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Perseguidos, mas não esquecidos

Por todo o mundo, o exercício da fé cristã chega a ganhar contornos de crime. Seja porque os crentes vivem sob a alçada de regimes que admitem uma religião só, seja devido à intolerância de sociedades nacionalistas, seja porque “califados oportunistas” substituem-se aos Estados, não faltam exemplos de perseguição aos cristãos

ILUSTRAÇÃO Cristiano Salgado

Aquele 8 de abril de 2021 tinha tudo para ser um dia normal no Hospital Civil de Faisalabad, na província paquistanesa do Punjab. Como muitas outras vezes, as enfermeiras Mariam Lal, de 54 anos, e Nawish Arooj, de 21, estavam de serviço na ala psiquiátrica. A descida aos infernos destas paquistanesas começou quando um paciente lhes deu para a mão um autocolante rasgado que tinha arrancado de um armário de medicamentos. O papel tinha impressa uma passagem do Alcorão. Na manhã seguinte, um grupo de pessoas em fúria confrontou as duas enfermeiras e acusou-as de blasfémia. Mariam e Nawish eram cristãs e aquele autocolante rasgado era a prova de um ato de “profanação do Alcorão”.

INFOGRAFIAS Carlos Esteves

No Paquistão, acusações de blasfémia, muitas vezes falsas, motivam atos de vingança e manifestações de ódio que, amiúde, resultam em linchamentos. Um número desproporcionalmente elevado de casos envolve cristãos. Das 1550 pessoas acusadas de blasfémia desde 1986, quando o código penal foi alterado para incluir o crime de “profanação do Alcorão”, os cristãos surgem implicados em cerca de 15% dos casos, ainda que correspondam a menos de 2% da população.

A partir do seu esconderijo, Mariam e Nawish partilharam a sua história com a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que destacou o caso no relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, divulgado em novembro passado. Esta instituição pontifícia, com sede na Alemanha e representação em Portugal, trabalha com base em dados que são do domínio público e, em especial, informações recolhidas junto da Igreja local.

As duas mulheres foram levadas e colocadas sob proteção policial. Numa decisão sem precedentes no Paquistão, dado os casos de blasfémia serem, frequentemente, punidos com pena de prisão, ambas foram libertadas sob fiança. É uma liberdade relativa, já que Mariam e Nawish passaram a viver em local secreto, temendo pela vida o tempo todo.

O relatório, que se publica desde 2004, conclui que hoje os cristãos são “vítimas de assédio por motivos religiosos, desde abusos verbais a assassínios, em mais países do que nunca”, lê-se. “Em muitos casos, se não na maioria, esta deterioração não afetou todo o país, mas apenas regiões específicas”, onde a presença de cristãos é expressiva.

Na última edição, pela primeira vez, o relatório destaca a situação na Nicarágua, onde o regime liderado por Daniel Ortega e sua mulher, Rosario Murillo, tem visado a Igreja Católica, seja expulsando membros do clero do país, obrigando ao encerramento de organizações geridas pela Igreja ou restringindo atividades religiosas, como impedir padres de entrarem em hospitais, mesmo que a pedido de doentes, para dar o sacramento da unção.

A 11 de fevereiro de 2023, D. Rolando Álvarez, o bispo de Matagalpa, foi destituído da cidadania e condenado, sem julgamento, a 26 anos de prisão, por um tribunal de Manágua, que o considerou “traidor à pátria”. O bispo é uma voz crítica do regime e nunca cedeu às pressões para se exilar. Acabou por ser expulso para o Vaticano, em janeiro de 2024, juntamente com outro bispo, 15 sacerdotes e dois seminaristas. Seguiu-se a anulação do estatuto jurídico de inúmeras instituições ligadas à Igreja e o confisco de bens. A pedido das autoridades de Manágua, a Santa Sé encerrou a sua representação diplomática na Nicarágua, na sequência da expulsão do país do núncio apostólico.

Califados oportunistas

Noutras latitudes, os cristãos sofrem às mãos dos chamados “califados oportunistas” que se tornaram uma grande preocupação, em particular na região do Sahel. As tradicionais estratégias de grupos jiadistas de matança e pilhagem deram lugar a uma tendência de imposição de sistemas fiscais e comerciais ilegais ao estilo de ‘um Estado dentro do Estado’ que, muitas vezes, visa as populações cristãs.

Nos últimos anos, em especial após o autodenominado “Estado Islâmico” (Daesh) ter sido derrotado no Iraque e na Síria, o epicentro da violência militante islamita deslocou-se do Médio Oriente para África. Na Nigéria, na véspera de Natal de 2023, mais de 300 cristãos foram mortos após extremistas da etnia fulani (muçulmana) invadirem mais de 30 aldeias, no estado de Plateau (centro). Dispararam armas de fogo, incendiaram localidades inteiras e destruíram reservas de alimentos. Jalang Mandong, que perdeu dez familiares no massacre, relatou à AIS que os ataques tiveram por objetivo “perturbar a celebração do Natal” e roubar terras às comunidades.

Os cristãos representam quase metade da população da Nigéria. Em especial no norte do país, onde continuam ativos grupos terroristas como o Boko Haram e o autoproclamado “Estado Islâmico da Província da África Ocidental”, são muitas vezes objeto de discriminação e acusações de blasfémia decorrentes da imposição da sharia (lei islâmica) em pelo menos 12 dos 36 Estados do país.

Na mesma área geográfica, o Burquina Fasso é um caso recente de agravamento da perseguição aos cristãos, que são minoritários no país. Um dos primeiros episódios que fez soar os alarmes aconteceu em outubro de 2023, quando, na região de Débé, dois escuteiros foram executados no interior de uma igreja por extremistas islâmicos — um em frente ao altar, o outro junto à estátua da Virgem Maria. Os jovens tinham por hábito escoltar crianças até uma escola na localidade vizinha de Tougan, onde estava estacionado o exército burquinense. Os terroristas tinham encerrado as escolas nas zonas onde estavam. Após este incidente, mais de 340 cristãos receberam um ultimato de 72 horas para abandonar as suas aldeias.

Os limites do Irão

“Os ataques de grupos islamitas afetaram vários grupos religiosos, incluindo os muçulmanos tradicionais”, lê-se no relatório, que cita o bispo burquinense Justin Kientega, de Ouahigouya, segundo o qual os cristãos são mais visados pelos jiadistas e enfrentam um controlo mais rigoroso e punições mais severas do que os seus vizinhos muçulmanos. “Não há liberdade de culto. Em algumas aldeias, [os jiadistas] permitem que as pessoas rezem, mas proíbem o catecismo; noutros locais, dizem aos cristãos para não se reunirem na igreja para rezar.”

A predominância da lei islâmica é fator de discriminação também no Irão, um Estado teocrático que tem um “grande ayatollah” no topo da pirâmide do poder. Nos últimos anos, os cristãos têm sofrido na pele a mão de ferro do regime que silenciou os gigantescos protestos populares que se seguiram ao “caso Mahsa Amini”, a muçulmana que foi detida e mortalmente agredida, em 2022, pela polícia de costumes, que fiscaliza nas ruas se a indumentária dos cidadãos respeita os preceitos da República Islâmica. No caso de Mahsa, consideraram que não levava o véu na cabeça, de uso obrigatório para as mulheres, corretamente colocado.

Os cristãos também não escapam. A 13 de fevereiro de 2024, Laleh Saati, uma iraniana de 46 anos convertida ao cristianismo, foi levada de casa dos pais, nos arredores de Teerão. Durante o interrogatório, na prisão de Evin, foi confrontada com fotografias e vídeos da sua participação em eventos cristãos na Malásia, onde viveu anos antes e onde foi batizada. Levada a um tribunal revolucionário, foi-lhe perguntado porque tinha regressado se tinha “feito essas coisas fora do Irão”. Foi condenada a dois anos de prisão, acrescidos de mais dois de proibição de viajar.

