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Já ouviu falar em cidades irmãs? Em Portugal há mais de 200 municípios com ‘família’ lá fora

Há centenas de localidades portuguesas que têm acordos de geminação com localidades estrangeiras. A relação assenta numa vontade mútua de se conhecerem, em características comuns, afinidades históricas e até na partilha do mesmo nome. Este 2:59 leva-nos num passeio por Portugal e pelo mundo. 2:59 JORNALISMO DE DADOS PARA EXPLICAR O PAÍS

A covid-19 levou muitos portugueses a optar por férias cá dentro. De norte a sul, no continente e ilhas, não faltam destinos ricos em património, gastronomia e também em curiosidades na forma como algumas terras se relacionam com o estrangeiro.

Vamos até ao Algarve…

Desde 2004 que Vila do Bispo tem um acordo de geminação com Cabo Canaveral, nos Estados Unidos. É ali que fica o Centro Espacial John F. Kennedy, de onde partiu a histórica Apollo 11 a caminho do primeiro passeio lunar. Na base desta relação está a vontade comum de homenagear a busca pelo desconhecido: os Descobrimentos Portugueses, simbolizados na mítica Escola de Sagres, e as Descobertas Espaciais.

Subamos no mapa…

Sintra e Honolulu, no Hawai, são municípios irmãos há mais de duas décadas. Une-os em especial a vontade de desenvolver relações desportivas, ou não estivessem ambas junto ao mar e com boas ondas para a prática do surf.

A vizinha Cascais tem acordos com 12 localidades estrangeiras. Entre elas Gaza, na Palestina. Cascais virada para o Atlântico, Gaza para o Mediterrâneo. Talvez as semelhanças fiquem por aqui…

Seguindo ainda mais para Norte…

Belmonte é dos principais testemunhos da presença judaica em Portugal. Não estranha por isso a geminação com Rosh Pina, em Israel.

Os acordos de geminação popularizaram-se após a II Guerra Mundial para promover a amizade e a paz. Mas o primeiro registo de emparelhamento entre cidades data do século IX.

Hoje há 125 redes de incentivo a este tipo de colaboração. Mas por vezes surgem tensões. Em maio passado, Castelo Branco foi pressionado a solidarizar-se com a comunidade LGBT da cidade irmã de Pulawi, na Polónia, que se tinha declarado “zona livre de pessoas LGBT”.

Estes casos são exceção, em relações que se espera que sejam pautadas por intercâmbios de experiências, conhecimento e aprofundamento de afinidades.

Entre o Funchal e Montreux, que têm um enorme potencial de cooperação nos festivais de jazz que organizam.

Entre o Porto e Bordéus, que partilham uma tradição vinícola há mais de 40 anos.

Entre Angra do Heroísmo e Cartagena das Índias, irmanadas pelo papel que tiveram na Rota das Índias.

Em Portugal, há pelo menos 22 freguesias e 239 municípios geminados com localidades estrangeiras de 62 países.

A campeã é Coimbra, com 23, nomeadamente três cidades que têm universidades das mais antigas do mundo: Fez, Salamanca e Pádua.

O país com mais acordos deste género é França. E o município estrangeiro com mais “irmãs” portuguesas é o Tarrafal, em Cabo Verde.

A busca de pontes é, por vezes, levada demasiado à letra.

Na região do Vale do Sousa, Penafiel tem um protocolo de geminação com… Peñafiel, em Espanha.

No distrito do Porto, Gondomar é geminada com o município galego de… Gondomar.

E no Algarve, a cidade de Lagos tem acordos de cooperação com
não um,
não dois,
não três,
mas quatro municípios estrangeiros chamados… Lagos.

Episódio gravado por Pedro Cordeiro.

(IMAGEM Início da lista de “Geminações de Cidades e Vilas”, da Associação Nacional de Municípios Portugueses ANMP)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 1 de outubro de 2020. Pode ser consultado aqui

Há boas cidades para se viver. E há as melhores

Pegue-se em 140 cidades de todo o mundo, passe-se-as pelo crivo de cinco critérios, estabeleça-se uma pontuação e… eis a lista das melhores cidades para se viver. Uma conceituada publicação internacional voltou a fazer este exercício anual — e tanto o lugar da vencedora como o de várias outras não é assim tão óbvio, incluindo o de Lisboa. 2:59 JORNALISMO DE DADOS PARA EXPLICAR O PAÍS

Nova Iorque, Paris, Londres ou Tóquio.

