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Pequenos territórios, grandes problemas: conheça cinco pedaços de terra que podem ser rastilhos de grandes guerras

Os países não se medem aos palmos e estes cinco territórios, em particular, são prova disso. Mais pequenos do que Portugal, Kosovo — que esta sexta-feira assinala 15 anos de independência unilateralmente declarada —, Taiwan, Caxemira, Nagorno-Karabakh e Faixa de Gaza têm potencial para originar grandes conflitos e contagiar outros países para guerras de consequências imprevisíveis

Se a dimensão de um país é um ativo que pode ser usado para projetar poder e influência, não se pode aferir com igual imediatismo o impacto que isso tem ao nível da conflitualidade. No atual mapa geopolítico do mundo, algumas das disputas com maior potencial explosivo estão localizadas em territórios pequenos. São exemplos disso o Kosovo, Taiwan, Caxemira, Nagorno-Karabakh e a Faixa de Gaza.

Somada, a área de todos corresponde sensivelmente ao tamanho de Portugal. Mas se, ano após ano, o retângulo luso tem posição garantida nos primeiros lugares do Índice Global de Paz, estes cinco territórios têm capacidade para deixar o mundo à beira de um ataque de nervos.

KOSOVO

Ferida aberta nos Balcãs

O segundo país mais jovem do mundo — só mais velho do que o Sudão do Sul — faz esta sexta-feira 15 anos. O Kosovo nasceu de parto difícil, na sequência do desmembramento da Jugoslávia, em 1991, que originou várias guerras e bombardeamentos da NATO durante 78 dias, justificados com a urgência em estancar a repressão das forças sérvias à população do Kosovo.

Antiga província da Sérvia (cristã ortodoxa) de maioria albanesa (muçulmana), o Kosovo é para os sérvios a terra de origem da sua nacionalidade. Essa circunstância está na origem da tensão que ainda hoje se vive neste território com menos de dois milhões de habitantes.

Concentrada sobretudo no norte, uma minoria sérvia de cerca de 50 mil pessoas é um desafio à estabilidade do país. Declara-se leal às autoridades de Belgrado e não acata ordens do Governo de Pristina.

No mais recente braço de ferro, os sérvios kosovares recusaram-se a alterar as placas de matrícula dos seus carros — que têm letras correspondentes às cidades onde vivem (KM para Kosovska Mitrovica, por exemplo) — para as letras RKS (República do Kosovo). A tensão levou a Sérvia a colocar as suas forças em alerta máximo de prontidão para combate, em dezembro passado.

Presente no território desde 1999, uma missão da NATO (KFOR) é garantia de segurança, ainda que transforme o Kosovo numa espécie de protetorado, limitado na sua afirmação internacional.

A nível diplomático, o reconhecimento enquanto Estado soberano marca passo. Entre outros, Rússia e China (membros permanentes do Conselho de Segurança) e também cinco países da União Europeia, um deles Espanha, negam-lhe esse estatuto. Por essa razão, o Kosovo ainda não conseguiu aderir às Nações Unidas.

TAIWAN

Barril de pólvora no Pacífico

Também chamada China Nacionalista, Taipé ou Formosa, a República da China (nome formal de Taiwan) é garante de águas agitadas no Oceano Pacífico. Situada a uma distância média de 180 quilómetros da costa da República Popular da China, é um Estado soberano reconhecido por 12 países e pela Santa Sé (Vaticano).

Esta ilha — onde vivem cerca de 24 milhões de pessoas — está no epicentro da disputa entre China e Estados Unidos pelo domínio da região da Ásia-Pacífico.

Para Pequim, a pretensão independentista da sua província rebelde — como lhe chama desde que os nacionalistas se retiraram para a ilha, em 1949, após serem derrotados na guerra civil contra os comunistas — representa uma alternativa ao projeto político da China Única. É também um entrave à implantação da revolução maoísta em todo o território chinês, na lógica que já se estendeu a Hong Kong (com contestação visível nas ruas) e Macau.