Os cristãos detidos no Irão aumentaram de 59, em 2021, para 166, em 2023. “As autoridades têm cada vez mais como alvo pessoas que distribuem Bíblias”, diz o relatório da AIS. As confissões cristãs são reconhecidas, oficialmente, mas a leitura da Bíblia em língua farsi não é permitida.

Na Índia, onde o nacionalismo hindu tem originado perseguições às minorias cristã e, sobretudo, muçulmana, pelo menos 12 estados adotaram leis anticonversão. Essas medidas potenciam atos de hostilidade, como negar aos cristãos o acesso à água de um poço, o enterro de um ente querido ou atos de vandalismo, agressões ou assassínios. A 24 de junho, Bindu Sodi, de 32 anos, foi morta à machadada e à pedrada por um tio, na aldeia de Toylanka, no estado de Chhattisgarh, no centro do país. Duas semanas antes, o homem e um filho tinham invadido terrenos pertencentes à família de Bindu e cultivado uma parcela. O tio defendia que aquela família não tinha direito às terras porque se tinha convertido ao cristianismo. Foi apresentada queixa na polícia, mas antes que se apurasse de que lado estava a lei, Bindu pagou com a vida a intolerância do tio.

A incógnita síria

O ano de 2024 terminou com uma grande incógnita no mapa-mundo. O fim da era dos Assad na Síria colocou no poder um grupo sunita salafita jiadista (Hayat Tahrir al-Sham) liderado por um antigo aliado da Al-Qaeda. Os receios relativamente à perseguição de minorias religiosas (e mesmo de outras sensibilidades dentro do Islão além dos sunitas) manifestam-se perante episódios como o ocorrido a 23 de dezembro, na região de Hama (centro).

Na localidade de Suqaylabiyah, de maioria cristã, um grupo de homens encapuzados deitou fogo a uma grande árvore de Natal, montada numa praça. No dia seguinte, véspera de Natal, centenas de pessoas saíram à rua nas zonas cristãs de Damasco em protesto contra o ataque. Nesse mesmo dia, quando decorreram as cerimónias natalícias na Igreja da Senhora de Damasco (católica), havia no exterior pickups com homens afetos ao grupo islamita no poder… a garantir segurança. O tempo dirá se a nova Síria será tolerante em matéria de religião.

Artigo publicado no “Expresso E”, a 10 de janeiro de 2025. Pode ser consultado aqui e aqui

Dez números sobre o estado da liberdade religiosa no mundo

Um em cada três países em todo o mundo regista situações de perseguição ou discriminação religiosa. A conclusão consta do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, apresentado esta terça-feira

O medo provocado pela pandemia de covid-19 e as muitas perguntas sem resposta colocadas pela infeção levaram à elaboração de teorias da conspiração e à identificação de bodes expiatórios, alguns deles de cariz religioso.

“As teorias da conspiração proliferaram online, alegando que os judeus causaram o surto. Na Índia foram lançadas alegações contra minorias muçulmanas, enquanto em vários países, como a China, o Níger, a Turquia e o Egito, a pandemia foi imputada aos cristãos”, alerta o Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2021, apresentado esta terça-feira pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre.

O documento analisou a prática religiosa em 196 países e concluiu que em 62 — um em cada três — subsistem demonstrações de perseguição ou discriminação religiosa. É apenas um de vários números preocupantes em torno das questões da fé nos quatro cantos do mundo.

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por cento da população mundial vive em países onde existe perseguição religiosa

A percentagem diz respeito a cerca de 3900 milhões de pessoas, em apenas 26 países. A conclusão óbvia é que alguns dos países mais populosos do mundo são simultaneamente dos que mais violam a liberdade religiosa. São exemplos a China (1400 milhões), a Índia (1400), o Paquistão (225), a Nigéria (210) e o Bangladesh (165).

Destes 26 países, quase metade (12) situa-se em África. “Nos últimos dois anos, grupos jiadistas consolidaram a sua presença na África Subsariana e a região tornou-se um paraíso para mais de duas dezenas de grupos ativos e cada vez mais cooperantes”, diz o relatório, “incluindo filiados no Daesh e na Al-Qaeda”.

2

países enfrentam acusações de genocídio por motivos religiosos

São eles a China e Myanmar (antiga Birmânia). Em ambos os casos, os alvos da perseguição são minorias muçulmanas: na China os uigures e em Myanmar os rohingyas.

Na China, onde vivem cerca de 30 milhões de muçulmanos, o epicentro da repressão é a província de Xinjiang (noroeste), onde mais de um milhão de uigures (fieis de um ramo sunita do Islão) vivem em “campos de reeducação” em massa e são sujeitos a “programas de reeducação” coerciva.

Em Myanmar (de maioria budista), além dos rohingyas sistematicamente empurrados para o vizinho Bangladesh (estima-se que um milhão viva nos campos de refugiados), há registos de violência contra cristãos e hindus no estado de Kachin.

No caso da China, apenas Estados Unidos e Canadá qualificam as ações do regime de Pequim como genocídio. Ao contrário, prossegue uma investigação no Tribunal Internacional de Justiça por genocídio em Myanmar.

Homens uigures em oração, num cemitério em Turpan, na província chinesa de Xinjiang
Homens uigures em oração, num cemitério em Turpan, na província chinesa de XinjiangKevin Frayer / Getty Images

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países enfrentam acusações de discriminação religiosa

Nesses estados, onde vivem 1240 milhões de pessoas,a liberdade religiosa não é plenamente desfrutada nem goza de garantia constitucional. Nove deles registaram melhorias em comparação com o último relatório, há dois anos: Cuba, Egito, Indonésia, Iraque, Marrocos, Palestina, Sudão, Síria, Usbequistão. Em 20 outros, a situação agravou-se.

Em países não tão castigados com práticas discriminatórias, houve conquistas e reveses recentes. Na África do Sul, em janeiro deste ano, terminou a proibição de as mulheres muçulmanas usarem o véu nas forças armadas. Já no Senegal, Malawi e Libéria, foi negado às muçulmanas o direito a usarem o véu nas escolas ou locais de trabalho.

43

países têm na origem das restrições à liberdade religiosa governos autoritários

Vários países asiáticos continuam a ser governados por ditaduras marxistas de partido único, com ideologias e mecanismos de controlo religioso. É o caso da Coreia do Norte, do Vietname e do Laos, por exemplo.

Mas nada se compara ao que acontece na China. Esta “destaca-se de forma duvidosa por ter afinado um dos motores de controlo religioso mais difundidos e eficazes do Estado em funcionamento em qualquer parte do mundo”, diz o relatório.

Em Urumqi, capital regional de Xinjiang, a polícia instalou mais de 18 mil câmaras de reconhecimento facial que vigiam cerca de 3500 complexos residenciais da cidade. Em todo o país, estima-se que haja 626 milhões de câmaras de vigilância equipadas com inteligência artificial, colocadas em áreas públicas e privadas — e muito atentas à dinâmica de determinados grupos religiosos e étnicos.

“O Partido Comunista Chinês tem um dos motores de controlo religioso mais difundidos e eficazes do Estado, atualmente em funcionamento em qualquer parte do mundo.”

Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2021

26

países são vulneráveis a ataques por parte de redes transnacionais jiadistas

Fazem-no com grandes níveis de crueldade, forçando rapazes a entrar nas suas fileiras como crianças-soldado, recorrendo à violação como arma de guerra e a decapitações em massa, tanto de cristãos como de muçulmanos que recusam juntar-se aos jiadistas.

