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O país dos golpes militares

Desde 1960, a Turquia já foi palco de quatro golpes militares bem sucedidos. Do último, em 1997, resultou o nascimento do Partido Justiça e Desenvolvimento que haveria de elevar Erdogan ao poder

Desde a fundação da República da Turquia, em 1923, por Mustafa Kemal Ataturk, que os militares sempre se assumiram como os guardiães da laicidade do país herdeiro do Império Otomano. Por essa razão, durante o século XX, intervieram diretamente na política por quatro vezes.

1960 — TOLERÂNCIA ZERO À RELIGIÃO
O Governo democraticamente eleito do Partido Democrático, do primeiro-ministro Adnan Menderes e do Presidente Celal Bayar, começa a flexibilizar algumas regras relativas à religião: permite a reabertura de milhares de mesquitas, legaliza o “adhan” (chamamento à oração) em árabe, em vez de turco, e abre novas escolas religiosas. Encurta o período do serviço militar obrigatório, impõe leis restritivas à imprensa e ocasionalmente impede a publicação de jornais críticos. Os militares intervêm e devolvem o poder aos civis. O Presidente, o primeiro-ministro e alguns membros do gabinete são presos e acusados ​​de alta traição e uso indevido de fundos públicos. O primeiro-ministro, o ministro dos Negócios Estrangeiros e o ministro das Finanças depostos são executados.

1971 — REPOR A ORDEM
A estagnação económica provoca agitação generalizada. Grupos de trabalhadores manifestam-se nas ruas, por vezes com violência. A moeda desvaloriza e a inflação atinge os 80% ao ano. Os militares intervêm para “repor a ordem”. O chefe de Estado Maior, Memduh Tagmac, acusa o primeiro-ministro Suleyman Demirel de conduzir o país à anarquia e exige a formação de um “governo forte e credível inspirado nas ideias de Ataturk”. Demirel demite-se horas depois.

1980 — ONZE CHEFES DE GOVERNO NUMA DÉCADA
A instabilidade continua após o golpe de 1971. A Turquia muda de primeiro-ministro… onze vezes nessa década. A economia continua estagnada e grupos da esquerda e da direita enfrentam-se violentamente nas ruas. Milhares de pessoas são assassinadas. Em setembro, os militares, liderados pelo Chefe de Estado Maior general Kenan Evren, anunciam na televisão estatal a dissolução do governo e a imposição da lei marcial. A estabilidade política contagia a economia, após a privatização de indústrias estatais. A inflação cai e o emprego cresce. É redigida uma nova Constituição que é submetida a referendo, em 1982, e aprovada de forma esmagadora.

1997 — GOLPE PÓS-MODERNO
Nas eleições de 1995, o Partido do Bem-Estar, islamita, obtém ganhos esmagadores que o levam ao poder no ano seguinte à frente de uma coligação governamental. Dois anos depois, os militares emitem um conjunto de recomendações que o Governo acata. O primeiro-ministro Necmettin Erbakan concorda com um programa educativo obrigatório de oito anos, para impedir que os alunos se inscrevam em escolas religiosas e o uso do véu é proibido nas universidades, entre outros. Erbakan acaba por se demitir. Alguns académicos chamam a esta intervenção dos militares um “golpe pós-moderno”. Em 1998, o Partido do Bem-Estar é banido. Alguns membros avançam para a constituição de uma nova formação, o Partido Justiça e Desenvolvimento. Entre eles está Recep Tayyip Erdogan, que em 2003 seria primeiro-ministro da Turquia e em 2014 Presidente.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 16 de julho de 2016. Pode ser consultado aqui

A ironia de uma imagem

Durante as movimentações militares, o Presidente Erdogan recorreu ao Facetime para dizer aos turcos que controlava o país. Ele, que odeia as redes sociais

BURAK KARA / GETTY IMAGES

Há cerca de duas semanas, após visitar o aeroporto de Istambul, onde 45 pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas na sequência de um ataque suicida, Recep Tayyip Erdogan fez um discurso violento contra a internet. “Sou contra as redes sociais. Fui atacado muitas vezes por causa disto. Sou contra o Twitter e todas as outras e não publico nada. Não as uso.”

