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Mais dois medalhados, desta vez no ciclismo

Ivo Oliveira e Maria Martins sagraram-se vice-campeões europeus de pista, em Itália

Depois da canoagem, do atletismo e do futebol, foi a vez do ciclismo português também brilhar na Europa: Ivo Oliveira e Maria Martins tornaram-se, esta terça-feira, vice-campeões europeus de pista no velódromo de Montichiari, Itália.

Ivo Oliveira, 18 anos, competiu na prova de perseguição individual para sub-23. Pedalou os quatro quilómetros em 4 minutos e 17,448 segundos, o que constitui um recorde pessoal e nacional.

O gaiense já tinha batido o recorde nacional durante a prova de qualificação, no mesmo dia, na qual foi também segundo classificado.

“Vim para este Europeu consciente de que poderia bater-me por um lugar no top 5. Se me dissessem que iria ao pódio não acreditava”, afirma Ivo Oliveira em declarações ao site da Federação Portuguesa da modalidade. Mas o jovem ciclista já parecia adivinhar algo mais: “Nos treinos oficiais apercebi-me de que a pista está muito rápida. Comecei a ver os meus tempos e a pensar que poderia chegar mais longe do que o planeado inicialmente.”

Na final, melhor do que o português só o italiano Filippo Ganna (prestes a fazer 20 anos), campeão mundial de elite e estagiário da equipa WorldTour Lampre-Merida (a formação de Rui Costa), com o tempo de 4m 14,165 s. O francês Thomas Denis completou o pódio.

Ivo Oliveira está a cumprir o seu segundo ano no escalão de sub-23. No currículo já soma cinco medalhas conquistadas em júniores, entre elas os títulos mundial e europeu em 2014. Comparativamente ao Europeu de 2015, o seu registo em Montichiari representa uma progressão de mais de 11 segundos.

“O Ivo fez uma corrida excelente, sem quebras. No entanto, o adversário conseguiu ser um pouco mais rápido. O que é mais importante referir, no entanto, é a evolução. Ele fez um tempo de elite mundial. O que aqui vimos foi o Ivo a dar um passo muito importante para o futuro”, afirma o selecionador nacional Gabriel Mendes, citado pelo site federativo.

Os ciclistas portugueses estiveram igualmente em grande destaque no sector feminino. Na sua estreia no Europeu de pista, Maria Martins cortou a meta em 2.º lugar na corrida júnior de scratch. Esta é uma prova individual, limitada a 24 ciclistas, em que as participantes iniciam a prova em simultâneo e o objetivo é chegar ao fim em primeiro. (Se não conhece, veja aqui um vídeo da modalidade.)

Natural de Santarém, a jovem ciclista foi apenas batida pela italiana Letizia Paternoster. A terceira classificada foi a polaca Wiktoria Pikulik.

“Foi uma corrida muito tática, acabando por ser decidida ao sprint. A Maria esteve atenta às movimentações e soube colocar-se no momento certo para discutir a corrida”, assim descreve Gabriel Mendes a prova da jovem portuguesa.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 13 de julho de 2016. Pode ser consultado aqui

Por que jogam equipas israelitas nas provas da UEFA?

Faz fronteira com a Síria e com o Egito, mas goza, a nível futebolístico, de um estatuto europeu. Israel disputa o Campeonato da Europa a nível de seleções e os seus clubes competem nas provas da UEFA, como o confirma o jogo desta quarta-feira entre Maccabi de Telavive e FC Porto

A cada nova época desportiva, já poucos estranham a presença de equipas israelitas nas provas organizadas pela UEFA. É assim desde 1992, ano em que Maccabi de Telavive e Hapoel Petah-Tikva fizeram história ao tornarem-se os primeiros clubes israelitas a participarem nas competições europeias.

Criado em 1948, Israel herdou dos britânicos, que detinham o mandato da Palestina, o entusiasmo pelo futebol — hoje, o desporto mais popular entre os israelitas. Correspondendo à sua localização geográfica, em 1954, o país aderiu à Confederação Asiática de Futebol, estatuto que duraria apenas 20 anos.

Cedo, a participação desportiva israelita começou a ressentir-se de atitudes de boicote por parte de equipas adversárias, que se recusavam a defrontar os israelitas.

Vencer sem jogar

Em 1958, essa animosidade levou a um episódio bizarro: durante a fase de qualificação para o Mundial da Suécia, Israel garantiu o apuramento sem ter disputado um único jogo. Turquia (que hoje também disputa as provas da UEFA), Indonésia e Sudão recusaram jogar contra Israel. Para contornar o embaraço, a FIFA organizou um “play off” entre Israel e o País de Gales. Israel perdeu as duas partidas por 2-0.

