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A Guernica da Palestina

Planeados para durar 45 dias, os protestos na Faixa de Gaza vão a meio. O número de mortos não esmorece um protestos que os palestinianos consideram justo e moral

ILUSTRAÇÃO DE CARLOS LATUFF

Na Faixa de Gaza, a Grande Marcha do Regresso vai sensivelmente a meio caminho. Iniciados a 30 de março e com fim previsto para 15 de maio, os protestos massivos junto à fronteira com Israel pelo direito de retorno dos refugiados palestinianos às terras de onde foram expulsos após a criação do Estado judeu cumpriram, esta sexta-feira, a sua 22º jornada. Pelo caminho já tombaram mortos 37 palestinianos, quatro deles nos protestos desta sexta-feira.

Uma das vítimas é Yaser Murtaja, um fotojornalista de 31 anos. Morreu há uma semana, atingido a tiro por um “sniper” israelita quando se preparava para continuar a disparar… fotografias. Na cabeça tinha um capacete protetor e no corpo um colete que o identificava com a palavra “press”. “Foi abatido a sangue frio apenas porque segurava uma câmara, com a qual transmitia imagens para o mundo”, diz ao Expresso Asad Abu Sharkh, de 65 anos, professor universitário na área de Linguísticas e porta-voz da Grande Marcha. “São as ordens que eles têm do chefe de Estado-Maior, Gadi Eizenkot: atirar a matar contra quem se aproximar da cerca. Matar o maior número possível de palestinianos para intimidar. Sentem-se apoiados pela política de ‘dois pesos’ dos países ocidentais e estão protegidos pelo veto dos Estados Unidos” nas Nações Unidas.

Nascido em Ashkelon (atual território de Israel), Asad é um dos milhões de palestinianos que sonham com o regresso à terra onde nasceram. Um tio seu foi o último presidente da Câmara da cidade, até 1948, ano da criação de Israel. “Esta Marcha é um grito para o mundo exterior. Um apelo à comunidade internacional para que aplique as resoluções adotadas na ONU em defesa dos refugiados palestinianos” — como a resolução 194, sobre o direito de regresso e de repatriamento.

“Não podemos esperar mais, sentimo-nos desumanizados, perseguidos. Israel está a fazer uma guerra genocida contra o povo da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Nega os nossos direitos e ignora as resoluções internacionais relativas à questão palestiniana. Intimida os palestinianos para forçá-los a abandonar as terras e traz judeus de todo o mundo para as ocupar. Isto é uma limpeza étnica.”

Asad Abu Sharkh, no uso da palavra, durante uma palestra sobre “formas de resistência popular”, numa das “tendas do regresso”, em Gaza HAIDAR EID

Os protestos em Gaza tornam-se notícia à sexta-feira — o “domingo” dos muçulmanos, dia em que estão mais disponíveis para ações de intervenção social, muitas vezes incentivados pela oração do meio-dia, nas mesquitas, a principal da semana. Mas a iniciativa “vive” durante toda a semana, especialmente no interior das tendas montadas próximo da fronteira.

Na quarta-feira, no interior de uma delas, Asad participou numa palestra intitulada “A Grande Marcha do Regresso e o Movimento BDS: Formas principais de resistência popular”. BDS significa “Boicote, Desinvestimento e Sanções” e alude a uma campanha internacional que visa isolar Israel a todos os níveis, sobretudo académico e cultural.

No dia seguinte, o movimento assinalaria uma vitória importante. Galardoada com o Prémio Genesis, que reconhece “pessoas extraordinárias que inspiram a próxima geração de judeus”, a atriz norte-americana e israelita Natalie Portman — nascida em Jerusalém, em 1981 — anunciou que não iria a Israel receber a distinção devido a “acontecimento recentes” no país. A cerimónia, marcada para junho, foi cancelada.

“Batalha” dos panfletos

Em antecipação a mais uma jornada forte de protestos, na quinta-feira, as Forças de Defesa de Israel (IDF) “bombardearam” Gaza com panfletos: “Residentes de Gaza: Vocês estão a participar em atos de violência. O Hamas usa-vos para os seus objetivos extremistas. As IDF estão preparadas para tudo”. A mensagem aconselhava os locais a não se aproximarem da cerca e a manterem-se “longe de terroristas que praticam atos de violência. As nossas forças de defesa farão tudo o que for necessário para travar qualquer ataque ou assalto”.

O Expresso perguntou a Asad Abu Sharkh se os manifestantes irão tentar derrubar a cerca. “Os palestinianos estão muito determinados em continuar com os protestos de forma pacífica, de forma pacífica”, repete, “sem violência”, realça, “usando meios e métodos legais nos termos do direito internacional e das resoluções da ONU”.

Os factos dizem que, desde o início da Grande Marcha, nenhum “rocket” foi disparado desde a Faixa de Gaza contra território israelita, como muitas vezes acontece em contextos de agitação.

