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Regresso de Obama à política é um presente envenenado

Protagonismo do ex-Presidente adia renovação do Partido Democrata e ajuda Trump

Retrato oficial de Barack Obama, no seu primeiro mandato PETE SOUZA / WIKIMEDIA COMMONS

Barack Obama está de volta aos palcos da política americana. Trata-se de uma boa notícia para quem aprecia os dotes de tribuno do ex-Presidente (2009-2017) e a sua personalidade carismática, mas não é necessariamente tão boa para… o seu próprio partido. “Há uma urgência entre os democratas de prepararem uma estratégia forte e vencedora para travar a reeleição de Donald Trump em 2020. E ainda não se percebe que estratégia é essa”, comenta ao Expresso o analista de política americana Germano Almeida. “Por muitas saudades que quem gostava de Obama sinta dele, não é positivo que esse sentimento se prolongue com o próprio no grande palco. É preciso que surjam novas vozes democratas. E sempre que Obama fala está a atrasar esse processo de renovação.”

O 44º Presidente dos EUA retomou a atividade política no início de agosto, dando apoio público às candidaturas de 81 democratas, de 13 estados, às eleições para o Congresso de 6 de novembro (ver caixa). “Confio que, juntos, possam fortalecer este país que amamos, recuperando oportunidades, consertando as nossas alianças e posicionando-nos no mundo, e preservando o nosso compromisso fundamental com a justiça, a responsabilidade e o estado de direito. Mas, primeiro, precisam dos nossos votos.” Está prevista uma segunda leva de apoios para mais tarde.

A reentrada foi confirmada sábado passado, com um discurso na Universidade de Illinois, onde Obama se referiu aos “tempos extraordinários” e “perigosos” que vivemos. “Isto não começou com Trump. Ele é um sintoma, não a causa. Ele está apenas a capitalizar os ressentimentos que os políticos têm atiçado durante anos”, disse. “Mas a boa notícia é que dentro de dois meses teremos a oportunidade — não a certeza, mas a oportunidade — de restaurar alguma aparência de sanidade na nossa política.”

Após quase 20 meses de Trump na Casa Branca, “Obama está preocupado”, continua Almeida, autor de dois livros sobre o ex-Presidente (“Histórias da Casa Branca”, 2010 e “Por Dentro da Reeleição”, 2013). “Foi um Presidente singular em muitas coisas — pela sua cor e juventude, pela sua origem — e conseguiu ganhar. E foi também dos poucos presidentes com uma preocupação em relação à História norte-americana, ao legado, preocupação por estudar os seus antecessores. Tem a noção da gravidade que representa o facto de lhe ter sucedido Donald Trump”, de perfil empresarial, nada político nem intelectual, que ainda em 2015 produzia e apresentava um reality-show (“The Apprentice”).

Obama falava, Trump adormeceu

“Esta intervenção de Obama não tem que ver com ambições pessoais de voltar à grande cena política”, continua Almeida. “Não há uma tradição, na política norte-americana, de um ex-Presidente voltar a um cargo. Há uma limitação que vem do tempo de Franklin D. Roosevelt [que foi eleito quatro vezes], segundo a qual ex-Presidentes que tenham feito dois mandatos não voltam sequer a tentar ser reeleitos. A ambição de Obama não é essa. Mas há uma clara leitura da parte dele de que estes estranhos tempos ‘trumpianos’ são tão excecionais que talvez o forcem a ter uma intervenção na sociedade civil e na vida política maiores do que é normal num ex-Presidente.”

Às palavras de Obama na Universidade de Illinois — onde, pela primeira vez desde que deixou a Casa Branca, se referiu explicitamente a Trump —, o atual Presidente dos Estados Unidos, cuja principal característica parece ser ‘destruir tudo o que Obama construiu’, reagiu a contento dos fãs: “Eu vi [o discurso], mas adormeci”, disse no Dakota do Sul, durante uma ação de campanha de recolha de fundos visando a sua reeleição, em 2020.

“Trump explora bem os sentimentos mais primários da sua base ao ridicularizar e atribuir a Obama uma suposta intelectualização desligada do mundo real”, comenta Germano Almeida, que está a ultimar um livro sobre Donald Trump. Na cabeça do magnata, o mundo real é o seu.

