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Como África viu a cimeira

O que os jornalistas africanos escreveram sobre a Cimeira UE-África

“O Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, denunciou no domingo a ‘arrogância’ da União Europeia, e de quatro países europeus em particular (Alemanha, Suécia, Dinamarca e Holanda), que criticaram na cimeira UE-África a situação dos direitos humanos no seu país.”
Jeune Afrique, França

“A maioria dos líderes africanos rejeitaram no domingo os novos acordos comerciais exigidos pela União Europeia, dando um golpe nos esforços para forjar uma nova parceria económica na primeira cimeira UE-África em sete anos.”
Mail&Guardian, África do Sul

“Os líderes africanos que se reuniram em Lisboa, Portugal, para uma cimeira com os seus colegas da União Europeia, ontem, disseram que o seu objectivo não é a caridade, mas que os seus países sejam autorizados a tornar-se grandes jogadores na economia global.”
This Day, Nigéria

“A África continua à espera de ser considerado um continente soberano. Saberá a União Europeia transcender os seus preconceitos neocolonialistas para fundar com os seus vizinhos do Sul relações justas, equitativas e vantajosas para ambos.”
Liberté, Argélia

“Foi preciso esperar sete anos após a primeira cimeira do Cairo para ver os 70 chefes de Estado e de governo europeus e africanos que assistiram a esta segunda cimeira UE-África, em Lisboa, adoptar com satisfação a declaração de Lisboa que baliza com grande clareza e inteligência económica a nova relação de parceria estratégica entre estes dois continentes.”
La Tribune, Argélia

“O presidente da União Africana e chefe de Estado do Gana, John Kufuor, disse ontem que a Europa deve aproveitar a cúpula bilateral de Lisboa para ‘corrigir a injustiça histórica’ que significou a escravidão e o colonialismo.”
Jornal de Angola, Angola

“Um Robert Mugabe desafiador disse aos líderes da União Europeia, no domingo, que não recebe lições sobre como governar o Zimbabwe, respondendo à chanceler alemã e a outros líderes europeus que o acusaram de ignorar os Direitos Humanos. Mugabe ergueu o punho em desafio, sorrindo abertamente, quando a Reuters lhe perguntou qual a mensagem que queria enviar à Europa no segundo e último dia da cimeira UE-África.”
Reuters, África do Sul

“O Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, recebeu tratamento completo de passadeira vermelha quando se encontrou com os líderes europeus, antes de ser acusado de ignorar os direitos humanos.”
Harare Post, Zimbabwe

“As discussões da segunda cimeira dos líderes europeus e africanos terminou em Lisboa, no domingo, com o foco no Presidente senegalês Abdullah Wade por ter dito: ‘Vou opor-me a estes acordos… nenhum país africano pode resistir ao levantamento das barreiras comerciais e aos subsequentes efeitos adversos nos ‘orçamentos’ dos países africanos.”
African Press Agency, Costa do Marfim

“O primeiro-ministro José Maria Neves, que representou Cabo Verde, considera que a cimeira ultrapassou as suas expectativas. ‘Deu para sentir que a cimeira decorreu num espírito aberto, as questões foram discutidas com frontalidade, mas deu para sentir também que há uma mudança profunda em África, que está a crescer um outro tipo de discussão e abordagem dos próprios dirigentes africanos em matéria de desenvolvimento do continente. Infelizmente, ainda há um certo preconceito quando o assunto é África.”
A Semana online, Cabo Verde

Artigo escrito com Cristina Peres e Luísa Meireles.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 9 de dezembro de 2007. Pode ser consultado aqui

Milhões à espera dos empresários portugueses

O governo da Líbia abriu os cordões à bolsa e desbloqueou uma verba avultada para investimentos, sobretudo em construções e turismo. A bola está agora do lado dos empresários portugueses

A Líbia está numa fase de grande crescimento e conta com os empresários portugueses para concretizar alguns projectos.

“Dispomos de 180 mil milhões de dólares (123 mil milhões de euros) em fundos para investir entre 2008 e 2010 e queremos que as empresas portuguesas aproveitem esta oportunidade para reforçar a cooperação económica com o nosso país”, afirmou na sexta-feira o ministro-adjunto líbio das Relações Exteriores e da Cooperação, Mohamed Siala, após um encontro com o presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Basílio Horta, em Lisboa.

Apesar da Líbia ter representação diplomática em Portugal há mais de 30 anos, só muito recentemente Portugal abriu uma embaixada em Tripoli, tendo como principal eixo estratégico a grande oportunidade económica que o país de Khadafi será nos próximos anos.