Ao estilo de uma “guerra psicológica”, o Hamas divulgou panfletos em árabe e hebraico destinados aos israelitas: “Sionistas: Vocês não têm lugar na Palestina. Regressem ao lugar de onde vieram. Não respondam aos vossos líderes. Eles estão a enviar-vos para a morte”. A mensagem atravessou a fronteira em papagaios de papel.

Na quinta-feira, as chamadas “tendas do regresso” receberam ordem para avançar 50 metros no terreno, sentido da fronteira. A medida foi “uma mensagem de persistência por parte do nosso povo para o mundo de que estamos a movimentar-nos na direção dos nossos objetivos legítimos”, anunciou o comité organizador. As tendas estão agora entre 500 e 700 metros de distância de Israel.

Interior de uma “tenda do regresso”, montada próximo da fronteira, onde se assiste a uma conferencia sobre a questão palestiniana HAIDAR EID

Habitantes de um retângulo de território de 41 quilómetros de comprido por seis a doze de largura, cerca de dois milhões de pessoas vivem em Gaza ao estilo de “uma prisão a céu aberto”, diz Asad Abu Sharkh.

Se, no passado, Israel chegou a adotar uma política de assassinatos seletivos para “eliminar” alvos concretos — como o “sheikh” Ahmed Yassin, líder espiritual do Hamas, alvejado por um helicóptero da Força Aérea israelita na sua cadeira de rodas, em 2004 —, hoje a estratégia em Gaza passa por uma “punição coletiva”.

O bloqueio israelita e egípcio asfixia o território e condena a sua população ao desespero. O único posto de fronteira que permite a saída de pessoas de Gaza — Rafah, no sul, que dá para a Península do Sinai — tem estado quase sempre fechado: em 2016 abriu 42 dias e em 2017 apenas 36.

E, no domínio da política palestiniana, o interminável braço de ferro constante entre o Hamas (que controla a Faixa de Gaza) e a Fatah (a fação dominante na Autoridade Palestiniana) mina a tão desejada reconciliação nacional.

Nascido no campo de refugiados de Nusairat (centro da Faixa de Gaza), Haidar Eid cresceu sob ocupação israelita. A família é originária da aldeia de Zarnuqa, área de Ramla (centro de Israel), cidade com uma população predominante judia, mas onde ainda vive uma minoria de árabes. Na sua página no Facebook, Haidar tem como imagem principal a famosa pintura de Pablo Picasso que alude ao sofrimento humano em contexto de violência. Diz ao Expresso: “Gaza é a Guernica da Palestina”.

Artigo publicado no Expresso Diário, a 20 de abril de 2018. Pode ser consultado aqui

O pior pesadelo de Israel

Depois dos “rockets” disparados contra território de Israel e dos ataques surpresa através de túneis, os palestinianos da Faixa de Gaza parecem apostados num novo método de confronto. Começou na passada sexta-feira e está planeado para durar mais seis semanas — até ao 70º aniversário de Israel

Uma onda gigante de protestos pacíficos cresce na direção do território de Israel ISMAIL ELBOZOM

É o pior dos pesadelos de Israel — hordas de palestinianos a caminho da fronteira, com a intenção de a derrubar, motivados pela ideia de recuperarem terras que outrora foram suas e que foram ocupadas por Israel quando da criação do estado judeu. Este pesadelo ganhou vida e está a acontecer na Faixa de Gaza. “Vai acontecer todos os dias. Às sextas-feiras, será o dia principal”, diz ao Expresso, desde Gaza, o fotógrafo Ahmed Salama, de 23 anos. “Os palestinianos vão usar um método novo. Vão tentar e tentar e tentar… Talvez na próxima sexta-feira consigam entrar. Não temos nada a perder. O bloqueio está a matar-nos lentamente.”

Depois de anos em que Gaza reagiu ao bloqueio por terra, mar e ar, imposto por Israel e pelo Egito, lançando “rockets” contra território israelita ou tentando surpreender o inimigo através de túneis escavados sob a fronteira, uma nova estratégia está a mobilizar os palestinianos daquele território: marchas volumosas e persistentes na direção da fronteira, “indiferentes” aos que tombam mortos pelo caminho.

“Há tendas em cinco posições principais ao longo da fronteira” de 65 quilómetros, diz Ahmed. Chamam-lhes “cidades de tendas” e começaram a erguer-se no início de março para acomodar os manifestantes, incluindo famílias inteiras, “no ponto seguro mais próximo da fronteira”, explicava então Ahmed Abu Ayesh, porta-voz do comité coordenador, garantindo que as Nações Unidas seriam notificadas dos protestos.

Na sexta-feira passada, dia da primeira grande investida, milhares de palestinianos seguiram desarmados. Muitos outros não, arremessando pedras, bombas incendiárias, pneus a arder e tentando destruir a fronteira e entrar em território de Israel.

Da resposta das forças de segurança israelitas resultaram 17 palestinianos mortos (Israel diz que tem registos de “atividades terroristas” de “pelo menos 10”) e 1479 feridos — 757 alvejados com fogo real, informou, no domingo, o Ministério palestiniano da Saúde. Os restantes foram atingidos por balas de borracha e inalaram gás lacrimogéneo, disparado a partir de pequenos drones, a mais recente inovação tecnológica ao serviço das tropas de Israel.