Candidato ‘fora da caixa’

Trump ainda não cumpriu meio mandato, mas já anunciou a candidatura a um segundo. No campo democrata, o rosto que lidera as preferências às presidenciais de 2020 é o de Bernie Sanders, senador do Vermont que perdeu as últimas primárias para Hillary Clinton. “Os democratas têm um problema geracional”, defende Almeida. “Nas sondagens sobre quem irá ser o candidato democrata, a média de idades é assustadora, acima dos 70 anos. Em 2020, Sanders terá 79 anos. Joe Biden, que foi vice-presidente de Obama e surge em segundo lugar, terá 77. Em alguns estudos, Hillary Clinton aparece com algumas condições para ser candidata, mas por tudo o que aconteceu não vai tentar uma terceira vez”, palpita.

“Os democratas estão a ser vítimas do êxito dos anos Obama e do facto de Hillary ter sido herdeira dos anos Obama e Clinton. Duas grandes estrelas dominaram o partido nas últimas décadas: Obama e os Clintons. No dia 8 de novembro de 2016, ambas terminaram a sua carreira política: Obama por limitação de mandatos e Hillary pela derrota. E assim os democratas atrasaram a sua renovação.”

Escolher um candidato pode implicar, para os democratas, pensar ‘fora da caixa’. “Talvez não serem tão convencionais e clássicos. Os republicanos abriram essa caixa de Pandora ao nomearem alguém como Trump, sem passado político e que dizia mal dos políticos”, recorda o analista. No universo democrata, potenciais candidatos com um perfil mais empresarial são Howard Schultz, jubilado em junho da liderança da Starbucks, e o multimilionário Michael Bloomberg, autarca de Nova Iorque entre 2002 e 2013 (fez dois mandatos como republicano e o terceiro como independente).

O jornal britânico “The Times” escreveu esta semana que o antigo mayor quer concorrer pelo Partido Democrata (a que já pertenceu no passado) em 2020, quando tiver 78 anos. Há três meses, aplicou 80 milhões de dólares (69 milhões de euros) da sua fortuna pessoal na campanha de novembro, para tentar inverter a maioria republicana no Congresso — etapa crucial da estratégia democrata para recuperar a Casa Branca.

CONGRESSO: ‘A BATALHA DAS MIDTERMS’

A 6 de novembro, os americanos vão a votos nas midterms, assim chamadas por serem eleições para o Congresso a meio do mandato do Presidente. Em causa está a eleição dos 435 assentos da Câmara dos Representantes (câmara baixa) e de um terço do Senado (33 de 100 lugares da câmara alta). Hoje os republicanos são maioritários: 236 contra 193 democratas na Câmara (há seis lugares vagos) e 51 contra 49 no Senado. Na Câmara os democratas têm muito a ganhar, por serem minoritários, mas no Senado têm muito a perder: dos 33 lugares que vão a jogo, 25 estão ocupados por democratas e só oito por republicanos, havendo ainda eleições especiais para substituir um democrata e um republicano que se demitiram. Para os democratas capitalizarem no Senado têm de defender os seus 25 e conquistar alguns aos republicanos.

Artigo publicado no Expresso, a 15 de setembro de 2018 e republicado no “Expresso Online”, no mesmo dia. Pode ser consultado aqui

Obama não é Mandela

O ex-Presidente dos EUA é o orador convidado pela Fundação Mandela para proferir a conferência anual da instituição, este ano agendada para a véspera do 100.º aniversário de “Madiba”. Mas a escolha de Obama está a motivar críticas

Nas vésperas de viajar até Portugal — onde a 6 de julho dará uma conferência no Coliseu do Porto sobre alterações climáticas —, Barack Obama está confrontado com uma contestação pouco habitual.

O 44.º Presidente dos Estados Unidos — o primeiro negro a ocupar a Casa Branca — é o orador convidado pela Fundação Mandela para proferir a sua palestra anual, agendada para 17 de julho, em Joanesburgo. A escolha de Obama para homenagear “Madiba”, como é carinhosamente tratado pelos sul-africanos o líder da luta contra o “apartheid” falecido em 2013, não é, porém, consensual.

Numa carta aberta endereçada à Fundação Mandela, a organização CAGE Africa — que trabalha no sentido de reverter as narrativas da “guerra contra o terrorismo” que prevalecem no continente africano — apela a que seja “retirado o convite” a Barack Obama.

“Várias notícias e relatórios independentes, investigações criminais e processos em tribunal relacionaram Obama, enquanto comandante-chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos entre 2009 e 2017, com crimes de guerra, incluindo tortura, prisões arbitrárias e rendição, e execuções extrajudiciais através de indiscriminados ataques aéreos e com recurso a drones que provocaram a morte de milhares de civis inocentes, sobretudo muçulmanos, em nome do ‘combate ao terrorismo’”, lê-se na carta com data de 5 de junho.