“O Daesh e a Al-Qaeda, com patrocínio ideológico e material do Médio Oriente, associam-se e radicalizam ainda mais as milícias armadas locais para estabelecer ‘províncias do califado’ ao longo da linha do Equador, crescente violência jiadista que se estende do Mali a Moçambique na África Subsariana, às Comores no Oceano Índico e às Filipinas no Mar do Sul da China”, lê-se no documento. Moçambique é uma entrada recente neste clube sinistro.

7

países, no mínimo, todos asiáticos, são palco de ataques à liberdade religiosa com origem em movimentos nacionalistas étnico-religiosos

“Este tipo de nacionalismo propõe que a identidade individual deriva em parte e é elevada pela pertença a uma grande nação definida por uma confluência única de religião, etnia, língua e território.” Existe na Índia e no Nepal (de maioria hindu), no Sri Lanka, Myanmar e Tailândia (de maioria budista) e, de forma menos acentuada, no Butão.

“Estes movimentos oprimiram ainda mais as minorias religiosas, reduzindo-as ao estatuto de facto de cidadãos de segunda classe.”

Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2021

Outro caso nesta categoria é o Paquistão, de maioria muçulmana, “há muito tempo nas mãos de uma identidade religiosa-nacionalista armada”. Mesmo na China, o ataque aos uigures combina um forte elemento de nacionalismo étnico-han-chinês.

Neste grafíto, em Bombaím, a palavra “indiano” (na vertical), surge a partir de várias religiões existentes no país
Neste grafíto, em Bombaím, a palavra “indiano” (na vertical), surge a partir de várias religiões existentes no paísINDRANIL MUKHERJEE / AFP / Getty Images

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países foram palco de assassínios motivados por questões de fé, desde meados de 2018

Uns casos foram menos noticiados, como a perseguição violenta por parte de muçulmanos contra convertidos cristãos no Djibuti, na Libéria e no Uganda. Outros foram notícia em todo o mundo pela carnificina em que se transformaram.

Foi o que aconteceu em várias cidades do Sri Lanka, a 21 de abril de 2019, dia especial para os cristãos por ser Domingo de Páscoa: três igrejas e três hotéis de luxo foram alvo de ataques suicidas e explosões, que provocaram 269 mortos.

59

igrejas foram vandalizadas e danificadas no Chile, em 2019 e 2020

Dos templos atacados, em oito cidades chilenas, 53 eram igrejas católicas e seis evangélicas. Os ataques aconteceram durante os protestos antigovernamentais que eclodiram a 7 de outubro de 2019 (Estallido Social), que começaram por ser pacíficos, mas rapidamente degeneraram em violência.

“A violência [contra as igrejas] incluiu fogo posto, pilhagem, profanação do Santíssimo Sacramento, interrupção dos cultos religiosos e danos nas portas e portões das igrejas. Houve incidentes em que bancos de igreja e estátuas religiosas foram utilizados para construir barricadas e pedras foram atiradas através de vitrais.”

A 18 de outubro de 2020, em Santiago do Chile, no exterior da Igreja de Asunción, em chamas, gritou-se: “Deixem-na cair, deixem-na cair”
A 18 de outubro de 2020, em Santiago do Chile, no exterior da Igreja de Asunción, em chamas, gritou-se: “Deixem-na cair, deixem-na cair”MARTIN BERNETTI / AFP / Getty Images

O relatório é omisso em relação às razões que podem ter estado na origem desta violência direcionada aos locais de culto, mas à época a Igreja chilena estava em polvorosa, atingida por um grande escândalo de encobrimento de abusos sexuais.

1000

jovens cristãs e hindus, com idades entre os 12 e os 25 anos, são raptadas todos os anos por homens muçulmanos no Paquistão

É um calculo, por baixo, do Movimento pela Solidariedade e Paz do Paquistão. As raparigas são sujeitas a conversões forçadas e obrigadas a casar-se. Muitas são vítimas de violação, prostituição forçada, tráfico de seres humanos e violência doméstica.

Nalguns casos, as famílias conseguem libertar as raparigas com recurso aos tribunais, mas, não raras vezes, a justiça decide a favor do raptor. Foi o caso de Maira Shahbaz, de 14 anos, que viu o seu casamento com um homem confirmado pelo Supremo Tribunal de Lahore, em agosto de 2020.

Em novembro seguinte, o primeiro-ministro Imran Khan ordenou uma investigação sobre a conversão forçada de mulheres e raparigas das comunidades religiosas minoritárias do país.

2

viagens ecuménicas do Papa Francisco lançaram pontes entre Cristianismo e Islamismo

A última deslocação está fresca na memória. Foi em março passado, ao Iraque, de onde o infame grupo terrorista que se autoproclamava “Estado Islâmico” declarou o seu “califado”. Foi a primeira visita de um Papa católico a um país muçulmano de maioria xiita.

Anteriormente, o Pontífice dera grande impulso ao diálogo inter-religioso, em fevereiro de 2019, com uma viagem inédita aos Emirados Árabes Unidos, onde presidiu à primeira missa de sempre na Península Arábica.

Um ponto alto desta deslocação foi um encontro com o Grande Imã Ahamad Al-Tayyib de Al-Azar, líder do mundo muçulmano sunita. Ambos assinaram uma declaração conjunta sobre “Fraternidade Humana pela Paz Mundial e a Vida em Comum”. Apelaram a que se deixe de “utilizar as religiões para incitar ao ódio, violência, extremismo e fanatismo cego” e que nos abstenhamos de “utilizar o nome de Deus para justificar atos de homicídio, exílio, terrorismo e opressão”.

(FOTO Muçulmanos xiitas em oração, junto à Mesquita Al-Kadhimiya, em Bagdade, no Iraque GHAITH ABDUL-AHAD / GETTY IMAGES)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 20 de abril de 2021. Pode ser consultado aqui

Perseguição aos cristãos. A ferida passou a sangrar mais a oriente

O Médio Oriente deixou de ser a região mais crítica para os cristãos. Nos últimos dois anos, a perseguição intensificou-se na Ásia Meridional e Oriental, denuncia o último relatório da fundação Ajuda à Igreja que Sofre

O pesar com que, tradicionalmente, os cristãos celebram a morte de Jesus Cristo ultrapassou este ano as fronteiras do simbólico. No Sri Lanka, a 21 de abril — era Domingo de Páscoa —, três ataques contra outras tantas igrejas mataram 258 fiéis e feriram mais de 500. Reivindicados pelos extremistas do Daesh — o autodenominado “Estado Islâmico”, que estava em perda no Iraque e na Síria —, aqueles atentados provavam que, naquele país de maioria budista, a estratégia de ataque terrorista tinha como alvo primordial a minoria cristã.

Nos últimos dois anos, esta chacina cingalesa foi, de longe, a pior atrocidade cometida contra cristãos em todo o mundo. Outra ataque sangrento aconteceu nas Filipinas — país maioritariamente católico —, durante a eucaristia dominical de 27 de janeiro último: 22 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas após a explosão de duas bombas junto à Catedral de Nossa Senhora do Monte Carmelo, na ilha de Jolo. O atentado foi também reivindicado pelo Daesh.

Ataques como os de Sri Lanka e Filipinas contribuem para que no último relatório “Perseguidos e Esquecidos?” da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) — divulgado esta semana — os alertas mais preocupantes em matéria de perseguição aos cristãos soem na região da Ásia Meridional e Oriental, e não mais do Médio Oriente, como até há dois anos.

O perigo do nacionalismo

A oriente, paralelamente ao “extremismo islâmico”, duas outras frentes contribuem para episódios de opressão aos cristãos: “o nacionalismo populista” e “regimes autoritários”. Em países como a Índia ou Myanmar (antiga Birmânia), lê-se no relatório, há uma unidade cada vez maior “entre grupos religiosos nacionalistas e governos”, que colocam as minorias religiosas na mira da intolerância.