Mahmud Abbas, o presidente da Autoridade Palestiniana — que, no ano passado, para pressionar o rival Hamas, que controla Gaza, ordenou cortes de energia no território, obrigando a população a viver com quatro horas de luz —, apelou à intervenção urgente das Nações Unidas. Logo na sexta-feira, o secretário-geral da organização, António Guterres, pediu “uma investigação independente e transparente a estes incidentes”. O assunto foi a debate, com urgência, no Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas e sucumbiu às sensibilidades da geopolítica.

O Kuwait, o único país árabe atualmente representado no CS, apresentou uma proposta de declaração apelando a uma investigação à violência, no mesmo sentido das palavras de Guterres. Citado pela agência AFP, “um diplomata do CS” disse que os Estados Unidos — que têm o poder de veto naquele organismo — levantaram objeções e fizeram saber que não apoiariam a adoção do documento.

Em Israel, o ministro da defesa, Avigdor Lieberman, lançava combustível para a fogueira, rejeitando qualquer comissão de inquérito aos factos ocorridos junto à fronteira com Gaza e afirmando que os soldados israelitas ali em missão “merecem uma medalha”.

Festa de uns, lamento de outros

A “Marcha do Regresso” tem inerente todo um simbolismo ao qual nenhum palestiniano ou israelita é indiferente. Começou na sexta-feira, 30 de março, no tradicional “Dia da Terra” que assinala a morte, em 1976, no norte de Israel, de seis israelitas árabes, às mãos da polícia, durante protestos contra a expropriação de terras árabes por parte do Governo de Telavive.

Está planeada para terminar a 15 de maio, dia em que os palestinianos assinalam a “catástrofe” (“Nakba”), o início do atual problema dos refugiados quando mais de 700 mil palestinianos fugiram ou foram expulsos das suas terras na sequência da criação, nas Nações Unidas, do Estado de Israel (1948), e da guerra da Independência que se lhe seguiu.

Na véspera do aniversário da “Nakba”, Israel comemorará o seu 70º aniversário — este ano, antevê-se, de forma mais esfusiante do que o habitual, em virtude do “presente” dado pelo aliado norte-americano: a transferência da sua embaixada de Telavive para Jerusalém, prevista para coincidir com o aniversário.

Na sexta-feira, quando participava nos protestos, o líder do Hamas enunciou o objetivo: “O nosso povo não pode abdicar de um centímetro de terra da Palestina. Os protestos continuarão até que os palestinianos regressem às terras de onde foram expulsos há 70 anos”, declarou Yahya Sinwar.

O movimento islamita — que convocou estes protestos — controla a Faixa de Gaza desde há quase 12 anos. Desde então, Hamas e Israel já travaram três guerras, em 2008/09, 2012 e 2014. A próxima poderá estar já em curso — seis semanas de confrontos na fronteira, em que os palestinianos adivinham-se persistentes e os israelitas intransigentes. E se há garantia neste conflito é que em cada funeral de um palestiniano abatido por Israel — e vice-versa — a dor é acompanhada pelo desejo de vingança.

Artigo publicado no Expresso Diário, a 2 de abril de 2018, e republicado no “Expresso Online”, no dia seguinte. Pode ser consultado aqui e aqui

“Ataque súbito” de Israel à Faixa de Gaza

A força aérea israelita bombardeou posições do Hamas na Faixa de Gaza na sequência do disparo de um projétil que atingiu Israel. A troca de fogo não provocou vítimas, mas abalou a calma relativa que se vinha vivendo naquele território palestiniano. Ao Expresso, um palestiniano de Gaza diz que a guerra é uma questão de tempo

Projéteis disparados desde a Faixa de Gaza atingem o sul de Israel. Força aérea israelita retalia sobre posições do Hamas naquele território palestiniano. É um guião que se repete de tempos a tempos, a última vez das quais aconteceu às primeiras horas desta terça-feira (hora local, final de segunda-feira em Portugal).

“Foi um ataque súbito. Agora está tudo calmo”, afirmou ao Expresso, a meio da manhã desta terça-feira, o fotógrafo palestiniano Ahmed Salama, residente na cidade de Gaza. “Foi um bombardeamento forte, talvez um alerta em relação à guerra que está para vir… Estamos à espera de uma guerra, só não sabemos é quando.”

Na sequência do disparo de um “rocket” desde Gaza, no final de segunda-feira, que atingiu uma área desabitada do centro de Israel, perto da comunidade de Sha’ar Hanegev, a aviação militar israelita alvejou duas posições do Hamas, o movimento islamita que governa o território desde junho de 2007.

Nem o projétil disparado desde Gaza — ação reivindicada por um grupo salafita denominado Ahfad al-Sahaba — nem a retaliação israelita (na cidade de Gaza e perto de Rafah, no sul) provocaram vítimas.

