Arquivo de etiquetas: Afeganistão

Os talibãs não as deixam estudar, mas elas não se dão por vencidas: 50 afegãs vão frequentar universidades portuguesas

O regresso dos talibãs ao poder encurralou as afegãs em casa. Para as estudantes universitárias, em especial, as perspetivas de futuro caíram por terra, mas para 50 delas o sonho continuará em Portugal, onde têm garantidas bolsas de estudo para frequentar instituições do ensino superior. Nas 1424 candidaturas recebidas, “todas as raparigas usaram a expressão ‘poder continuar aquilo que eu estava a fazer’”, diz ao Expresso Ana Santos Pinto, responsável da Nexus 3.0, a organização não governamental que está na origem do projeto

FOTO Escola pública feminina, na província de Bamyan, no Afeganistão FLICKR CANADA IN AFGHANISTAN

A 15 de agosto de 2021, a retirada em contrarrelógio das tropas internacionais do Afeganistão e, em simultâneo, a avançada sem resistência dos talibãs sobre Cabul constituíram um enorme embaraço para quem acreditava que 20 anos de presença estrangeira no país tinham tornado a influência dos talibãs residual.

Nimroz, no sudoeste, foi a primeira província a cair, nove dias antes de as forças do Emirado Islâmico entrarem na capital. Nove dias depois, mais 32 regiões ficaram totalmente sob controlo talibã. Apenas a província do Panjshir, no nordeste, resistiu durante uns tempos.

Com igual rapidez, a autoridade dos talibãs impôs-se a todo o território, com o sector da educação a servir de montra do novo Afeganistão. Quatro dias após controlarem os edifícios governamentais em Cabul, as escolas secundárias reabriram para um novo ano letivo, mas apenas com professores e estudantes do sexo masculino.

A generalização da interdição do ensino às mulheres seria questão de tempo. A 20 de dezembro de 2022, foi proibido o acesso às universidades. Apenas as escolas primárias continuaram a ter estudantes do sexo feminino, uma cedência controversa num país tribal e conservador como é o Afeganistão.

Em junho passado, quase 80 meninas foram hospitalizadas na sequência de casos de envenenamento em duas escolas primárias do norte do país. Em causa estão raparigas nascidas já este século sem conhecimento nem memória do que é viver sob domínio talibã e andar invisível debaixo de uma burca.

Para muitas delas, agora sem direito a educação formal, resta correr riscos e procurar conhecimento em centros de aprendizagem clandestinos — ou então sair do país.

1424 candidaturas para vir para Portugal

É o que acontecerá a 50 universitárias afegãs que prosseguirão com os estudos em Portugal, ao abrigo de um programa que lhes garante uma bolsa com duração até três anos. “Recebemos 1424 candidaturas. Cada manifestação de interesse não é um número, é uma história, uma vida que está em causa”, explica ao Expresso Ana Santos Pinto, secretária-geral da Nexus 3.0, a organização não governamental (ONG) na origem do programa.

“A vida destas raparigas não parou, está fechada dentro de casa. Algumas delas continuam a ler e a procurar conhecimento, dentro dos limites que a casa e o regime lhes impõe. Isso é uma demonstração de resiliência e de esperança de que podem ter um futuro”, explica Santos Pinto.

Um primeiro grupo de 25 afegãs chegará a tempo de frequentar o ano letivo 2023/24. As restantes virão no próximo. “Bem sei que 25 é um número limitado, mas é aquilo que sabemos que conseguimos fazer com eficácia”, garante a responsável.

Todas as raparigas frequentavam universidades quando os talibãs as encurralaram dentro de casa. Em Portugal, tirarão o curso que escolherem, dentro das vagas disponibilizadas pelas instituições de ensino superior aderentes.

Duas rondas de entrevistas

“Elas candidatam-se àquilo que querem de acordo com uma listagem”, explica a fundadora da Nexus 3.0, realçando a recetividade “muito positiva” de universidades e politécnicos.

“Consoante as vagas que cada instituição disponibilizar, serão feitas duas rondas de entrevistas: uma mais pessoal, do ponto de vista da candidata, do seu percurso, das condições que dispõe e daquilo que já fez; e depois a própria instituição terá os seus critérios, do ponto de vista de exames e de provas de conhecimento.”

Desse trabalho cruzado entre as disponibilidades da academia portuguesa e os interesses pessoais das afegãs resultará a escolha dos 50 nomes. Selecionadas as estudantes, seguir-se-á uma etapa sensível.

Neste momento, a esmagadora maioria das candidatas está no Afeganistão. Outras já foram forçadas a sair do país e estão em países vizinhos, como o Paquistão e o Irão, “muito poucas ainda com o estatuto de proteção internacional”, diz a professora universitária.

