Governo português financiou uma escola na região de Nablus. Mas à conta da crise não se preveem novas ações de cooperação
Foi hoje inaugurada, na região de Nablus (norte da Cisjordânia), a Escola Feminina de Beit Furik, financiada pelo Governo português. A estrutura inclui 16 salas de aula, totalmente equipadas, e irá acolher 470 alunas.
O projeto custou um milhão de dólares (cerca de 740 mil euros) e decorre do Protocolo de Cooperação celebrado entre Portugal e a Autoridade Nacional Palestiniana em 2009. O documento previa a construção de três escolas de ensino básico, num custo total de três milhões de dólares (2,2 milhões de euros).
A primeira escola foi inaugurada em 2010, em Qalqis, na região de Hebron. Em junho de 2011, começou a construção do segundo estabelecimento de ensino, hoje inaugurado. Os valores desembolsados pela cooperação portuguesa dizem respeito aos anos orçamentais de 2009 e 2010.
Em virtude das dificuldades económicas entretanto surgidas, “foi acordado posteriormente com as autoridades palestinianas restringir o protocolo à construção de duas escolas”, explicou ao Expresso Jorge Lobo Mesquita, Chefe de Missão da Representação de Portugal em Ramallah.
“Neste momento, não se prevê o desenvolvimento de novas ações de cooperação nos territórios palestinianos ocupados.”
Mais crise, menos cooperação
Para além do diplomata português, marcaram presença na cerimónia de inauguração Ali Zaidan Abu Zuhri, ministro palestiniano da Educação, e Jibreen al-Bakri, governador de Nablus, uma das principais cidades da Cisjordânia. A escola situa-se no sopé do colonato judeu Itamar, maioritariamente povoado por judeus ortodoxos.
“O ministério da Educação local acompanhou a construção da escola, sob supervisão de auditores internacionais, num modelo semelhante ao aplicado pela comunidade doadores”, disse o diplomata.
Portugal abriu a sua representação diplomática em Ramallah em 1999 e, desde então, apoiou a construção de uma residência universitária feminina na Universidade Al-Najah, em Nablus, e ainda a construção de um campo desportivo na localidade de Al-Khader, na área de Belém.
Através dos orçamentos de cooperação dos 28 Estados membros e do orçamento comunitário, a União Europeia é quem mais contribui, em ajuda externa, para a Palestina.
Dia de inauguração é dia de festa, em qualquer parte do mundo e na Palestina também…Em Nablus, uma das grandes cidades da Cisjordânia, foi inaugurada a “Escola Portuguesa”Centenas de jovens da localidade de Beit Furik participaram na cerimónia…… e realizaram vários momentos culturais, incluindo a tradicional dança folclórica “Dabka”“Sejam bem vindos”, lê-se no cartaz exibido por esta alunaA escola Beit Furik é um estabelecimento de ensino femininoO Governo português financiou a construção do edifício e os equipamentos das salasA escola tem capacidade para acolher 470 alunas…… e foi construída num terreno doado pela Câmara Municipal de Beit FurikO representante diplomático de Portugal em Ramallah, Jorge Lobo Mesquita, e o ministro palestiniano da Educação, Ali Zaidan Abu Zuhri, cortam a fitaNo seu discurso, o ministro palestiniano valorizou o facto da construção da escola ter obedecido aos mais altos padrões internacionais de engenhariaO governador de Nablus, Jibreen al-Bakri, referiu que os colonatos e as práticas de ocupação israelitas causam sofrimento na regiãoA Escola Beit Furik fica no sopé do colonato Itamar, maioritariamente habitado por judeus ortodoxosAs alunas também se fizeram ouvir durante a cerimónia de inauguraçãoO diplomata português recordou os laços de amizade fortes e históricos entre os dois povosOs palestinianos agradecem ao “Governo e ao povo irmão de Portugal”, lê-se na placa oferecida
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 4 de novembro de 2013. Pode ser consultado aqui
Na escola secundária de Pol-e-Charki, a 5 km de Cabul, a maioria dos alunos tem aulas ao relento, uns debaixo de uma cobertura de zinco, outros a céu aberto, com as carteiras dispostas no meio do recreio. No passado dia 27, uma grande quantidade de material escolar oferecido por particulares, empresas e instituições portuguesas foi distribuída por militares lusos. A escola acolhe cerca de 5500 jovens e crianças, distribuídos por 140 turmas. Graças à ajuda do contingente português, a escola dispõe já de 32 salas de aula. Fica a faltar um espaço de lazer e… luz, saneamento e água potável.