A mais recente troca de fogo entre Gaza e Israel acontece no dia seguinte ao fim do Ramadão e numa altura em que aquele território palestiniano — com uma população a rondar os dois milhões de pessoas — vive com apenas quatro horas de eletricidade por dia, confirmou Ahmed Salama.

Em termos energéticos, a Faixa de Gaza está dependente do exterior e, recentemente, a pedido da Autoridade Palestiniana (AP), Israel reduziu em 40% o fornecimento de eletricidade ao território. “É uma questão política”, diz Salama. “A AP e Israel querem derrubar o Governo do Hamas e recorrem a muitos instrumentos, como a eletricidade e o encerramento da fronteira.”

Outro meio de pressão sobre o Hamas foi o recente corte em 30% nos salários dos funcionários da Autoridade Palestiniana no território e que já originou manifestações nas ruas de Gaza.

Nos últimos 10 anos, a Faixa de Gaza já foi alvo de três operações militares israelitas de grande envergadura: Operação Chumbo Fundido (2008-2009), Operação Pilar de Defesa (2012) e Operação Barreira de Proteção (2014).

Desde que o Hamas tomou o poder pela força, em meados de 2007, que o território é alvo de um bloqueio por terra, mar e ar, imposto pelas autoridades de Israel e do Egito.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 27 de junho de 2017. Pode ser consultado aqui

Cercado por inimigos

Habituado a viver sob tensão, Israel reconhece passar, atualmente, por uma situação de incerteza junto às suas fronteiras. O “Expresso” visitou três e constatou que, apesar de o Daesh estar às portas, é o Irão que mais causa preocupação. Reportagem em Israel 

Quando olham para o mapa do país, as autoridades de Israel, em vez de Estados, tendem a analisar a vizinhança mais na perspetiva das ameaças. E são muitas. Estamos em Jerusalém, no edifício do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e Ariel Shafransky, diretor do departamento para o Médio Oriente, distribui um mapa de Israel pelos cinco jornalistas portugueses que o visitam. “Quando Israel acorda de manhã e olha pela janela, o que vê em termos estratégicos?”

A noroeste, no Líbano, está o Hezbollah. No território palestiniano da Faixa de Gaza, estão o Governo do Hamas, a Jihad Islâmica Palestiniana (“apoiada e financiada pelo Irão [xiita], apesar de ser uma organização sunita”) e “elementos da jihad global reunidos em pequenos grupos”. A ocidente, o Sinai egípcio é um porto de abrigo de grupos jiadistas. Quanto à fronteira com a Síria, é controlada, a norte, pelo Governo de Bashar al-Assad, ao centro pela oposição armada e a sul por um pequeno grupo local associado ao autoproclamado Estado Islâmico (Daesh). “E temos uma longa fronteira com a Jordânia que está… sossegada. Graças a Deus!”

Com o Daesh a apenas 100 km para leste do território israelita, pode causar estranheza o facto de esta organização extremista ou as suas sucursais — que atacou em Paris a 13 de novembro (129 mortos), afrontou a Rússia abatendo um avião comercial sobre o Sinai (224 mortos) e, inclusive, já visou o Hezbollah no atentado do Líbano de 12 de novembro (43 mortos) — nunca tenha virado as armas diretamente para Israel.

Tudo cai aos bocados

A verdade é que, para vários diplomatas do Ministério dos Negócios Estrangeiros e investigadores do Instituto de Estudos de Segurança Nacional (INSS), de Telavive, a maior ameaça a Israel está a mais de 1500 km de distância. “Por muito grande que uma ameaça como o Daesh seja, contígua à nossa fronteira”, diz Ariel Shafransky, “se tivesse de elaborar uma lista, em primeiro colocaria o Irão, depois o Hezbollah, o Hamas e, só depois, o Daesh e a jihad global.”

Ainda Abu Bakr al-Baghdadi não tinha declarado o ‘califado’ (o que viria a acontecer a 30 de junho de 2014) e já interesses de judeus eram visados pelo terrorismo internacional. São exemplos o ataque ao supermercado kosher em Paris (dois dias após o atentado contra o “Charlie Hebdo” em janeiro de 2014), contra o Museu Judaico de Bruxelas, a 24 de maio de 2014, ou contra uma escola judaica em Toulouse, a 19 de março de 2012.

“A situação em Israel é extremamente complexa, não tanto por razões internas, mas pelo que se está a passar na região”, diz Emanuel Nahshon, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros. “Vivemos numa agitação e incerteza como nunca antes, uma situação desconhecida e imprevisível, com mudanças dramáticas a um ritmo diário. Parece o fim da I Guerra Mundial: o Império Otomano acabou e há o caos. Os Estados estão a desintegrar-se. Já não há Iraque, Síria nem Líbia. Está tudo a cair aos bocados, com consequências dramáticas para todos. Mas Israel está a tentar manter-se de fora.”