As que estão no país terão de arranjar forma segura para atravessar a fronteira. “O primado é, naturalmente, a segurança destas raparigas. Temos de o fazer de uma forma o mais discreta possível, porque não se trata só da segurança delas, mas de toda a sua família”, que fica para trás.

“Estas raparigas nasceram após 2001”, o ano do 11 de Setembro, da subsequente invasão militar do Afeganistão e da deposição do primeiro governo talibã, punido por ter dado guarida à Al-Qaeda de Osama bin Laden.

“O que elas conhecem do país é um processo de presença internacional, dentro do qual houve uma abertura à educação, ao desenvolvimento de capacidades, uma esperança de construção de um futuro. E, subitamente, todo o planeamento de vida, tudo aquilo que imaginaram deixou de ser possível. As expectativas destas raparigas deixaram de poder ser concretizadas neste contexto”, diz Ana Santos Pinto.

“Os últimos 20 anos criaram uma noção de possibilidades diferentes daquela que existia há 40. Nas candidaturas, todas elas usaram a expressão ‘poder continuar aquilo que eu estava a fazer”, prossegue. Segundo a UNESCO, se em 2001 cerca de 5000 afegãs frequentavam o ensino superior, em 2021 esse número era de 100 mil.

CRONOLOGIA DE UM DESASTRE HUMANO

  • 19.09.2021 — Escolas secundárias reabrem só com professores e alunos do sexo masculino. Escolas femininas ficam encerradas indefinidamente.
  • 20.12.2022 — Mulheres são proibidas de frequentar as universidades.
  • 06.06.2023 — Talibãs dão 40 dias às ONG internacionais para transferirem as suas operações relativas à educação para organizações locais.

Este programa da Nexus 3.0 — organização fundada em 2022, por três mulheres, focada na promoção da educação, ciência, artes e cultura em contextos de fragilidade, violência e conflito — é também uma resposta a duas posições recentes da Assembleia da República.

  1. A 10 de fevereiro último, um projeto de resolução recomendou ao Governo que avaliasse com urgência a criação de um estatuto de estudante específico para refugiadas impedidas de frequentar o ensino superior, tendo como prioridade as afegãs. Apresentado pelo Livre, foi aprovado com votos favoráveis de todas as bancadas e abstenção do partido Chega.
  2. A 10 de março seguinte, outra resolução recomenda ao Governo que “incentive as instituições de ensino superior a implementarem programas de acolhimento e apoio a estudantes, investigadores e professores, provenientes do Afeganistão, que sejam impedidos de estudar, estejam em risco ou forçados à deslocação”. De iniciativa do PAN, foi aprovada por unanimidade.

“Não se pode apregoar a igualdade de género e não se tentar fazer alguma coisa quando no Afeganistão ocorre uma discriminação absoluta, um verdadeiro apartheid de género”, diz Ana Santos Pinto.

A expressão, que condensa a impossibilidade de exercício de direitos por razão de género, é usada atualmente pelas Nações Unidas para qualificar o tratamento dos talibãs às mulheres. “Com este nível de proibição absoluta não me ocorre outro exemplo” de regime político ao qual se possa aplicar este rótulo, diz a professora de Relações Internacionais.

CRONOLOGIA DO CERCO TALIBÃ ÀS MULHERES

  • 26.12.2021 — Proibição das mulheres viajarem a mais de 72 km sem a companhia de “um familiar masculino próximo”.
  • 07.05.2022 — Obrigatoriedade de as mulheres se cobrirem totalmente em público, incluindo o rosto. Doze dias depois, a medida é aplicada também às apresentadoras de televisão.
  • 10.11.2022 — Mulheres proibidas de usar banhos comunitários, ginásios e parques públicos.
  • 24.12.2022 — Proibição das mulheres trabalhar em organizações não governamentais. Cinco dias depois, os talibãs acedem a que continuem a trabalhar em ONG do sector da saúde.
  • 04.04.2023 — Afegãs proibidas de trabalhar para as Nações Unidas. A 5 de maio, o secretário-geral António Guterres anunciou que as operações da organização continuam no país, apesar das mulheres não poderem trabalhar para a ONU e ONG.
  • 05.07.2023 — Interdita a entrada em salões de beleza femininos, a quem é dado um mês para fecharem portas.

Outra frente do programa destinada a “criar capacidade no Afeganistão” será o ensino online. “Neste momento, o que as raparigas têm no Afeganistão para contactar com o exterior — seja da sua casa, seja do país — é essencialmente um telemóvel com acesso à Internet. É irregular e instável, mas existe. Gostaríamos de providenciar cursos de ensino superior com recurso ao online. Permitir-nos-ia chegar a mais raparigas”, diz a responsável.

Para garantir o financiamento do projeto, a Nexus 3.0 — que já coordena um programa de bolsas para refugiados oriundos da Ucrânia — bateu a várias portas, garantindo verbas públicas e comunitárias, bem como apoio de instituições particulares de solidariedade social (IPSS) e mecenas.