Nessa altura, o Governo suspendera o acesso sobretudo ao Twitter e ao Facebook e muitos ultilizadores que conseguiam contornar o bloqueio através de acessos privados criticavam a mordaça imposta que impedia a partilha de contactos visando a ajuda a vítimas do atentado.

Esta sexta-feira, quando estava em curso uma tentativa de golpe de Estado e a televisão estatal estava sem emissão, Erdogan falou com a CNN Turca via Facetime — o “software” desenvolvido pela Apple que só funciona com rede de internet — para garantir que estava aos comandos do país. Secretamente, terá tido a esperança que a internet que tanto odeia pudesse ajuda-lo a travar o golpe.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 16 de julho de 2016. Pode ser consultado aqui

Em direto: Serviços de informação turcos dizem que golpe de Estado foi travado

Primeiro-ministro confirma a tentativa de golpe. As fronteiras estão encerradas, ninguém entra ou sai do país. Erdogan apela para as pessoas virem para a rua. Forças especiais confirmam que há mortos e feridos

03h15 Encerramos aqui o acompanhamento em direto. Obrigado por ter estado desse lado

03h11 Na noite em que uma fação militar levou a cabo uma tentativa de golpes de Estado na Turquiam Erdogan dirigiu-se à popuulação com um discucurso vitorioso, em que assegurou que os reposáveis serão severemente punidos.

02h31 Pelo menos seis civis morreram e cem outros ficaram feridos em Istambul durante o caos gerado, esta noite, pela tentativa de golpe militar posta em marcha na Turquia, informam hoje os meios de comunicação social locais.

Segundo a emissora CNNTürk, no Hospital Haydarpasa Numune foram contabilizados pelo menos seis mortos e aproximadamente uma centena de feridos.

02h29 “A Turquia já não é a Turquia de antigamente”

02h26 “É um ato de traição [a tentativa de golpe de Estado]”, considerou o presidente turco, que voltou a reafirmar que o golpe foi levado a cabo “por um pequeno grupo de militares dentro da instituição

02h25 Erdogan fala agora em direto

02h16

02h03 – Jornalistas e outros funcionários da CNN Turk estão a ser feitos reféns na sede da estação televisiva

02h01 Há relatos sobre duas explosões na Praça Taksim

01h52 O comandante das forças especiais turcas confimou à televisão NTV que há mortos e feridos. No entanto, não avançou com números.

01h50

01h44 A televisão publica turca TRT voltou esta noite (01:00 de Lisboa) a emitir normalmente, depois de os soldados que a tinham tomado terem abandonado o local.

A apresentadora de televisão da TRT, que há algumas horas tinha lido um comunicado a anunciar a tomado do poder por parte do exército, anunciou que foi forçada a faze-lo pelos soldados que ocuparam a emissora.

Imagens transmitidas pela televisão mostraram centenas de pessoas a celebrar a saída dos soldados.

01h37

01h34 Os serviços de inteligência turcos dizem que a tentativa de golpe de Estado foi “repelido”.

01h27

01h17 Ainda pouco se sabe do paradeiro de Erdogan, mas correm rumores de que estará a chegar àTurquia (este tweet vem reforçar a teoria)

01h09 Primeiro-ministro, Binali Yildirim, informou que “a situação está amplamente controlada”.

01h04 Mais um testemunho de quem está na Turquia. Desta vez do correspondente do Expresso em Ancara, José Pedro Tavares: “Turquia no limbo. Para que lado cairá?”

01h Alguns turcos seguiram o apelo do presidente Erdogan (cujo paradeiro é desconhecido até ao momento) e saíram para as ruas em protesto.

Sedat Suna
Sedat Suna

00h59 Desde 1960, a Turquia já foi palco de quatro golpes militares bem sucedidos. Do último, em 1997, resultou o nascimento do Partido Justiça e Desenvolvimento que haveria de elevar Erdogan ao poder. Veja aqui o balanço.

00h53 Pelin Özen, 28 anos, é turca e vive em Istambul. Agora está em casa segura e escreveu ao Expresso um testemunho do que viu, ouviu e sentiu. “Estava em pânico e não sabia o que fazer. Nunca vi algo tão caótico”.