“Isto é especialmente pertinente dado o legado de Nelson Mandela como um indivíduo que também foi, em tempos, designado de ‘terrorista’ e foi torturado e preso, e que agora é visto como uma das figuras proeminentes para a justiça em todo o mundo.” Nos EUA, o nome de Mandela apenas foi retirado da lista negra de terroristas em 2008 — 15 anos após receber o Nobel da Paz.

Erros e arrependimentos

Durante os oito anos de Barack Obama na Casa Branca, os Estados Unidos intervieram militarmente em pelo menos seis países. “Obama, ao contrário da sua imagem pacífica, realizou 10 vezes mais ataques com drones do que o seu antecessor [George W.] Bush, matando milhares de civis no Afeganistão, Iémen, Paquistão, Síria, Iraque e Somália durante o seu mandato presidencial.”

Em declarações à Al-Jazeera, o porta-voz da Fundação Mandela, Lunga Nene, disse que o ex-Presidente sul-africano tinha um “grande respeito” por Obama e que o próprio legado de Mandela tem sido objeto de contestação “particularmente por parte dos mais jovens”. Nene disse que a Fundação pediu a Obama que abordasse as suas reflexões pós-presidência “relativas a erros e arrependimentos”.

Tributo musical em Matosinhos

palestra da Fundação Mandela deste ano é a 16.ª desde o começo da iniciativa, em 2003, ano em que um antecessor de Obama, Bill Clinton, foi o orador convidado. A edição de 2018 é especial já que se realiza na véspera do 100.º aniversário do nascimento de “Madiba”, a 18 de julho de 1918.

Em Portugal, a efeméride será assinalada em Matosinhos, num tributo musical na Praia do Aterro. Entre 18 e 20 de julho, subirão ao palco Bob Geldof, Pablo Alborán, Kaiser Chiefs, Steven Tyler, Rui Veloso, Youssou N’Dour, entre muitos outros. E também o Soweto Gospel Choir.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 26 de junho de 2018. Pode ser consultado aqui

Obama despede-se com rituais judeus e cristãos

Homenagens póstumas e momentos de introspeção, no Museu do Holocausto e na Igreja da Natividade, marcaram o terceiro e último dia de Barack Obama em Israel e na Palestina. De lá, o Presidente dos EUA seguiu para a Jordânia

Obama ladeado por Benjamin Netanyahu e Shimon Peres, após prestar homenagem ao líder sionista Theodor Herzl, no Monte Herzl, em Jerusalém
Ainda no Monte Herzl, junto à campa do ex-primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin, onde depositou uma coroa de flores
Obama cumpre um ritual judaico de colocar uma pequena pedra sobre a sepultura, significando que o falecido não será esquecido
Visita ao Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém
Num momento de Recolhimento, no Hall da Recordação, no Museu do Holocausto
Barack Obama segura o livro que lhe foi oferecido pelo diretor do Yad Vashem, Avner Shalev
À conversa com o rabino Yisrael Meir Lau, durante a visita ao Museu do Holocausto
John Kerry, secretário de Estado norte-americano, no Hall dos Nomes do Museu do Holocausto
No interior da Igreja da Natividade, na cidade palestiniana de Belém
Encontro com o Patriarca grego ortodoxo Theophilos III, na Igreja da Natividade
Obama ladeado por Mahmud Abbas (Presidente da Autoridade Palestiniana) e Vera Baboun, presidente do município de Belém
Manifestantes em Belém pedem o congelamento dos colonatos judeus e o direito de retorno para os refugiados palestinianos
Tempestade de areia à volta do Air Force One, na pista do Aeroporto Ben Gurion, horas antes de Obama partir
Netanyahu e Peres despedem-se de Barack Obama
Obama partiu. Em Nablus (Cisjordânia), confrontos decorrentes de protestos contra o colonato de Qadomem mostram que o conflito continua vivo

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 22 de março de 2013. Pode ser consultado aqui

Protestos contra Presidente dos EUA chegam à Jordânia

Ao segundo dia de visita a Israel, Barack Obama deu um salto à Palestina e afirmou que os colonatos judeus são “contraproducentes”. Nesta fotogaleria, veja como o roteiro de Obama está a ser acompanhado por protestos