As bolsas estão garantidas, faltando ainda uma verba complementar, a ser angariada por recolha privada, para custear despesas com viagens e alojamento, a necessidade de equipamentos informáticos ou de uma consulta num dentista, por exemplo. Nesta ligação é disponibilizada informação sobre como contribuir.

“Independentemente da sua área científica, todas as raparigas que submeteram candidatura têm o desejo de transformar o contexto das mulheres no Afeganistão”, conclui Ana Santos Pinto, que participou no processo de análise das propostas. “Para elas, é aquilo que, obviamente, é mais sensível.”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 22 de agosto de 2023. Pode ser consultado aqui

Há dois anos no poder, Governo talibã afirma-se pelo “apartheid de género”

Os radicais privaram as mulheres de trabalhar e de frequentar estabelecimentos de ensino. Determinadas em seguir com a vida que tinham, 50 universitárias afegãs virão estudar para Portugal

Mulher coberta por uma burqa, no Afeganistão DIRK HAAS / FLICKR AFGHANISTAN MATTERS

O regresso dos talibãs ao poder no Afeganistão, fez na terça-feira dois anos, reativou um conceito da Ciência Política que não se aplica, de forma tão absoluta, a nenhum outro regime político — “apartheid de género”. O termo, que remete para uma situação de discriminação sistemática e institucionalizada das mulheres, é hoje usado pelas Nações Unidas para rotular o Governo dos radicais.

Primeiro, baniram as mulheres de balneários, ginásios e parques públicos. Depois, deixaram cair a guilhotina sobre os sonhos de milhares de jovens, proibindo-as de frequentar a universidade e de exercer uma profissão (exceção feita ao sector da saúde). Sucessivos decretos foram encurralando as afegãs em casa. A 5 de julho passado, os talibãs deram um mês a todos os salões de beleza femininos para fechar portas.

Com as vidas interrompidas, e remetidas ao desígnio medieval de cuidar da casa e ter filhos em exclusivo, muitas estão recetivas a seguir em frente noutro país. É neste contexto que chegarão a Portugal 50 estudantes universitárias afegãs (25 já este ano letivo), no âmbito de um programa de atribuição de bolsas da Nexus 3.0, uma organização não governamental fundada em 2022 por três mulheres portuguesas.

Recomeçar em Portugal

“Não se pode apregoar a igualdade de género e não se tentar fazer alguma coisa quando, neste momento, no Afeganistão, ocorre uma discriminação absoluta e um verdadeiro apartheid de género”, diz ao Expresso Ana Santos Pinto, secretária-geral da organização.

A esmagadora maioria das jovens que irá beneficiar das bolsas estão no Afeganistão, onde frequentavam os mais variados cursos. Em Portugal, estudarão o que escolherem, mediante as vagas disponibilizadas por universidades e politécnicos de todo o país. “A vida destas raparigas não parou, antes está fechada dentro de casa”, continua Ana Santos Pinto. “Algumas delas tentam continuar ativas, leem e procuram conhecimento, dentro dos limites que a casa e o regime impõem. É uma demonstração de resiliência e de esperança.”

Ao todo, a Nexus 3.0 recebeu 1424 candidaturas. Esta procura revela que “fugir” do país continua a ser a prioridade para muitos afegãos. Nas travessias do Mediterrâneo, onde muitos migrantes arriscam a vida para tentar chegar à Europa, os afegãos continuam a ser dos contingentes mais numerosos. Em finais de 2022, 52% do total mundial de refugiados eram sírios, ucranianos e afegãos.

O regresso ao poder retirou os talibãs das trincheiras da resistência armada, que tanto sangue derramou durante a presença militar internacional. Mas não pacificou o país. “O Afeganistão está mais seguro do que estava nos anos da presença dos EUA e da NATO. Mas os talibãs têm sido incapazes de passarem de força rebelde para força governamental”, diz ao Expresso Agostino Bono, analista no International Team for the Study of Security Verona.

Alternativa chamada Daesh

A queda em desgraça do Governo do Presidente Ashraf Ghani, que fugiu do país no dia em que os talibãs entraram em Cabul sem a mínima resistência, impulsionou grupos terroristas no Afeganistão e no Paquistão. “O grupo que mais beneficiou foi o Estado Islâmico — Província Khorasan [Daesh-K], estabelecido em 2014, que combate os talibãs e assume-se como uma alternativa ao seu Emirado Islâmico”, acrescenta Bono.

Um ataque revelador desta inimizade ocorreu a 8 de junho, durante o funeral de um político talibã, morto num ataque suicida. Uma explosão dentro da mesquita onde decorria o ritual, na província de Badakhshan (norte), provocou 19 mortos. O Daesh-K reivindicou o ataque ao funeral e a execução do político.