Para os Estados Unidos, o outro gigante geopolítico da região do Pacífico, apoiar Taiwan é forma fragilizar o grande rival. Outrora um dos quatro “tigres asiáticos”, esta democracia é hoje a 21ª economia mais desenvolvida do mundo, numa classificação em que Portugal ocupa o 50º lugar.

De tempos a tempos, as incursões aéreas de caças chineses na área de defesa de Taiwan, bem como a visita de altos responsáveis políticos norte-americanos à ilha — caso da então presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, em agosto passado — soam a provocação e fazem disparar alertas.

A perspetiva de conflito aberto levou as autoridades de Taiwan a aumentarem o tempo de serviço militar obrigatório de quatro meses para um ano, a partir de 2024. Uma guerra em torno da ilha que lidera a produção mundial de chips para tecnologia civil e militar implicaria duas potências militares e nucleares, numa grande ameaça à paz mundial.

CAXEMIRA

Cobiçada por potências nucleares

Índia, Paquistão e China partilham entre si partes do território da Caxemira, nos Himalaias. No respeito pela Linha de Controlo, que funciona como fronteira, a Índia controla 45% da região, o Paquistão 35% e a China 20%.

Os problemas que fazem soar alarmes em todo o mundo estão localizados na área administrada pela Índia. Este é um país de maioria hindu e Caxemira, a sua região mais setentrional e uma barreira natural a infiltrações exteriores, é a única de maioria muçulmana.

A origem da disputa remonta a 1947, ano da partição da Índia Britânica. A Índia alega que a Caxemira lhe pertence por ter sido parte integrante dos estados governados por marajás. O Paquistão diz que é a população que deve decidir em referendo. Estima-se que estejam ativos no território cerca de 300 militantes armados, num desafio à autoridade de Nova Deli sobre a região.

A dinâmica separatista da região, bem como o facto de ser um depósito de água dos glaciares e principal fonte de abastecimento hídrico de Índia e Paquistão, já originou três guerras (1947, 1965, 1999) entre o país do Mahatma Gandhi (1400 milhões de habitantes) e o de Malala Yousafzai (230 milhões). Direta ou indiretamente, tiveram origem na disputa pela Caxemira.

Frente a frente estão duas potências nucleares, não signatárias do Tratado de Não Proliferação Nuclear, em vigor desde 1970. Para indianos e paquistaneses, a disputa por Caxemira é um jogo de soma zero: quem a controlar representa uma ameaça existencial ao inimigo. Se é verdade que o Paquistão está muito exposto a tudo o que acontece no Afeganistão, é a rivalidade com a Índia que mais consome a república islâmica.

NAGORNO-KARABAKH

O calcanhar do Cáucaso

É uma disputa que se trava no interior do antigo território da União Soviética e que já era foco de conflito antes da desintegração da mesma. Na zona do Cáucaso, Azerbaijão e Arménia já se envolveram em duas guerras pelo controlo do enclave montanhoso de Nagorno-Karabakh, a última das quais em 2020 (a primeira em 1988 e durou mais de seis anos).

Com população de maioria arménia, este pedaço de terra é reconhecido internacionalmente como parte integrante do Azerbaijão, ainda que na prática seja governado, em parte, por uma entidade apoiada pela Arménia.

A República Artsaque declarou a independência em 1992, sendo reconhecida enquanto tal por três outras repúblicas separatistas, elas próprias com deficiente reconhecimento internacional: as georgianas Abecásia e Ossétia do Sul e a moldava Transnístria, todas elas criadas a partir de declarações de secessão auspiciadas por Moscovo (consulte aqui informação sobre os símbolos nacionais deste “país”.)

Na ausência de um tratado de paz permanente, as tréguas são violadas regularmente. Sempre que as hostilidades se reacendem, dois grandes países entram em cena, em apoio de cada uma das partes: a Rússia ao lado da Arménia (ambas cristãs ortodoxas) e a muçulmana sunita Turquia em apoio do Azerbaijão xiita.

Em 1992, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) — a mais abrangente das associações europeias, com 57 países — formou o Grupo de Minsk, para discutir uma solução para o problema. Presidido por França, Rússia e Estados Unidos, não são de esperar progressos enquanto durar a guerra da Ucrânia.