Este encontro nas instalações da AICEP, que também contou com a presença de vários empresários portugueses, inseriu-se na visita oficial que Muammar Khadafi efectuou a Portugal, antecedendo a participação do chefe de Estado líbio na Cimeira UE-África de Lisboa.

Orador num seminário realizado na reitoria da Universidade Clássica de Lisboa, o próprio Khadafi deu outra boa notícia aos portugueses. “Pessoalmente, insisti que o português fosse uma das línguas oficiais da União Africana”, afirmou. E prometeu voltar a fazer a proposta na próxima cimeira pan-africana.

IMAGEM PIXABAY

Artigo publicado no Expresso Online, a 8 de dezembro de 2007. Pode ser consultado aqui

1000 milhões acabam com o problema

A questão da imigração foi abordada no primeiro dia dos trabalhos. O primeiro-ministro espanhol discursou sobre o tema e o Presidente líbio anunciou a fórmula mágica para erradicar a imigração ilegal

GERD ALTMANN / PIXABAY 

Muammar Khadafi pediu 1000 milhões de euros à União Europeia para erradicar o fenómeno da imigração ilegal, confirmou o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros espanhol, no final do primeiro dia de trabalhos da cimeira UE-África. “É verdade que ele afirmou que se recebesse uma ajuda de 1000 milhões de euros, os problemas migratórios poderiam resolver-se”, afirmou Miguel Moratinos, em conferência de imprensa, admitindo de seguida que a actual ajuda financeira ao desenvolvimento da África Subsariana “não é suficiente”.

“Migração, Mobilidade e Emprego” foi precisamente o tema da intervenção do primeiro-ministro espanhol, José Luís Rodrigues Zapatero, nas primeiras horas da cimeira. Segundo Moratinos, a imigração é, juntamente com a ajuda ao desenvolvimento, um dos pilares da “nueva mirada” de Espanha em relação a África. “Há uma ruptura em relação às políticas tradicionais, que abordavam unicamente as questões de segurança e de controlo de fronteiras”.

Moratinos deu ainda conta do assédio que rodeou Rodríguez Zapatero ao nível de encontros bilaterais. Paralelamente aos trabalhos da cimeira, o chefe do Governo espanhol reuniu-se com os Presidentes da França, Mauritânia, Senegal, Argélia, Angola, Nigéria, Chade e Guiné-Bissau e ainda com os primeiros-ministros da Guiné-Conakry e da Turquia. “Há uma lista enorme de pedidos para reuniões com o presidente do Governo espanhol”, conclui Moratinos.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de dezembro de 2007. Pode ser consultado aqui

Tolerância zero à corrupção

A corrupção é um dos maiores desafios do continente africano. Uma ex-governante nigeriana dá dicas práticas sobre como ser eficaz nesse combate e identifica bons exemplos africanos a seguir

PIXABAY

“Quem, nesta sala, sabe o nome do Presidente da Suíça?” Uma cidadã suíça sabia, o que tirou impacto ao desafio lançado por Ngozi Okonjo-Iweala, a nigeriana que integrou um painel de discussão sobre “Assuntos de Governança e Corrupção em África”. A intenção desta executiva do Banco Mundial era demonstrar que apesar do nome do chefe de Estado suíço ser praticamente desconhecido, o país atrai muitos negócios porque tem instituições fortes e consolidadas. “Isto também previne a corrupção”, rematou a nigeriana, aludindo a um dos grandes problemas em África.

Ngozi Okonjo-Iweala sabe do que fala. Até há bem pouco tempo, foi ministra dos Negócios Estrangeiros e, antes disso, ministra das Finanças. Nessa altura, promoveu medidas anti-corrupção que agora cita como exemplo: mandou publicar nos jornais quanto é que cada governo regional recebia por mês do poder central – rendimentos esses provenientes da partilha dos rendimentos do petróleo. “Então, muitos cidadãos que frequentemente viam os seus salários não serem pagos por falta de verbas começaram a confrontar os governos regionais: ‘Como é que vocês não têm dinheiro para nos pagar se recebem tanto?'”.

A nigeriana acredita que “o ciclo da corrupção pode ser quebrado”. Para tal, “há que ter tolerância zero à corrupção”, disse. Questionada pelo Expresso se em África não existem bons exemplos nesta matéria, respondeu de pronto: “Claro que há. O Botswana, por exemplo. Gere muito bem o dinheiro proveniente da venda de diamantes”.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de dezembro de 2007. Pode ser consultado aqui

Um continente à espera de crescer

Combina o melhor e o pior e é o continente com a população mais jovem. Cobiçada pelo resto do mundo, África é uma grande promessa

Mapa de África WIKIMEDIA COMMONS

O continente africano está a mexer. E Cabo Verde é prova disso. Este PALOP é o país africano com o mais alto registo no índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas (102º lugar em 177 países) e, em média, um cabo-verdiano vive 71 anos, a mais alta esperança de vida à nascença no continente. A estratégia do sucesso tem sido orientada pela capacidade de tirar o melhor rendimento possível do turismo, dos serviços aeroportuários e das remessas enviadas pela diáspora de 800 mil cabo-verdianos espalhados pelo mundo. O arquipélago já passou ao estatuto de país de médio rendimento segundo a ONU e é um dos mais reconhecidos casos de progresso entre os 53 membros da União Africana.