“O Afeganistão nunca terá segurança enquanto o Daesh-K estiver ativo na região”, prevê o investigador. “O Daesh-K, que no passado tinha como principal alvo os hazaras [minoria xiita], agora visa interesses estrangeiros. Em finais de 2022, atacou as embaixadas russa e paquistanesa e um hotel chinês. A estratégia visa desacreditar o Emirado perante a população e a comunidade internacional.”

Outra potencial fonte de instabilidade decorre das divisões entre talibãs. Em linha de choque estão a ala dura, representada pelo líder supremo, Mawlawi Hibatullah Akhundzada, instalado em Kandahar (local de nascimento do movimento talibã, no sul), e outra mais pragmática, protagonizada pela liderança do Governo em Cabul. Em teoria, os últimos, ditos moderados, estão dispostos ao diálogo com o Ocidente e a abrir as escolas às raparigas. Atualmente, os conservadores levam a melhor.

Artigo publicado no “Expresso”, a 18 de agosto de 2023, e no “Expresso Online”, no mesmo dia. Pode ser consultado aqui e aqui

17 respostas para 2023: da guerra na Ucrânia aos protestos na China e no Irão, passando por epidemias e acordos globais

Podemos prever o futuro? Provavelmente não, tal como não escapamos a apostar no desenvolvimento dos temas que acompanhamos ao longo do ano. Aqui ficam as respostas da equipa do Internacional às perguntas que colocaram por si, leitor

1 A Guerra na Ucrânia vai acabar?
Sem vontade de procurar uma solução diplomática, a guerra só pode terminar no terreno com uma conquista suficientemente esmagadora (ou, no caso da Ucrânia, uma reconquista) que obrigue o outro lado a capitular ou a aceitar negociações de paz. O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, diz que a paz pressupõe que a Rússia entregue a Kiev todos os territórios anexados desde 2014, o que é pouco realista. Do lado russo continuam os ultimatos e ameaças. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, disse que a Ucrânia tem de completar o processo de “desnazificação e desmilitarização”, ou “o assunto será resolvido pelo exército russo”.

2 A próxima COP (28) conseguirá um acordo de redução dos combustíveis fósseis?
O elefante no meio da sala das conferências globais das Nações Unidas para o Clima permanece a ausência de acordo para a redução das emissões de gases com efeito de estufa de modo a impedir que o aumento da temperatura média do planeta ultrapasse os 1,5º, o que já é uma irrealidade em si. A vitória da COP27 foi o reconhecimento das “perdas e danos” e “falar-se” em indemnizações para os países mais prejudicados pelas ondas de calor prolongadas, secas agudas prolongadas, subida do nível da água do mar, acidificação dos oceanos, incêndios selvagens, inundações bíblicas e extinção de espécies no chamado Sul global. O lóbi dos combustíveis fósseis não perdeu ainda terreno.

3 Lula da Silva vai governar o Brasil à esquerda?
O homem que, pela terceira vez, toma posse como Presidente a 1 de janeiro tem de privilegiar as políticas sociais e ambientais para cumprir as promessas feitas na campanha eleitoral. O grande desafio do novo Governo é conseguir atribuir verbas para a Cultura, Educação, Saúde e Ambiente – sobretudo no combate ao desmatamento da Amazónia – e manter o equilíbrio das contas públicas para evitar uma escalada inflacionista. A resposta executiva passa, em boa parte, pelo trabalho dos futuros titulares da pasta da Fazenda, Fernando Haddad, e da pasta do Planeamento, Simone Tebet.

4 Cyril Ramaphosa é destituído da presidência da África do Sul?
Em 13 de dezembro, Cyril Ramaphosa sobreviveu a um voto de destituição na Assembleia Nacional pedido pelos partidos da oposição. O Presidente da República e do ANC, que sucedeu a Jacob Zuma após escândalos de corrupção sem precedentes e captura do Estado, prometeu voltar a pôr o país nos eixos. Porém viu-se envolvido num processo cujas acusações combate ainda em tribunal, o qual pode vir a acusar Ramaphosa de “má conduta e violação da Constituição”. Ainda que tenha vencido até agora, o ANC, tem perdido eleitores em cada eleição desde 1994. Por enquanto, Ramaphosa conta com o apoio do ANC para limpar o seu nome sem perder a credibilidade política. Até quando, se 2023 é ano de eleições gerais?

5 Como vai acabar a revolta no Irão?
Os protestos já contam mais de 100 dias e as imagens que nos chegam do Irão mostram que as pessoas continuam a acorrer às ruas apesar dos castigos aplicados serem cada vez mais severos. Pelo menos 506 pessoas já perderam a vida e outras 40 aguardam execução, segundo uma investigação da CNN. Sem liderança coesa e com este nível de repressão, tortura, prisão e morte é pouco provável que a liderança dos aiatolas venha a ser derrubada, porém os iranianos dizem que algumas mudanças já são visíveis nas ruas. Um exemplo é a recusa de muitas mulheres em usar o lenço sobre os cabelos.

