Quando os tanques retiravam da Praça de Tiananmen, um homem fez-lhe frente. Tornou-se um ícone deste episódio, ainda que ninguém saiba o seu nome ou o que lhe aconteceu

Não tem nome nem rosto, mas a sua valentia tornou-o um ícone do massacre na Praça de Tiananmen. No dia 5 de Junho de 1989, após os tanques do Exército de Libertação do Povo Chinês terem desocupado aa Praça da Paz Celestial, um homem solitário, com dois sacos de compras nas mãos, parou diante de uma coluna de tanques de 18 tanques, bloqueando a sua passagem.
Em marcha lenta, o tanque dianteiro tentou, então, contornar o homem pela sua direita, ao que ele respondeu com firmeza e determinação dando meia dúzia de passos no mesmo sentido para bloquear o veículo. Quem acompanhava a cena, tinha a sensação de que, a qualquer momento, o tanque ia irromper sobre aquele pedestre e esmagá-lo.
Porém, acontece o inverso. Os tanques imobilizam-se, parecendo mesmo desligar os motores e o homem sobe ao tanque. Debruçou-se na escotilha e ali ficou a falar para dentro do tanque.
Momentos depois, desceu do tanque e retomou a sua postura de desafio, colocou-se diante da coluna. Aproximaram-se então cinco homens — um de bicicleta e quatro a pé, aparentemente cidadãos comuns — e o homem saiu de cena com eles. A sua identidade — bem como o seu destino — permanece um mistério até hoje.
O único comentário oficial das autoridades chinesas foi feito pelo antigo Presidente Jiang Zemin, numa entrevista em 1990, em que afirmou: “Não posso confirmar se esse jovem que mencionou foi preso ou não. Julgo que nunca foi morto”.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 4 de junho de 2009. Pode ser consultado aqui