FAIXA DE GAZA

Prisão a céu aberto

Quem vive neste território palestiniano junto ao Mediterrâneo — conquistado por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e devolvido à Autoridade Palestiniana em 2005 — não tem muito por onde fugir. Desde 2007 que as fronteiras da Faixa de Gaza, terrestres, aéreas e marítimas, são objeto de controlo absoluto por parte de Israel e do Egito.

Essa camisa de forças, em que vivem cerca de dois milhões de palestinianos, num retângulo de 40 quilómetros de comprimento por 12 de largura, foi a resposta de Israel a dois anos de grande agitação no território, que se explica em três datas:

  • a 22 de agosto de 2005, Israel retirou-se definitivamente de Gaza após desmantelar os colonatos judeus;
  • a 25 de janeiro de 2006, o movimento islamita Hamas venceu as eleições legislativas palestinianas (as últimas que se realizaram);
  • a 15 de junho de 2007, o Hamas tomou o poder em Gaza pela força.

A liderança bicéfala palestiniana — com a Autoridade Palestiniana a controlar a Cisjordânia e o Hamas na Faixa de Gaza — e a falta de diálogo entre ambos, a que acrescem gerontocracia e corrupção, contribuem mais para o problema do que para a solução.

Em paralelo, as frequentes incursões militares israelitas em Gaza condenam quem lá vive a um quotidiano de frustração, pobreza e violência. Nos últimos 15 anos, foram quatro de grande impacto (2008, 2012, 2014 e 2021).

No seu livro “The Ethnic Cleansing of Palestine” (A limpeza étnica da Palestina), o historiador israelita llan Pappé qualificou a “guetização” de Gaza de forma de “apartheid”. O termo é forte, remontando ao regime racista e segregacionista da África do Sul (1948-91), mas não parece mobilizar. A disputa em torno da Palestina é das mais antigas do mundo mas, não obstante, das que mais têm caído no caixote da indiferença e do esquecimento.

(INFOGRAFIAS JAIME FIGUEIREDO)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 17 de fevereiro de 2023. Pode ser consultado aqui

Novo ataque químico na Síria: 70 mortos

Acusado da autoria de um ataque contra a cidade de Duma, o regime de Bashar al-Assad diz tratar-se de uma montagem dos rebeldes ali entrincheirados. Dezenas de pessoas morreram por asfixia

Duma, o último bastião rebelde nos arredores da capital da Síria, Damasco, voltou a ser palco de um ataque químico. “Setenta pessoas sufocaram até à morte e centenas continuam a asfixiar”, testemunhou à Al-Jazeera, Raed al-Saleh, o líder dos Capacetes Brancos. A maioria das vítimas mortais é mulheres e crianças.

Na sua conta de Twitter, esta organização de voluntários que opera em zonas afetas à oposição ao regime sírio revela que foram atingidas famílias, que se tinham abrigado em caves para se protegerem dos bombardeamentos aéreos e das mortíferas bombas de barril.

Segundo Raed al-Saleh, a região de Duma foi atingida por gás cloro e um outro gás forte não identificado. “Os voluntários dos Capacetes Brancos estão a tentar ajudar as pessoas mas tudo o que podemos fazer é transferi-los para outra área a pé.”

Dado o estado crítico de muitos feridos, o número de mortos deverá aumentar.

Na sexta-feira, Duma foi fortemente bombardeada com bombas de barril pelas forças do governo. A agência de informação síria (SANA) noticiou que o ataque foi uma resposta aos ataques do grupo rebelde Jaish al-Islam (Exército do Islão) contra áreas residenciais de Damasco. “Os terroristas do Jaish al-Islam estão numa situação decadente e os seus órgãos de informação fazem montagens de ataques químicos numa tentativa falhada de obstruir os avanços do exército sírio.”

“A confirmarem-se, estas informações são assustadoras e exigem uma resposta imediata por parte da comunidade internacional”, reagiu a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Heather Nauert. Washington exigiu a Moscovo que acabe “de imediato” com o seu “apoio inabalável” ao regime de Bashar al-Assad e que torna os russos, “em última análise, responsáveis” pelo ataque.