Há cerca de duas semanas, na cidade indiana de Guwahati, membros de uma organização de camponeses saíram à rua em protesto contra uma proposta de revisão da Lei da Cidadania de 2016 que prevê que imigrantes hindus, sikhs, budistas e cristãos, entre outros, oriundos do Afeganistão, Bangladesh e Paquistão passem a ser elegíveis para obter a cidadania indiana.

Na “maior democracia do mundo”, onde o nacionalismo hindu impulsiona a perseguição a minorias religiosas, registaram-se mais de 1000 ataques contra cristãos entre o início de 2017 e finais de março de 2019. Em resposta ao extremismo… foram encerradas mais de 100 igrejas.

No vizinho Paquistão — onde os cristãos são 1,5% de uma população de 200 milhões —, a Constituição consagra a liberdade religiosa. Há igrejas e escolas, hospitais e instituições cristãs que atendem todos sem exceção, mas os preconceitos e as perceções negativas em relação a quem não é muçulmano incentivam ao ódio.

“Os empregos considerados menores, sujos e humilhantes, são frequentemente ocupados por cristãos”, refere o relatório da AIS. “Os trabalhadores cristãos constituem uma fatia muito elevada da força de trabalho nos esgotos e na limpeza de estradas.”

Médio Oriente em contagem decrescente

O agravamento da situação dos cristãos no Oriente coincide com uma melhoria na conturbada região do Médio Oriente, onde o êxodo contínuo de cristãos para longe das terras onde sempre viveram assemelha-se, nas palavras do Arcebispo de Alepo (Síria), o maronita Joseph Tobji, a “uma ferida que sangra”.

Declarada em 2017, a derrota do Daesh contribuiu para diminuir consideravelmente a pressão sobre as comunidades cristãs na Síria e no Iraque. Ainda assim, realça o relatório, na região onde a religião cristã nasceu, “a contagem decrescente para o desaparecimento do Cristianismo parece imparável”.

Na Síria, o único país onde ainda é possível escutar o aramaico — a língua falada por Jesus —, os cristãos eram cerca de 1,5 milhões em 2011, quando começou a revolta popular contra Bashar al-Assad, e que evoluiria no sentido da guerra; hoje, não serão mais do que 500 mil. A 11 de julho passado, a explosão de um carro armadilhado junto a uma igreja em Qamishli, no nordeste, mostra que a trégua não é total.

No Iraque, a fuga dos cristãos é mais antiga. Estima-se que por alturas da invasão norte-americana, em 2003, os cristãos eram cerca de 1,5 milhões e que, ainda antes do advento do Daesh, em 2014, já tinham caído para menos de 500 mil. Hoje, os cristãos iraquianos poderão ser menos de 150 mil. “No prazo de uma geração, a população cristã do Iraque teve um declínio de mais de 90%”, constata o relatório.

Os detestados ‘adoradores da cruz’

Quem foi resiliente e ficou vive temeroso de que “uma nova versão do Daesh” possa emergir. Desde a cidade assíria de Bartella, no norte do Iraque, o padre Behnam Benoka é testemunha de uma hostilidade persistente contra os cristãos por parte das milícias shabak (muçulmanos xiitas) numa pressão contínua “para forçar os cristãos a abandonarem as nossas terras”, diz o clérigo. Os cristãos são protegidos por militares, há boicotes às lojas geridas por cristãos e altifalantes nas suas áreas de residência que transmitem as orações nas mesquitas.

“Sobretudo no que diz respeito ao Iraque”, diz o relatório, “não é exagerado dizer que o Daesh pode ter perdido a batalha da supremacia militar no Médio Oriente, mas em partes da região eles vão a caminho da vitória por conseguirem extinguir os muito detestados ‘adoradores da cruz’, os cristãos.”

Papa atento e atuante

Atento ao drama das minorias cristãs, o Papa Francisco realizou, este ano, duas visitas pastorais especialmente relevantes. Em setembro, esteve em Madagáscar, um país maioritariamente cristão onde, segundo denúncias do Cardeal Désiré Tsarahazana, o perigo vem do exterior, com planos de construção de 2600 mesquitas no país. “É uma invasão, com dinheiro de países do Golfo e do Paquistão. Eles compram as pessoas.”

Meio ano antes, o Papa tinha estado em Marrocos, onde se estima que vivam cerca de 25 mil cristãos — a esmagadora maioria africanos subsarianos —, entre 35 milhões de muçulmanos. A 19 de junho de 2018, o então ministro da Justiça, Mohamed Aujjar, afirmou na televisão que não existem “cidadãos cristãos” naquele país muçulmano. Não foi exagero do governante: os cristãos marroquinos não são reconhecidos pelo Estado.

FOTOGALERIA

SRI LANKA. Um segurança protege os fiéis em oração numa igreja de Colombo LAKRUWAN WANNIARACHCHI / AFP / GETTY IMAGES
SRI LANKA. No domingo de Páscoa de 2019, a Igreja de Santo António, na capital do país, foi alvo de um atentado sangrento ISHARA S. KODIKARA / AFP / GETTY IMAGES
FILIPINAS. Capela inacessível por terra após fortes tempestades, em fevereiro, na província de Bulacan NOEL CELIS / AFP / GETTY IMAGES
FILIPINAS. Cerimónia de bênção de ramos junto à Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, a norte de Manila, em abril passado NOEL CELIS / AFP / GETTY IMAGES
MYANMAR. Catedral católica de Santa Maria, também chamada Catedral da Imaculada Conceição, em Rangum. Em Myanmar, a maioria dos cristãos são protestantes FRANK BIENEWALD / GETTY IMAGES
CHINA. Liturgia na Igreja da Intercessão, em Harbin, na província mais setentrional do país ARTYOM IVANOV / GETTY IMAGES
CHINA. Uma católica tibetana participa numa cerimónia religiosa na Igreja Cizhong, na zona autónoma tibetana de Diqing, no sudoeste da China TYRONE SIU / REUTERS
PAQUISTÃO. Segurança apertada numa igreja metodista, na cidade paquistanesa de Quetta BANARAS KHAN / AFP / GETTY IMAGES
PAQUISTÃO. Terços à venda num bairro cristão em Islamabad FAISAL MAHMOOD / REUTERS
ÍNDIA. A diretora de uma escola feminina preside a uma cerimónia em honra de Nossa Senhora do Rosário, na cidade indiana de Secunderabad, a 21 de outubro passado NOAH SEELAM / AFP / GETTY IMAGES
ÍNDIA. Celebrando o nascimento de Maria, católicas indianas partem cocos junto a uma imagem religiosa, em Hyderabad NOAH SEELAM / AFP / GETTY IMAGES
SÍRIA. Momento da comunhão na Igreja da Virgem Maria (ortodoxa), na cidade de Qamishli, no Curdistão sírio. A 11 de julho, uma bomba junto ao templo fez 11 feridos DELIL SOULEIMAN / AFP / GETTY IMAGES
SÍRIA. Uma estátua da Virgem Maria “abençoa” a cidade cristã de Maalula, 56 quilómetros para nordeste de Damasco LOUAI BESHARA / AFP / GETTY IMAGES
IRAQUE. A 16 de junho, a Igreja da Virgem Maria, em Bassorá, reabriu portas após obras de reabilitação. “Um sinal de esperança”, disse o arcebispo caldeu Alnaufali Habib Jajou ESSAM AL-SUDANI / REUTERS
IRAQUE. O santuário mariano de Bassorá, a segunda cidade mais populosa, está repleto para a eucaristia de domingo ESSAM AL-SUDANI / REUTERS
EGITO. Abóbada de uma igreja grega ortodoxa do século X, na cidade velha do Cairo AMIR MAKAR / AFP / GETTY IMAGES
EGITO. A maioria dos cristãos egípcios são coptas. Num país com cerca de 100 milhões de habitantes, os coptas são uma minoria de 10 milhões KHALED DESOUKI / AFP / GETTY IMAGES
SUDÃO. Este professor sudanês ajudou a improvisar esta igreja, num bairro de Omdurman JEAN MARC MOJON / AFP / GETTY IMAGES
ERITREIA. Uma menina da tribo Kunama junto a um poster da Sagrada Família ERIC LAFFORGUE / GETTY IMAGES
NIGÉRIA. Um homem passa junto a um crucifixo em frente à igreja de um “bairro de lata”, na cidade de Lagos PIUS UTOMI EKPEI / AFP / GETTY IMAGES
NIGÉRIA. Missa de domingo, numa igreja de Kajuru, no estado de Kaduna LUIS TATO / AFP / GETTY IMAGES
BURKINA FASO. Uma oração solitária, em frente à igreja de Nossa Senhora de Kaya, na cidade com o mesmo nome ANNE MIMAULT / REUTERS
MADAGASCAR. Populares esperam na berma de uma estrada de Antananarivo para ver passar o Papa Francisco, que visitou o país em setembro passado RIJASOLO / AFP / GETTY IMAGES
MARROCOS. Cristãos subsarianos assistem à missa, em Rabat, capital de Marrocos, outro país visitado pelo Papa este ano FADEL SENNA / AFP / GETTY IMAGES
MÉDIO ORIENTE. Na região onde o Cristianismo nasceu, o seu desaparecimento parece imparável LAKRUWAN WANNIARACHCHI / AFP / GETTY IMAGES