Igualmente, em 1964, quando Israel recebeu e venceu a Taça Asiática, o feito foi ensombrado pelo facto de 11 dos 16 países participantes se terem retirado da competição. Israel ganharia o torneio triunfando apenas contra Índia, Coreia do Sul e Hong Kong.

A convivência de Israel no seio da Confederação Asiática de Futebol complicou-se definitivamente após a eclosão da guerra do Yom Kippur, em 1973, a quarta israelo-árabe. Durante os Jogos Asiáticos do ano seguinte, disputados em Teerão (ainda no Irão reinava o Xá Mohammad Reza Pahlavi), Kuwait e Coreia do Norte recusaram defrontar Israel.

Os israelitas chegariam à final, que perderiam por 0-1 para os iranianos (um jogo impossível de se realizar na atualidade). Porém, o mérito desportivo sucumbiria à contestação política e Israel seria expulso da Confederação Asiática em 1974.

Durante os anos 80, a seleção israelita jogou a maioria dos jogos contra equipas europeias, disputou na Europa a qualificação para o Mundial de Espanha (1982) e na Oceânia o acesso aos dois torneios seguintes (México 86 e Itália 90).

Casa emprestada por causa da guerra em Gaza

O futebol israelita recuperaria a estabilidade competitiva em 1992, quando as suas equipas começaram a disputar as provas da UEFA. O país seria admitido na confederação como membro associado nesse ano e como membro de pleno direito dois anos depois.

De permeio, em 1993, a seleção israelita atingiria a glória ao derrotar a França, no Parque dos Príncipes, em Paris, por 2-3, durante a qualificação para o Mundial dos Estados Unidos. (Atualmente, é na zona europeia que a seleção israelita disputa a qualificação para os Mundiais da FIFA.)

Se, em termos políticos, Israel encontrou na UEFA a estabilidade que a dada altura perdeu na Confederação Asiática, a instabilidade crónica que flagela a região do Médio Oriente tem penalizado as equipas israelitas também no seio europeu.

Na última época, por exemplo, por determinação da UEFA, Maccabi de Telavive, Hapoel de Telavive e Hapoel Beersheva tiveram de recorrer a “locais alternativos, fora do território de Israel” para disputar os jogos caseiros da Liga dos Campeões e da Liga Europa. Um efeito colateral de mais uma guerra na Faixa de Gaza, no verão de 2014.

Palestinianos mostram cartão vermelho

Em maio passado, o conflito israelo-palestiniano chegou ao Congresso anual da FIFA, realizado em Zurique (Suíça). Membro da organização desde 1998 — à semelhança das associações de outras nações não soberanas como Inglaterra, Escócia e País de Gales —, a Associação Palestiniana de Futebol lançou uma petição no sentido da suspensão de Israel.

Então, os palestinianos enumeraram situações que, em seu entender, encerram em si violações dos princípios e da ética da FIFA por parte das autoridades israelitas: restrições à circulação de jogadores e responsáveis palestinianos entre os dois territórios palestinianos (Cisjordânia e Faixa de Gaza); proibição de entrada a adversários internacionais nos territórios ocupados palestinianos; inclusão de equipas oriundas de colonatos nos campeonatos secundários israelitas.

Jibril Rajub, presidente da Associação Palestiniana de Futebol, acabaria por emendar a moção, retirando a exigência da suspensão de Israel e propondo a formação de um comité internacional que investigue a liberdade de movimentos dos jogadores palestinianos, as acusações de racismo e o estatuto de cinco equipas israelitas sedeadas na Cisjordânia.

A cedência palestiniana foi muito criticada entre os palestinianos. “Isto não quer dizer que eu vou desistir da resistência”, garantiu Jibril Rajub. “Não devemos misturar política e futebol”, contrapôs o delegado israelita, Ofer Eini.

