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Há cinco réus encarcerados há 20 anos sem julgamento e vítimas de tortura: “Nem sei se justiça é a palavra certa”

Os sucessivos adiamentos do julgamento dos suspeitos do 11 de Setembro tornaram-se um grande embaraço para os Estados Unidos. Se, por um lado, condenar os acusados levaria algum conforto às famílias de quase 3000 vítimas, por outro o facto de os réus serem vítimas de tortura por parte da CIA agrava a complexidade do caso. Em entrevista ao Expresso, um perito em terrorismo tem reservas em considerar como “justiça” o processo que decorre em Guantánamo

ais de duas décadas depois, o 11 de Setembro é uma tragédia cada vez mais esbatida na memória coletiva dos norte-americanos. A cada novo ano letivo, o professor Tom Mockaitis testemunha-o quando recebe novas turmas na Universidade DePaul, uma instituição privada em Chicago. Os novos estudantes não eram nascidos à época ou eram muito jovens para guardarem lembranças que, hoje, os mobilizem minimamente a cada novo aniversário.

“A maioria dos norte-americanos seguiu em frente. Neste momento, o país está muito mais preocupado com o extremismo interno, a recente decisão relativa ao aborto, o 6 de janeiro [invasão do Capitólio] e, se algo a nível internacional, com a guerra na Ucrânia. É como Pearl Harbor para a geração dos meus pais. As pessoas seguiram em frente”, diz este perito em terrorismo, em entrevista ao Expresso.

A exceção a esta tendência de esquecimento são os familiares e amigos das 2977 vítimas mortais que esperam e desesperam pelo julgamento dos acusados. O processo está em fase de pré-julgamento e tem sofrido sucessivos adiamentos.

Defesa sem acesso a provas

Um dos principais obstáculos prende-se com um braço de ferro entre acusação e defesa relativamente à informação que pode ser usada como prova.

“Muitas das provas foram provavelmente obtidas no âmbito do trabalho classificado dos serviços secretos. Eles não vão revelar muito acerca de onde ou como obtiveram a informação”, explica Mockaitis. “Também não está claro o que é que a defesa pode ver. Num julgamento normal, a defesa tem direito a ver de antemão qualquer coisa que a acusação use como prova e tem a oportunidade de revê-la e refutá-la.”

VÍTIMAS: 2977 mortos

  • 2753 no World Trade Center, em Nova Iorque
  • 184 no Pentágono, em Washington D.C.
  • 40 num campo de Shanksville, na Pensilvânia

O processo decorre numa comissão militar, uma forma híbrida entre um tribunal criminal federal e um tribunal marcial militar, criada em 2006 pelo Congresso dos EUA.

Juiz e júri são assegurados por membros das forças armadas norte-americanas. Já as equipas de acusação e de defesa têm de ter obrigatoriamente advogados militares, mas também civis.

Guantánamo, território incógnito

A comissão militar para os suspeitos do 11 de Setembro está sediada na base naval que os Estados Unidos mantêm na Baía de Guantánamo (arrendada em 1903 às autoridades de Cuba).

“Tudo o que se fez foi colocá-los numa instalação que é, essencialmente, um território controlado pelos Estados Unidos, mas que não faz parte dos Estados Unidos”, explica o professor da Universidade DePaul. “Talvez seja porque os réus não poderiam ser responsabilizados de igual forma perante a lei dos EUA. Esta é uma área muito cinzenta.”

As audiências decorrem sem captação de imagens. São permitidas ilustrações, com algumas restrições. “Temos de cavar para obter informações sobre este julgamento. Há muito pouca informação pública.”

Ilustração sobre a sala de audiências, em Guantánamo, divulgada pelo Departamento de Defesa dos EUA. À esquerda, de branco, os cinco réus DEPARTAMENTO DE DEFESA DOS ESTADOS UNIDOS

Matthew N. McCall, um tenente-coronel da Força Aérea, é o juiz do processo desde 20 de agosto de 2021. À época dos atentados, concluía a formação em Direito, na Universidade do Hawai. A sua nomeação foi envolta em polémica por não possuir a experiência requerida de dois anos como juiz militar.

O procurador-chefe é o contra-almirante Aaron Rugh, da Marinha. E o principal advogado de defesa é o brigadeiro-general Jackie L. Thompson Jr., do Exército. Os 12 militares que irão compor o júri ainda não foram selecionados.