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 25 de outubro de 2019. Pode ser consultado aqui

“Estamos expostos à morte o dia inteiro”

Sacerdotes, bispos, religiosas e leigos relataram à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre casos de violência que testemunharam nos quatro cantos do mundo. “Perseguidos e Esquecidos?” é o título do relatório que compila esses relatos, divulgado terça-feira em todo o mundo

No verão de 2014, a tomada de Mossul e Nínive, no Iraque, pelo autodenominado Estado Islâmico (Daesh) forçou 120 mil cristãos ao êxodo. Pela primeira vez em 1800 anos, não houve missa dominical em Mossul.

No coração da região onde nasceu o Cristianismo, as populações cristãs estão à beira da extinção. “Numa altura em que o número de deslocados e refugiados atingiu máximos históricos, grupos islâmicos têm levado a cabo uma limpeza étnica de cristãos por motivos religiosos, designadamente em regiões de África e do Médio Oriente”, denuncia o relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, divulgado, esta terça-feira, pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

“Como consequência deste êxodo, o Cristianismo está em vias de desaparecer do Iraque, possivelmente no prazo de cinco anos, a menos que seja disponibilizada ajuda de emergência a nível internacional numa escala massiva cada vez maior.”

Cristianismo, essa importação colonial

O documento avalia pressões sobre cristãos católicos, ortodoxos e protestantes em países com regimes autoritários, como a Arábia Saudita, o Irão e a China, e em Estados onde estão em alta grupos radicais islâmicos, como Nigéria, Sudão, Quénia e Tanzânia.

Em países devastados pela guerra — como Síria e Iraque —, aos cristãos não resta alternativa a não ser (tentar) fugir. “Estamos expostos à morte o dia inteiro”, testemunha Jean-Clement Jeanbart, arcebispo católico grego melquita, da diocese de Alepo (Síria).

Menos mediáticas do que as perseguições em contextos de guerra, as ameaças aos cristãos decorrem também da afirmação de movimentos nacionalistas muçulmanos (Paquistão), hindus (Índia), budistas (Sri Lanka) e judeus (Israel). Muitos desses movimentos “veem o Cristianismo, cada vez mais, como uma importação estrangeira colonial”, continua o relatório da AIS. “Os cristãos são olhados com suspeição e são vistos como estando ligados ao Ocidente, que é considerado corrupto e explorador.”

“Perseguidos e Esquecidos?” debruça-se sobre a situação nos 22 países que registaram mais violações à liberdade religiosa entre outubro de 2013 e julho de 2015. A fotogaleria que acompanha este texto dedica duas fotos a cada país selecionado pela AIS, organização dependente da Santa Sé.

“Vemos hoje os nossos irmãos perseguidos, decapitados e crucificados por causa da sua fé em Jesus, perante os nossos olhos e muitas vezes com o nosso silêncio cúmplice”, alertou o Papa Francisco, em abril de 2015.