O CASO BRAHIMI

Mal foi conhecido que o FC Porto ia defrontar o Maccabi de Telavive, para a Liga dos Campeões, multiplicaram-se apelos, na imprensa argelina e nas redes sociais, para que o argelino Yacine Brahimi se recusasse a defrontar os israelitas. “A decisão final sobre as minhas deslocações profissionais cabe a mim e ao FC Porto”, escreveu Brahimi no Facebook. Na primeira mão, no Dragão, a 20 de outubro passado, Brahimi marcou um dos golos da vitória do Porto por 2-0 sobre o Maccabi. Uma lesão entretanto diagnosticada resolveu o dilema relativo à sua deslocação a Israel

* Este texto baseia-se num artigo escrito por Richard Williams, publicado Sky News Online

Artigo publicado no Expresso Online, a 4 de novembro de 2015. Pode ser consultado aqui

“Temos infraestruturas, falta cultura desportiva”

Num debate sobre “100 anos de olimpismo em Portugal”, falou-se de feitos desportivos e de dificuldades organizativas. Carlos Lopes recordou como, há 25 anos, sabia que a vitória na maratona em Los Angeles não lhe ia escapar…

ILUSTRAÇÃO DEVANATH / PIXABAY

Durante dois anos e meio Carlos Lopes não pensou noutra coisa… “Fui para Los Angeles para ganhar a maratona. Tinha-a preparado ao detalhe durante dois anos e meio, observado os adversários… No ano anterior aos Jogos, corri 12 mil quilómetros. O meu grande objectivo era ser campeão olímpico!”, recorda.

A 12 de Agosto de 1984, desde que soou o tiro de partida para a corrida mais longa do atletismo, o maratonista nascido em Vildemoinhos (Viseu) limitou-se a fazer a sua corrida. Concluiu o percurso em 2h09m21s. “Se tivesse tido necessidade de fazer menos tempo, teria feito!”, continua a relembrar.

Na segunda-feira à noite, Carlos Lopes falou dessa determinação na palestra “100 anos do olimpismo em Portugal”, organizada pelo curso de Administração e Gestão Desportiva da Universidade Autónoma de Lisboa.

Marco histórico alterou filosofia

Essa vitória foi um marco da história olímpica portuguesa — pela primeira vez, um atleta luso ganhava uma medalha de ouro — e da própria filosofia das participações do país nos Jogos. Se até então o objectivo era participar — fazendo jus aos ideais do barão Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos da era moderna —, a partir dos anos 1980 começou a ser imposto um limite qualitativo mínimo à participação dos atletas.

As condições melhoraram a partir dos Jogos de Barcelona de 1992, quando passou a haver um apoio directo a atletas e treinadores. Mas devido à proximidade geográfica com Barcelona, Portugal quis deslumbrar…

“Barcelona era aqui ao lado, tínhamos de nos mostrar. Levámos quase 100 atletas mas não trouxemos uma única medalha. Foram desistências atrás de desistências…”, recordou Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), outro participante no encontro.

 

Dentro do avião, durante a viagem de regresso a Lisboa, Vicente Moura foi confrontado com um pedido insólito por parte da equipa olímpica. “Pediram-me que os autorizasse a despir a farda oficial. Estavam envergonhados e queriam passar incógnitos no aeroporto…” E assim foi.

Preparação custa dinheiro

A cumprir o seu quinto mandato à frente do COP, Vicente de Moura referiu que a gestão diária do COP é difícil, mas disse ter “excelentes relações com todas as federações, sem excepção”. O grande obstáculo ao funcionamento do COP prende-se com a questão do financiamento.

Recusada que foi, no passado, a possibilidade de o Comité ter uma fonte de financiamento fixa proveniente das receitas do Totoloto, a estrutura fica mais dependente de patrocinadores. ” À velha maneira portuguesa, os sponsors aparecem mais nos anos próximos aos Jogos…” — quando, na realidade, os apoios são necessários durante toda a fase de preparação dos atletas. “‘Ainda falta muito para os Jogos’, costumo ouvir. ‘Volte a falar quando lá chegarmos…'”, lamentou-se Vicente de Moura.

Orçado em 14,6 milhões de euros, o projecto olímpico Londres/2012 — envolvendo 90 atletas — está já em desenvolvimento. Todos os meses, o COP distribui uma verba entre 170 e 180 mil euros por atletas e federações.

“Receber o dinheiro a tempo e horas cria estabilidade para os atletas. Todas as condições que lhes dermos nunca são demais”, disse o presidente do COP. O comandante referiu ainda que a isentação de IRS da bolsa dos atletas foi uma conquista importante e que, apesar da crise, o financiamento ao programa olímpico tem-se mantido.

Suar ou jogar playstation?

Porém, o desporto escolar é insuficiente: “Em Portugal, não consigo sequer compreender que percentagem do PIB o Estado dedica ao desporto. Fiz uns cálculos… julgo andar à volta dos 0,8%. É pouco”, insistiu.