GAZA  Ao alcance dos rockets do Hamas

Na localidade israelita mais próxima da Faixa de Gaza, Netiv HaAsara, 800 pessoas vivem com o coração nas mãos

Na aldeia de Netiv HaAsara, há uma parede que funciona como exposição permanente. Fragmentos de mísseis lançados pelo Hamas da Faixa de Gaza revelam ao visitante o perigo a que está exposta aquela localidade israelita, a mais próxima do território palestiniano.

Um dos foguetes parece ser mais sofisticado. “Foi lançado por Israel… Fazia parte do sistema antimíssil [Cúpula de Ferro]”, explica Hila Fenlon, uma agricultora de 38 anos. Netiv Ha’asara está na encruzilhada: apanha com mísseis do Hamas e, involuntariamente, com foguetes de interceção lançados por Israel para defender a população mas que explodem sobre a aldeia.

Nesta aldeia, que funciona como cooperativa agrícola (moshav), vivem 800 pessoas. Muitas, como Hila, que produz sementes que exporta para todo o mundo, tinham sido colonos na Península do Sinai — território egípcio ocupado por Israel em 1967 e devolvido em 1982 na sequência do tratado de 1979.

O primeiro rocket caiu em Netiv HaAsara em 2000, ainda Israel tinha tropas e colonos em Gaza. Até ao momento, foram mortos três habitantes. A possibilidade de haver mortos é maior em cidades grandes como Sderot ou Ashkelon, ainda que mais afastadas do território controlado pelo Hamas e onde Israel, nos últimos sete anos, realizou três grandes operações militares.

“Nominalmente, o Hamas governa a Faixa de Gaza, mas ao mesmo tempo está disposto a permitir a existência de grupos mais extremistas desde que não desafiem a sua autoridade em termos religiosos”, explica o diplomata Ariel Shafransky.

Moradores têm APP no telemóvel que apita quando um rocket vem

Além do Hamas, estão presentes a Jihad Islâmica Palestiniana (PIJ) e pequenos grupos com uma agenda jiadista global, à semelhança da Al-Qaeda e do Daesh. “O Hamas foi, originalmente, estabelecido como um ramo da Irmandade Muçulmana”, explica Shafransky. “A PIJ é um movimento jiadista e as outras organizações mais pequenas servem a jihad global. Todos se comportam-se segundo o lema ‘vive e deixa viver’. Não é uma convivência fácil, há fricções que podem transbordar para Israel.”

Muitos habitantes de Netiv HaAsara têm instalada no telemóvel uma aplicação que alerta, em tempo real, para o disparo de foguetes vindos de Gaza. A app também disponibiliza um chat para saberem notícias de familiares e amigos que vivam ao alcance dos mísseis do Hamas. Junto à Faixa de Gaza, vive-se com o coração nas mãos.

LÍBANO   Uma ameaça contínua chamada Hezbollah

O perigo que a milícia xiita significa não se fica pelo Líbano. O Hezbollah ameaça também a partir da Síria

Espraiada ao longo de 79 km, a fronteira entre Israel e Líbano é chamada “linha azul”. Mas atendendo à conflitualidade frequente teria sido mais lógico um tom mais negro. “O Hezbollah está espalhado ao longo de toda a fronteira norte de Israel”, diz Ariel Shafransky, diretor do Departamento para o Médio Oriente do MNE. “Tem um arsenal de milhares de foguetes de diferentes tamanhos, alcances e precisões, capazes de atingir quase todo o território israelita.”

Na guerra de 2006, mísseis disparados pelo Hezbollah chegaram a Haifa. “Foi terrível. Mas agora têm mísseis mais precisos e destruidores. É um grande problema de segurança para Israel”, diz Samuel Ravel, vice-diretor da Divisão para a Europa do MNE.

A preocupação israelita em relação ao Hezbollah não se confina à fronteira com o Líbano. Israel estima que a milícia xiita tenha à volta de 5000 homens na Síria, em forte cooperação com o Irão em defesa do regime de Assad. Nos últimos três anos e meio sofreram mais de 1200 baixas.

“O interesse de Israel está mais relacionado com o Hezbollah do que com a Síria, que é um pântano que tentamos manter à distância, até agora com sucesso”, diz Shafransky. “É importante para Israel que nenhum equipamento russo vá parar às mãos do Hezbollah no Líbano. E também que a Rússia não permita que Irão e Hezbollah reforcem a sua presença nas áreas junto à nossa fronteira, para que o conflito não transborde para o nosso lado.”

100.000 mísseis é a estimativa que Israel faz em relação ao arsenal do Hezbollah. O número é aproximado, mas a origem é exata: o Irão, que fornece treino, dinheiro e material

Israel já revelou tolerância zero em relação a presenças suspeitas nos Golã. A 18 de janeiro de 2015, bombardeou a parte síria do planalto, matando um general iraniano e seis membros do Hezbollah.

Igualmente, por várias vezes, já atingiu veículos suspeitos de transportarem armas para o Hezbollah, dentro de território sírio. “Ao bombardear armamento sofisticado que está a ser transportado para o Hezbollah não quer dizer que Israel se queira envolver na guerra”, explica Benedetta Berti, do INSS. “Israel atua no pressuposto de que tanto o Hezbollah como os sírios estão demasiado ocupados para responderem à altura. Para mim, é um cálculo perigoso. Israel e Hezbollah estão muito contidos, mas é brincar com o fogo e arriscar uma escalada involuntária.”