São cidades modernas que inspiram músicas, aparecem em filmes e são facilmente reconhecidas como as grandes capitais do mundo. Muitos de nós sonham visitá-las e, quem sabe, um dia lá morar. Mas terão estes ícones urbanos a qualidade de vida que projetamos? E é lá que se vive melhor?

O último ranking da Economist Intelligence Unit pegou em 140 cidades e avaliou-as mediante cinco critérios: estabilidade, educação, cuidados de saúde, cultura & ambiente e infraestruturas.

A cidade vencedora é surpreendente. Mas já lá vamos…

Olhando agora para o lote das melhores classificadas, constatamos que há três cidades australianas, três canadianas e duas japonesas.

E em 10º lugar, ficou Adelaide, na Austrália, logo seguida da dinamarquesa Copenhaga. Depois, Tóquio, a capital do Japão, e duas cidades canadianas, Toronto e Vancouver.

Em 5º lugar, ficou a cidade da ópera ao pé da baía, Sidney. E em 4º, a canadiana Calgary.

Mas antes de subirmos ao pódio, vejamos algumas curiosidades.

Todas estas cidades tiveram pontuação máxima no índice da educação.

Ao nível dos cuidados de saúde, só Copenhaga ficou abaixo dos 100 pontos.

Já no capítulo cultura & ambiente, apenas Vancouver conseguiu a pontuação máxima.

Descubramos então quais são as cidades que melhores condições reúnem para se viver.

A medalha de bronze foi atribuída a… Osaka. Nos guias turísticos, a cidade japonesa cativa por ter um dos melhores aquários do mundo, pelo seu castelo e templos budistas e também pelo bairro de Dotonbori, repleto de lojas, restaurantes e néons. Este estudo realça uma melhoria ao nível da qualidade e quantidade de transportes públicos e um declínio consistente nas taxas do crime. Osaka só fica aquém ao nível das infraestruturas e no capítulo da cultura e ambiente.

Subamos um degrau no pódio. E no segundo posto, surge a australiana Melbourne. Durante sete anos consecutivos, a cidade com quase 5 milhões de habitantes, que pode ser observada do topo da Torre Eureka, vinha sendo a líder incontestada deste ranking. Só que em 2018, foi especialmente penalizada no critério estabilidade.

É então chegado o momento de revelar quem arrecadou o título de melhor cidade para se viver. E parabéns… Viena.

A capital da Áustria é um reconhecido centro de música erudita que seduz também pelas suas belezas arquitetónicas ou por aprazíveis espaços de lazer como o Prater, onde se situa o parque de diversões mais antigo do mundo.

Entre as 140 cidades avaliadas, também está Lisboa. A capital portuguesa aparece muito longe dos primeiros lugares, mas ainda assim na primeira metade da lista. Curiosamente, à frente de cidades como Roma e Nova Iorque.

Episódio gravado por Cristina Pombo.

(FOTO A famosa Roda Gigante, no parque do Prater, é um dos ícones de Viena WIENER RIESENRAD)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 21 de fevereiro de 2019. Pode ser consultado aqui

E a melhor cidade do mundo para se viver é… (e a pior?)

Pela primeira vez, uma cidade europeia foi considerada a melhor do mundo para se viver, obtendo pontuação máxima ao nível de cuidados de saúde, qualidade da educação e infraestruturas. Em 140 cidades, Lisboa surge depois do primeiro terço da tabela… mas ainda assim à frente da “capital do mundo”

Durante sete anos, Melbourne reinou na tabela anual da Economist Intelligence Unit como “a melhor cidade do mundo para se viver”. Na lista deste ano, divulgada esta terça-feira, a cidade australiana caiu para segundo lugar, destronada por Viena.

