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Como Guterres foi parar à capa da “Time”

A revista “Time” acompanhou o secretário-geral da ONU num périplo pelo Pacífico onde há países que, face às alterações climática, lutam para não serem engolidos pelo mar. Na capa, António Guterres surge em pose dramática, com a água do Pacífico já pelos joelhos. Mas a mensagem é de esperança: “Os países mais atingidos pelas alterações climáticas estão a lutar — e a obter resultados”, diz a “Time”. E Guterres tem sido um grande aliado

As alterações climáticas não se compadecem com as hesitações políticas dos governantes do mundo e vão desbravando o planeta com violência. Aos poucos, há países que estão, literalmente, a desaparecer do mapa. É a eles que a revista “Time” dedica o tema principal da sua mais recente edição.

Na capa, António Guterres surge na pele de um cidadão de Tuvalu, um dos territórios mais ameaçados pela subida dos oceanos. Com a água do mar pelos joelhos e o rosto carregado, o secretário-geral das Nações Unidas coloca-se na posição dramática que, mais cedo ou mais tarde, afetará qualquer habitante à face da Terra.

“O que tentamos dizer ao mundo é que quando nós nos afundarmos, todas as cidades se afundarão também”, alerta Tuilaepa Malielegaol, primeiro-ministro da Samoa, outro país vulnerável à subida do nível da água do mar.

No artigo da “Time”, Guterres poderia ser também um habitante da aldeia de Vunidogoloa, nas Ilhas Fiji. Outrora uma comunidade com mais de 100 pessoas, a aldeia de Vunidogoloa foi tomada pelo avanço da floresta tropical e das águas salgadas do Pacífico. A vida tornou-se impossível e, há cinco anos, o Governo das Fiji construiu uma cidade nova mais acima na colina. Foi a primeira comunidade nas Fiji a ser relocalizada por causa das alterações climáticas, mas outras 40 já estão sinalizadas e deverão mudar de sítio nos próximos anos. “Penso nas alterações climáticas todos os dias”, diz à reportagem da “Time” o primeiro-ministro Frank Bainimarama.

Em maio passado, António Guterres testemunhou pessoalmente o drama de quatro países do Pacífico Sul durante um périplo que o levou à Nova Zelândia, Ilhas Fiji, Vanuatu e Tuvalu, onde foi feita a fotografia da capa da “Time”. Não foi uma simples visita.

O português tem em mãos a organização de uma Cimeira pela Ação Climática, prevista para setembro, em Nova Iorque, que reunirá chefes de Estado, homens de negócios e líderes da sociedade civil. Com ela, Guterres pretende dar palco às nações mais vulneráveis e levar os países desenvolvidos a comprometerem-se com metas mais ambiciosas, nomeadamente ao nível da redução das emissões de dióxido de carbono.

“Guterres está a trabalhar no sentido de posicionar as pequenas nações insulares não só como o centro político do debate, mas também como o centro moral”, diz a “Time”.

Os pequenos países têm-se mexido com sucesso no sentido de pôr este assunto no mapa político. Articulados, contribuíram para dar forma ao Acordo de Paris de 2015 e para a elaboração de um importante relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, que enfatiza a urgência em limitar o aquecimento do planeta a 1.5º C até 2100.

Podemos ficar sentados a observar, questiona a “Time”

“O relatório chamou mais a atenção do que até a aprovação do próprio Acordo de Paris”, escreve a “Time”, “e inspirou o empurrão para um Green New Deal (Novo Acordo Verde) nos Estados Unidos bem como novos e mais agressivos planos climáticos num punhado de outros países”.

“O sucesso destes países resulta numa grande lição: nenhuma nação pode resolver sozinha um problema tão complexo como as alterações climáticas, mas juntas as nações podem fazer a diferença”, conclui a “Time”. “Podemos ficar sentados a observar as pequenas ilhas do Pacífico a desaparecerem — mas quem acham que será atingido a seguir?”

António Guterres — um entusiasta confesso do multilateralismo — está ativamente empenhado em contrariar essa letargia. É esse o reconhecimento que a “Time” lhe faz.

