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Sim, estamos todos a olhar para as eleições nos EUA, mas será que conhecemos realmente a Europa?

Por estes dias, estamos todos de olhos postos nas eleições nos Estados Unidos. Mas deste lado do Atlântico, com águas menos agitadas, nem sempre os Estados estão unidos em volta do mesmo propósito. União Europeia, Espaço Schengen, Zona Euro, Conselho da Europa, EFTA, Espaço Económico Europeu: são múltiplas as organizações em que se arrumam os países europeus. Nem sempre é fácil perceber o que é a Europa. 2:59 JORNALISMO DE DADOS PARA EXPLICAR O PAÍS

À beira-mar plantado, na ponta ocidental da Europa, Portugal é o ponto de partida ideal para uma aventura à descoberta da Europa.
Mas a que nos referimos exatamente quando falamos de Europa?

No vasto espaço que vai do Atlântico aos Urais – a fronteira natural entre a Europa e a Ásia –, há múltiplas estruturas políticas e económicas que muitas vezes se sobrepõem. Nem sempre é fácil perceber o que é a Europa, e isto para nós que cá vivemos, imagine-se para os outros.

Comecemos pela União Europeia, o projeto de integração regional mais bem-sucedido em todo o mundo.
Nasceu em 1957 e alargou-se muito. Mas em 2020, pela primeira vez na sua história, um Estado-membro decidiu percorrer o caminho inverso e saiu da União Europeia.

A organização voltou a ter 27 membros, mas nem todos se relacionam com o espaço comunitário da mesma forma.

Há oito, por exemplo, que não fazem parte da Zona Euro. Não adotaram o Euro e continuam a usar as suas moedas nacionais.

Cinco não fazem parte do Espaço Schengen, que permite, por exemplo, que um português vá por terra até à Estónia sem ver o seu passaporte controlado.

Mas, ao mesmo tempo, há países que fazem parte da Zona Schengen e que não são membros da União. Estes quatro constituem outro bloco económico no seio do continente: a EFTA, Associação Europeia de Comércio Livre.

Ora, com duas áreas económicas vizinhas e sem sinais de conflito entre os seus membros, a interação entre ambas aconteceu com muita naturalidade. E em 1994, nasceu o Espaço Económico Europeu, uma área de liberdade de circulação de pessoas, bens, serviços e capitais, de que fazem parte quer os países da União Europeia, quer os da EFTA, com uma exceção: a Suíça.

No Velho Continente, a organização local mais abrangente é o Conselho da Europa. É a instituição europeia mais antiga e a principal defensora dos direitos humanos na região. Atualmente é composta por 47 países.

Ora, 28 membros deste Conselho da Europa fazem também parte da NATO. A Aliança política e militar é, aliás, essencialmente europeia já que para além dos membros do Velho Continente conta com apenas a participação de mais dois países, do outro lado do Atlântico.

Se sobrepusermos a esta Europa extensa o mapa das Nações Unidas, constatamos que apenas um país europeu não faz parte da mais universal das organizações. É dos territórios mais pequenos do continente e dos que tem maior potencial de conflito: chama-se Kosovo. A sua independência é reconhecida por mais de 100 países, mas dentro da União Europeia nem todos lhe atribuem esse estatuto.

Quando falamos de Europa, é natural que falemos muito de União Europeia. Mas a Europa é muito mais que isso. Fique a pensar no assunto.

Episódio gravado por Martim Silva.

(IMAGEM Mapa do continente europeu, do Atlântico aos Urais ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 5 de novembro de 2020. Pode ser consultado aqui

Já ouviu falar em cidades irmãs? Em Portugal há mais de 200 municípios com ‘família’ lá fora

Há centenas de localidades portuguesas que têm acordos de geminação com localidades estrangeiras. A relação assenta numa vontade mútua de se conhecerem, em características comuns, afinidades históricas e até na partilha do mesmo nome. Este 2:59 leva-nos num passeio por Portugal e pelo mundo. 2:59 JORNALISMO DE DADOS PARA EXPLICAR O PAÍS

A covid-19 levou muitos portugueses a optar por férias cá dentro. De norte a sul, no continente e ilhas, não faltam destinos ricos em património, gastronomia e também em curiosidades na forma como algumas terras se relacionam com o estrangeiro.