Paramos num miradouro sobranceiro à aldeia israelita de Metula para observar o Líbano. Na paisagem verdejante, nada distingue as terras israelitas das libanesas. Ainda assim, um grupo de turistas brasileiros, previsivelmente judeus, insiste com o guia: “O que é nosso e o que é deles?”

GOLà Balcão com vista para a guerra na Síria

Desde o estratégico planalto dos Golã, Israel tem vista privilegiada para o conflito sírio. Mas não quer ser beligerante

“Se tivermos sorte, ainda poderemos ver um caça russo a entrar em Israel, mas não a ser abatido…” Estamos nos Montes Golã, e Oren Rozenblat, quadro do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, usa a ironia para, por um lado, aludir à proximidade geográfica com a guerra na Síria e, por outro, afirmar que Israel é um aliado fiável. (A Turquia tinha abatido um Su-24 russo dias após outro aparelho russo ter violado espaço aéreo israelita, sem consequências.)

Estamos a 3 ou 4 km da guerra, mas não há sinais de combates — nem de tropas de Bashar al-Assad, forças rebeldes, grupos jiadistas ou mesmo caças russos. Neste território ocupado por Israel em 1967, e reclamado pela Síria, Israel tem destacada a segunda maior concentração de tropas (a maioria para participar em manobras), a seguir ao deserto do Neguev. Mas à vista desarmada, há ali mais turistas do que militares. O mais famoso é o ator Sean Penn para quem, no kibbutz Merom Golan, se prepara um almoço.

À vista desarmada, há mais turistas nos Golã do que militares

A tranquilidade que se observa nos Montes Golã — onde vivem cerca de 15 mil colonos judeus em 15 aldeias — surpreende quem tenha presente a tensão que se atribui àquela fronteira desde há décadas. Em 1974 (após a guerra do Yom Kippur), a ONU estabeleceu ali uma missão de manutenção de paz (UNDOF), com o objetivo de manter o cessar-fogo entre sírios e israelitas.

É assim no papel, mas não no terreno. Em março de 2013, 21 capacetes azuis filipinos foram raptados na zona desmilitarizada por forças rebeldes, levando ao recuo da força da ONU para dentro de território israelita… Num posto de vigia próximo do Café Annan (que, diz-se por ali, Kofi Annan, apreciou particularmente quando o visitou), dois militares ao serviço da ONU consultam um portátil e olham pelos binóculos na direção da Síria. “Deviam estar no meio, não do nosso lado”, diz Oren. Para Israel, é uma prova de como, em matéria de segurança, o país tem poucos parceiros em quem confiar.

Desde que a Rússia começou a bombardear na Síria, a 30 de setembro, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, já se encontrou com o Presidente russo, Vladimir Putin, pelo menos duas vezes. Em Israel, tem-se a perceção de que a intervenção russa, em socorro de Assad, mudou as regras do jogo. “Ainda não sabemos se para melhor ou para pior em termos de duração do conflito”, diz Benedetta Berti, investigadora no INSS. “Sabemos sim que há um interesse estratégico de Israel no sentido de não ser beligerante.”

AUTORIDADE PALESTINIANA  O crepúsculo de Abbas

A liderança palestiniana está gasta, mas tarda em escolher sucessores. Em Israel, já se discute o que fazer se a AP ruir

Há duas semanas, uma citação atribuída ao primeiro-ministro de Israel fez correr rios de tinta na imprensa. “Temos de impedir o colapso da Autoridade Palestiniana (AP), se possível. Mas ao mesmo tempo, temos de nos preparar para a eventualidade de isso acontecer”, terá dito Benjamin Netanyahu a um grupo restrito de ministros e responsáveis pela segurança do país. A dissolução da AP acarretaria para Israel pesados encargos ao nível da segurança e da administração civil das áreas controladas pela AP — ou seja, parte da Cisjordânia, já que 60% do território é controlado por Israel e em Gaza quem governa é o Hamas.

“A Fatah [partido que lidera a AP] está decadente há anos”, refere o diplomata Ariel Shafransky. “O sentimento geral, dentro e fora do movimento, é que estamos a assistir ao crepúsculo de Mahmoud Abbas [Presidente palestiniano]. Há uma luta pelo poder e uma divisão profunda sobre a direcção a seguir, não em relação a Israel mas internamente.” Em setembro, a primeira reunião em 20 anos do Conselho Nacional Palestiniano foi adiada indefinidamente.

Enquanto isso, o processo de paz não avança e a estratégia palestiniana de reconhecimento internacional é questionada. “Se eu perguntar que tipo de Estado palestiniano reconheceu o Parlamento português não será possível detalhar, porque simplesmente não existe”, diz o porta-voz do MNE, Emanuel Nahshon. “Existirá como consequência de negociações com Israel. Preocupa-nos que os palestinianos se apaixonem por este processo de reconhecimento e pensem que vai substituir a realidade. Mas, concretamente, o que significa? Nada.”