Duma é a principal cidade afetada pelo cerco iniciado em abril de 2013 pelas forças governamentais sírias — apoiadas pela Rússia — à região de Ghouta Oriental, controlada pelos rebeldes. Em agosto desse ano, “rockets” com gás sarin foram disparados contra áreas rebeldes, matando centenas de pessoas. Uma missão da ONU confirmou a natureza do gás, mas não conseguiu apurar a autoria do ataque.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 8 de abril de 2018. Pode ser consultado aqui

Campos petrolíferos nas mãos de jiadistas

Extremistas islâmicos tomaram de assalto duas explorações petrolíferas no centro da Líbia. Com o país controlado, e disputado, por grupos armados, a ONU tenta sentar à mesa do diálogo os dois Parlamentos líbios

Forças afetas ao autodenominado Estado islâmico (Daesh) capturaram duas explorações petrolíferas no centro da Líbia. “Os extremistas assumiram o controlo dos campos petrolíferos de Bahi e Mabruk e dirigem-se agora para o campo de Dahra após a retirada das forças que guardavam essas instalações”, disse o coronel Ali al-Hassi, porta-voz dos serviços de segurança da indústria petrolífera líbia, citado pela BBC.

A cadeia britânica acrescenta que as forças de segurança retiraram dos locais após terem ficado sem munições. Segundo a Reuters, Mabruk tinha sido alvo de um ataque jiadista no mês passado, de que resultou pelo menos 12 mortos.

Bahi e Mabruk encontravam-se encerradas desde há algumas semanas em virtude da queda das exportações de petróleo e da violência que caracteriza o país desde a revolução que depôs Muammar Kadhafi, em 2011, no contexto da Primavera Árabe.

Conversações em Marrocos 
Presentemente, a Líbia é disputada por vários grupos armados. As autoridades reconhecidas internacionalmente estão acantonadas na cidade de Tobruk, a cerca de 1600 quilómetros para leste da capital, junto ao Egito, enquanto Tripoli é controlada pela Alvorada Líbia, uma aliança que agrupa várias milícias, algumas delas islamitas, que instalou os seus próprios órgãos de Governo.

Na terça-feira, os dois lados atacaram-se através de bombardeamentos aéreos. Os islamitas tentaram, sem sucesso, atingir um terminal de exportação de petróleo junto ao porto de Sidra. Em resposta, forças leais ao Governo reconhecido internacionalmente bombardearam o aeroporto de Mitiga, em Tripoli, não provocando vítimas nem danos materiais.

As Nações Unidas, através da Missão da ONU de Apoio à Líbia (UNSMIL), estão a tentar mediar um acordo de paz. Na quinta-feira, Marrocos acolhe uma ronda de conversações entre a Casa dos Representantes (ou seja, o Parlamento instalado em Tobruk) e o Congresso Geral Nacional (sedeado em Tripoli e dominado pelos islamitas) e em que participam 23 partidos políticos. A ronda seguinte está prevista para a próxima semana, na Argélia.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 4 de março de 2015. Pode ser consultado aqui

Presidente foge para sul e deixa o Iémen sem norte

Colocado em prisão domiciliária pelos rebeldes huthis, que controlam a capital iemenita, o Presidente Hadi conseguiu escapar e refugiou-se em Aden. Teme-se que essa movimentação beneficie as pretensões independentistas do sul

As grandes manifestações voltaram à capital do Iémen com milhares de pessoas a marcharem até à residência pessoal do Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi em solidariedade para com o chefe de Estado e para reclamar… uma outra capital para o país.

“A capital tem de ser Aden porque uma capital deve estar livre de milícias”, dizia a estudante Omaima Salah, à reportagem do jornal “Yemen Times”. Desde setembro que Sana’a, a capital do Estado, é controlada pelos rebeldes huthis (xiitas, confissão minoritária no país), que desde há um mês e até ao passado fim de semana mantiveram o Presidente em prisão domiciliária, forçando-o à demissão.

A situação no Iémen deu uma reviravolta após, no sábado, o Presidente Hadi ter conseguido escapar ao controlo dos rebeldes. Citando fontes huthis, o “Yemen Times” diz que Hadi disfarçou-se com roupas de mulher.