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As preocupações (e as imagens) de António Guterres durante a viagem que o colocou na capa da “Time”

Fotogaleria: A viagem de António Guterres ao Pacífico Sul

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 14 de junho de 2019. Pode ser consultado aqui

Irão submerso

Chuvas torrenciais e inundações “saudaram” a entrada do Irão num novo ano. A intempérie já fez pelo menos 42 mortos. Há duas semanas que o país vive em alerta constante

Vista aérea de áreas alagadas, na província de Golestão, no norte ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES
Carros arrastados pela água e totalmente destruídos, na cidade de Shiraz, a capital da província de Fars (sudoeste) TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Militares iranianos ajudam a resgatar civis de zonas inundadas, perto da cidade de Ahvaz, província de Cuzestão (ocidente) MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES
Uma família tenta atravessar uma rua alagada, numa aldeia perto de Ahvaz MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES
As ruas quase que desapareceram na cidade de Agh Ghaleh, no norte do Irão ALI DEHGHAN / AFP / GETTY IMAGES
Homens empurram um carro, tentando que ele pegue, na cidade de Shiraz TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Onde antes havia um jardim, há agora um lago, junto à casa deste casal MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES
Uma mulher emerge por entre tendas montadas num estádio da província de Golestão para abrigar quem ficou sem casa TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Túnel inundado por lama e lixo, na cidade de Shiraz TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS

Uma pilha de carros, numa estrada de Shiraz AMIN BERENJKAR / AFP / GETTY IMAGES

Um casal apoia-se no momento de atravessar uma rua que mais parece um rio, nos arredores de Ahvaz MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES

Em Agh Ghaleh, as ruas transformaram-se em riachos ALI DEHGHAN / AFP / GETTY IMAGES

Três homens tentam escoar a água e assim proteger os seus pertences TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Um buraco no solo engole a água das chuvas e arrasta um carro, em Shiraz TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS

Enquanto o carro não volta a ser opção, os iranianos recorrem a barcos TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS

Água a perder de vista, um pouco por todo o Irão ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 2 de abril de 2019. Pode ser consultado aqui

Cidades alagadas, aldeias isoladas, gente em cima de telhados. Depois de Moçambique, a intempérie atingiu o Irão

O Irão está debaixo de água há duas semanas. Das 31 províncias, 25 foram afetadas por chuvas torrenciais e inundações. As operações de socorro são dificultadas pela intempérie e também pelo bloqueio económico à República Islâmica, alerta Teerão

Há imagens a chegar do Irão que se confundem com o rasto de morte e destruição deixado pelo ciclone Idai em Moçambique. Extensas áreas alagadas, povoações isoladas, destruição generalizada e pessoas com água pela cintura ou encurraladas em cima dos telhados.

No Irão, o novo ano (Nowruz) — que nasceu a 21 de março — tem decorrido sob o signo de chuvas torrenciais, que fizeram transbordar rios e barragens e provocaram pelo menos 42 mortos. Segundo a agência noticiosa iraniana IRNA, a intempérie já afetou 25 das 31 províncias iranianas.

O Líder Supremo, “ayatollah” Ali Khamenei, colocou as Forças Armadas em missão de socorro às populações. Do exterior, a assistência é condicionada pelas inimizades políticas e pelas sanções que visam a República Islâmica.

Na segunda-feira, no Twitter, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif, investiu contra o Presidente dos Estados Unidos, responsabilizando-o por dificuldades sentidas no socorro “às comunidades devastadas por inundações sem precedentes. Os equipamentos bloqueados incluem helicópteros de socorro: isto não é apenas guerra económica; é TERRORISMO económico”.

Ainda assim, há ajuda a chegar da Europa. Na segunda-feira, o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros anunciou o envio de 40 barcos e de equipamento de segurança — uma ajuda que será dada pela Cruz Vermelha alemã ao Crescente Vermelho iraniano.

Igualmente, a Cruz Vermelha britânica diz aguardar apenas que Teerão lhe faça chegar a lista de necessidades e de equipamento em falta para corresponder.