O Brasil, por exemplo, tem um programa de “detecção de talentos” da responsabilidade do Ministério da Educação. “Os talentos estão nas aulas de Educação Física”, concordou o judoca Nuno Delgado (medalha de bronze nos Jogos de Sydney/2000), também presente no debate. “Mas a maioria dos miúdos prefere ir jogar Playstation…”

Nuno Barreto (medalha de bronze, com Hugo Rocha, nos Jogos de Atlanta/1996, em vela) e presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, estabeleceu um paralelismo entre o seu próprio percurso e a realidade que hoje observa: “Eu só comecei a sair para o mar acompanhado de treinador três anos antes dos Jogos. Durante muitos anos, fui para o mar sozinho. Hoje, os miúdos não querem ir para dentro de água sem treinador, ao frio, à chuva… Preferem ficar em casa”.

A falta de “cultura desportiva” é, porventura, um dos maiores obstáculos à obtenção de mais e melhores resultados desportivos. Nuno Delgado defendeu que não faltam boas infraestruturas desportivas em Portugal. “O problema é que não estão bem distribuídas. Não são rentabilizadas até ao limite”, disse o judoca, que dirige a sua própria escola de judo.

Conclusão de Vicente de Moura: “O desporto evoluiu. Portugal progrediu. O drama é que os outros também progridem…”

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 24 de novembro de 2009. Pode ser consultado aqui

Iranianas aderem ao râguebi

Há cada vez mais mulheres a praticar râguebi no Irão. A Al Jazira assistiu a um treino da equipa que lidera o campeonato feminino

No Irão, as mulheres não podem entrar nos estádios para assistir a jogos de futebol. Mas podem praticar râguebi, um dos desportos fisicamente mais exigentes. O campeonato nacional é liderado por uma equipa de Teerão, que a televisão árabe Al Jazira visitou durante um treino. As atletas garantem que, no relvado, as regras são as mesmas dos homens. E que o hijab — no Irão, as mulheres devem cobrir a cabeça e disfarçar a silhueta do corpo — não estorva, apesar de facilitar as placagens. “Adoramos este desporto e o não é um obstáculo”, confirma a treinadora Elham Shahsavarri. Para as atletas, o que são obrigadas a vestir é um pormenor, que não afecta o entusiasmo que o desporto lhes proporciona. A popularidade do râguebi entre as iranianas já levou mesmo à formação de uma selecção nacional, que treina desde há um ano.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 10 de novembro de 2009. Pode ser consultado aqui

Pôr os PALOP no mapa

Sem grande esperança na obtenção de medalhas, os PALOP levam delegações simbólicas a Pequim. A moçambicana Lurdes Mutola é a estrela maior. Os restantes atletas vão pela experiência e para mostrar o país 

Desde miúdo que Talata se habituou a recorrer à força dos braços para lançar os adversários ao tapete. Hoje, para sobreviver, este antigo campeão africano de luta livre, que fez história ao tornar-se o primeiro guineense a qualificar-se, por mérito próprio, para uns Jogos Olímpicos (Atlanta, 1996), usa a força para partir pedra e carregar baldes de cimento, em Portugal. Nas obras, chamam-lhe campeão, e os colegas guineenses que testemunharam os seus dias de glória lamentam a injustiça da sua situação: “O Estado da Guiné não presta. Onde já se viu um grande homem a trabalhar nas obras”, comentam.

Nascido em 1963, em Gabu, Talata Embalo é um ídolo no seu país. Graças ao primeiro lugar que obteve no Campeonato Africano de Luta Livre, em 2000, na Tunísia, o hino guineense fez-se ouvir e encheu toda a nação de orgulho. “Foi muito emocionante ouvir o hino e ver a bandeira. As pessoas perguntavam-me: ‘Onde fica a Guiné?’”, recorda o lutador.

Sem tapete para treinar, Talata tinha a seu favor a escola da luta tradicional. “Para as pessoas que vivem nas aldeias, a luta é a primeira modalidade. É a brincadeira das crianças. Todos lutamos, ‘tabanca’ contra ‘tabanca’. E o vencedor ganha fama e respeito”, diz Alberto Pereira, que treinou Talata entre 1991 e 2000.

Nenhum dos três filhos do lutador, a viverem na Guiné, pratica a luta. “Agora é mais futebol”, diz Talata, que ainda sonha com um futuro ligado ao ensino da luta. “Na Guiné, não falta matéria-prima.”

Em 2000, Talata Embalo foi campeão africano, contra grandes adversidades. No estágio em Marrocos que antecedeu a competição, foi projectado para fora do tapete e lesionou-se num joelho. Mas o seu talento e força de vontade levaram-no a conquistar a medalha de ouro e a, nesse mesmo ano, participar nos Jogos de Sydney. No entanto, a lesão minou-lhe a carreira. Há oito anos que Talata espera que as autoridades guineenses se lembrem dele e o ajudem a fazer os tratamentos. “Sinto-me esquecido. Ninguém pergunta: ‘Onde está o campeão?’”