Vamos até ao Algarve…

Desde 2004 que Vila do Bispo tem um acordo de geminação com Cabo Canaveral, nos Estados Unidos. É ali que fica o Centro Espacial John F. Kennedy, de onde partiu a histórica Apollo 11 a caminho do primeiro passeio lunar. Na base desta relação está a vontade comum de homenagear a busca pelo desconhecido: os Descobrimentos Portugueses, simbolizados na mítica Escola de Sagres, e as Descobertas Espaciais.

Subamos no mapa…

Sintra e Honolulu, no Hawai, são municípios irmãos há mais de duas décadas. Une-os em especial a vontade de desenvolver relações desportivas, ou não estivessem ambas junto ao mar e com boas ondas para a prática do surf.

A vizinha Cascais tem acordos com 12 localidades estrangeiras. Entre elas Gaza, na Palestina. Cascais virada para o Atlântico, Gaza para o Mediterrâneo. Talvez as semelhanças fiquem por aqui…

Seguindo ainda mais para Norte…

Belmonte é dos principais testemunhos da presença judaica em Portugal. Não estranha por isso a geminação com Rosh Pina, em Israel.

Os acordos de geminação popularizaram-se após a II Guerra Mundial para promover a amizade e a paz. Mas o primeiro registo de emparelhamento entre cidades data do século IX.

Hoje há 125 redes de incentivo a este tipo de colaboração. Mas por vezes surgem tensões. Em maio passado, Castelo Branco foi pressionado a solidarizar-se com a comunidade LGBT da cidade irmã de Pulawi, na Polónia, que se tinha declarado “zona livre de pessoas LGBT”.

Estes casos são exceção, em relações que se espera que sejam pautadas por intercâmbios de experiências, conhecimento e aprofundamento de afinidades.

Entre o Funchal e Montreux, que têm um enorme potencial de cooperação nos festivais de jazz que organizam.

Entre o Porto e Bordéus, que partilham uma tradição vinícola há mais de 40 anos.

Entre Angra do Heroísmo e Cartagena das Índias, irmanadas pelo papel que tiveram na Rota das Índias.

Em Portugal, há pelo menos 22 freguesias e 239 municípios geminados com localidades estrangeiras de 62 países.

A campeã é Coimbra, com 23, nomeadamente três cidades que têm universidades das mais antigas do mundo: Fez, Salamanca e Pádua.

O país com mais acordos deste género é França. E o município estrangeiro com mais “irmãs” portuguesas é o Tarrafal, em Cabo Verde.

A busca de pontes é, por vezes, levada demasiado à letra.

Na região do Vale do Sousa, Penafiel tem um protocolo de geminação com… Peñafiel, em Espanha.

No distrito do Porto, Gondomar é geminada com o município galego de… Gondomar.

E no Algarve, a cidade de Lagos tem acordos de cooperação com
não um,
não dois,
não três,
mas quatro municípios estrangeiros chamados… Lagos.

Episódio gravado por Pedro Cordeiro.

(IMAGEM Início da lista de “Geminações de Cidades e Vilas”, da Associação Nacional de Municípios Portugueses ANMP)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 1 de outubro de 2020. Pode ser consultado aqui

Universidade do Porto, muito mais do que uma academia. Até no combate à covid-19

Mais do que um espaço de ensino, a Universidade do Porto é, com os seus vários campus, empresas e startups, um dos principais motores de Ciência e Inovação em Portugal. Em tempos de pandemia, essas valências colocam a instituição na linha da frente desse combate. 2:59 JORNALISMO DE DADOS PARA EXPLICAR O PAÍS

O coronavírus empurrou-nos a todos para dentro de casa. Mas com competência, criatividade, espírito solidário
há todo um novo mundo que ganha forma sem que seja preciso sair à rua.

Nos primeiros dias da pandemia em Portugal, surgiu um projeto tecnológico com soluções criativas para minimizar o impacto da covid-19 nas nossas vidas. É o #tech4COVID19, uma plataforma digital, onde profissionais das mais diversas especialidades angariam fundos para comprar material hospitalar; apoiam professores, alunos e pais ao nível do ensino à distância; prestam assistência médica online; organizam serviços de entregas de bens.

O #tech4COVID19 tem vários projetos ativos e mais de 4000 voluntários, entre eles mais de 200 médicos. Este movimento, que é hoje uma realidade nacional, nasceu no Porto, pela mão de empreendedores e startups da cidade.

