Três atentados recentes fizeram subir o nível de alerta. A França quer mexer em Schengen
1 Porque se fala de novo de terrorismo?
Porque o Velho Continente voltou a ser alvo da violência jiadista. Na terça-feira, em Viena, quatro pessoas morreram e 15 ficaram feridas num ataque com arma branca realizado por um austríaco de 20 anos, de origem macedónia. O homem tinha cumprido pena de prisão após ser detido quando se preparava para ir para a Síria e juntar-se ao autodenominado “Estado Islâmico” (Daesh). Este grupo terrorista reivindicou o ataque.
2 Este atentado foi caso único?
Não. A 16 de outubro, na cidade francesa de Conflans-Sainte-Honorine, Samuel Paty, um professor de 47 anos, foi decapitado por um refugiado de 18 anos de origem chechena, por ter mostrado caricaturas do profeta Maomé numa aula sobre liberdade de expressão. E a 29 seguinte, também em França, um tunisino esfaqueou mortalmente três pessoas, dentro da Basílica de Notre-Dame de l’Assomption, em Nice. Uma das vítimas, uma mulher de 60 anos, foi degolada (a intenção do terrorista era decapitá-la).
3 Como reagiu a Europa?
Esta semana, o Reino Unido elevou o nível de alerta para “grave”. Já antes a França decretara alerta máximo. “Sou favorável a uma revisão profunda de Schengen para repensar a sua organização e fortalecer a segurança da nossa fronteira comum com uma força fronteiriça adequada”, defendeu na quinta-feira o Presidente francês, durante uma visita a um ponto fronteiriço com Espanha. Emmanuel Macron anunciou a duplicação do número de agentes nas fronteiras francesas.
4 Macron questiona Schengen porquê?
Quer o agressor de Viena quer o de Nice circularam livremente pela área Schengen antes de atacarem. O tunisino Brahim Aouissaoui entrou na Europa pela ilha italiana de Lampedusa, onde chegou a 20 de setembro num barco de pesca, e viajou de comboio para França, onde chegou horas antes de matar em Nice. Já Fejzulai Kujtim, o jiadista de Viena, viajou até à vizinha Eslováquia, em julho, para tentar comprar munições.
5 Porquê matar por decapitação?
Por uma questão de propaganda. Decapitar é um ato bárbaro que revela poder e induz medo. O Daesh decapitava pessoas, filmava e punha a circular nas redes sociais. Mas também devido a uma dimensão espiritual. Muitos movimentos religiosos acreditam que, para o Juízo Final ter lugar — e o defunto ganhar a Eternidade —, o corpo tem de estar inteiro.
Artigo publicado no “Expresso”, a 7 de novembro de 2020. Pode ser consultado aqui