TEXTOS DE APOIO AO MAPA

HEZBOLLAH — Organização xiita, criada em 1982, o “Partido de Deus” nasceu durante a invasão israelita do Líbano, no vale de Beqaa. Financiado e armado pelo Irão, partilha com a República Islâmica a interpretação xiita do Islão. Em 2006, combateu Israel durante 34 dias. Atualmente tem 13 deputados e dois ministros (Agricultura e Reforma Administrativa) nas instituições de Beirute. É muitas vezes descrito como “um Estado dentro do Estado”

HAMAS — Despontou em 1987, na Faixa de Gaza, com a primeira “Intifada” (insurreição) contra a ocupação israelita. O “Movimento de Resistência Islâmica” (de inspiração sunita) derrotou a secular Fatah nas legislativas palestinianas de 2006, resultado que não foi reconhecido. Em 2007, tomou o poder pela força na Faixa de Gaza. Nos últimos sete anos, travou três guerras contra Israel

DAESH — Acrónimo árabe de “Estado Islâmico do Iraque e do Levante”. Corresponde ao “califado” (governo islâmico) mundial proclamado pelo iraquiano Abu Bakr al-Baghdadi, a 30 de junho de 2014. De inspiração waabita (fundamentalismo sunita), a sua afirmação beneficiou da violência sectária que se seguiu à queda de Saddam Hussein (2003), no Iraque, e da guerra civil na Síria, iniciada em 2011

AUTORIDADE PALESTINIANA — Saída dos Acordos de Oslo de 1993 — os últimos assinados entre israelitas e palestinianos —, funciona como “governo interino” até à declaração da independência do Estado da Palestina. Presidida por Mahmoud Abbas, controla uma parte da Cisjordânia: a maioria do território é controlada por Israel (colonatos e vale do Jordão) e a Faixa de Gaza está nas mãos do Hamas

ACORDO NUCLEAR SÓ É BOM PARA O IRÃO

Investigadora israelita realça fragilidades do acordo nuclear e alerta: “O Irão vai testar a comunidade internacional”

É início da tarde de uma terça-feira e, no Instituto de Estudos de Segurança Nacional (INSS), em Telavive, uma sala lotada impressiona quem passe no corredor. “É uma conferência sobre o Irão”, explica Oren Rozenblat, do gabinete do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel. “Os europeus acham que os israelitas dizem que estão preocupados com o Irão, mas na verdade não estão. Basta olhar para esta sala e tirar conclusões…”

Traumatizado por Mahmoud Ahmadinejad — o Presidente iraniano que, em 2005, disse que Israel devia ser “varrido do mapa” —, Israel é dos países que mais brama contra o acordo nuclear, assinado em Genebra, a 14 de julho passado. “É um acordo problemático, pelas suas fraquezas e falhas”, diz Emily Landau, que dirige o Programa de Segurança Regional e Controlo de Armas do INSS. “Não assegura a contenção do Irão.”

O sistema de verificação é uma das fraquezas. As instalações nucleares iranianas estão a ser inspecionadas, mas há sítios militares sob suspeita que Teerão não deixa que sejam vistoriados — como o complexo de Parchin, no norte.

“Há informações de serviços secretos nas mãos da Agência Internacional de Energia Atómica sobre atividades ali desenvolvidas”, diz a investigadora. A Agência tem um mandato para ir ao local, mas o Irão não colabora. “No verão, houve uma inspeção a Parchin. Enquanto os iranianos recolhiam amostras do solo, os inspetores estavam do lado de fora do complexo a vigiar com câmaras…”

Violações “insignificantes”

Emily Landau defende que, em nome de um processo de intenções ocidental de que dentro de 10 ou 15 anos (a validade do acordo) talvez o Irão seja mais moderado, a comunidade internacional vai fechar os olhos às ilegalidades de Teerão. “Não vai haver vontade política para denunciar violações ao acordo. O impulso vai ser dizer que não são significativas.”

Foi o que aconteceu em outubro após o Irão testar um míssil balístico (que pode transportar ogivas nucleares). “Os americanos disseram: ‘sim, viola a resolução do Conselho de Segurança, mas não o acordo nuclear’. É ridículo.” Para Telavive, a não inclusão do programa de mísseis balísticos do Irão é uma falha grave do acordo.

Este fim de semana, está previsto o levantamento formal de sanções ao Irão por parte de EUA e da União Europeia. “Este foi um bom acordo para o Irão”, conclui a israelita. “Sente-se forte e, por isso, sem razões para ser mais moderado para com os EUA. A inimizade com os EUA e Israel é uma forte componente deste regime. O Irão vai testar a comunidade internacional.”