6 O regime chinês vai ceder aos protestos?
Semanas depois de o Presidente Xi Jinping assumir um terceiro mandato na liderança do Partido Comunista da China emergiram protestos em várias cidades do país contra a política de ‘zero casos’ de covid-19. Foram a maior demonstração pública de descontentamento desde o massacre de Tiananmen em 1989. A ida à rua parece ter resultado. Várias medidas foram relaxadas no seu seguimento e demonstrou a capacidade da população em manifestar-se apesar da censura existente no país. No entanto, é incerto quais são as políticas estatais que podem vir a gerar oposição com esta capacidade de mobilização.

7 As pandemias e vírus assustadores vieram para ficar?
O risco de novas epidemias é certo e os especialistas alertam os Estados para que tenham respostas enérgicas. Tal como os tsunamis, a covid-19 convenceu da necessidade de sistemas de alerta que permitam detetar os problemas de forma a controlá-los. Antes da Sars-cov-2, a década de 1980 conheceu a sida. Porém, foi “a partir do ano 2000 que se assistiu a uma série de acontecimentos que traduzir a emergência inesperada de fenómenos epidémicos de natureza zoonótica”, como lembra Francisco George, ex-diretor-geral de Saúde de 2005 a 2017, referindo-se a doenças que têm origem em agentes infecciosos que têm animais como reservatório.

8 Erdogan perde a presidência da Turquia?
É possível. Porém não se sabe ainda se é provável, uma vez que a oposição, grande parte dela unida com o único propósito de derrotar Erdogan, ainda não apresentou candidato. As sondagens, contra um opositor desconhecido, dão ao incumbente cerca de 34% das intenções de voto, o mesmo valor atribuído ao seu partido, Justiça e Desenvolvimento (AKP), nas eleições parlamentares, também em 2023, o ano do centenário do país. Não chega para a vitória. O declínio da economia vai ser o tema principal da campanha. Resta saber a quem vai o povo atribuir a culpa.

9 A Itália de Giorgia Meloni vai continuar nas boas graças de Bruxelas?
Giorgia Meloni – líder do partido de extrema-direita Irmãos de Itália – foi eleita primeira-ministra de Itália em setembro. A postura de euroceticismo gerou preocupação, porém Meloni tem procurado acalmar a esfera internacional assumindo um discurso mais moderado. Perante o Parlamento repudiou o fascismo e mostrou oposição a “qualquer forma de racismo”; em viagem a Bruxelas afirmou querer uma defesa dos interesses nacionais “dentro da dimensão Europeia”. A reação foi positiva, com a Presidente da Comissão Europeia a agradecer Meloni pelo “forte sinal” ao escolher Bruxelas como a primeira viagem enquanto líder do governo italiano.

10 A Índia vai continuar a comprar petróleo à Rússia?
É provável. A Rússia tornou-se o principal fornecedor de petróleo da Índia em novembro, com importações a chegarem aos 908 mil barris por dia. As declarações de figuras do governo indiano não sugerem mudanças de rumo. Em dezembro, o ministro dos Negócios Estrangeiros deu a entender que se a Europa pode priorizar as suas necessidades energéticas, não deve pedir à Índia para nao priorizar as suas também. Em outubro, a Assembleia Geral das Nações Unidas votou numa resolução a condenar os referendos ilegais de anexação realizados pela Rússia em territórios da Ucrânia. A Índia foi um dos 35 países a absterem-se.

11 O regime talibã vai ser reconhecido internacionalmente?
Não é de esperar. Os talibãs estão há mais de um ano no poder, o tempo suficiente para que algum país os reconhecesse como governo legítimo. Na década de 1990, quando governaram pela primeira vez, foram reconhecidos por Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Paquistão. Decisões como a recente proibição do acesso das mulheres afegãs às universidades tornam embaraçoso o reconhecimento do regime. A medida foi criticada de forma generalizada, inclusive por países muçulmanos: a Arábia Saudita expressou “espanto e desapontamento” e a Turquia considerou a decisão “nem islâmica nem humana”.

12 O conflito no Nagorno-Karabakh voltará a escalar?
É inevitável. Não há um processo de paz digno desse nome neste conflito que opõe dois países tornados independentes após o desmembramento da União Soviética: a cristã Arménia e o muçulmano Azerbaijão. De um lado e do outro, há apoios importantes que conferem a este conflito, que se arrasta desde finais da década de 1980, uma dimensão geopolítica: a Rússia apoia os arménios e a Turquia os azeris. Esta disputa pelo enclave de Nagorno-Karabakh, no sul do Cáucaso, que oscila entre períodos de guerra aberta e outros de tensão latente, ressente-se muito do estado da relação entre estes dois países.