FOTO CONTINGENTE PORTUGUÊS
Artigo publicado no “Expresso”, a 6 de agosto de 2011. Pode ser consultado aqui
O sultanato omanita é “a estrela” do Índice de Desenvolvimento Humano de 2010 das Nações Unidas. Foi o país que mais melhorias registou
Crianças omanitas, em Mascate MARGARIDA MOTA
Omã foi, num universo de 135 países, aquele que mais progressos registou no Índice de Desenvolvimento Humano de 2010 — um barómetro encomendado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) que avalia os países em matéria de saúde, educação e dos padrões de vida básicos — apresentado na semana passada.
O pequeno sultanato da região do Golfo — pequeno comparativamente ao vizinho e gigante saudita porque, na verdade, Omã é três vezes maior do que Portugal — vê, assim, consagrado o investimento feito na educação através dos ganhos do petróleo.
A educação formal em Omã começou apenas em 1970, ano em que Qaboos bin Said subiu ao trono do sultanato. “Mesmo que não tenhamos edifícios, temos de educar as nossas crianças, ainda que à sombra das árvores”, passou a ser o lema. Omã tinha apenas três escolas, frequentadas por 900 crianças — todas do sexo masculino —, não havia currículos nacionais e os professores eram contratados nos países vizinhos. Qaboos elegeu os recursos humanos como o maior recurso e o maior ativo de Omã e encetou um programa de modernização e abertura ao exterior — o seu pai e antecessor, Said bin Taimur, de uma forma paranoica, fechara o país ao mundo. Hoje, o sultanato tem à volta de 1300 escolas (públicas e privadas) e as crianças começam a aprender inglês e informática na escola primária. Rapazes e raparigas têm as mesmas oportunidades no acesso à educação e, nos últimos anos, as raparigas têm-se evidenciado com desempenhos superiores aos alunos do sexo oposto.
A aposta na educação é, paralelamente, um dos pilares do programa de omanização das estruturas produtiva e administrativa, em vigor desde 1988. Se há 40 anos, Omã necessitava de importar mão de obra qualificada para o país funcionar, hoje os omanitas conquistam cada vez mais postos de trabalho aos expatriados.
Num artigo publicado, há cerca de um mês, no “The New York Times” — intitulado “O que Omã nos pode ensinar” —, o colunista Nicholas Kristof, após visitar o país, escreveu: “Ao mesmo tempo que os EUA recorrem ao poder das armas para tentar esmagar o extremismo no Afeganistão, Paquistão e Iémen, poderiam, antes, considerar a lição do notável país árabe que é Omã”.
Geograficamente contíguos, Omã e Iémen — país que, como diz Kristof, “tornou-se uma incubadora para terroristas aliados da Al-Qaeda” — vivem realidades contrastantes em matéria de ameaça terrorista. Kristof conclui: “Uma das lições de Omã é que uma das melhores e mais eficazes formas para subjugar o extremismo é promover a educação para todos”.
Salalah, cidade portuária no sul de Omã onde teve início a revolução social e económica do país MARGARIDA MOTA
RELATÓRIO DO PNUD
76,1 anos é a esperança média de vida a que um recém-nascido omanita pode aspirar, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano 2010. O resultado de Omã é superior ao do Brasil (72,9) e à da comunitária Polónia (76). A média de Portugal é de 79,1. No capítulo da educação, as crianças omanitas têm 11,1 anos de escolaridade esperados
Artigo publicado no “Expresso”, a 13 de novembro de 2010
Nas escolas israelitas e palestinianas, que reabrem esta semana, os mesmos factos são interpretados de forma diferente. Uns manuais inovadores agora publicados tentam promover a reconciliação
Na coluna da esquerda, a narrativa israelita. À direita, a interpretação palestiniana
Num pequeno número de escolas israelitas e palestinianas, a conturbada história entre os dois povos é ensinada através de manuais sui generis. Cada página está dividida em três colunas: na da esquerda, explica-se a versão israelita de um determinado facto histórico; na da direita, o ponto de vista palestiniano sobre o mesmo acontecimento; a coluna do meio é deixada em branco para que os alunos façam anotações.
“Nesse espaço, encontramos todo o género de comentários, desde alunos que têm uma atitude de rejeição e de completa negação em relação ao outro até àqueles que tentam encontrar semelhanças e diferenças entre as duas narrativas”, afirmou ao Expresso Sami Adwan, professor na Universidade de Belém (Cisjordânia) e um dos fundadores do Instituto de Investigação da Paz no Médio Oriente (PRIME), a organização que elaborou os manuais. “Um dos objectivos deste projecto é levar as crianças israelitas e as palestinianas a aprenderem a narrativa histórica do outro. A educação tem sido usada para perpetuar o conflito. Queremos torná-la parte da solução”, diz.