ARÁBIA SAUDITA — O país onde nasceu o Islamismo, há cerca de 1400 anos, e que abriga as principais cidades santas muçulmanas (Meca e Medina), é dos mais intolerantes em matéria de outros cultos religiosos. O sistema legal saudita baseia-se na “sharia” (lei islâmica) e prevê a aplicação da pena de morte a quem trocar o Islão por outra religião. Entre as acusações que condenaram o “blogger” saudita Raif Badawi a dez anos de prisão e 1000 chicotadas em público está um “like” que fez numa página do Facebook para árabes cristãos. Livros escolares fornecidos pelo Governo descrevem os cristãos como “suínos” e “as piores criaturas” que “habitarão no fogo do inferno”. (A foto retrata um muçulmano durante a peregrinação a Meca.) AHMAD MASOOD / REUTERS
ARÁBIA SAUDITA — A construção de igrejas é proibida, tal como a exibição da cruz e o enterro de não-muçulmanos. Também é proibido importar a Bíblia. Em março passado, o Grande Mufti Sheikh Abdul Aziz bin Abdullah apelou, pela terceira vez, à destruição de todas as igrejas construídas na Península Arábica. Em 2008, no Qatar, fora inaugurada a Igreja de Nossa Senhora do Rosário (católica) — sem cruz nem sino exterior —, num terreno doado pelo Emir Hamad bin Khalifa. Foi a primeira igreja cristã em território sunita waabita. Estima-se que, na Arábia Saudita, vivam cerca de 1,5 milhões de cristãos, a maioria imigrantes filipinos, como Omar e Khalid (na foto), saudados por sheikhs sauditas, em Riade, após converterem-se ao Islão. ALI JAREKJI / REUTERS
BIELORRÚSSIA — Maioritariamente ortodoxo oriental, é o país da Europa de Leste com maior proporção de católicos (na foto, uma igreja católica na aldeia de Staraelnya, sudoeste de Minsk). Porém, é necessária autorização estatal para se realizar atividades religiosas, sendo que os grupos não reconhecidos arriscam-se a ver as suas propriedades invadidas e os bens apreendidos. “Há uma grande necessidade de construção de pequenas igrejas e capelas para novas comunidades”, diz Magda Kaczmarek, da Ajuda à Igreja que Sofre, que visitou o país em novembro de 2014. “Uma questão que permanece sem resposta prende-se com a restituição de propriedades confiscadas pelo Estado após a II Guerra Mundial.” VASILY FEDOSENKO / REUTERS
BIELORRÚSSIA — Isolado, este país eslavo conserva a aura de décadas de domínio comunista, em que a Igreja era perseguida. Então, locais de culto foram transformados em cinemas, armazéns e pavilhões desportivos. No poder desde 1994, Alexander Lukashenko foi reeleito, no passado domingo, para um quinto mandato, com 83,5% dos votos, o seu melhor resultado de sempre. Fora de portas chamam-lhe “o último ditador europeu”. VASILY FEDOSENKO / REUTERS
CHINA Celebração pascal numa igreja católica de Shenyang, província de Liaoning, na China SHENG LI / REUTERS
CHINA Desde janeiro deste ano, a Christian Solidarity Worldwide já registou mais de 650 incidentes na província de Zhejiang, incluindo a demolição total ou parcial de igrejas ou de edifícios geridos pela Igreja (alguns aprovados pelo Governo), modificações ou coberturas da cruz, ferimentos, detenções e penas de prisão. Em 2014, os crentes chineses sofreram a mais dura perseguição em mais de uma década, com 449 líderes religiosos detidos, por comparação com 54, em 2013. (Na foto, um coro canta canções de Natal, numa igreja católica de Shenyang, província de Liaoning.) SHENG LI / REUTERS
COREIA DO NORTE À frente de um dos países mais isolados na cena internacional, a dinastia Kim, que governa o país desde 1953, pune o culto religioso, com a mesma determinação com que incentiva o culto da personalidade do líder. Campanhas de violência e outras formas de intimidação contra os fiéis inserem-se na estratégia de repressão a toda e qualquer dissidência. Notícias publicadas em órgãos de informação sul-coreanos, em março de 2014, dão conta da execução de 33 cristãos norte-coreanos após contactarem com missionários do sul. O regime acusou-os de espionagem. (Na foto, Hyeon Soo Lim, líder de uma congregação canadiana detido pelas autoridades de Pyongyang, “confessa” a participação em crimes visando derrubar o Estado.) REUTERS
COREIA DO NORTE Estima-se que pelo menos 10% dos cerca de 400 a 500 mil cristãos norte-coreanos estão detidos em campos de trabalhos forçados. Ali são sujeitos a tortura, assassínio, violação, experimentação médica, aborto forçado e mesmo execução. Os prisioneiros religiosos recebem, habitualmente, tratamento mais duro. (Na foto, Karen Short mostra uma imagem do marido, o missionário australiano John Short, preso na Coreia do Norte, acusado de distribuição de panfletos cristãos num comboio e num templo budista. Short seria libertado e expulso do país.) SIU CHIU / REUTERS
EGITO Em fevereiro passado, um grupo leal ao autodenominado Estado Islâmico (Daesh) decapitou 20 egípcios coptas que trabalhavam na Líbia (na foto). A execução, filmada e posta a circular na Internet, aconteceu junto à costa mediterrânica. Treze das vítimas eram oriundas da aldeia de El-Aour (província de Minya), maioritariamente cristã. Entre eles, estava Abanub Ayyad Atiyyah, 22 anos, licenciado em administração e gestão de empresas. “Eu dependia dele para ajudar com as despesas da casa e os custos da educação do irmão”, testemunhou o pai. Bushra Fawzi também reconheceu o filho, Shenouda, entre os que se ajoelhavam, de fato laranja, junto aos carrascos: “É o meu primeiro filho e o mais velho, a minha primeira alegria e felicidade. Quero o seu corpo de volta. Se eles o deitaram ao mar, quero-o de volta. Se o queimaram, quero o seu pó.” O Papa Ortodoxo Copta Tawadros II anunciou que as vítimas serão formalmente reconhecidas mártires da Igreja. REUTERS
EGITO Em junho de 2014, Kerolos Shouky Attallah, um cristão copta egípcio de 29 anos, foi condenado a seis anos de prisão por clicar “gosto” numa página do Facebook considerada crítica do Islamismo. Kerolos não fez qualquer publicação e retirou o seu “gosto” quando percebeu que alguns muçulmanos consideravam a página ofensiva. Foi acusado de blasfémia, por explorar a religião divina no sentido do incitamento à rebelião. A gravidade da sua pena chocou os cristãos coptas e constituiu um alerta para os utilizadores do Facebook no Egipto. REUTERS
ERITREIA Cristãos e outras minorias religiosas estão a abandonar a Eritreia em grande número, em virtude não só da opressão governamental como também do aumento da atividade de grupos radicais islâmicos. (A foto mostra uma igreja improvisada no campo de refugiados de Calais, França, frequentada por migrantes etíopes e eritreus.) Em junho passado, 86 eritreus cristãos foram raptados pelo Daesh quando tentavam atravessar a Líbia. Após mandarem parar os carros onde os eritreus seguiam, os extremistas fizeram perguntas sobre o Alcorão para apanhar em falso os cristãos. PASCAL ROSSIGNOL / REUTERS
ERITREIA Estima-se que cerca de 3000 eritreus, a maioria cristãos, estejam atualmente presos em virtude das suas crenças religiosas. Antigos prisioneiros descreveram atos de tortura e outros abusos físicos bem como as difíceis condições de sobrevivência em celas sobrelotadas, sem condições sanitárias nem ventilação. As relações Igreja-Estado azedaram após uma carta assinada por quatro bispos católicos eritreus, em junho de 2014, afirmando que as políticas governamentais eram, em parte, responsáveis pela migração em massa, acusação que irritou as autoridades de Asmara. PASCAL ROSSIGNOL / REUTERS
ÍNDIA Em março de 2015, a polícia indiana foi acusada de recorrer à violência para dispersar uma manifestação pacífica contra o aumento dos ataques contra igrejas e cristãos, por parte de extremistas hindus. (Na foto, indianas protestam contra a “destruição de cruzes”, em Bombaim.) DANISH SIDDIQUI / REUTERS
ÍNDIA Em alguns países, como a Índia, uma certa elite religiosa radicalizada, cada vez maior e mais influente, considera o Cristianismo ofensivo, não só pela fé que defende como também pelas suas ligações ao período colonial. O cardeal Telesphore Toppo, arcebispo de Ranchi, recebeu ameaças de morte. Vários relatos sugerem que movimentos nacionalistas hindus atuam no pressuposto de que a vitória eleitoral do primeiro-ministro nacionalista hindu Narendra Modi, em 2014, significou um relaxamento das autoridades em relação aos ataques feitos em nome da religião mais identificada com o Estado-nação. DANISH SIDDIQUI / REUTERS