Numa primeira fase, que começou a 19 de março, o mau tempo atingiu o nordeste do país, contagiando depois outras regiões. A 25 de março, Lars Nordrum, embaixador norueguês em Teerão, escrevia no Twitter: “Imagens terríveis de morte e destruição causadas por inundações em várias partes do Irão”.

Presentemente, as áreas mais críticas são o ocidente e sudoeste do país, em especial a província do Lorestão. Na segunda-feira, as autoridades de Teerão ordenaram a evacuação de várias cidades.

“Os telefones não estão a funcionar, as comunicações via rádio estão em baixo”, dizia o diretor provincial do Crescente Vermelho iraniano, Sarem Rezaee. “Pedimos ajuda de emergência a províncias vizinhas, mas até ao momento ninguém pode fazer nada.” Com o aeroporto de Khorramabad — a principal cidade de Lorestão — alagado e o mau tempo contínuo, a assistência aérea fica praticamente impossibilitada.

FOTOGALERIA

Vista aérea de áreas alagadas, na província de Golestão, no norte ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES
Carros arrastados pela água e totalmente destruídos, na cidade de Shiraz, a capital da província de Fars (sudoeste) TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Militares iranianos ajudam a resgatar civis de zonas inundadas, perto da cidade de Ahvaz, província de Cuzestão (ocidente) MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES
Uma família tenta atravessar uma rua alagada, numa aldeia perto de Ahvaz MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES
As ruas quase que desapareceram na cidade de Agh Ghaleh, no norte do Irão ALI DEHGHAN / AFP / GETTY IMAGES
Homens empurram um carro, tentando que ele pegue, na cidade de Shiraz TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Onde antes havia um jardim, há agora um lago, junto à casa deste casal MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES
Uma mulher emerge por entre tendas montadas num estádio da província de Golestão para abrigar quem ficou sem casa TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Túnel inundado por lama e lixo, na cidade de Shiraz TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS

Uma pilha de carros, numa estrada de Shiraz Amin Berenjkar / Afp / Getty Images

Um casal apoia-se no momento de atravessar uma rua que mais parece um rio, nos arredores de Ahvaz MEHDI PEDRAMKHOO / AFP / GETTY IMAGES

Em Agh Ghaleh, as ruas transformaram-se em riachos Ali Dehghan / Afp / Getty Images

Três homens tentam escoar a água e assim proteger os seus pertences TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS
Um buraco no solo engole a água das chuvas e arrasta um carro, em Shiraz TASNIM NEWS AGENCY / REUTERS

Enquanto o carro não volta a ser opção, os iranianos recorrem a barcos Tasnim News Agency / Reuters

Água a perder de vista, um pouco por todo o Irão ANADOLU AGENCY / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 2 de abril de 2019. Pode ser consultado aqui

“É um dia de apocalipse. Cheguei a lembrar-me do terramoto de Lisboa de 1755”

Os incêndios na Grécia apanharam uma funcionária da Embaixada da Grécia em Lisboa de férias em Atenas. Margarita Adamou diz que as imagens que vê nas televisões gregas recordam-lhe os fogos do ano passado em Portugal

A Grécia celebra, esta terça-feira, o Dia da Democracia, que assinala a queda da ditadura já lá vão exatamente 44 anos. Mas a festa foi substituída pelo anúncio de três dias de luto nacional. “Não vai haver celebrações, não vai haver nada”, diz ao Expresso Margarita Adamou, a partir de Atenas. “Toda a gente está colada às televisões e às rádios”, a acompanhar aquela que está na iminência de se tornar a maior tragédia grega em matéria de fogos florestais.

Os incêndios apanharam Margarita de férias no seu país natal. “De férias é uma forma de expressão. Este é um dia trágico para a Grécia e sobretudo para a capital”, diz esta funcionária na Embaixada da Grécia em Portugal.

“Desde a minha casa, no centro de Atenas, durante a noite, podia ver o fogo na região de Kineta, a parte ocidental de Atenas. Na parte oriental, onde o balanço foi muito mais trágico, não conseguia ver porque há uma montanha no meio. Mas toda a capital está envolta numa fuligem amarela, às vezes mais escura. É um dia de apocalipse.”