Juízes em causa própria

Tom Mockaitis inquieta-se perante o facto de que quem julga serem “membros de uma organização que tem liderado a luta contra o terrorismo”. “Como é possível”, interroga-se.

“Fiquei muito preocupado com a ideia de um tribunal militar. Se os homens e mulheres no tribunal trabalham para uma instituição militar, sob uma cadeia de comando, e sabendo que há um forte desejo por parte daquele órgão de atribuir um veredicto de ‘culpados’, como pode o júri ser livre?”

“Estão a usar um sistema muito estranho”, continua. “Este não é um tribunal que resistiria a um escrutínio minucioso em qualquer país. Não há muita simpatia pelos réus, mas é difícil de defender que este seja um processo justo.”

A base naval dos EUA na baía de Guantánamo ocupa cerca de 117 km² da República de Cuba SHANE T. MCCOY / US NAVY / WIKIMEDIA COMMONS

Cinco homens estão no banco dos réus, acusados de cumplicidade com os 19 terroristas que sequestraram os quatro aviões.

Os cinco detidos

Khalid Sheikh Mohammad consta no Relatório da Comissão do 11 de Setembro como “o principal arquiteto dos ataques”. Nascido no Paquistão, é acusado de ter gizado a ideia de um ataque com aviões e de tê-la proposto a Osama bin Laden, o líder da Al-Qaeda. Foi apanhado em Rawalpindi, no Paquistão, em 2003, numa operação conjunta dos serviços secretos norte-americanos (CIA) e paquistaneses (ISI). Foi sujeito a “técnicas aprimoradas de interrogatório” da CIA, denunciadas em relatórios oficiais dos EUA, incluindo waterboarding, uma forma de tortura que simula uma situação de afogamento.

Walid bin Attash é acusado de treinar dois pilotos sobre como lutar em espaços apertados, como aconteceu para controlar os aviões. Nasceu na Arábia Saudita, juntou-se à jihad no Afeganistão, onde perdeu parte da perna direita, e foi detido em Karachi, no Paquistão, em 2003.

Ali Abdul Aziz Ali nasceu no Kuwait e tem cidadania paquistanesa. Também identificado como Ammar al-Baluchi, é acusado de transferir dinheiro desde os Emirados Árabes Unidos, onde trabalhava na área das tecnologias, para os piratas dos aviões. Foi intercetado em Karachi, no Paquistão, em 2003. A defesa acredita que o filme “Zero Dark Thirty” — designadamente as sessões de tortura aplicadas a uma personagem chamada Ammar — é inspirado na sua experiência.

Ramzi bin al-Shibh é acusado de recrutar e organizar a célula de Hamburgo, na Alemanha, e de agir como intermediário entre a liderança da Al-Qaeda e o egípcio Mohammed Atta, um dos piratas do primeiro avião a embater contra as torres gémeas, apontado como o líder operacional do atentado. Nascido no Iémen, Al-Shibh foi preso em 2002, na cidade paquistanesa de Karachi.

Mustafa al-Hawsawi é responsabilizado por prestar assistência logística e burocrática aos sequestradores. Este saudita é o réu que enfrenta menor número de acusações. Nas audiências em Guantánamo, senta-se numa almofada em forma de rosca para vencer as dores decorrentes de ferimentos no reto sofridos quando esteve cativo pela CIA. A defesa diz que foi violado.

“Uma coisa a ter em mente, e é assim que as organizações terroristas funcionam, é que muitas das pessoas que apoiam a célula e a operação não sabem realmente o que vai acontecer”, diz Mockaitis. “Não temos a certeza que todos os sequestradores estavam totalmente cientes de que participavam numa missão suicida.”

Os fatos cor de laranja dos detidos tornaram-se símbolo da infâmia que Guantánamo se tornou SHANE T. MCCOY / US NAVY / WIKIMEDIA COMMONS

Após serem apanhados, os cinco suspeitos foram encarcerados em prisões secretas da CIA fora dos Estados Unidos. Em 2006, foram transferidos para o centro de detenção de Guantánamo para serem julgados. Foram formalmente acusados de:

  • conspiração;
  • ataque contra civis;
  • assassínio em violação da lei da guerra;
  • ferimentos graves intencionais;
  • sequestro de avião;
  • terrorismo.