INDONÉSIA É um dos nove países onde ganhou expressão uma clara violência anticristã: os outros são Irão, Iraque, Quénia, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Sudão, Síria. A Indonésia é o país muçulmano mais populoso do mundo, com mais de 200 milhões de crentes em Allah. Nalgumas áreas, populações cristãs estão sujeitas às leis da “sharia” (lei islâmica). (A indonésia da foto usa uma máscara para se proteger do fumo dos incêndios que invade aquela igreja de Palangkaraya.) REUTERS
INDONÉSIA Num dos últimos ataques conhecidos, em inícios de julho, extremistas islâmicos atacaram um acampamento de milhares de escoteiros organizado por uma associação protestante, em Yogyakarta, na ilha de Java. Os radicais disseram que os protestantes não tinham autorização para organizar aquele evento público e que, estando a decorrer o Ramadão, atividades do género violavam a natureza sagrada daquele mês. (Na foto, indonésios ameaçados pela erupção do vulcão Sinabung buscam refúgio dentro de uma igreja.) RONI BINTANG / REUTERS
IRÃO A natureza confessional da República Islâmica do Irão e o poder de órgãos de segurança internos como os “pasdaran” e os “basiji” colocam o país na dependência das autoridades religiosas xiitas, com graves repercussões para as minorias religiosas. O crime de apostasia renúncia ou abandono de uma crença religiosa surge como um dos principais obstáculos à liberdade religiosa no país. A conversão de um muçulmano a outra religião não é explicitamente proibida na Constituição, mas tradicionalmente é tratada como crime. (Na foto, um religioso passa junto às campas de iranianos arménios mortos durante a guerra Irão-Iraque, numa igreja no centro de Teerão.) MORTEZA NIKOUBAZL / REUTERS
IRÃO A maior parte dos 0,5% de iranianos que professam o Cristianismo são protestantes. A Igreja Católica está presente em seis dioceses, entre as quais Ahwaz (caldeia), Isfahan (arménia) e Teerão (caldeia). Em janeiro de 2014, Davoud Alijani, pastor numa igreja de Ahwaz, foi libertado da prisão de Karoon. Tinha sido detido durante as celebrações natalícias de 2011. O número de cristãos presos quase duplicou durante o ano de 2014, apesar das promessas do Governo no sentido de promover a tolerância religiosa. (A foto regista uma missa de Ano Novo, na Igreja de Saint Serkis, no centro de Teerão.) MORTEZA NIKOUBAZL / REUTERS
IRAQUE O ano passado foi catastrófico para os cristãos do Iraque. Quando, em junho, o Daesh tomou de assalto a segunda cidade, Mossul, apresentou aos “nazarenos” uma escolha: ou iam embora ou tinham de converter-se ao Islão e pagar o imposto da “jizya”. A alternativa era… a espada. Quando, depois, o Daesh retirou a opção da “jizya”, quase toda a comunidade cristã fugiu com a roupa que trazia no corpo. (Na foto, católicos iraquianos entram na Igreja do Sagrado Coração, em Bagdade, protegida por seguranças.) AHMED SAAD / REUTERS
IRAQUE “Durante longos séculos, nós, cristãos do Iraque, vivemos muitas dificuldades e perseguições. Mas o que vivemos agora são os piores atos de genocídio na nossa terra”, alertou, em fevereiro passado, o arcebispo caldeu Bashar Warda, de Erbil. “Enfrentamos a extinção do Cristianismo como religião no Iraque.” Os cristãos iraquianos não vão além dos 275 mil. A Ajuda à Igreja que Sofre estima que o Cristianismo poderá desaparecer do Iraque no prazo de cinco anos. Será o fim de uma presença contínua de 1800 anos. (Na foto, funeral do cristão Tareq Aziz, ministro dos Negócios Estrangeiros de Saddam Hussein, a 13 de junho passado, em Amã, Jordânia.) MUHAMMAD HAMED / REUTERS
ISRAEL A 17 de junho passado, extremistas judeus atearam fogo à Igreja da Multiplicação dos Pães, em Tabgha, na Galileia, norte de Israel (na foto). No local, foram encontrados graffitis em hebraico denunciando o culto de “falsos ídolos”. A igreja atacada assinala, para os cristãos, o local onde Jesus realizou o “milagre dos cinco pães e dois peixes”, referido nos quatro Evangelhos. Milhares de peregrinos visitavam esta igreja todos os anos. Este foi o segundo ataque àquela igreja: em abril de 2014, extremistas judeus profanaram cruzes e um altar no local. BAZ RATNER / REUTERS
ISRAEL É o único país do Médio Oriente com uma população cristã em expansão. O recente ataque à Igreja da Multiplicação dos Pães (foto) marca um padrão emergente, denunciam líderes religiosos locais. Ouvido pela AIS, o bispo auxiliar William Shomali, do Patriarcado Latino de Jerusalém, diz recear que o extremismo judeu esteja a “aumentar em número e no grau de intolerância”. BAZ RATNER / REUTERS
NIGÉRIA — Para muitos cristãos no país mais populoso de África, a vida está diretamente ameaçada pelos terroristas do Boko Haram que pretendem erradicar o Cristianismo na Nigéria. Estima-se que os cristãos ascendam a 49,3% da população e os muçulmanos a 48,8%. Os extremistas têm visado, sobretudo, aldeias, igrejas e escolas, raptando raparigas e matando rapazes. Ataques à diocese católica de Maiduguri (nordeste), em maio passado, provocaram a destruição de 350 igrejas e colocaram em fuga 100 mil católicos. (Na foto, uma missa católica em Port Harcourt.) AFOLABI SOTUNDE / REUTERS
NIGÉRIA — Ruínas de uma igreja em Baga, cidade situada no nordeste da Nigéria, tomada por combatentes do Boko Haram em janeiro deste ano JOE PENNEY / REUTERS
PAQUISTÃO Neste protesto, na cidade de Lahore, pede-se a libertação de Asia Bibi, uma paquistanesa cristã, condenada à morte por blasfémia MOHSIN RAZA / REUTERS
PAQUISTÃO — Neste país muçulmano, cristãos têm sido enforcados e queimados vivos às mãos de extremistas, que aproveitam um certo relaxamento das autoridades de Islamabad em responder a atos violentos contra minorias religiosas. Aparentemente, diz a Ajuda à Igreja que Sofre, as instituições legais têm cedido à pressão colocada por grupos conservadores, que crescem em poder e popularidade. Em março passado, ataques à bomba contra duas igrejas de Lahore mataram 17 pessoas. (Na foto, interior da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, nessa cidade.) MOHSIN RAZA / REUTERS
QUÉNIA — País esmagadoramente cristão, o Quénia consagra o direito à liberdade religiosa na sua Constituição. Todas as novas Igrejas têm de ser registadas e, pontualmente, a legislação permite a intervenção de tribunais islâmicos em processos relacionados com casamento, divórcio e herança. Populações muçulmanas queixam-se de discriminação e esquecimento por parte das autoridades, razões que têm facilitado a recruta por parte de jihadistas. (Na foto, Margaret Ngesa, da Missão da Igreja Africana da Legião de Maria, na sua casa, em Nyang’oma Kogelo, aldeia da família de Barack Obama.) THOMAS MUKOYA / REUTERS
QUÉNIA — A 2 de abril de 2015, homens armados invadiram a Universidade de Garissa, leste do país, e mataram 147 pessoas. Durante o ataque, selecionaram criteriosamente os reféns: libertaram os muçulmanos e executaram cristãos e outros não-muçulmanos. Os terroristas afirmaram serem membros do Al-Shabaab, grupo jihadista sedeado na Somália com ligações à Al-Qaeda, e justificaram o ataque à instituição dizendo estar situada em território muçulmano colonizado por não-muçulmanos. NOOR KHAMIS / REUTERS
RÚSSIA — A liberdade religiosa melhorou no país desde os anos do comunismo, mas legislação relativa a encontros ilegais, manifestações, procissões e protestos têm visado diretamente cristãos que se reuniam em cafés, cinemas, centros culturais, ruas, parques infantis e praças públicas. Há mesmo casos de crentes que foram processados por se reunirem em casas privadas. Alguns centros geridos por cristãos foram acusados de “atividade ilegal”. (A foto regista uma vigília em frente a uma igreja católica, em Krasnoyarsk, na Sibéria.) ILYA NAYMUSHIN / REUTERS
RÚSSIA — A Constituição de 1993 declara que o Estado russo é não-confessional e consagra a liberdade religiosa, desde que isso não interfira com a ordem pública. Mas na prática, a legislação restringe esta liberdade. De acordo com a Lei da Liberdade de Consciência e Associações Religiosas de 2007, o Estado apenas reconhece o Cristianismo Ortodoxo Oriental, o Judaísmo, o Islamismo e o Budismo como “religiões tradicionais” da Rússia. Paralelamente, ignora o papel histórico da Igreja Católica e das comunidades protestantes. (Na foto, o primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, discursa numa capela russa, em Vrsic, Eslovénia, em 26 de julho.) SRDJAN ZIVULOVIC / REUTERS
