Daesh, a Al-Qaeda não precisou nunca de publicitar os seus próprios feitos. A aposta em atentados espetaculares garantiu-lhe mediatismo e tempo de antena nos órgãos de informação de todo o mundo. De tempos a tempos, a voz de Osama bin Laden fazia-se ouvir em gravações áudio enviadas para os órgãos de informação, mais para provar que continuava vivo do que qualquer outra coisa.

DAESH Obcecado em recrutar jovens, o Daesh apostou nas redes sociais e na comunicação através da internet. A importância desta estratégia de comunicação ficou exposta quando começou a publicar no YouTube vídeos encenados das decapitações de prisioneiros e de muçulmanos considerados inimigos, como soldados, por exemplo. O Ocidente apercebeu-se, então, da presença de nacionais seus entre os carrascos.

Artigo publicado no Expresso, a 17 de janeiro de 2015

Porquê na Austrália?

A Austrália vive, desde setembro, em estado de alerta. Um dos ataques frustrados recentemente pelas autoridades visava a decapitação de uma pessoa, numa investida aleatória, na baixa de Sydney

Aconteceu em Sydney, mas poderia ter ocorrido em qualquer outra grande cidade australiana. Desde 12 de setembro que a Austrália vive em estado de alerta antiterrorista “alto”, um nível inédito desde a introdução desse mecanismo de segurança em 2003.

Camberra estima que 90 australianos se tenham juntado ao Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Vinte já terão morrido, alguns na região síria de Kobane, e outros vinte já terão regressado a casa. “É o maior risco que enfrentamos em muitos anos”, alertou o procurador-geral australiano, George Brandis.

Na frente de combate, “eles são usados como carne para canhão, bombistas suicidas e instrumentos de propaganda”, acrescentou o procurador. A 21 de julho, as autoridades de Camberra confirmaram que o bombista suicida de um ataque no Iraque era um australiano.

Temendo o regresso a casa de nacionais com experiência jihadista e com um alto nível de radicalização, a Austrália aprovou, a 4 de dezembro, nova legislação antiterrorista, criminalizando as viagens de nacionais para as zonas controladas pelo Estado Islâmico — que controla um terço da Síria e do Iraque —, sem uma justificação credível. Quem desafiar a lei incorre numa pena superior a 10 anos de prisão.

Atenção aos “lobos solitários”
Paralelamente, Camberra teme as consequências que os apelos feitos por jihadistas possam ter dentro de portas. Em meados de outubro, a revista “Dabiq”, do Estado Islâmico, publicada em língua inglesa, apelou a ações de “lobos solitários”contra as “nações de cruzados” que estão a combater o EI. A revista instrui a que se opte por ataques simples.

Anteriormente, o porta-voz do Estado Islâmico, Abu Mohammed al-Adnani, emitira uma mensagem apelando aos “lobos solitários” que atentassem contra “descrentes”, civis ou militares, nacionais de países que apoiam os Estados Unidos nos bombardeamentos ao Estado Islâmico. Um dos países-alvo que mencionou foi, precisamente, a Austrália. 

A 8 de outubro, a Austrália confirmou a sua participação na coligação internacional contra o EI efetuando os primeiros bombardeamentos sobre posições jihadistas, no Iraque. Camberra enviou ainda 600 militares, 200 dos quais forças especiais para missões de aconselhamento ao Governo de Bagdade.

“Esta decisão reflete a avaliação do Governo de que o EI representa uma ameaça significativa”, justificou o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott. “Não só para o povo do Iraque mas para toda a região e para a nossa segurança interna.”

Decapitar na via pública
A 18 de setembro, naquela que foi a maior operação de contraterrorismo realizada no país, as autoridades australianas conseguiram frustrar uma tentativa de atentado, que tinha entre os alvos o primeiro-ministro.

Um ataque “ao estilo de Bombaim”, disseram. (A 26 de novembro de 2008, vários ataques sincronizados — bombas, tiroteios, reféns — efetuados pelo grupo terrorista Lashkar-e-Taiba, em Bombaim, provocaram 166 mortos.)

A coberto de legislação antiterrorista, as forças de segurança australianas lançaram dezenas de operações de busca nas cidades de Melbourne, Sydney e Brisbane. Um dos detidos, precisamente em Sydney, foi acusado de conspirar com um líder do Estado Islâmico na Síria para decapitar uma pessoa, num ataque aleatório, na baixa dessa cidade.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 15 de dezembro de 2014. Pode ser consultado aqui