“Não é fácil ter simpatia por estes indivíduos. Mas dado o calendário do nosso sistema legal, segundo o qual o julgamento deve decorrer num período de tempo razoável e os réus são inocentes até prova em contrário e têm direitos, este sistema não corresponde a nenhum desses padrões. E não importa que haja provas muito boas. A defesa argumenta de forma bastante convincente que as confissões foram obtidas sob coação. Essas provas nunca seriam admitidas num tribunal dos EUA.”

Estas acusações expõem um conflito difícil de conciliar. Por um lado, o objetivo das autoridades norte-americanas é condenar os acusados como forma de fazer justiça à morte de quase 3000 pessoas. Mas essa pretensão acaba por ficar frustrada pelo facto de os réus também serem vítimas de tortura por parte da CIA.

Os réus do 11 de Setembro são cinco dos 36 prisioneiros que, segundo o site “Close Guantanamo”, subsistem naquele centro de detenção, 21 dos quais foram ilibados de acusações e estão aptos a sair em liberdade.

Desde que foi inaugurado, a 11 de janeiro de 2002, passaram pelos calabouços de Guantánamo 779 homens, a maioria de nacionalidade afegã, seguidos de sauditas e iemenitas. Com Joe Biden na Casa Branca, os portões daquela prisão já se abriram por quatro vezes.

Obama tentou, mas não conseguiu

A 22 de janeiro de 2009, escassos dois dias após tomar posse como Presidente dos EUA, Barack Obama assinou a Ordem Executiva 13492 determinando o encerramento de Guantánamo. Mas não conseguiu cumprir a promessa.

Mockaitis explica a complexidade do processo: “Eles não sabem o que fazer com estas pessoas. Se a opção for colocá-las em prisões nos EUA, isso criará uma tempestade de publicidade adversa. Ainda que não haja grande risco se ficarem presos, todos os políticos vão cair imediatamente em cima do assunto.” Outra possibilidade é devolver os detidos aos países de origem, “mas nalguns casos os países não os querem”.

Para o professor norte-americano, Guantánamo é “um embaraço” para os Estados Unidos. “Estes indivíduos foram detidos e mantidos sem julgamento por um longo período de tempo. Não tenho muitas dúvidas de que são culpados dos crimes de que são acusados. Mas por mais que tenham feito coisas horríveis, esse tratamento viola os nossos padrões do que é a justiça.”

“Quando dou aulas de contraterrorismo, uma das coisas que enfatizo é que a lei e a legitimidade são ferramentas muito poderosas do lado daqueles que lutam contra os extremistas. É isso o que nos diferencia deles”, conclui Mockaitis. “Tenho muitas reservas em relação à forma como isto está a ser feito. Nem sei se justiça é a palavra certa.”

(FOTO PRINCIPAL Dois feixes de luz, no local onde se erguiam as Torres Gémeas, iluminam os céus de Nova Iorque, numa homenagem às vítimas do 11 de Setembro KIM CARPENTER / WIKIMEDIA COMMONS)

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 11 de Setembro de 2022. Pode ser consultado aqui

Obama ficou a 41 presos de fechar Guantánamo

Na última semana em funções, numa verdadeira corrida contra o tempo, Barack Obama transferiu 14 presos de Guantánamo. Na véspera de deixar a Casa Branca, escreveu uma carta ao Congresso, acusando-o de falta de apoio para fechar o polémico centro de detenção

Ao segundo dia em funções na Casa Branca, Barack Obama decretou o encerramento do centro de detenção de Guantánamo — Ordem Executiva 13492, de 22 de janeiro de 2009. Oito anos depois, sai de cena com a promessa por cumprir: 41 homens continuam detidos e a culpa, diz o ex-Presidente, é do Congresso.

“Enquanto Presidente, tentei fechar Guantánamo. Quando herdei este desafio, era amplamente reconhecido que o centro — que muitos em todo o mundo continuam a condenar — precisava de ser encerrado. Infelizmente, o apoio bipartidário ao seu fecho de antes deu lugar à partidarização do assunto”, escreveu Obama numa carta enviada àquele órgão legislativo na quinta-feira.