13 O embargo dos EUA a Cuba vai terminar?
Não é provável, ainda que as razões que sustentam o bloqueio económico à ilha sejam cada vez mais indefensáveis. O embargo dura há décadas basicamente por uma questão de política interna dos EUA. É ponto de honra da imensa comunidade cubana que vive na Florida, que odeia o regime cubano e que, a cada ato eleitoral, vota em função da posição dos partidos / candidatos em relação a Cuba. A eleição de Joe Biden, que não venceu na Florida, prova que o voto cubano não é imprescindível. A nível internacional, os EUA estão praticamente isolados nesta questão: na ONU apenas Israel vota ao seu lado.

14 Ron DeSantis vai entrar na corrida presidencial?
É muito possível. A menos de dois anos das presidenciais de 2024, ele é visto como o republicano melhor posicionado para bater o pé a Donald Trump, que já anunciou que irá disputar as primárias do partido do elefante. O potencial de Ron DeSantis decorre da reeleição como governador da Florida, em novembro, derrotando o candidato democrata com quase 60% dos votos. Entre os republicanos, também o antigo vice-presidente de Trump, Mike Pence, dá cada vez mais sinais de querer aventurar-se na corrida à Casa Branca: lançou um livro e tem-se desdobrado em viagens pelo país, discursos e entrevistas.

15 Isabel dos Santos pode ir parar à prisão?
Desde que a investigação do Luanda Leaks começou a ser divulgada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, no início de 2020, a filha do antigo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, tem confiado nos melhores escritórios de advogados dos vários países europeus onde os negócios que ali fazia se transformaram em problemas. Autoridades de Portugal e da Holanda arrastaram contas bancárias, imobiliário e participações em empresas e, mais recentemente, o Supremo Tribunal de Angola autorizou o arresto preventivo dos bens da empresária Isabel dos Santos no valor de mil milhões de dólares, a pedido do Ministério Público. As múltiplas camadas usadas nos negócios ainda a protegem, porém, o cerco aperta-se.

16 A China vai invadir Taiwan?
A China afirma que Taiwan é “uma questão interna” e “a primeira linha vermelha que não deve ser cruzada” nas relações com os Estados Unidos. A aliança internacional que os EUA e a União Europeia mostraram contra a Rússia pode levar a China a ser mais cautelosa nos passos para uma reunificação com Taiwan, mas as tensões têm-se vindo a agravar e mantêm-se os receios de um escalar da situação. No Congresso do Partido Comunista da China, o líder Xi Jinping afirmou que o objetivo é uma reunificação pacífica ainda que o país não renuncie ao uso da força. Em outubro, o almirante americano Mike Gilday alertou que pode ocorrer uma invasão até 2024.

17 Irá Donald Trump ser acusado formalmente pelo Departamento de Justiça norte-americano?
Há vários indicadores nesse sentido, sim. Porém o caso é muito sensível uma vez que Trump já apresentou a candidatura à Casa Branca e levá-lo a tribunal poderia ser considerado um ato desenhado especificamente para o impedir de voltar à presidência, e provocar uma divisão ainda maior no país. No entanto, o homem que neste momento dirige as investigações, Jack Smith, já enviou diversas intimações para depor a várias pessoas que estiveram em contacto com Trump durante as suas tentativas para interferir com o resultado das presidenciais de 2020.

Texto escrito com Ana França, Cristina Peres, Manuela Goucha Soares e Salomé Fernandes.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 29 de dezembro de 2022. Pode ser consultado aqui e aqui

Um convidado caro aos talibãs

O líder da Al-Qaeda foi morto por um drone dos EUA, em Cabul. Os tiros atingiram também o regime talibã

Nos últimos anos, alguns dos maiores êxitos dos Presidentes dos Estados Unidos em matéria de política externa passaram pela eliminação de terroristas com influência global. A 2 de maio de 2011, Barack Obama anunciou a morte do inimigo público nº 1 da América, o então líder da Al-Qaida, Osama bin Laden, que dirigiu os atentados de 11 de Setembro de 2001. “É a conquista mais significativa, até à data, no esforço da nossa nação para derrotar a Al-Qaida.”

A 27 de outubro de 2019, Donald Trump congratulou-se com a eliminação de Abu Bakr al-Baghdadi, chefe do autodenominado “Estado Islâmico” (Daesh), que dominou com grande crueldade parte significativa do Iraque e da Síria. “Morreu como um cão, como um covarde. O mundo é agora um lugar muito mais seguro.”

Esta semana, Joe Biden adicionou à lista dos troféus Ayman al-Zawahiri, antigo líder da Jihad Islâmica Egípcia, que esteve com Bin Laden na fundação da Al-Qaida (“A Base”) em 1988, foi cérebro dos atentados em Washington e Nova Iorque e sucedeu a Bin Laden à frente da organização. “Foi feita justiça e esse terrorista já não existe.”