Desde 2007 que só na incubadora de empresas da Universidade do Porto já foram aprovadas mais de 550 startups, quase todas criadas por antigos alunos que começaram a concretizar as suas ideias de negócio ainda de capa e batina.

Atualmente, nos três campus da Universidade, funcionam 186 startups e 73 empresas.

Recentemente, a revista “Forbes” destacou três delas e colocou os seus fundadores na lista dos “30 melhores talentos europeus com 30 anos ou menos”.

A nível internacional, o Porto é hoje um dos polos tecnológicos que mais crescem na Europa. E a nível nacional, é mesmo a cidade que mais investimento tem captado para as startups. Recebe 36,71% do total de investimento feito no país, a maioria proveniente do estrangeiro.

Paralelamente ao universo das startups, no ecossistema da Universidade do Porto já foram criadas 91 empresas para explorar produtos ou tecnologias concebidos nos centros de investigação da academia.

A Universidade do Porto é hoje um dos principais motores de Ciência e Inovação em Portugal. E dois outros fatores alimentam essa realidade.
A Universidade tem ativas 335 patentes no país e no estrangeiro. Naquele que foi o melhor ano de Portugal ao nível do registo europeu de patentes, 17 tiveram o selo da Universidade do Porto.

Por outro lado, os seus investigadores são responsáveis por quase 1/4 da produção científica portuguesa. Entre 2013 e 2017, participaram em 23,8% dos artigos científicos produzidos em instituições nacionais. Praticamente metade foram elaborados em parceria com instituições científicas de todo o mundo.

Tudo isto contribui para que a Universidade do Porto seja um centro de estudo atrativo para jovens dos quatro cantos do mundo. Hoje, mais de 6000 alunos são estrangeiros, ou seja, 20% da totalidade dos estudantes. É uma diversidade que dá cor a esse “velho casario que se estende até ao mar…”

Episódio gravado por Pedro cordeiro.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 13 de abril de 2020. Pode ser consultado aqui

O território que tenta livrar-se do guarda-chuva onde o querem abrigar em 2047

A chamada revolução dos guardas-chuvas não dá sinais de abrandar nas ruas de Hong Kong, o antigo território britânico que passou para a administração chinesa em 1997 e ficou com um estatuto especial durante 50 anos. É a pedra no sapato da República Popular da China, que celebrou esta terça-feira o 70.º aniversário e não quer ouvir falar em mais autonomia, mas sim em “estabilidade de longo prazo” e “luta pela unificação completa do país”. 2:59 JORNALISMO DE DADOS PARA EXPLICAR O MUNDO

2047. Este é o ano que não sai do pensamento dos habitantes de Hong Kong. E porquê? Em 1997, quando a soberania deste território transitou do Reino Unido para a China, estes dois países acordaram um período de transição de 50 anos durante o qual Hong Kong manteria as liberdades de que vinha beneficiando.

Esse estatuto permite por exemplo que, a cada quatro anos, os cidadãos vão às urnas para eleger metade dos 70 membros do Parlamento.

Possibilita também que Hong Kong continue a ter moeda própria e a adotar políticas económicas com total autonomia. Hoje, o território é um grande centro financeiro e tem um dos maiores rendimentos per capita do mundo.

A nível social, essa exceção permite que em Hong Kong vigorem direitos que não são acessíveis a quem vive na chamada China Continental, como o direito a manifestarem-se.

Mas esta realidade de “um país, dois sistemas” tem os dias contados. Em 2047, findo o período de transição, Hong Kong perderá esse estatuto especial. Vingará então a vontade do Partido Comunista Chinês.

Conscientes disso, os habitantes de Hong Kong têm organizado mega-manifestações em defesa dos seus direitos e liberdades. Em 2014 saiu à rua o movimento dos guardas-chuvas, com exigências de mais democracia. Desde 9 de junho passado, as ruas estão novamente cheias. Inicialmente, os protestos visaram uma nova Lei da Extradição que tornaria possível que um cidadão de Hong Kong fosse extraditado para a China e julgado segundo a lei chinesa.

A resistência do governo aos protestos e a repressão da polícia levaram os manifestantes a apresentar cinco exigências. Enquanto não forem cumpridas, eles não abandonam as ruas.

A primeira já foi satisfeita: a retirada em definitivo da polémica lei da extradição.