A grega refere que, no seu país, o clima favorece os incêndios, frequentes no verão. “Mas desta vez, os ventos muito fortes tornaram tudo mais difícil, tornaram impossível a atuação dos meios aéreos. A dimensão desta tragédia é única.”

Margarita trabalha, desde setembro, no gabinete de imprensa da Embaixada da Grécia em Portugal — onde a comunidade grega ronda as 300 pessoas. “Ainda não estava em Lisboa em junho, aquando dos incêndios na zona de Pedrógão Grande, mas já vivi em Portugal os fogos de outubro. O que vejo na televisão grega lembra-me muito as imagens trágicas que via todos os dias nas televisões portuguesas. Muitas viaturas carbonizadas, muita gente a correr, sobretudo na direção das praias. Cheguei a lembrar-me do terramoto de Lisboa de 1755 quando toda a gente fugiu na direção do Tejo para se salvar e depois aconteceu o tsunami e muita gente morreu afogada.”

Na memória dos gregos, 2007 é, até ao momento, o “annus horribilis” em matéria de fogos florestais, com 84 pessoas mortas entre junho e setembro. 2018 está em vias de lhe tomar o lugar. “Eu acho que o número de mortos vai ser superior a 100”, lamenta a grega. “Há muitos desaparecidos.”

Artigo publicado no Expresso Online, a 24 de julho de 2018. Pode ser consultado aqui

Quinze imagens que nos mostram um planeta tão belo quanto maltratado

Uma nova campanha ambiental recorre a fotos dramáticas para alertar para os efeitos catastróficos da intervenção direta do Homem sobre o planeta. Do lixo no mar aos cemitérios de tecnologia, a Terra está esgotada e tem cada vez menos condições para acomodar uma população que não para de crescer. “Estamos a pedir muito ao planeta”, diz ao “Expresso” um dos dinamizadores da campanha Global Population Speak Out

A cada hora que passa, há 9000 novos habitantes na Terra. Previsivelmente, ao longo da vida, grande parte destas pessoas não passará sem um portátil, um tablet e/ou smartphone, que irá substituindo por modelos mais sofisticados com cada vez mais frequência.

“Se os dispositivos tecnológicos servirem como instrumentos de marketing para a economia de consumo — ou seja, se os utilizadores estiverem expostos a propagandas implacáveis que os instam a comprar produtos que não são realmente necessários para a sua prosperidade —, isso conduzirá ao aumento da extração de recursos naturais”, alerta ao “Expresso” Joseph Bish, da organização Population Media Center, promotora da campanha ambiental Global Population Speak Out.

Posta de pé por cientistas, académicos, líderes de opinião, ambientalistas e cidadãos comuns preocupados, esta campanha coloca ênfase nas consequências nefastas para o planeta da intervenção direta do ser humano.

“Recentemente, um estudo [da Universidade de Yale, EUA] revelou que 40% dos adultos em todo o mundo nunca ouviram falar de alterações climáticas”, diz Joseph Bish. “Com base nas taxas de extinção globais, habitats destruídos, alterações químicas dos oceanos e do céu, alterações climáticas, toxicidade e poluição do ambiente, é claro que nós estamos a pedir muito ao planeta.”

Peça central nesta campanha de sensibilização ambiental, o livro “Over Development, Over Population, Over Shoot” — que pode ser folheado gratuitamente aqui — reproduz mais de 170 fotografias que testemunham a destruição generalizada de ecossistemas terrestres, marítimos e aéreos. Os organizadores esperam com estas imagens dramáticas contribuir para alterar mentalidades e hábitos.

“Há muitas formas de mudar regras e comportamentos sociais”, diz Joseph Bish. “O ensino primário e secundário é a mais importante. Também há estratégias como a educação-espetáculo (“entertainment-education”), um método já testado de envolvimento de públicos, introdução de novas ideias e capacitação de pessoas para que tomem melhores decisões com base em mais informação e no incentivo à auto-avaliação e discussão. Estas novas dinâmicas sociais criam condições para mudanças duradouras na sociedade.” O programa infantil “Rua Sésamo” será, porventura, o mais famoso da técnica de educação-espetáculo.