00h30 – Informações ainda não confirmadas oficialmente dão conta de um helicóptero dos revoltosos que foi abatido por um avião do governo turco

00h26 – Porta-voz da chanceler alemã apela ao respeito pela ordem democrática na Turquia

00h18 – O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, diz esperar que a estabilidade se mantenha na Turquia

00h15 – Barack Obama pede que se evite “banho de sangue” e que os partidos respeitem o governo eleito democraticamente

00h08 – Dezassete polícias foram mortos durante os confrontos com os revoltosos, noticia a AFP. Essa informação não foi contudo confirmada ainda por fontes oficiais

00h02 – Segundo informações avançadas pela agência iraniana, Erdogan aterrou há instantes no Teerão

23h39 Segundo a AP, a NATO (Organização do Tratado Atlântico Norte) não fez comentários quando questionada cobre de que forma este golpe de Estado iria afetar a organização. A Turquia aderiu à NATO em 1952.

23h36 Governo português aconselha portugueses a ficar em casa ou hotéis

23h34 – Há relatos de festejos na Síria com as movimentações militares na Turquia

Stringer/Turkey
Reuters Tv

23h27 – Ouvem-se cânticos religiosos pró-governo. Paralelamente estão a ocorrer manifestações contra Erdogan

23h26 – População turca saiu à rua

23h24 – Estão a ocorrer trocas de tiros nas ruas de Istambul

22h20 Tanques militares estão a abrir fogo em frente ao edifício do Parlamento.

22h19 O vídeo da entrevista de Erdogan à CNN Turk, feita através de uma chamada via facetime

23h14 – Golpistas e militares estão em confrontos em Istambul

23h13 – O ambiente é de caos. Um helicóptero abriu fogo em Istambul. Imagens em direto mostram um grande aparato, com várias ambulâncias no local.

23h05 – Segundo pessoas que se encontram na Turquia, a população está a receber informação contraditórias. Os militares anunciam o controlo do país, enquanto Erdogan e o AKP dizem para continuar a vida normalmente e que tudo não passa de um grupo minoritário a causar confusão.

22h54 – O Presidente turco estará num voo que foi proibido de aterrar em Istambul a caminho da Alemanha, noticia a NBC America

22h51 – Uma forte explosão foi ouvida em Ancara, avança a AFP. Há indicações de que se ocorreu perto do edifício da TV estatal

22h50 A fação militar, pelo contrário, pede aos turcos que permaneçam dentro de casa.

22h49 Erdogan dirigiu-se à população numa chamada pelo Face Time.

22h47 “Para salvar a democracia”, Erdogan pede às pessoas para irem para as ruas.

22h45 O canal de televisão governamental TRT estão sem emissão.

22h42 O presidente Erdogan apela à população pessoas virem para a rua.

22h41 Há informações que apontam para a ocorrência de uma explosão na Academia da Polícia e na sede dos Serviços Secretos turcos. Existem ainda rumores de que alguns sectores militares entraram em confronto com as forças da polícia.

22h39 Vários aviões estão a sobrevoar Ancara a baixa altitude e tanques militares estão a bloquear parcialmente as duas pontes sobre Bósforo e o aeroporto. Al Jazeera acrescenta que também o aeroporto de Istambul foi encerrado e os voos cancelados.

22h37 “É oficialmente declarado agora que um golpe militar está a acontecer. Todas as fronteiras estão fechadas”, avança a estação de televisão governamental TRT.

22h34 Em comunicado, a fação militar que iniciou o golpe de Estado, afirma ter tomado “total controlo do país”. Segundo as forças armado, no texto citado pela agência turca Dogan, o objetivo é “reinstalar a ordem constitucional, a democracia, os direitos humanos, a liberdade, garantir que o Estado de direito volta a reinar no país e que a lei e ordem sejam reinstaladas”.

22h29 “Esta é uma tentativa de golpe de Estado. Estamos a considerá-la como um levantamento militar, que não vamos deixar ter sucesso. Aqueles que fazem esta tentativa vão pagar um preço pesado”, disse o líder do Executivo aos jornalistas, citado pela imprensa turca.

22h22 Está em curso uma tentativa de golpe de Estado na Turquia. A confirmação foi dada pelo primeiro-ministro, Binali Yıldırım, ao começo da noite desta sexta-feira. As movimentações de militares terão começado por volta das 20h50 (hora de Lisboa).

Artigo escrito com José Pedro Tavares, correspondente em Ancara, Liliana Coelho e Marta Gonçalves.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 15 de julho de 2016. Pode ser consultado aqui