As duas cidades obtêm pontuação máxima nos índices “saúde”, “educação” e “infraestruturas”. A cidade australiana tem melhor registo no capítulo “cultura e ambiente”, apesar da autoridade vienense em matéria de música clássica. Mas o que faz a diferença — e dá a vitória final à capital austríaca — é a “estabilidade”. No total, Viena somou 99,1 pontos, num total de 100, e Melbourne ficou-se nos 98,4.

Pela primeira vez, este índice anual de 140 cidades, reconhecido internacionalmente como uma ferramenta credível de apoio a investidores, é liderado por uma cidade europeia. Segundo os autores do estudo, a liderança de Viena reflete “um relativo regresso à estabilidade em grande parte da Europa”, com uma melhoria dos índices de segurança em várias cidades da Europa Ocidental.

Penalizadas anteriormente por terem sido palcos de atentados terroristas, Paris (19º) e Manchester (35º) foram as cidades que mais recuperaram no ranking. “Apesar de terem sido alvo de ataques terroristas de grande repercussão nos últimos anos, que abalaram a estabilidade e levaram a medidas de segurança incómodas, ambas as cidades mostraram resiliência perante a adversidade”, diz o relatório.

Numa evolução inversa, San Juan, em Porto Rico, atingida em cheio, no ano passado, pelo mortífero furacão Maria, caiu 21 lugares, para a posição 89.

Entre os “dez mais”, para além de Viena, o Velho Continente regista apenas mais uma presença: Copenhaga, a capital dinamarquesa, no 9º lugar. A inevitável Londres, que, como o comprova o incidente desta terça-feira, em Westminster, continua a ser fustigada por ameaças à segurança, não vai além do 48º lugar.

No tradicional duelo espanhol, Barcelona (30º) leva a melhor sobre Madrid (39º). Ao nível das cidades portuguesas, Lisboa surge sem companhia, no 54º posto, um lugar antes de Roma.

O Japão é o país ascendente, com duas entradas diretas no top-10, graças a um declínio nas taxas de crime e a uma melhoria da qualidade dos transportes públicos em Osaca e Tóquio. Já Nova Zelândia, Finlândia e Alemanha perderam o seu representante entre os melhores — Auckland, Helsínquia e Hamburgo, respetivamente.

No território da maior economia do mundo — os Estados Unidos —, a cidade com melhor registo é… Honolulu (23º), no Havai. A cosmopolita Nova Iorque surge apenas no 57º lugar, depois de 13 outras metrópoles norte-americanas.

Ásia e África contribuem abundantemente para o lote das cidades que ocupam os últimos lugares, com graves carências ao nível do desenvolvimento, grande instabilidade política, situações de guerra aberta e vulnerabilidade ao terrorismo.

Cidades como Bagdade e Cabul, no centro de duas grandes guerras do século XXI — Iraque e Afeganistão —, não são avaliadas. Já Damasco é a que fecha a lista. Herdeira de um passado esplendoroso, a capital da martirizada Síria foi, entre os anos 661 e 750, a capital do califado omíada, o segundo de quatro califados islâmicos estabelecidos após a morte de Maomé e que se estendeu da Península Ibérica ao atual Afeganistão.

(FOTO Palácio Belvedere, em Viena, na Áustria DIEGO DELSO / WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 14 de agosto de 2018 e rpublicado no “Expresso Online”. Pode ser consultado aqui e aqui

As cidades mais cantadas

Uma análise a cerca de 14 milhões de canções, em várias línguas, revela que Nova Iorque é a cidade mais homenageada pela música. Lisboa, a metrópole portuguesa mais cantada, surge em 54º lugar entre 300 cidades pesquisadas. Este artigo lê-se em poucos minutos, mas demora mais de duas horas a ouvir

Nova Iorque é a metrópole que mais inspira os letristas em todo o mundo. Imortalizada pela voz de Liza Minnelli, no filme “New York, New York” (1977), de Martin Scorsese, a Grande Maçã é citada num total de 30.867 canções. De longe, seguem-se duas cidades europeias: Paris e Londres, com 20.007 e 14.805 referências, respetivamente.

As conclusões resultam de uma análise a mais de 14 milhões de letras, elaborada pela empresa Holidu, um motor de busca para casas de férias, com sede em Munique, e Musixmatch, o maior catálogo mundial de letras de músicas e respetivas traduções.