Ficam a faltar quatro:

— A exigência de que as autoridades parem de qualificar os protestos como “motins” e os manifestantes como “desordeiros”.

— A libertação dos manifestantes que foram presos.

— Uma investigação independente à atuação da polícia.

— E uma exigência política: que o Chefe do Governo e o Conselho Legislativo passem a ser eleitos por sufrágio direto e universal.

Estes manifestantes têm a secreta esperança de que, chegados a 2047, a dinâmica democrática do território tenha contagiado o resto da China. E que Hong Kong possa continuar a ser um espaço de liberdade.

Episódio gravado por Pedro Cordeiro.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 2 de outubro de 2019. Pode ser consultado aqui

Há boas cidades para se viver. E há as melhores

Pegue-se em 140 cidades de todo o mundo, passe-se-as pelo crivo de cinco critérios, estabeleça-se uma pontuação e… eis a lista das melhores cidades para se viver. Uma conceituada publicação internacional voltou a fazer este exercício anual — e tanto o lugar da vencedora como o de várias outras não é assim tão óbvio, incluindo o de Lisboa. 2:59 JORNALISMO DE DADOS PARA EXPLICAR O PAÍS

Nova Iorque, Paris, Londres ou Tóquio.

São cidades modernas que inspiram músicas, aparecem em filmes e são facilmente reconhecidas como as grandes capitais do mundo. Muitos de nós sonham visitá-las e, quem sabe, um dia lá morar. Mas terão estes ícones urbanos a qualidade de vida que projetamos? E é lá que se vive melhor?

O último ranking da Economist Intelligence Unit pegou em 140 cidades e avaliou-as mediante cinco critérios: estabilidade, educação, cuidados de saúde, cultura & ambiente e infraestruturas.

A cidade vencedora é surpreendente. Mas já lá vamos…

Olhando agora para o lote das melhores classificadas, constatamos que há três cidades australianas, três canadianas e duas japonesas.

E em 10º lugar, ficou Adelaide, na Austrália, logo seguida da dinamarquesa Copenhaga. Depois, Tóquio, a capital do Japão, e duas cidades canadianas, Toronto e Vancouver.

Em 5º lugar, ficou a cidade da ópera ao pé da baía, Sidney. E em 4º, a canadiana Calgary.

Mas antes de subirmos ao pódio, vejamos algumas curiosidades.

Todas estas cidades tiveram pontuação máxima no índice da educação.

Ao nível dos cuidados de saúde, só Copenhaga ficou abaixo dos 100 pontos.

Já no capítulo cultura & ambiente, apenas Vancouver conseguiu a pontuação máxima.

Descubramos então quais são as cidades que melhores condições reúnem para se viver.

A medalha de bronze foi atribuída a… Osaka. Nos guias turísticos, a cidade japonesa cativa por ter um dos melhores aquários do mundo, pelo seu castelo e templos budistas e também pelo bairro de Dotonbori, repleto de lojas, restaurantes e néons. Este estudo realça uma melhoria ao nível da qualidade e quantidade de transportes públicos e um declínio consistente nas taxas do crime. Osaka só fica aquém ao nível das infraestruturas e no capítulo da cultura e ambiente.

Subamos um degrau no pódio. E no segundo posto, surge a australiana Melbourne. Durante sete anos consecutivos, a cidade com quase 5 milhões de habitantes, que pode ser observada do topo da Torre Eureka, vinha sendo a líder incontestada deste ranking. Só que em 2018, foi especialmente penalizada no critério estabilidade.

É então chegado o momento de revelar quem arrecadou o título de melhor cidade para se viver. E parabéns… Viena.

A capital da Áustria é um reconhecido centro de música erudita que seduz também pelas suas belezas arquitetónicas ou por aprazíveis espaços de lazer como o Prater, onde se situa o parque de diversões mais antigo do mundo.

Entre as 140 cidades avaliadas, também está Lisboa. A capital portuguesa aparece muito longe dos primeiros lugares, mas ainda assim na primeira metade da lista. Curiosamente, à frente de cidades como Roma e Nova Iorque.

Episódio gravado por Cristina Pombo.

(FOTO A famosa Roda Gigante, no parque do Prater, é um dos ícones de Viena WIENER RIESENRAD)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 21 de fevereiro de 2019. Pode ser consultado aqui