James Schneider, diretor do Museu de Israel, mostra a Obama e a Netanyahu os Manuscritos do Mar Morto, frangmentos da Bíblia Hebraica, alguns com 2400 anos
Polícias israelitas junto aos destroços de um foguete disparado desde o território palestiniano da Faixa de Gaza contra o sul de Israel
Yossi Haziza vê os estragos causados por um foguete disparado de Gaza no quintal de sua casa, na cidade israelita de Sderot
Protestos contra a visita de Obama, na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza
Obama e Netanyahu de visita a uma exposição de tecnologia israelita, no Museu de Israel, em Jerusalém
Dois robôs entregam bolachas aos ilustres visitantes
Obama cumprimenta a novaiorquina Theresa Hannigan, que usa equipamento médico de tecnologia israelita que lhe permite caminhar
Helicóptero de Obama sobrevoa Ramallah, na Cisjordânia, engalanada com bandeiras palestinianas para receber o Presidente dos EUA
Na Muqata (sede da presidência palestiniana), em Ramallah, fazem-se os últimos preparativos para receber Obama
Air Force One, acabado de aterrar no pátio da Muqata de Ramallah
Obama é recebido pelo Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas
Na conferência de imprensa conjunta, Obama apelou aos palestinianos que retomem as negociações diretas com Israel sem pré-condições
Encontro com crianças palestinianas, no Centro Juvenil Al-Bireh, em Ramallah
Encontro com crianças palestinianas, no Centro Juvenil Al-Bireh, em Ramallah
Boa disposição entre Obama e o primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana, Salam Fayad
Jovens palestinianos apresentam ao Presidente dos EUA projetos de tecnologia, no Centro Al-Bireh
Protestos em Ramallah. No cartaz, uma referência à questão dos refugiados: “Quero ver a aldeia do meu pai”, pede-se
Ativistas da organização ambientalista Greenpeace penduram um cartaz na Ponte das Cordas, à entrada de Jerusalém: “Obama: pára a perfuração no Ártico”
Obama faz um discurso sobre política no Centro de Convenções de Jerusalém, onde afirmou que a construção de colonatos é “contraproducente” à paz
A escutar Obama, algumas israelitas árabes. Cerca de 20% da população de Israel é de origem árabe
Confrontos na cidade palestiniana de Hebron: um jovem tenta atingir a polícia israelita com fogo de artifício
Polícia israelita, em cenário de batalha campal, em Hebron
Em Hebron, os confrontos entraram pela noite dentro
Shimon Peres foi o mestre de cerimónias do jantar em honra de Obama e condecorou-o com a Medalha Presidencial de Distinção, a mais alta condecoração civil israelita
Sexta-feira, Obama visita a Igreja da Natividade (que assinala o sítio onde nasceu Jesus), na cidade palestiniana de Belém. Aguardam-no mais protestos anti-Obama
Na sexta-feira, terminada a visita a Israel, Obama seguirá para a Jordânia. “Obama tu não és bem vindo”, lê-se neste cartaz, à porta da embaixada dos EUA em Amã

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 21 de março de 2013. Pode ser consultado aqui

A agenda de Obama em Israel e na Palestina

Barack Obama inicia hoje a primeira visita a Israel e à Palestina desde que é Presidente dos EUA. O périplo dura 51 horas e evita o Muro das Lamentações

QUARTA-FEIRA

O Air Force One que transporta Barack Obama aterra no Aeroporto Ben Gurion, em Telavive, cerca das 12h15 (10h15 em Lisboa). Obama tem a recebê-lo o Presidente israelita, Shimon Peres, e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O  secretário de Estado John Kerry acompanha-o. Michelle Obama ficou na Casa Branca. A primeira dama não gosta de viajar para o estrangeiro, deixando as filhas para trás, em tempo escolar.

Visita a uma bateria da Cúpula de ferro, colocada no aeroporto para este efeito. O programa da visita divulgado pela Casa Branca explica que a Cúpula de Ferro é um sistema defensivo anti-missil desenvolvido por Israel e produzido pelos EUA que “salvou incontáveis vidas israelitas” Segundo o “Times of Israel”, a Cúpula de Ferro intercetou 84% dos foguetes disparados desde a Faixa de Gaza, no último conflito, em novembro passado.

A bordo do helicóptero presidencial Marine One, Obama segue para Jerusalém. Pelas 16h (14h em Lisboa), é recebido por Shimon Peres na Beit Hanassi, a residência presidencial, e por 60 crianças, com bandeiras dos EUA e de Israel. Antes das reuniões de trabalho, Obama plantará uma árvore no jardim da residência. Em Jerusalém (e posteriormente em Ramallah), Obama desloca-se num Chevrolet blindado, conhecido como “A Besta”.