Ao longo de 316 páginas, o livro alerta para fenómenos como o sobrepovoamento das cidades, a produção alimentar intensiva, a sobreexploração de recursos, altos níveis de poluição, caça ilegal, deflorestação, consumo tecnológico desenfreado.

Conclui Joseph Bish: “Nós temos a expectativa de que o nosso planeta forneça espaço, comida e abrigo, facilmente e de forma automática, aos novos habitantes e àqueles que já cá estão — ainda que maltratando terrivelmente a natureza e as espécies com quem coabitamos”.

MAR DE LIXO — O surfista indonésio Dede Surinaya apanha uma onda carregada de lixo na baía de Java, a ilha mais povoada do mundo. “Água e ar, os dois fluidos fundamentais de que depende toda a vida, tornaram-se caixotes de lixo globais.” (Jacques-Yves Cousteau, oceanógrafo francês) ZAK NOYLE / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
DEGELO QUE MATA — Um urso sucumbiu, sem ter o que caçar perante a falta de gelo nos fiordes de Svalbard, Noruega. “A situação no Ártico assemelha-se a uma bola de neve: perigosas mudanças no Ártico decorrentes da acumulação antropogénica de gases com efeito de estufa levaram a mais atividades que conduziram a mais emissões de gases com efeito de estufa. Esta situação tem o ímpeto de um comboio desgovernado.” (Carlos Duarte, ecologista espanhol especializado no impacto das alterações climáticas nos oceanos) ASHLEY COOPER / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
ILHAS SUBMERSAS — Um dos Estados mais vulneráveis às alterações climáticas, o arquipélago das Maldivas está gravemente ameaçado pela subida do nível do mar. Outro país afetado pelo fenómeno é o Tuvalu. “A ilha está cheia de buracos e a água do mar está a preenche-los, inundando áreas que não estavam submersas há 10 ou 15 anos.Temos projeções para daqui a 50 anos. Depois disso, vamos afogar.” (Paani Laupepa, ex-assessor no Ministério dos Recursos Naturais do Tuvalu) PETER ESSICK / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
NUVEM DE POLUIÇÃO — No Bangladesh, chaminés de olarias rodeadas de lixo cospem fumo negro para a atmosfera. “Simplificando, se não redirecionamos os nossos sistemas de extração e produção e não mudarmos a forma como distribuímos, consumimos e dispomos das nossas coisas — aquilo a que por vezes chamo o modelo colher-fazer-desperdiçar —, a economia tal como ela existe matará o planeta.” (Annie Leonard, perita norte-americana em desenvolvimento sustentável) M.R. HASASN / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
FAUNA CONTAMINADA — Na ilha Midway, no Pacífico, longe dos grandes centros comerciais, a carcaça de um albatroz revela a ingestão de grande quantidade de plástico, acumulada nas praias. “É o mesmo o destino dos filhos dos homens e o destino dos animais; um mesmo fim os espera. Como a morte de um assim é a morte do outro. A ambos foi dado o mesmo sopro, e o homem não tem qualquer vantagem sobre o animal, pois tudo é ilusão.” (Bíblia, Eclesiastes 3:19) CHRIS JORDAN / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
CULTURA DE CONSUMO — No esgotado campo de exploração petrolífera de Kern River, no estado norte-americano da Califórnia, parece não haver espaço para mais “derricks”. “No mundo desenvolvido, a única solução para os problemas do mundo em desenvolvimento é exportar o mesmo modelo económico insustentável, alimentando o consumo excessivo do Ocidente.” (Kavita Ramdas, ativista indiana) MARK GAMBA / CORBIS / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
MARÉS NEGRAS — Mancha de crude em chamas, após a explosão, seguida de afundamento, em 2010, da plataforma de exploração petrolífera Deepwater Horizon, no Golfo do México. “Temos de compreender não só que cada área tem uma capacidade de carga limitada, como também que essa capacidade está a diminuir e a procura está a aumentar. Até esse entendimento ser parte intrínseca do nosso pensamento e exercer uma forte influência na formação de políticas nacionais e internacionais, dificilmente veremos em que direção o nosso destino vai.” (William Vogt, ecologista norte-americano) DANIEL BELTRA / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