O “Expresso” viajou a convite da Embaixada de Israel em Portugal

(Foto: Jovens militares israelitas, nos Montes Golã MARGARIDA MOTA)

Artigo publicado no Expresso, a 16 de janeiro de 2016

Traineira sueca que vai desafiar bloqueio israelita a Gaza está em Lisboa

Cinco anos após o ataque israelita contra a I Flotilha rumo a Gaza, a iniciativa volta a repetir-se. Uma das embarcações que tentará quebrar o bloqueio israelita àquele território palestiniano está esta quarta-feira em Lisboa

Traineira sueca Marianne de Gotemburgo atracada na marina do Parque das Nações, em Lisboa MARGARIDA MOTA

A iniciativa internacional “Flotilha rumo a Gaza”, que tentará pela terceira vez quebrar o bloqueio israelita à Faixa de Gaza, passa esta quarta-feira por Lisboa. Saída da Suécia a 10 de maio, uma das embarcações participantes, a traineira sueca Marianne de Gotemburgo, atraca, cerca das 15h, na marina do Parque das Nações (Expo), de onde arrancará na quinta-feira na direção do Mediterrâneo. Ali se juntará a outros barcos que irão, em conjunto, entrar no porto de Gaza.

A bordo, Marianne transporta equipamento médico e painéis solares. “Tudo o que levam são coisas simbólicas”, diz ao “Expresso” a palestiniana Shahd Wadi, membro da Plataforma BDS-Portugal (um movimento internacional de solidariedade para com os palestinianos e que apela a ações de boicote, desinvestimento e à adoção de sanções contra Israel).

“O objetivo desta iniciativa é furar o bloqueio à Faixa de Gaza. É preciso que alguém faça alguma coisa, sob pena do povo que vive naquele bocado de território ficar isolado para sempre”, diz.

Cozinha da embarcação Marianne de Gotemburgo MARGARIDA MOTA

Entre os passageiros, no troço do percurso entre Bueu (Galiza) e Lisboa, está a eurodeputada espanhola Ana Maria Miranda Paz.

Recordar a tragédia a bordo do Mavi Marmara

A primeira iniciativa deste género realizou-se em 2010 e ficou marcada pela tragédia. A 31 de março, nove ativistas que seguiam no navio turco Mavi Marmara foram mortos e mais de 50 feridos no decurso de uma operação militar desencadeada pela marinha israelita. (Um dos feridos com gravidade, um turco de 51 anos, morreu em 2014, após um longo período em coma.)

“Estou preocupada”, diz a palestiniana Shahd Wadi. “Mas tenho esperança que não se repita o que aconteceu com o Mavi Marmara. Estas pessoas que vão a bordo têm uma grande coragem. Tem de haver mais iniciativas. É preciso isolar Israel em vez de isolar as pessoas em Gaza.”

Cerca das 18h30 desta quarta-feira, será organizada uma manifestação, junto ao Meo Arena, que seguirá na direção do Marianne. Às 21 horas, a bordo da traineira, terá lugar um debate envolvendo a tripulação e ativistas da causa palestiniana. O evento é aberto ao público.

Manifestação de apoio à “Flotilha rumo a Gaza”, a caminho da marina do Parque das Nações MARGARIDA MOTA

Num comunicado enviado às redações, a organização recorda o 5.º aniversário do assalto ao Mavi Marmara e denuncia “a impunidade com que Israel pratica os seus atos de pirataria e de crimes contra a humanidade” bem como “a cumplicidade das instituições internacionais e dos vários governos, entre os quais o de Portugal”.

Reação da embaixada de Israel

Num email enviado à redação do “Expresso” na sequência da publicação deste artigo, a embaixada de Israel expressa o seu lamento “por todos os inocentes que sofreram e continuam a sofrer em Gaza, mas o único responsável pela situação em Gaza é o Hamas, uma organização terrorista que inclui na sua agenda o direito e até a obrigação de destruir o Estado de Israel”.

O Hamas controla a Faixa de Gaza desde junho de 2007 quando tomou o poder pela força, até então nas mãos da Autoridade Palestiniana. Na sequência desse golpe, Israel decretou um embargo ao território palestiniano por terra, mar e ar.

“Israel está a fazer tudo o que lhe é possível para fornecer comida e mantimentos às pessoas de Gaza”, acrescenta a embaixada de Israel, “mas, ao mesmo tempo, não pode permitir que o Hamas continue a contrabandear armamento e outros materiais destinados à recuperação das suas capacidades militares e continue a cavar túneis usados para atacar dentro das fronteiras de Israel, já para não mencionar os milhares de mísseis disparados de Gaza contra as nossas cidades. Nenhum Estado à face da Terra permitirá que tal aconteça junto às suas fronteiras.”

A reação da representação diplomática israelita, assinada pelo primeiro-conselheiro Raslan Abu Rukun, termina fazendo referência ao caso Mavi Marmara: “Expressamos pesar pela perda de vidas neste incidente, mas recordamos que eles atacaram brutalmente os nossos soldados com facas, barras de ferro, etc.” Dez soldados israelitas ficaram feridos durante a abordagem pelas forças israelitas a este barco turco. No caso das outras cinco embarcações, não se registaram incidentes.

Artigo publicado no Expresso Online, a 3 de junho de 2015. Pode ser consultado aqui