Todos os PALOP beneficiam do princípio da “solidariedade olímpica”, que não obriga a provas de qualificação

Entre os guineenses, a luta continua a ser a modalidade mais competitiva fora de portas. Até ao momento, o lutador Augusto Midana é o único guineense qualificado para os Jogos de Pequim. Estreante nas lides olímpicas, foi medalha de bronze no Campeonato Africano de 2007. Mas no universo de atletas oriundos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) que competirão na capital chinesa, o sonho de uma medalha só é mesmo permitido à moçambicana Maria de Lurdes Mutola. Aos 35 anos, a medalha de bronze em Atlanta e campeã olímpica em Sydney nos 800 metros prepara-se para viver os seus últimos Jogos.

Kurt Couto é o outro moçambicano que acompanhará Lurdes Mutola no atletismo (400 metros barreiras). Em Outubro de 2006, na primeira edição dos Jogos da Lusofonia, em Macau, Kurt foi o primeiro atleta africano a conquistar uma medalha de ouro, quebrando a hegemonia de brasileiros e portugueses.

Para além destes dois atletas, Moçambique deverá levar a Pequim dois nadadores e um judoca, ao abrigo de um privilégio atribuído pelo Comité Olímpico Internacional aos países menos competitivos. Todos os PALOP beneficiam desta solidariedade olímpica, que não obriga à disputa de provas de qualificação ou à obtenção de resultados mínimos.

São Tomé e Príncipe, por exemplo, conta levar a Pequim uma delegação de 12 pessoas, incluindo técnicos e dirigentes. O arquipélago recebeu um convite (“wildcard”) para preencher dois lugares no atletismo, vagas que são disputadas por quatro atletas são-tomenses (Celma da Graça, Deodato Freitas, Naiel da Almeida e Glória Diogo), todos federados em clubes portugueses. “Estamos muito longe de obter qualquer medalha, mas se o pódio aparecer será bem-vindo, já que a esperança é a última coisa a morrer”, disse o chefe da equipa técnica da pré-selecção olímpica de atletismo, António de Menezes. O técnico aposta “numa participação condigna” em nome dos são-tomenses e numa “maior visibilidade” do país.

Pela primeira vez, o arquipélago de Cabo Verde disputa uma vaga para o torneio olímpico de basquetebol

À semelhança de São Tomé, também Cabo Verde iniciou as suas prestações olímpicas em Atlanta (1996) com uma representação simbólica. Temos ido aos Jogos sem a pretensão de trazer medalhas para casa, explica o presidente do Comité Olímpico Cabo-Verdiano, Franklin Palma. “A nossa preocupação maior é garantir com a nossa presença alguma visibilidade para Cabo Verde, diz.

Graças a um convite, Cabo Verde tem já assegurada a participação de três atletas em Pequim: Wânia Monteiro (ginástica rítmica), Nelson Cruz (maratona) — ambos radicados em Portugal — e Lenira Santos (200 e 400 metros). Mas é no basquetebol que pode fazer furor… Pela primeira vez, vai disputar uma vaga para o torneio olímpico de basquetebol. Entre 14 e 20 de Julho, a selecção cabo-verdiana masculina participará em Atenas no Torneio Pré-Olímpico Mundial, onde, na primeira fase, enfrentará a Alemanha e a Nova Zelândia. Isto decorre do feito dos bravos crioulos, como ficaram conhecidos os basquetebolistas cabo-verdianos, que no ano passado, em Angola, ganharam a medalha de bronze no Afrobasket.

A jogar em casa, os Palancas Negras confirmaram a hegemonia que vêm evidenciando nos últimos anos no basquetebol, revalidando o título africano e assegurando desde logo o passaporte para Pequim. Neste momento, Angola tem já qualificados 30 atletas (12 no basquetebol masculino, 14 no andebol feminino, 2 na natação, 1 no atletismo e 1 na canoagem). Os angolanos não esperam obter medalhas, mas os basquetebolistas fazem-nos sonhar… Em 1992, em plenos Jogos Olímpicos de Barcelona, a selecção angolana de basquetebol derrotou a equipa da casa por 20 pontos de diferença, silenciando os ruidosos espanhóis que enchiam o Pavilhão Olímpico de Badalona.

Artigo elaborado com o contributo de correspondentes do “Expresso” nos PALOP e publicado na revista Única, a 21 de junho de 2008. Pode ser consultado aqui