PAISAGEM TÓXICA — Vista aérea sobre uma região fértil em areias betuminosas, em Alberta, Canadá, onde se veem lagoas de detritos decorrentes da extração mineira. “Todos os problemas ambientais atuais são consequências más e imprevisíveis da tecnologia de que dispomos. Não há forma de acreditar que a tecnologia vai milagrosamente parar de causar problemas novos e imprevistos ao mesmo tempo que vai resolver os problemas que criou anteriormente.” (Jared Diamond, cientista norte-americano) GARTH LENTZ / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
ÁGUA IMUNDAS — Um pastor chinês tapa o nariz com a mão, não aguentando o cheiro nauseabundo que vem do Rio Amarelo, na província da Mongólia Interior. LU GUANG / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
MAQUINARIA GIGANTE — Considerada a maior máquina móvel do mundo, a Bagger 288 desbrava terreno antes de se iniciar a extração de carvão, no complexo mineiro de Tagebau Hambach, Alemanha. “Ao longo da História, a exploração da Terra pelo Homem produziu esta progressão: colonização – destruição – abandono.” (Garrett Hardin, ecologista norte-americano) ACHIM BLUM / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
CIDADES SEM FIM — Casas a perder de vista, nas colinas da Cidade do México, uma das megacidades mundiais. Com uma população superior a 20 milhões de pessoas, a capital mexicana tem uma densidade de 63.700 pessoas por quilómetro quadrado. “Infraestruturas públicas em todo o mundo estão a enfrentar uma pressão sem precedentes, com furacões, ciclones, inundações e incêndios florestais com crescente frequência e intensidade. É fácil imaginar um futuro em que cada vez mais cidades terão as suas frágeis e negligenciadas infraestruturas golpeadas por desastres e depois serão deixadas a apodrecer, sem os seus serviços centrais reparados ou reabilitados.” (Naomi Klein, ativista canadiana) PABLO LOPEZ LUZ / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
AGRICULTURA INTENSIVA — Estufas cobrem a paisagem de Almeria, Espanha. “Somos escravos no sentido em que dependemos, para a nossa sobrevivência diária, de um império agro-industrial que ou se expande ou acaba — uma máquina louca — e que os especialistas não entendem e os gestores não conseguem gerir. E que, além disso, devora os recursos mundiais a um ritmo exponencial.” (Edward Abbey, escritor eco-anarquista norte-americano) YANN ARTHUS BERTRAND / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
ATERROS TECNOLÓGICOS — Toneladas de computadores obsoletos e destroços de outros equipamentos informáticos são enviados por barco do primeiro mundo para países subdesenvolvidos, para triagem ou para serem destruídos. A fotografia mostra uma lixeira em Acra, a capital do Gana. “Mesmo como local de eliminação de resíduos, o mundo é finito.” (William R. Catton Jr., sociólogo norte-americano) PETER ESSICK / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
FLORESTAS DECAPITADAS — Troncos de árvores nivelados quase pela base denunciam o local de uma antiga mata, na Floresta Nacional Willamette, no Oregon, Estados Unidos. “Não compreendo porque quando nós destruímos algo que criamos falamos de vandalismo, mas quando destruímos algo criado pela natureza chamamos progresso.” (Ed Begley Jr., ator e ambientalista norte-americano) DANIEL DANCER / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT
CAÇA ILEGAL — Carcaça de um elefante abatido por caçadores furtivos, no norte do Quénia. “Hoje, existem menos de 3500 tigres pantera na natureza, o que corresponde a menos de 7% da sua extensão histórica. Com os tigres, testemunhamos o trágico desaparecimento de um dos animais mais apreciados do planeta, nessa gama. Toda a população de uma vez.” (Elizabeth L. Bennett, zoóloga norte-americana) KRISTIAN SCHMIDT / WILD AID / GLOBAL POPULATION SPEAK OUT

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 4 de agosto de 2015, onde constam as 15 imagens, e republicado a 30 de novembro de 2015. Pode ser consultado aqui e aqui e aqui