“Não há justificação para além da política para a insistência do Congresso em manter o centro aberto”, acrescentou, notificando que durante a sua presidência tinham sido transferidos 196 detidos e que 41 continuam presos em Guantánamo.

“Os membros do Congresso que obstruem os esforços para fecha-lo, dados os riscos envolvidos à nossa segurança, abdicaram da sua responsabilidade em relação ao povo norte-americano”, acusou Obama.

O ex-Presidente defendeu que a prisão “nunca devia ter sido aberta” e que a sua existência “enfraquece a segurança nacional” norte-americana. “Os terroristas usam-na para propaganda, as suas operações drenam os nossos recursos militares numa época de cortes orçamentais” — cada detido custe anualmente mais de 10,85 milhões de dólares (10,2 milhões de euros) — “e prejudicam as nossas parcerias com aliados e países de cuja cooperação necessitamos contra a ameaça terrorista atual.”

Trump já tweetou sobre o assunto…

Na última semana em funções, Barack Obama transferiu de Guantánamo 14 homens: dez foram para o Sultanato de Omã na passada segunda-feira e outros quatro foram libertados esta quinta-feira, a 24 horas de deixar a presidência.

A sorte dos restantes 41 fica à mercê do novo Presidente, Donald Trump, que já se pronunciou sobre o assunto. “Não deverá haver mais libertações em Gitmo [como também é chamado o centro de Guantánamo]. Tratam-se de pessoas extremamente perigosas e não devem ser autorizadas a regressar aos campos de batalha”, escreveu no Twitter, a 3 de janeiro.

Aberto a 11 de janeiro de 2002 — quatro meses após os atentados do 11 de Setembro, em Nova Iorque e em Washington, e com a guerra no Afeganistão já em curso, visando o fim do regime talibã que dava guarida à Al-Qaeda —, o centro de detenção de Guantánamo abriga suspeitos de terrorismo.

Do total de 779 homens que por lá passaram, 717 foram libertados ou transferidos para países terceiros — a esmagadora maioria durante a Administração de George W. Bush —, nove morreram em cativeiro e apenas um foi levado para os Estados Unidos para ser julgado. Trata-se do tanzaniano Ahmed Khalfan Ghailani, condenado a prisão perpétua por envolvimento nos atentados contra as embaixadas dos EUA no Quénia e na Tanzânia, a 7 de agosto de 1998.

Um dos 41 detidos atualmente é Khalid Sheikh Mohammed, um operacional da Al-Qaeda capturado em 2003 na cidade paquistanesa de Rawalpindi e referido no Relatório da Comissão que investigou o 11 de Setembro como “o principal arquiteto dos ataques”.

Abusos aos direitos humanos

Situado na ilha de Cuba, o centro de detenção de Guantánamo está fora da jurisdição legal norte-americana e “tornou-se emblemático dos graves abusos aos direitos humanos praticados pelo Governo dos EUA em nome do [combate ao] terrorismo”, denunciou a Amnistia Internacional.

Tanto esta organização como a Cruz Vermelha confirmaram situações de tortura e maus tratos relatadas por vários prisioneiros.

O início da presença militar norte-americana em Guantánamo remonta ao início do século XX quando, em 1903, Estados Unidos e Cuba celebraram um contrato de arrendamento visando a instalação de uma base naval dos EUA naquela baía. A polémica prisão só surgiu quase um século depois, após o 11 de Setembro.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 20 de janeiro de 2017. Pode ser consultado aqui

Menos um preso em Guantánamo

Foi dos primeiros suspeitos de terrorismo a ser enviado para Guantánamo e está agora de regresso ao seu país natal. O saudita Abdul Shalabi, ex-guarda-costas de Osama bin Laden, é o último de 655 detidos que já foram libertados ou transferidos daquele polémico centro de detenção. Restam ainda 114

Os Estados Unidos anunciaram a transferência de mais um detido em Guantánamo para a Arábia Saudita. Abdul Shalabi, de 39 anos, é descrito como um ex-guarda-costas de Osama bin Laden, capturado por forças paquistanesas em dezembro de 2001, quando tentava cruzar a fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, após fugir das montanhas de Tora Bora, onde o líder da Al-Qaeda estava refugiado.