Manual na língua inglesa
Nos manuais oficiais israelitas, os imigrantes judeus que rumaram à Palestina ainda antes da criação de Israel são chamados “pioneiros”; nos palestinianos, são “gangues” e “terroristas”. Por outro lado, poucos estudantes israelitas sabem que na sequência da criação do Estado de Israel (1948), cerca de 750 mil palestinianos foram expulsos dessas terras e tornaram-se refugiados (ver no fim). Da mesma forma, o Holocausto é ignorado no currículo palestiniano. De uma maneira geral, quem é terrorista para uns é herói para os outros.
No ano lectivo passado, cerca de 30 professores, israelitas e palestinianos, usaram os manuais do PRIME. A adesão dos docentes ao projecto é voluntária e decorre à revelia dos respectivos ministérios da Educação. “Nós abordamos alguns professores e tentamos cativá-los para o projecto. Outros são abordados por colegas e outros ainda contactam-nos após ouvirem falar do projecto nos media”, explica Sami Adwan. “Tentamos recrutar os professores directamente. Não solicitamos aprovação às escolas ou aos ministérios para que os manuais façam parte dos currículos oficiais”. Segundo o palestiniano, seria pura perda de tempo, uma vez que não há condições políticas para que a resposta fosse positiva…
“Recordo-me de um professor palestiniano que, um dia, foi mandado parar num checkpoint israelita e sujeito a situações humilhantes durante duas horas. Depois dessa experiência abandonou o projecto”, diz. Nas aulas, a tarefa dos professores chega mesmo a ser irreal… Como explicar aos alunos que ‘o outro’ é igualmente sofredor ou é uma vítima à luz da História quando a realidade quotidiana o apresenta como o ocupante ou o terrorista? “Os alunos perguntam aos professores: ‘Porque nos ensina a narrativa do inimigo? Está a trair a nossa identidade nacional…’ Alunos e pais questionam a honestidade dos professores. Não é nada fácil, sobretudo porque estamos a lidar com emoções.”
Manual na língua hebraica
Até ao momento, o PRIME já publicou três manuais, que resultaram do trabalho conjunto de docentes e historiadores israelitas e palestinianos. “Para alguns professores palestinianos, é muito duro escrever as narrativas em conjunto com os israelitas, e vice-versa. Neste projecto, as pessoas sentam-se lado a lado e trabalham de uma forma simétrica. É muito diferente da política ou do quotidiano da rua, que são realidades completamente assimétricas…”
Sami Adwan admite sofrer pressões políticas no sentido de desistir do projecto, mas elege o financiamento como o grande desafio à sua continuidade. Um ano de actividades custa entre 250 e 300 mil dólares (entre 175 e 210 mil euros) e todas as ajudas são bem-vindas. A 20 de Julho passado, o PRIME foi galardoado — juntamente com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados — com o Prémio Internacional Calouste Gulbenkian. “Estamos muito gratos! Este dinheiro [50 mil euros] vai ajudar-nos muito no próximo ano, na organização de reuniões e na elaboração dos livros.”
Manual na língua árabe
Criado para aproximar israelitas e palestinianos, este projecto está a servir de inspiração noutras zonas em conflito. Na Macedónia, a Universidade de Skopje publicou um manual de história albano-macedónio seguindo o mesmo método. Sami Adwan espera que, um dia, essa seja a regra nas escolas israelitas e palestinianas.
ISRAEL MANDA APAGAR ‘NAKBA’
Em Julho, o Ministério da Educação de Israel ordenou que a palavra nakba fosse apagada dos manuais escolares usados pelas crianças árabes. Em árabe, nakba significa catástrofe e é desta forma que os habitantes da Palestina se referem à guerra de 1948 que se seguiu à expulsão de 750 mil palestinianos das suas terras e à independência de Israel. “A integração desta ideia nas aulas dos israelitas árabes (um quinto da população), há uns anos, constitui um erro que será corrigido nos próximos manuais”, afirmou o ministro Gideon Saar. “Não há razão para falarmos da criação de Israel como uma catástrofe. O objectivo do sistema educativo não passa por negar a legitimidade do nosso Estado nem por promover o extremismo entre israelitas e árabes”.
Artigo publicado no “Expresso”, a 12 de setembro de 2009
Jornalista de Internacional no "Expresso". A cada artigo que escrevo, passo a olhar para o mundo de forma diferente. Acho que é isso que me apaixona no jornalismo.