Entre as dez cidades mais mencionadas nas letras de músicas, metade são norte-americanas. Para além de Nova Iorque, Nova Orleães — considerada a capital mundial do jazz — ocupa o quinto lugar, com 8798 referências, e a solarenga Miami aparece na posição seguinte, mencionada em 7809 canções. Em oitavo lugar, surge Atlanta, seguida de Houston.

As restantes cinco do top-10 absoluto são maioritariamente europeias. Para além das capitais francesa e britânica, também a italiana e a alemã inspiram os compositores: Roma surge em quarto lugar (11.859 referências) e Berlim em sétimo (6267).

Num ranking exclusivamente europeu, após Paris, Londres, Roma e Berlim, completam o top-10 MilãoVienaAmesterdãoMadridVeneza e Barcelona.

A primeira cidade fora dos continentes europeu e americano aparece em décimo lugar. Tóquio, a capital japonesa, é citada em 4719 músicas.

A primeira cidade portuguesa surge na 57ª posição. Lisboa é mencionada em 538 canções, seguida por Coimbra, com 49 referências. A tradição fadística contribui fortemente para a distinção de ambas, mas não a esgota, especialmente no caso da capital, como o prova “Lisboa”, de Charles Aznavour. No ranking português, o terceiro lugar é ocupado por Sintra, citada em 44 letras.

Em declarações ao Expresso, Fernando Esteves, “country manager” da Holidu, defende que a música pode ser um bom indutor no momento de escolher um destino de férias. E Lisboa é “um excelente exemplo. Além da arquitetura, história e culinária, muito viajantes escolhem a capital portuguesa devido ao Fado, um estilo musical único que tem as suas raízes nos bairros da cidade. Muitos viajantes têm o primeiro contacto com Lisboa através da música de Amália Rodrigues”.

Outras cidades são encaradas como destinos de sonho por parte de fãs desejosos de calcorrearem os lugares dos seus ídolos musicais. São exemplos a norte-americana Memphis, onde a propriedade de Elvis Presley é um verdadeiro local de peregrinação — em maio de 2016, Graceland recebeu o visitante 20 milhões —, ou a britânica Liverpool, onde nasceram The Beatles. Neste ranking, Memphis surge na 13ª posição e Liverpool na 40ª.

Havana, a mais recente homenagem

Para este estudo, foram inseridos os nomes de 300 cidades, escritos em inglês, português, italiano, alemão, francês e espanhol. No caso de Lisboa, a pesquisa foi feita também por “Lisbon”, “Lisbona”, “Lissabon” e “Lisbonne”.

De fora ficaram metrópoles cujo nome pode sugerir algo mais do que o nome de uma cidade. Foi o caso da Invicta. Se em “Porto Sentido” não há dúvidas em relação à intencionalidade das palavras de Rui Veloso, já no tema “Ti Porto Via Con Me”, de Jovanotti, a palavra é um tempo verbal — “Levo-te comigo”.

Igualmente, só foram contempladas referências explícitas às cidades. Ou seja, ainda que “Garota de Ipanema”, de Tom Jobim, seja indissociável do Rio de Janeiro, não entra na contabilidade da cidade brasileira já que a letra de Vinicius de Moraes omite o seu nome.

“Garota de Ipanema” é “uma das canções mais interpretadas em todo o mundo em diversas línguas, o que contribuiu imensamente para a popularidade da cidade do Rio de Janeiro e das suas icónicas praias junto dos turistas estrangeiros”, diz Fernando Esteves. “Mas como a música não menciona exatamente o Rio de Janeiro não a contamos no número total para que fosse possível manter a mesma metodologia para todas as cidades.”

Rio de Janeiro surge em 29º lugar na lista das cidades mais musicadas, seis posições atrás da capital de Cuba, a mais recente metrópole a conquistar as “billboards”, pela voz de Camila Cabello e do tema “Havana”.

(Foto: Os arranha-céus de Nova Iorque  HOLIDU)

Artigo publicado no “Expresso Diário”, a 16 de março de 2018, e republicado no Expresso Online, a 18 de março de 2018. Pode ser consultado aqui e aqui