Varanda indiscreta

Ao contrário de Bin Laden e Al-Baghadi, que morreram durante operações especiais americanas no Paquistão e na Síria, respetivamente, Al-Zawahiri foi liquidado no Afeganistão por um drone da Força Aérea dos Estados Unidos operado pela CIA. Eram 6h18 de 30 de julho quando dois mísseis foram disparados na direção do homem, de 71 anos, que estava à varanda de casa. Esse hábito frequente facilitou a observação de quem já o tinha debaixo de olho e a confirmação da sua identidade.

O terrorista não estava escondido numa qualquer gruta remota, mas numa moradia do bairro de Sherpur, em Cabul, perto de edifícios onde, até há um ano, funcionavam embaixadas ocidentais. Segundo o jornal “The New York Times”, “vivia numa casa que era propriedade de um dos principais assessores de Sirajuddin Haqqani, ministro do Interior dos talibãs e membro da rede terrorista Haqqani [radical], com ligações próximas à Al-Qaida”. Há anos que o FBI promete uma recompensa de mais de 10 milhões de dólares (€9,8 milhões) por informações que levassem diretamente à sua captura.

Fundos podem não descongelar

A presença do líder da Al-Qaida no Afeganistão expôs um duplo embaraço. Os talibãs — que se comprometeram no Acordo de Doha, assinado com os Estados Unidos em 2020, a não mais dar guarida à Al-Qaida — carecem de argumentos convincentes para justificar a presença de Al-Zawahiri na capital. E os próprios Estados Unidos viram reabrir-se o debate sobre a caótica e até humilhante retirada militar do Afeganistão, perante a constatação de que 20 anos de guerra não destruí­ram a aliança entre a Al-Qaida e os talibãs afegãos.

Mas é pelo lado afegão que a corda parte. Este caso “terá impacto na relação entre Estados Unidos e talibãs”, comenta ao Expresso Ibraheem Bahiss, analista do International Crisis Group (ICG) para o Afeganistão. “Os talibãs terão dificuldade em dar respostas. Porque estava Al-Zawahiri em Cabul? Porque lhe deram abrigo? Ou porque não quiseram ou não puderam tomar medidas contra ele? Pelo menos no curto prazo isto irá limitar a capacidade e os esforços diplomáticos relativos à prestação de assistência humanitária e ao descongelamento de ativos.”

“Os talibãs terão dificuldade em dar respostas. Porque estava Ayman al-Zawahiri em Cabul? Deram-lhe abrigo? Tomaram medidas contra ele?”

Nos dias que antecederam a execução de Al-Zawahiri, a Administração Biden e os talibãs estavam em conversações para encontrar forma de o Governo afegão aceder às reservas do Banco Central do país depositadas nos Estados Unidos. Washington congelou fundos no valor de sete mil milhões de dólares (€6850 milhões) após a tomada do poder pelos talibãs, a 15 de agosto de 2021.

Esse diálogo, no Catar, foi acelerado pela pandemia, o impacto da guerra na Ucrânia e, sobretudo, por um forte sismo que, a 22 de junho passado, matou mais de mil pessoas. “Os dois lados estavam perto de um acordo”, diz Bahiss. Mas este caso “torna muito mais difícil para os americanos libertarem fundos diretamente para os talibãs ou para um mecanismo em que estes tenham controlo sobre essas reservas”.

Numa primeira reação ao ataque, os talibãs disseram apenas tratar-se de uma “clara violação” dos princípios internacionais e do pacto de Doha. Quarta-feira, em declarações à televisão afegã Tolo News, Abdul Salam Hanafi, segundo vice-primeiro-ministro do país, acrescentou: “A política do Emirado Islâmico, que tem sido repetidamente comunicada ao povo, é de que o nosso solo não pode ser usado contra os nossos vizinhos.”

Saem os EUA, entra Al-Zawahiri

O analista do ICG descodifica a retórica de Cabul. “Os talibãs poderão contra-argumentar que estão a tomar medidas contra grupos radicais para lhes restringir a liberdade. Se defenderem que trouxeram Al-Zawahiri para Cabul para algum tipo de prisão domiciliária ou outra forma de controlar os seus movimentos e as suas ações, poderão dizer que os Estados Unidos violaram o Acordo de Doha, enquanto eles tomaram medidas para impedir o líder da Al-Qaida de amea­çar a segurança dos Estados Unidos e dos seus aliados.”

O percurso de Al-Zawahiri desde o 11 de Setembro não é rastreável com exatidão. Pensa-se que, desde o início do século, tenha vivido na fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. “Os nossos serviços de informações localizaram-no no início deste ano. Tinha-se mudado para o centro de Cabul para se juntar a membros da sua família direta”, disse Biden na comunicação ao país.