Pelas 17h30 (!5h30 em Lisboa), Obama encontra-se com Benjamin Netanyahu, para uma “maratona de conversações”, escreve o “Times of Israel”. Cinco horas estão, oficialmente, reservadas para este encontro bilateral. Netanyahu oferecerá a Obama um nano-chip de 0,04 milímetros quadrados com as Declarações de Independência dos EUA e de Israel, gravadas a uma profundidade de 0,00002 milímetros.

As conversações continuarão num jantar de trabalho preparado pelo chefe Shalom Kadosh, que já cozinhou para os Presidentes Jimmy Carter, Bill Clinton e George W. Bush. O menu inclui raviolis recheados com alcachofras de Jerusalém, sorvete de romã e toranja, filé de carne assada em especiarias aromáticas e uma seleção de legumes de primavera e figos e tâmaras caramelizados com amêndoas verdes. Obama pernoita no histórico Hotel Rei David.

QUINTA-FEIRA

Visita ao Museu de Israel, em Jerusalém, que está fechado ao público na quarta e quinta-feiras. Aqui, Obama apreciará os Manuscritos do Mar Morto, porções da Bíblia Hebraica, alguns dos quais com 2400 anos. Do passado para o futuro, Obama visita, de seguida, uma exposição sobre sete dos maiores contributos de Israel para a ciência e tecnologia.

Segue para Ramallah, no território palestiniano da Cisjordânia, para um almoço com o Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, uma reunião com o primeiro-ministro Salam Fayad e um encontro com jovens no Centro Juvenil de Al-Bireh.

De regresso a Jerusalém, Obama fará um discurso no Centro Internacional de Convenções. Bill Clinton, em 1994, e George W. Bush, em 2008, discursaram no Knesset (Parlamento).

Shimon Peres é o mestre de cerimónias do jantar em honra de Obama, que receberá a Medalha Presidencial de Distinção, a mais alta condecoração civil em Israel. O jantar não escapou à polémica. Chefes palestinianos reagiram com indignação ao saber que será servido humus e falalel e apresentados como “cozinha israelita”.

SEXTA-FEIRA

No Monte Herzl, Obama visita as campas do líder sionista Theodore Herzl e do ex-primeiro-ministro Yitzhak Rabin.

Segue-se a visita ao Museu do Holocausto Yad Vashem, onde Obama depositará uma coroa no Hall da Recordação, à semelhança do que fez em 2008 quando – era ele senador pelo Illinois e candidato democrata às Presidenciais – visitou Israel pela primeira vez.

Obama volta a entrar no território palestiniano da Cisjordânia para uma visita à Igreja da Natividade, em Belém, onde, segundo a tradição cristã, Jesus Cristo nasceu. O sítio foi incluído na Lista de Património da UNESCO em junho passado, após a organização ter aceite a Palestina como Estado membro de pleno direito.

Regresso ao Aeroporto Ben Gurion, onde cerca das 15h (13h em Lisboa), partirá de Israel em direção à Jordânia, onde se encontrará com o Rei Abdallah II e visitará Petra. A essa hora, no estádio Ramat Gan, em Telavive, já a seleção portuguesa de futebol está a disputar com a congénere israelita mais um jogo de apuramento para o Mundial de 2014, no Brasil.

Uma dúvida fica: Por que razão Barack Obama não vai visitar o Muro das Lamentações? O “Times of Israel” aponta duas razões. A primeira prende-se com o facto da comunidade internacional não reconhecer a anexação de Jerusalém Leste (onde fica o Muro) por parte de Israel, em 1967. Visitar o local, sob os auspícios de Israel, desencadearia uma controvérsia diplomática que Obama quer evitar, como Clinton e W. Bush o fizeram.

Quanto à segunda razão: “Quando da sua última visita ao local mais sagrado do Judaismo, em 2008, e após colocar uma mensagem numa das fendas do Muro, repórteres israelitas curiosos tiraram o papel e publicaram o que lá estava escrito, provocando um pequeno escândalo”.

A mensagem dizia: “Senhor, protege-me a mim e à minha família. Perdoa os meus pecados e ajuda-me a proteger-me contra o orgulho e o desespero. Dá-me a sabedoria para fazer o que é certo e justo. E faz de mim um instrumento da tua vontade”.

Então, Obama foi vaiado por locais que lhe gritavam: “Obama, Jerusalém é a nossa terra! Obama, Jerusalém não está à venda!”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 20 de março de 2013. Pode ser consultado aqui