Shalabi foi levado para Guantánamo em janeiro de 2002, tendo-se tornando assim um dos primeiros detidos naquele centro de detenção para suspeitos de terrorismo mandado abrir por George W. Bush.

Em abril deste ano, representantes legais de Shalabi instaram os Estados Unidos a transferi-lo para a Arábia Saudita “tão rápido quanto possível” e apelaram a que Shalabi “não fosse considerado uma ameaça significativa e continuada à segurança dos Estados Unidos”. Shalabi estava em greve de fome desde 2005.

A 15 de junho seguinte, as autoridades norte-americanas determinaram que a detenção de Shalabi “não era mais necessária” à segurança dos EUA e manifestaram a sua confiança no “programa de reabilitação” saudita para cidadãos implicados em casos de terrorismo.

Washington realçou ainda a coordenação feita com a Arábia Saudita no sentido de “garantir que esta transferência decorra de forma coerente com as medidas de segurança e de tratamento humano adequadas”.

Apenas um foi julgado

Shalabi foi o 655º preso a ser libertado ou transferido daquele centro situado na base naval que os EUA têm na ilha de Cuba. Para além destes 655, um outro detido foi transferido para ser julgado nos EUA (o tanzaniano Ahmed Khalfan Ghailani, condenado a prisão perpétua em 2011) e nove morreram (o último o iemenita Adnan Latif, em 2012).

 

Ao todo, foram detidas em Guantánamo 779 pessoas. Ainda estão presos 114 presos, 65 dos quais são iemenitas.

Durante 2015, já foram transferidos sete detidos: em janeiro, quatro iemenitas foram enviados para o sultanato de Omã e um quinto para a Estónia; em junho, outro iemenita foi transferido para Omã; e já este mês, foi repatriado em marroquino.

O encerramento de Guantánamo — centro aberto a 11 de janeiro de 2002, na sequência do 11 de Setembro — é uma das principais promessas eleitorais de Barack Obama. As próximas eleições presidenciais norte-americanas, às quais Obama já não poderá concorrer, realizam-se a 8 de novembro do próximo ano.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 23 de setembro de 2015. Pode ser consultado aqui

Amizade com os EUA passa pela devolução de Guantánamo

Barack Obama quer fechar Guantánamo. Raúl Castro quer o fim da ocupação norte-americana daquele pedaço da ilha de Cuba. Dossiê está na agenda da normalização de relações entre Washington e Havana

Raúl Castro aproveitou a tribuna da III Cimeira da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), que termina esta quinta-feira em San Antonio de Belen, na Costa Rica, para fazer exigências aos Estados Unidos.

“O reestabelecimento das relações diplomáticas é o início de um processo de normalização das relações bilaterais, mas isso não será possível enquanto o bloqueio existir e enquanto eles não devolverem o território ilegalmente ocupado pela base naval de Guantánamo”, afirmou o Presidente cubano, na quarta-feira.

A presença dos Estados Unidos na ilha de Cuba data de 1903, quando ali estabeleceram essa infraestrutura militar. Desde a revolução de 1959 que as autoridades de Havana têm vindo a exigir a restituição do território ocupado pela base e que, após o 11 de Setembro, alberga um centro de detenção para suspeitos de terrorismo.

Segundo o sítio Close Guantanamo (Fechem Guantánamo), desde janeiro de 2002, 779 prisioneiros passaram por aquele centro: 647 foram libertados ou transferidos, um foi levado para os EUA para ser julgado e nove morreram, o último dos quais Adnan Latif, em setembro de 2012.

Atualmente, 122 pessoas continuam ali detidas. O encerramento de Guantánamo foi uma das principais promessas eleitorais de Barack Obama. 

Compensações após anos de sanções
Falando na Costa Rica, Raúl Castro exigiu também, para além do levantamento do embargo económico, o pagamento de centenas de milhões de dólares como indemnização pelas perdas provocadas pelas sanções.

“Se estes problemas não forem resolvidos, esta reaproximação económica não fará qualquer sentido”, disse.

Raúl Castro e Barack Obama anunciaram, a 17 de dezembro, o início de um processo diplomático visando o reestabelecimento de relações bilaterais. Os dois governos realizaram o seu primeiro encontro na semana passada, em Havana.

Artigo publicado no “Expresso Online”, a 29 de janeiro de 2015. Pode ser consultado aqui