SÍRIA — Diz a tradição cristã que São Paulo foi convertido na Síria e batizado, crismado e ordenado pela Igreja em Damasco. Hoje, a região não podia ser mais agreste para com os cristãos. “Na minha diocese de Alepo, no norte da Síria, estamos na linha da frente deste sofrimento”, testemunha Jean-Clement Jeanbart, arcebispo católico grego melquita. “A minha própria catedral foi bombardeada seis vezes e agora não a podemos usar. A minha casa também foi atingida mais de dez vezes.” Tanto na Síria como no Iraque, as comunidades cristãs e outras minorias vulneráveis estão indefesas contra as investidas do Daesh. “Somos de facto tratados como ovelhas destinadas ao matadouro.” (Na foto, tropas curdas junto a uma igreja assíria, em Tel Jumaa.) RODI SAID / REUTERS
SÍRIA — Em abril de 2014, um sacerdote jesuíta holandês de 75 anos que vivia e trabalhava na Síria há quase 50 anos (na foto) foi assassinado. O padre Frans van der Lugt tornara-se um defensor dos pobres e necessitados, independentemente da sua religião. Durante três anos, permaneceu no bairro cristão da Cidade Velha de Homs, promovendo ações de reconciliação entre diferentes grupos, enquanto a cidade esteve cercada. Recusou ofertas para ser retirado dali. O padre Frans van der Lugt era um dos recetadores da assistência encaminhada pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre para a Síria. YAZAN HOMSY / REUTERS
SRI LANKA — Embora o Budismo seja visto como uma religião de paz, um ramo mais militante deste credo aliou-se a correntes nacionalistas que o consideram a religião legítima de países como o Sri Lanka e Myanmar (antiga Birmânia). O ódio e violência daí decorrentes tem visado populações cristãs e muçulmanas. Muitas igrejas foram destruídas e encerradas às mãos de budistas extremistas. (Na foto, a Igreja de St. James, em Jaffna.) REUTERS
SRI LANKA — Em 2014, cerca de 60 igrejas e capelas foram atacadas no Sri Lanka, ainda assim uma acentuada redução em relação às 105 do ano anterior. Num dos casos, 11 monges budistas lideraram uma multidão de 250 pessoas que atacaram a Igreja da Sagrada Família, em Asgiriya, arrastando o pastor e a mulher para fora de casa para serem agredidos. (A foto mostra um protesto em Colombo contra os ataques a locais de culto.) DINUKA LIYANAWATTE / REUTERS
SUDÃO — A redução do número de cristãos no Sudão é diretamente proporcional ao reforço da agenda islâmica do Presidente Omar al-Bashir. No poder desde 1989, é o único chefe de Estado em funções a ser alvo de um mandado de captura emitido, em 2009, pelo Tribunal Penal Internacional, acusado de genocídio no conflito do Darfur. (A foto mostra muçulmanos em oração, em Cartum.) MOHAMED NURELDIN ABDALLAH / REUTERS
SUDÃO — Em 2014, uma sudanesa grávida de oito meses foi presa e condenada à morte por adultério e apostasia. Mariam Ibrahim tinha casado com um cristão, atrevimento que levou a família a denuncia-la à polícia. Filha de uma ortodoxa etíope, que a batizou quando era bebé, e de um muçulmano, que a abandonou com pouca idade, Mariam viu um tribunal decidir que devia ser educada na fé do pai. A sua condenação à morte captou as atenções internacionais, originando grande pressão sobre as autoridades de Cartum. Foi libertada e autorizada a viajar para os EUA (na foto, à chegada a um aeroporto de New Hampshire, a 31 de julho de 2014), onde vive com o marido, o filho e a pequena Maya, nascida na prisão. A caminho dos EUA, foi recebida em Roma pelo Papa Francisco. BRIAN SNYDER / REUTERS
TURQUEMENISTÃO — Um novo código administrativo introduzido em janeiro de 2014 aumentou as punições para os grupos religiosos “ilegais”, ou seja não registados. A Igreja Católica conseguiu registar-se como comunidade religiosa apenas em março de 2010 — o primeiro pedido tinha sido entregue em 1997, quando chegaram a Ashgabat (na foto) os dois primeiros sacerdotes católicos. Muitos cristãos são forçados a prestar culto em segredo. REUTERS
TURQUEMENISTÃO — Fechado ao escrutínio independente, permanece como um dos países mais repressivos do mundo. Os órgãos de informação e as liberdades religiosas estão sujeitas a restrições draconianas e os defensores dos direitos humanos enfrentam ameaças constantes de represálias por parte do Governo do Presidente Kurbanguly Berdymukhamedov (na foto). Esmagadoramente muçulmano, acolhe as celebrações muçulmanas sunitas como festas nacionais. REUTERS
TURQUIA — O recente atentado sangrento (97 mortos) em Ancara, atribuído ao Daesh, vem confirmar os receios que apontam para um aumento do Islamismo radical no seio da sociedade turca. Oficialmente um Estado laico — um legado do primeiro Presidente Mustapha Kemal Ataturk —, a Turquia é politicamente dominada pelo AKP, um partido islamita moderado (sunita). Os judeus e duas comunidades cristãs (Patriarcado Ecuménico de Constantinopla e Patriarcado Apostólico Arménio) são oficialmente reconhecidas como “minorias protegidas”. Os alauitas, um ramo do Islão xiita, apenas são reconhecidos em termos culturais, apesar de ter entre 15 e 20 milhões de seguidores. (Na foto, missa na Igreja Patriarcal Surp Asdvadzadzin (arménia), em Istambul.) MURAD SEZER / REUTERS
TURQUIA — Museus que, originalmente, tinham sido igrejas são hoje utilizadas como mesquitas. Um pedido semelhante foi feito em relação à mundialmente famosa Hagia Sophia (na foto), em Istambul, uma antiga igreja que, desde 1935, tem o estatuto de museu. No início de 2015, as autoridades turcas autorizaram a construção de uma igreja para a pequena minoria siríaca, em Istambul, a primeira desde a implantação da República, em 1923. Erol Dora, o primeiro e único deputado turco siríaco, afirmou: “A escala da discriminação torna-se óbvia quando notícias sobre a primeira nova igreja a ser construída num século são saudadas como um acontecimento monumental”. MURAD SEZER / REUTERS
UCRÂNIA — A liberdade religiosa tem-se ressentido de toda a instabilidade política que tem afetado o país, palco de uma recente intervenção militar por parte da Rússia. “O facto das dioceses ortodoxas estarem a ser confiscadas pela força na Ucrânia e de os ortodoxos ucranianos sofrerem discriminação é uma surpresa desagradável para nós”, denunciou, a 2 de outubro passado, o chefe da Igreja Ortodoxa Polaca, após um encontro com um representante da Igreja Ortodoxa Ucraniana. “Onde estão as autoridades? Porque não protegem o povo e defendem os seus direitos religiosos? A Ucrânia quer ser um Estado democrático, mas em democracia tem de haver ordem.” (Na foto, uma procissão perto do sítio onde se despenhou o avião MH17 da Malaysia Airlines, na aldeia de Hrabove, região de Donetsk.) REUTERS
UCRÂNIA — Desde que a Crimeia passou para soberania russa, na sequência do referendo de 16 de março de 2014, que a proibição de literatura religiosa “extremista” foi alargada àquela antiga região ucraniana. Todos os livros catalogados nesta categoria tiveram de ser entregues às autoridades até ao final de 2014. (Na foto, uma imagem de Jesus Cristo danificada pela guerra, numa igreja na região de Donetsk.) MARKO DJURICA / REUTERS
VIETNAME — O Governo continua a controlar as atividades religiosas e a reprimir os grupos que desafiam a sua autoridade, com graves sanções para os crentes que não obedecem às restrições oficiais. Ao abrigo do Decreto 92, introduzido a 1 de janeiro de 2003, grupos que desejem organizar “encontros religiosos” têm de obter autorização. Também prevê que os sacerdotes sejam obrigados a frequentar cursos sobre a história do Vietname e sobre legislação e obriga-os a submeter pedidos formais sempre que quiserem viajar para o estrangeiro ou entre regiões vietnamitas. (Na foto, uma missa católica numa paróquia pobre dos arredores de Hanói.) NGUYEN HUY KHAM / REUTERS
VIETNAME — Após uma diretiva de 2012 do Comité de Assuntos Religiosos do Ministério do Interior, grupos de cristãos protestantes do noroeste e das terras altas centrais do Vietname enfrentaram situações de repressão. Em três províncias do norte, os governos locais recusaram reconhecer a Igreja Católica como entidade legal, contrariando assim uma determinação do poder central. (A imagem regista uma cerimónia de batismo, numa igreja católica de Hoa Binh.) NGUYEN HUY KHAM / REUTERS

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 14 de outubro de 2015. Pode ser consultado aqui e aqui