O que fazia no Afeganistão e o que planeava fazer pelo mundo poderá não ser fácil de reconstituir. A operação dos SEAL da Marinha americana que surpreendeu Bin Laden numa moradia de Abbottabad permitiu recolher muito material, mas o mesmo não se aplica ao tipo de ataque que matou Al-Zawahiri.

Se se mudou para Cabul após a retirada americana, acentua-se o embaraço de Biden, que, à época, respondeu assim aos críticos: “Que interesse temos no Afeganistão, agora que a Al-Qaida se foi? Fomos para lá com o objetivo expresso de nos livrarmos da Al-Qaida no Afeganistão. E conseguimos.” Até Al-Zawahiri assomar a uma varanda de Cabul.

AL-QAEDA: MORRER OU RENASCER?

A 11 de agosto de 1988, uma reunião em Peshawar (Paquistão) entre Osama bin Laden, Ayman al-Zawahiri e Sayyed Imam Al-Sharif (Dr. Fadl) criou a Al-Qaeda. O saudita Bin Laden era o garante de uma riqueza infinita, o egípcio Al-Zawahiri personificava a crença inabalável no radicalismo islâmico e o intelectual e também egípcio Fadl a base filosófica da jihad. Os dois primeiros estão mortos e o último não é opção para lhes suceder na liderança da organização. Em 2007, renunciou à violência e distanciou-se do jiadismo global. O nome de que se fala para assumir o comando da Al-Qaeda é o de Seif al-Adel. Este egípcio de mais de 60 anos tem ficha aberta no FBI, que o procura por envolvimento nos atentados de 7 de agosto de 1998 contra as embaixadas dos Estados Unidos na Tanzânia e no Quénia. “Se a Al-Qaeda escolher alguém que esteja fora do Afeganistão, a longo prazo isso pode desviar o foco desse país”, defende Ibraheem Bahiss, analista do International Crisis Group. “A Al-Qaeda tem uma presença muito pequena no Afeganistão, dezenas ou centenas de pessoas no máximo. Em territórios africanos, como a Somália, tem uma presença muito maior.” E conclui: “Dependendo de quem for escolhido para liderar a Al-Qaeda, não é necessariamente um golpe fatal para a organização. A Al-Qaeda não é desafiada hoje da mesma forma que já o foi pelo Daesh. E pode usar a vitória dos talibãs no Afeganistão para se promover e recuperar da perda que sofreu.”

(FOTO O saudita Osama bin Laden e o egípcio Ayman al-Zawahiri, a cúpula da Al-Qaeda, durante uma entrevista com o jornalista paquistanês Hamid Mir, publicada no jornal paquistanês “Dawn”, a 10 de novembro de 2001. Hamid Mir é o único jornalista que entrevistou Bin Laden após o 11 de Setembro HAMID MIR / EDITOR / AUSAF NEWSPAPER FOR DAILY DAWN / HANDOUT VIA REUTERS)

Artigo publicado no “Expresso”, a 5 de agosto de 2022. Pode ser consultado aqui

ONU estabelece relações formais com o Governo talibã do Afeganistão

Uma resolução aprovada no Conselho de Segurança das Nações Unidas garante a continuidade da missão de assistência da ONU em território afegão. Não se cumpriram os receios de que a Rússia pudesse usar o direito de veto, em retaliação pelas sanções que enfrenta devido à invasão da Ucrânia

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, esta quinta-feira, por larga maioria, uma resolução que formaliza a futura relação entre a organização e as autoridades talibãs do Afeganistão.

O documento, proposto pela Noruega, “redesenha as relações do organismo global com Cabul para corresponder à tomada do poder pelos talibãs, no ano pasado”, escreve a emissora Al-Jazeera, do Catar.

A Resolução 2626 garante também a continuidade das Nações Unidas em território afegão, ao prorrogar por um ano o mandato da Missão de Assistência das Nações Unidas ao Afeganistão (UNAMA), até 17 de março de 2023.

“Esta resolução envia uma mensagem clara de que o Conselho de Segurança está firmemente por trás do apoio contínuo da ONU ao povo afegão, que enfrenta desafios e incertezas sem precedentes”, regozijou-se a missão da Noruega na ONU, num post publicado no Twitter.

Os receios de que a Rússia poderia usar o seu poder de veto — por ser um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança —, em retaliação pelas pesadas sanções que enfrenta devido à invasão da Ucrânia, não se confirmaram. Dos 15 votos, 14 foram favoráveis à resoluão e só um país, precisamente a Rússia, se absteve.

Esta posição da ONU constitui o primeiro reconhecimento diplomático internacional do Governo talibã. Apesar de delegações do grupo extremista religioso já terem sido recebidas em vários países, até ao momento nenhum país estabeleceu relações diplomáticas, a nível bilateral, com o novo Governo de Cabul.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 17 de março de 2022. Pode ser consultado aqui