A chamada revolução dos guardas-chuvas não dá sinais de abrandar nas ruas de Hong Kong, o antigo território britânico que passou para a administração chinesa em 1997 e ficou com um estatuto especial durante 50 anos. É a pedra no sapato da República Popular da China, que celebrou esta terça-feira o 70.º aniversário e não quer ouvir falar em mais autonomia, mas sim em “estabilidade de longo prazo” e “luta pela unificação completa do país”. 2:59 JORNALISMO DE DADOS PARA EXPLICAR O MUNDO
2047. Este é o ano que não sai do pensamento dos habitantes de Hong Kong. E porquê? Em 1997, quando a soberania deste território transitou do Reino Unido para a China, estes dois países acordaram um período de transição de 50 anos durante o qual Hong Kong manteria as liberdades de que vinha beneficiando.
Esse estatuto permite por exemplo que, a cada quatro anos, os cidadãos vão às urnas para eleger metade dos 70 membros do Parlamento.
Possibilita também que Hong Kong continue a ter moeda própria e a adotar políticas económicas com total autonomia. Hoje, o território é um grande centro financeiro e tem um dos maiores rendimentos per capita do mundo.
A nível social, essa exceção permite que em Hong Kong vigorem direitos que não são acessíveis a quem vive na chamada China Continental, como o direito a manifestarem-se.
Mas esta realidade de “um país, dois sistemas” tem os dias contados. Em 2047, findo o período de transição, Hong Kong perderá esse estatuto especial. Vingará então a vontade do Partido Comunista Chinês.
Conscientes disso, os habitantes de Hong Kong têm organizado mega-manifestações em defesa dos seus direitos e liberdades. Em 2014 saiu à rua o movimento dos guardas-chuvas, com exigências de mais democracia. Desde 9 de junho passado, as ruas estão novamente cheias. Inicialmente, os protestos visaram uma nova Lei da Extradição que tornaria possível que um cidadão de Hong Kong fosse extraditado para a China e julgado segundo a lei chinesa.
A resistência do governo aos protestos e a repressão da polícia levaram os manifestantes a apresentar cinco exigências. Enquanto não forem cumpridas, eles não abandonam as ruas.
A primeira já foi satisfeita: a retirada em definitivo da polémica lei da extradição.
Ficam a faltar quatro:
— A exigência de que as autoridades parem de qualificar os protestos como “motins” e os manifestantes como “desordeiros”.
— A libertação dos manifestantes que foram presos.
— Uma investigação independente à atuação da polícia.
— E uma exigência política: que o Chefe do Governo e o Conselho Legislativo passem a ser eleitos por sufrágio direto e universal.
Estes manifestantes têm a secreta esperança de que, chegados a 2047, a dinâmica democrática do território tenha contagiado o resto da China. E que Hong Kong possa continuar a ser um espaço de liberdade.
Episódio gravado por Pedro Cordeiro.
Artigo publicado no “Expresso Online”, a 2 de outubro de 2019. Pode ser consultado aqui










