FALTA INFOGRAFIA

África tem extremos: grandes vulnerabilidades e imensas riquezas naturais. À margem da conferência da Amnistia Internacional (AI) ‘Direitos Humanos e Desenvolvimento — Uma Estratégia para África’, organizada com o objectivo de dar voz à sociedade civil africana no âmbito da cimeira UE-África, o missionário comboniano Padre Leonel Claro (há dez anos no Chade), disse ao Expresso que “o petróleo é uma maldição para o Darfur e para o Chade. As companhias petrolíferas consomem mais energia do que toda a população do Chade. E apesar do petróleo, o país está hoje mais pobre, inseguro e sem perspectivas de futuro que há dez anos”. A cobiça política por tantas riquezas, as consequências devastadoras das alterações climáticas e as disputas entre etnias estão na origem de algumas das piores crises humanitárias do último meio século, como a do Darfur.

“Vim há dez dias do Sudão onde decorriam bombardeamentos aéreos e terrestres sobre a população, onde se vive uma total falta de segurança, onde os jornalistas estão presos, e os dirigentes gozam de total impunidade”, disse Salih Mahmud Osman, o Prémio Sakharov 2007, outro participante na mesma conferência da AI. O activista sudanês acrescentou que “o número de pessoas directamente afectadas pelo genocídio — chamo-lhe assim porque sou advogado — é de cinco milhões”. O respeito pelos direitos humanos no continente é o garante da paz e do desenvolvimento, já dizia o ganês Kofi Annan, o ex-secretário-geral da ONU que lançou, em 2000, os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio para 2015.

Milhões é também a ordem de grandeza da pandemia do HIV-sida no território. Só na região subsariana, oito países albergam quase um terço de todos os novos infectados e das mortes por HIV-sida do planeta. Entre eles está a Zâmbia com 17% da sua população infectada. Andrew Tandeo é dirigente juvenil nesse país e, em declarações ao Expresso à margem da Cimeira da Juventude, alertou para a necessidade de multiplicar os fundos para programas de prevenção. Porque “África é um continente muito jovem e o mais afectado pelo HIV-sida e porque os jovens são os agentes da mudança”.

Dentro de três anos, África captará o olhar do mundo ao realizar o maior evento desportivo de sempre no continente — o Mundial de Futebol. A África do Sul será o lugar da expressão da capacidade de realização africana.

— 90% das jazidas mundiais de platina, crómio e cobalto, 25% das de titânio, matérias utilizadas nas novas tecnologias, encontram-se em território africano

— 10% das reservas de petróleo do planeta estão em África. O maior exportador do continente é a Nigéria

— 40% do ouro e 60% do manganésio existente na Terra estão à espera de ser extraídos do solo africano

— 295 mil barris de gás natural líquido são produzidos pela Argélia diariamente

— Nos últimos dez anos, o Ruanda e o Uganda conseguiram ganhar sete anos na esperança de vida à nascença

— As exportações na África subsariana aumentaram de 125 milhares de milhões de euros, em 2004, para 157 milhares de milhões de euros, em 2005, o que representa um aumento de 26%

— A maior população da África subsariana é de 131,5 milhões de pessoas (Nigéria); a mais pequena é de 0,1 milhão (Seychelles)

— A soma do PIB da África do Sul e do da Nigéria corresponde a 54% do total o continente

— 700 empresas chinesas investem actualmente em 49 países africanos. Na Serra Leoa, país que ocupa o último lugar do índice de desenvolvimento humano (177º), os chineses estão a investir 1615 milhões de euros na construção de instalações balneares

— Os maiores investidores em África no sector energético são a União Europeia, os Estados Unidos, França, Brasil, China e Índia

— A Mauritânia tem a mais alta taxa de frequência no ensino secundário (88%); a Namíbia tem a mais baixa (7%)

— Na última década, dois africanos foram galardoados com o Prémio Nobel da Paz: o ganês Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas (2001), e a queniana Wangari Maathai, activista dos direitos humanos (2004)

Artigo escrito com Cristina Peres.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de dezembro de 2007 Pode ser consultado aqui