Após fugir da capital e refugiar-se em Aden, sua cidade natal e a grande cidade do sul, Hadi emitiu um comunicado declarando que ainda é o Presidente do Iémen e apelando a que todas as decisões políticas tomadas pelos huthis sejam declaradas ilegais e inválidas.

Unidade ou fragmentação?
Segundo a imprensa iemenita, o Presidente está a desenvolver contactos, desde Aden, com governadores provinciais no sentido de recuperar o controlo do país. 

Segunda-feira, as poderosas tribos de Bani Hilal demonstraram a sua lealdade a Hadi realizando uma parada militar na província de Shabwa (sul). E em Taiz, sudoeste, protestos populares exigiram a expulsão dos huthis de Sana’a e a reposição da autoridade de Hadi.

Mas crescem dúvidas quanto à real eficácia da fuga do Presidente para sul. “Imediatamente levantou-se a questão de saber se essa movimentação irá ajudar à unidade ou aumentar a probabilidade da secessão”, alerta o “Yemen Times”.

Para além da minoria huthi, e das suas reivindicações políticas, o Iémen alberga ainda um movimento secessionista, precisamente na região sul, e ainda, mais para leste, a Al-Qaeda na Península Arábica, que é atualmente o ramo mais ativo da organização terrorista. Acresce que, até 1990, o ano da reunificação do Iémen, Aden foi a capital do Iémen do Sul.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 24 de fevereiro de 2015. Pode ser consultado aqui

Acordo no papel, conflito nas ruas

Presidente e rebeldes assinaram um acordo apelando ao fim das hostilidades, que provocaram mais de 100 mortos em três dias, e à formação de um novo Governo. Mas huthis a norte e separatistas a sul fazem temer pela unidade nacional do Iémen

O Governo do Iémen e os rebeldes huthis assinaram, este domingo, um acordo de paz visando o fim da crise política e dos confrontos nas ruas que provocaram mais de 100 mortos em três dias.

O documento prevê a formação de um novo Governo de unidade nacional e compromete o Presidente Abd-Rabbu Manasour Hadi, o presidente do Parlamento Yahya al-Rae’I, o enviado especial das Nações Unidas Jamal Binomar e representantes de movimentos e partidos políticos, incluindo o “Ansar Allah”, ou seja os huthis (minoria xiita).

Os huthis têm estado no centro da crise e, apesar do acordo, continuam a ocupar edifícios governamentais, incluindo o Ministério da Defesa, o quartel-general do exército, o Parlamento, o Banco Central e a rádio e televisão nacionais, todos tomados no domingo.

Milhares de huthis iniciaram protestos a 18 de agosto, sitiando ministérios e bloqueando a rua de acesso ao principal aeroporto da capital. Para além da deposição do Governo, exigem a reposição dos subsídios aos combustíveis (que o Governo cortou) e mais representatividade política, no âmbito da Conferência de Diálogo Nacional — o processo político que se iniciou após a deposição do ditador Ali Abdullah Saleh, no contexto da Primavera Árabe.

Xiitas a norte, separatistas a sul

A rebelião huthi transformou-se numa ação militar após protestos em frente à sede do Governo terem sido violentamente reprimidos, a 9 de setembro. Sábado e domingo, o ministério da Educação suspendeu as aulas nas escolas da capital devido a confrontos entre rebeldes e forças governamentais que desde quinta-feira à noite já provocaram mais de 100 mortos.

Os huthis (“Ansar Allah”) são uma minoria xiita, a quem se atribui ligações ao gigante xiita Irão. Controlam a província de Sa’dah, no norte do Iémen.

O outro grande desafio ao poder central de Sana e à unidade do país é colocado pelo “Ansar al-Shari’a”, um grupo separatista com ligações à Al-Qaeda na Península Arábica — um dos braços mais ativos da organização terrorista —, localizado na região de Abyan (no sul).

Em fevereiro passado, um grupo de trabalho presidido pelo Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi e constituído por representantes dos principais partidos políticos aprovou a transformação do Iémen numa federação de seis regiões.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 22 de setembro de 2014. Pode ser consultado aqui